semtelhas @ 13:49

Qua, 31/07/13

 

Do púlpito situado no meio do palco de onde discursava, quase sentia a respiração enfurecida dos que nas primeiras filas vociferavam na minha direção, alguns chegando mesmo ao insulto, enquanto bramiam objetos que tinham nas mãos, revistas ou jornais enrolados, guardas-chuva, cadernos, esferográficas, de braços no ar e francamente inclinados para a frente com os rostos desfigurados e vermelhos de raiva.

 

Quando aquilo finalmente acabou, dirigi-me completamente esgotado para o meu lugar na plateia, depois de uns intermináveis cinco minutos, pareceram cinquenta, durante os quais tentei com todas as minhas forças, fisícas e animícas, gritando, berrando, saltando, gesticulando, responder o melhor que me foi possível, aos selvagens que me impediam de falar, explicar as minhas razões, de defender o meu ponto de vista.

 

Ainda não estava completamente acomodado na cadeira quando senti umas mãos enormes em ambos os ombros, cujos polegares me pressionavam fortemente as costas, enquanto os restantes dedos faziam o mesmo no pescoço. Foi como se se tivesse desligado um interruptor. Como se me tivessem desligado. Relaxei de imediato e olhei para trás para ver quem tinha sido o benemérito, encarei com a enorme cabeça do A.M., no rosto bailava-lhe um sorriso condescente e sábio. Tratava-se de um homem que podia muito bem ser confundido com um daqueles profetas religiosos que arrastam multidões dominadas pela sua invulgar estatura fisíca, pelo seu olhar hipnotizante protegido por sobrancelhas portentosas, encimadas por cabeleiras cuidadas, mas em natural desalinho, de acordo com a sua natureza selvagem e indomável que se pressente num primeiro relance, e se confirma depois de os ouvir proferirem com as suas anormalmente cavas e possantes vozes, palavras que tranquilizam.

 

Instrutor principal dos cursos de relações humanas Dale Carnegie, e deles representante em Portugal, dizia-se que tinha conhecido pessoalmente o mestre, procurava ajudar-me após aquela que foi, seguramente, a mais dura das quarenta sessões de que era composto o curso. Durante um ano, uma vez por semana, cinquenta almas foram  sujeitas aos mais variados tipos de experiências, com um nível de dificuldade crescente, para que no fim saíssem dali mais auto-confiantes, mas também mais humildes, capazes de melhor ouvir e, sobretudo, de suportar as contrariedades da vida fazendo, como por lá se dizia, dos limões limonadas. No fim foi-nos entregue um pequeno livrinho, que guardo religiosamente, onde constam alguns conselhos práticos para a vida, dos quais, e não obstante passarem anos sem que sequer para ele olhe, ainda, e penso que para sempre, retenho alguns: não critique, não condene, não se queixe; faça de cada dia um compartimento herméticamente fechado; não chore sobre o leite derramado.

 

Lembro-me que, antes de algumas sessões que sabíamos, por causa do tpc, os treinos que deveríamos fazer em casa, seriam complicadas, como por exemplo aquela na qual tínhamos de, no palco perante uma plateia que para além dos colegas era obrigatóriamente constítuida por no minímo mais três familiares de cada um de nós, fazer uma longa declaração de amor... de joelhos. Ainda antes de entrarmos no edificío que era numa avenida no centro do Porto, gritáva-mos a plenos pulmões: eu não quero ir, não vou, tirem-me daqui, socorro. Ríamos à gargalhada e lá íamos para o castigo.

 

Depois de muito procurar, ei-lo à minha frente! Abro o livrinho de um dourado gasto pelo tempo, leio-o atentamente e percebo como, mesmo inconscientemente, aquilo me formatou. As regras nele inscritas são ouro puro. Continuam a brilhar intensamente.

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 12:03

Seg, 29/07/13

 

Desde há longos anos que o FCP abre a época, no inicío da festa de apresentação da equipa, com a dança do dragão, nunca aprofundei mas imagino tratar-se, obviamente, de um ritual oriental que é suposto abençoar quem dele beneficia. A cerimónia acontece em pleno relvado, onde umas dezenas de pessoas, meia dúzia a castigar bombos de vários tamanhos e uma sonante sineta, e os restantes a manipular uns enormes dragões, sobretudo compridos, ainda que já bem menos que no inicío, nas Antas, onde sómente um dava a volta ao relvado, encabeçados, pleonásticamente, pela enorme cabeçorra do bicho. Acontece que desde a primeira vez, aos meus olhos, a dita cabeça é a, menos vistosa, mas não feroz, de Pinto da Costa. E, á medida que os anos vão passando, mais o fenómeno se intensifica.

 

Todo o cerimonial é personificado na pessoa que é o treinador da equipa principal de futebol. Claro que quando não é o seu primeiro ano, tudo aquilo decorre com mais naturalidade. Com Jesualdo a coisa estava a tornar-se tão rotineira, que foi preciso mandar o homem exercer os fabulosos poderes adquiridos para outras bandas. Mas quando é a primeira vez então a questão assume foros de verdadeiro teste. Uns mais outros menos à vontade, lá se vão submetendo às várias provações que lhes vão sendo gentilmente sugeridas: ele é subir para cima de umas escaditas, para aspergir algum qualquer precioso liquido sobre as assustadoras narinas e chamejantes olhos do mitológico animal; dizer umas curtas, mas significativas palavras às portentosas orelhas do monstro; dar duas ou três corridinhas, para trás e para a frente, e uma série de sentidas e respeitosas vénias olhos nos olhos com o bicho; entre outros seguramente essenciais exercícios para que a magia funcione. No fim o chefe de cerimónias entrega ao pobre e humilhado abençoado, uma vistosa espada plena de curvas e orientais ornamentações, segreda-lhe aquilo que penso devem ser alguns úteis conselhos para dominar a fera, e é-lhe permitido fugir dali para fora, normalmente num pouco disfarçado passo de corrida. É que tudo isto é feito em frente de, ontem quarenta e cinco mil pessoas, noventa mil olhos. É dose!

 

Tratando-se da, metafórica, cabeça do famoso presidente, aquilo que se espera é que a mensagem passe cristalina, que não restem dúvidas sobre quem manda ali, cuja magnitude maior é a absoluta confiança depositada no benzido, ao qual são oferecidas as melhores condições, a mais ampla margem de manobra, e sinceríssimas promessas de não interferência... até ao dia que deixe de as merecer. Assim se vê a força do PC.

 

Quanto ao resto foram noventa minutos marcados por surpresas e expectativas. O Porto surpreendido por uma equipa bem mais agressiva que as maciínhas que, contra o que é costume, lhe apareceram pela frente lá pelas américas, a jogar sempre atrás da linha da bola mesmo quando dentro do seu meio-campo; e de, perante esse facto, não obstante estar óbviamente exaurida por pesadas cargas de trabalho, e uma longa viagem haviam dois dias, o FCP não ter conseguido arranjar energias para, em frente ao seu público, dar a volta à situação. As expectativas, essas, saíram furadas para quem queria observar alguns dos que parecem os melhores trunfos para o que aí vem, como Herrera e Quintero. Paulo Fonseca pareceu mais preocupado com o resultado. Compreende-se. A pressão é muita. A ver vamos, tranquilos. É que Pinto da Costa lá estava, atento, no seu posto de observação.

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 12:58

Dom, 28/07/13

 

- Cavaco foi às Selvagens - Há uns anos o Pulo do Lobo, agora isto, cada vez mais profundo. Pode ser que para a próxima já não dê para voltar à tona e o senhor fique por lá.

 

- A China está a descobrir Portugal como destino turistico - Primeiro encharcaram-nos de produtos, depois invadiram as periferias e, nalguns casos, o coração das nossas cidades, e agora vêm visitar os familiares armados em turistas? Quero voltar para a ilha!

 

- Assunto Cardoso não ata nem desata - Se o Jesus ficou porque raio o Judas há-de sair? Nada como um deus Orelhas para achulezar a história toda.

 

- Rui Machete nos negócios estrangeiros e Agostinho Branquinho na segurança social - Mais uma prova da independência e bom senso! Isto ainda vai dar um filme!

 

- Os gregos vão baixar o IVA para a restauração - As cobaias são para isto mesmo! Usa-se, abusa-se e deitam-se fora. Vamos lá ver em que tubo de ensaio nos vão meter e agitar forte.

 

- Fátima Lopes está indignada com aldrabão no programa e vai processá-lo - É assim mesmo sedona Fátima! Anda a sra a sujar as mãos a carinhosamente passar a mão pelo nojento pêlo a estes indigentes, e é assim que eles agradecem? Vigaristas. Deixem-na trabalhar.

 

- Reclusos libertados não querem abandonar prisões - Pudera! Olham para a vida dos carcereiros e percebem quem está a ser perseguido. Viva a triste liberdade da cama, comida e roupa lavada!

 

- Comunistas querem definir quem é responsável pela manutenção das pontes do Porto - Calma! Não vai ser preciso esperar muito mais tempo. Com o Meneses no Porto e o Guilherme Aguiar em Gaia, mais dia menos dia o FCP arremata a coisa!

 

- Inglaterra vendeu armas à Síria e ao Irão - Se não fôr assim como é que se vai manter aquela gente aos tiros para sustentar o nosso ganha-pão? Pergunta, very british, Cameron.

 

- O homem mais rico da China diz que a desigualdade não é o principal problema - E andou o Mao a assassinar milhões em nome da igualdade! Não havia necessidade.

 

- Norueguesa violada no Dubai foi presa por, no ato, praticar de sexo fora do casamento - Parece que o pobre homem estava para ali distraídamente de pau feito, e a desavergonhada amandou-se à coisa. É bem feito!

 

- Os cientistas descobriram que quanto menos calorias mais anos de vida - Que o digam aqueles sortudos dos africanos. Ele há títulos que dizem tudo! Mas é sobre quem os fez e quem deixou que fossem publicados.

 

- Stevie Wonder afirmou que não canta mais onde houverem leis racistas - O que vale é que a conta bancária é gorda e a idade proveta, caso contrário o homem ía penar. 

 

- Telemóveis vão funcionar a urina - Para quando caralhoques a fezes? - Afinal aquilo já cheira mal e cheira!

 

- Blatter disse que Brasil foi má escolha para receber o mundial de futebol do ano que vem - Pois foi. Boa mesmo foi a do Qatar. Afinal futebol não é sinónimo de vida, multidões, cor e festa, mas sim de deserto, marionetas aos saltos, e dinheiro a rodos.

 

- Mick Jagger fez setenta anos e continua aos pinchos - É o que dá ter uma vida regradinha, deitar cedo e cego erguer, alimentação cuidada e a horas certinhas, uma vida sexual sem sombra de pecado e, sobretudo, muito respeitinho e cega obediência aos valores defendidos pelo poder instítuido. Abençoado seja o senhor.

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 12:41

Sex, 26/07/13

 

Já conhecíamos Édipo da mitologia grega, das labirínticas emoções e sentimentos entre mãe e filho, mais tarde Freud ajudou a perceber a complexidade da questão, agora chega este Paixões Proibidas, inspirado num romance da prémio Nobel, Doris Lessing que, por caminhos paralelos, explora e, porque não? esclarece, um pouco mais o problema.

 

 

Uma amizade entre duas meninas, depois mulheres, depois mães de dois rapazes, que todos afasta e a tudo resiste, literalmente, e que se consuma não na mais que provável relação sexual, mas sim nesse tipo de relação com o filho da outra. Sempre subjacente, pairando por cima de todos, o incesto, que, não existindo, moralmente quase, o tal quase, acontece. Não entre filho e mão biológica, mas com a segunda mãe, aquela que sempre esteve presente desde a mais tenra idade, para todos os efeitos. Primeiro viver e aceitar essa realidade contra todas as regras e preconceitos, depois a questão prática da diferença de idades como justificação para acabar com o pecado.

 

Independentemente dos aspetos muito certinhos, bem a jeito, para contar a estória, paisagem paradisíaca com clima a condizer, belissímas casas, convenientes profissões liberais e respetivos altos rendimentos, gente bonita, o que aqui mais interessa é o argumento que, mesmo algo romanesco, serve com eficácia a mensagem sem tirar o leitor/espetador do sério. Para isso muito contribuem as magnifícas interpretações das duas mães, ao ponto de ser difícil cair na realidade de que as senhoras estavam a fingir. Sobretudo Naomi Watts. Impressionante!

 

Mais uma vez a confirmação de que não há mundos perfeitos. Uma interessante demonstração de que só existimos em função do olhar do outro, sem o qual ficamos reduzidos a nada. Daí a importância de onde provém esse sopro de vida. Quando chega de alguém que, outra vez quase, somos nós mesmos, continuamos sózinhos, ou seja, não existimos. Ou como alguém dizia em jeito de conclusão, viemos ao mundo para sofrer.

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 13:43

Qua, 24/07/13

 

Primeira enchente. De gente. O maré está vazante e entre o mar, estranhamente longe, o areal, enxameado de barracas, guardas-sol e toalhas multicolores, as pedras, outro, este surpreendente, areal, a lembrar o algarve, liso e molhado com espaço suficiente para minijogos de futebol, de raquetas e simples desfrutar. Pelo meio alguns pequenos, e menos pequenos, lagos onde, numa água que se adivinha tépida, pequenos e graúdos se banham alegre ou tranquilamente. Corre uma brisa morna e inofensiva como atestam as quietas e repousantes bandeiras verdes. A juntar às centenas de crianças do costume, ouçam a Manela, sala dos quatro e sala dos cinco, preparar para ir à água, gritos estridentes como resposta, formosas sereias expõem-se ao sol acariciante, ainda doce. Olhares lânguidos. Mamãs que não se enxergam exibem gorduras ao lado de papás circunspectos que estudam atentamente outras gordas, as dos jornais, e lançam disfarçados olhares para as esculturas mesmo ali ao lado.Também elegantíssimas ninfetas, imaculadas na sua intocada perfeição, deslizam em suaves, mas convictos passeios por onde vou. Lábios perfeitamente desenhados esboçam quase impercetível sorriso, que óculos escuros escondem também no olhar, adoro ver, sentir, o espanto na cara destes cotas. Senhores e senhoras muito seletos, rebanhos de populares e ruidosas famílias, atletas de verão, onde é que vocês andam quando chove, venta e está frio? esta praia é minha, todos apetrechados e reluzentes de suores entre o convidativo e o repugnante. Um casal já bem entradote, ambos ainda vestidos normalmente, optam pelas dunas apesar dos milhões de avisos, ou não viram ou não querem ver. Os piores dos cegos. O tipo de música nos bares marca territórios, samba, tecno ou Bowie escolhem e chamam clientelas. No único que está aberto todo o ano, um resistente de décadas! nada de luxos, um acolhedor barracão à moda antiga em cima da areia, duas fulanas, pode passar o cheque..., e ele no seu jeito despreocupado de quem faz daquilo vida, pode ser amanhã? é que... Lá ao longe um inusitado movimento de viaturas na estrada. Muitos a chegar. O habitual cheiro a maresia, algas e marisco, que costuma andar no ar noutras ocasiões, é substítuido por mais artificiais odores, cremes protetores, óles para fritar, vulgares perfumes. Ainda agora passou um que deve ter caído no frasco. Cá estão os meus incansáveis amigos a desimpedir o caminho. Pás, vassouras e muito para ver. Quase o tempo todo parados, a olhar. Viva! Cuidado para onde atiram a areia! Isso não é para estragar! Sorrisos, pois não, é para consolar as vistinhas. Se no inverno não deve ser fácil, imagino agora. Na volta vejo que já se livrou das cobradoras do fraque. Naquele ritmo muito próprio de quem já viu muito, que sabe o que está a fazer, prepara o enorme fogareiro, o carvão já crepita! Pousadas na mesa ao lado as travessas mostram sardinhas, robalos, lulas e, parece-me, besugos, já marchava, também uma outra com febras, entrecosto e costoletas. Sabe que quando o perfume do grelhado se começar a espalhar vão cair como tordos. A mesma crença que o faz aguentar ali, firme, todo o ano, a maior parte das vezes só para trocar comigo olhares inigmáticos, que parece dizerem, o que estás aqui a fazer? os meus, prefiro mil vezes estar aqui a ver se chove que noutro sítio qualquer a ver chover, os dele. Abençoado!

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 12:58

Seg, 22/07/13

 

Com ar desconsolado, mas todo catita na sua polo de marca de cor garrida, primeiro erro de cálculo, lá andava ele a fingir que procurava uma bola já nos limites do campo, quando na verdade aproveitava para descansar das bocas do patrão, ó Marques presta atenção, isto é a bola e isto o taco, e aquilo lá adiante é uma bandeira a assinalar o buraco onde deves enfiá-la, percebeste? e a seguir uma gargalhada que abanava o pequenitates desde os alicerces até ao alto da cabeça que aparecia pouco acima do carrinho próprio para transportar aquela trapalhada toda, segundo erro de cálculo, tinha trazido o cunhadito para esse serviço, veio só para aprender, disse aflito quando reparou na geringonça. Cada um tem o caddy que merece.

 

Aquele era só mais um episódio no purgatório que constítuia a infindável saga de lamber as botas ao seu benemérito, até à desejada entrada no paraíso. Uma espécie de Em Busca do Tempo Perdido ao contrário, perder tempo em busca de. O Proust que explique. No escritório as coisas piavam fininho, normalmente curto e grosso, chegava a atirar-lhe uns gritos valentes quando, segundo pensava, na noite anterior a senhora tinha castigado o patrão por este haver cometido uma qualquer grave falta, um móvel que não fora autorizada a comprar, uma viagem mais uma vez adiada, ou aquele casaco que anda há anos para comprar e ainda não foi desta, e o tinha privado do descarregamento da ordem. Mas era nos convívios que mais sofria, especialmente quando era convidado para ir jantar lá em casa e tinha que levar com as frescuras da madame, as más criações dos rebentos e, sobretudo, aturar as intermináveis estórias do mais que tortuoso e, simultâneamente, supermagnífico caminho que havia conduzido o senhor ao sucesso.

 

Quando, finalmente, chegou junto do pequeno grupo de empresários e afins, já se tinham esquecido dele, esta foi de mestre carago, se os gaijos chegam a acordo ele saía como o heroi da fita, como não chegaram, pelo menos tentou, o odioso é sempre dos partidos, dizia um, pois, especialmente dos socialistas, porque ficam sempre como principais responsáveis pelo insucesso da coisa, os outros já lá estavam, eles é que queriam entrar no grupo, logo aceitar as condições, quer dizer, de uma penada lava a imagem dele e renova a do governo, é menino!, concordava outro, e depois ainda dizem que foi pena o gaijo não ter tido um furo quando resolveu ir fazer a rodagem do carro ao congresso da Figueira, o tipo tinha tudo calculado! é daqueles que melhor utiliza aquela teoria das sinergias, quer dizer, no jogar sempre em vários tabuleiros é que está o segredo, e o ganho, à grande Cavaco! Agora essas bestas levam com eles outros dois anos e mainada!

 

Estava a perceber tanto da conversa quanto do golfe. Mas a verdade é que se ele nem acertava na bola, os outros só conseguiam metê-la  quando a tinham a um metro do buraco e, mesmo assim! por vezes falhavam. Tal como havia muito tempo desconfiava o que interessa é o aparato, a casa, o carro, aquelas fatiotas e calçado caríssimos que os caramelos usavam com toda a displiscência do mundo, para, mais tarde, poderem dizer em amenas cavaqueiras animadas por Lubrificante Chivas, no jardim à beira da piscina, hoje estava uma ventania do caraças no golfe pá! com aquele vendaval nem o Tiger Woods se safava! Então pensava, vá lá, passa-lhe outra vez a mão pelo pêlo, e atirava, grande bola sr. Meireles! A vez dele há-de chegar.

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 11:44

Dom, 21/07/13

 

 
 
 

direto ao assunto:


semtelhas @ 13:28

Sex, 19/07/13

 

Dentro da Casa, é um filme que explica a diferença fundamental entre quem cria em função de uma necessidade intrínseca, independentemente da natureza da mesma, e quem tenta fazê-lo como resposta a uma qualquer frustração.

 

 

 

 

Sempre que ouço aquela máxima que diz que um árbitro de futebol é um futebolísta frustrado, tenho a tentação de extrapolar esta ideia para outros campos. Neste filme o árbitro é um professor da lingua mãe, neste caso o francês, e o futebolísta é um seu aluno. Desde logo é-nos passada a noção de que, antes de mais, o talento tem que estar lá, depois são necessárias uma série de circunstâncias naturais, digamos assim, algo que acontece à pessoa sem que ela nada tenha feito por isso, para criar essa espécie de caldo onde parece que algumas pessoas caíram. Depois como que ganham um brilho especial, uma aura que os acompanha para todo o lado, e que as torna, além de naturalmente talentosas, quase irresístiveis.

 

Neste caso trata-se de literatura, e da formidável capacidade de observação de um adolescente dotado de uma inteligência superior, atesta-o o seu forte ser a matemática, que comeu, e come, o pão que o diabo amassou, possuidor de uma imaginação prodigiosa que lhe permite romancear a seu belo prazer. Do outro lado um homem, como milhões de outros, culto, inteligente, mas frustrado pela sensação de não poder ser um escritor ao nível dos seus herois, Flaubert, Dostoievski, ou Céline. Cresce uma amargura que o persegue e lhe envenena a vida, que vai fingindo viver, até à tentação final de se realizar por via de um miudo brilhante, expondo-se assim ao ridículo perante todos até à destruição que, no fundo, procurava.

 

Claro que as coisas não são assim, a preto e branco, há uma grande faixa acinzentada onde proliferam artistas de grandes méritos, em todas as áreas, boa parte deles fruto de muito trabalho e dedicação à sua paixão. Não é desses que este filme trata.

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 13:22

Qua, 17/07/13

 

Tinha acabado de estacionar a viatura ao lado da tasca de sempre, SGventil se faz favor, ou, cinco bijus, conforme o serviço era para o pai ou para a mãe, e a D. Iria, pega lá filho, são branquinhos como tu gostas, a doçura possível enquanto aviava, horas a fio neguinhos e Cristais, até ao vómito diário, ali mesmo, de onde o observava a descer aquelas dezenas de metros que me separavam da porta do prédio da minha infância.

 

Olá M. como vai isso?, demorara uma eternidade e, mesmo assim, chegou a ofegar, titubeante, levantou a cabeça e pude ver-lhe o rosto envelhecido, olhos mortiços, cabelo ralo, mas ainda aquele traço fino que o distinguia, Cá vamos, a F. é que cada vez está pior, não dorme nem me deixa dormir, chama-me a toda a hora para nada, e quando não me chama devia ter chamado. A F. foi aquela que toda a vida lhe aparou o jogo, Olhem para isto! Não é linda? Perguntava ela às vizinhas mostrando uma fotografia da partenaire e espampanante amante do marido, tirada aquando de uma atuação no Candeia, no Porto. Porque é que não a deixa ao cuidado de alguém? Assim ainda vai acabar como ela, e depois quem é que vai ajudar-vos? Com expressão queixosa fita-me perscrutador, Pois, mas é tudo tão caro! Sei que o filho, que sempre fez, e faz, o que ele fazia e nunca o que dizia, o visita regularmente no dia em que recebem a parca reforma dela, ele tem direito a nada, e os alivia de boa parte dela, Se calhar o melhor é tentar interná-la, encara-me, grave, e leio-lhe no olhar a culpa que o amarra.

 

Vejo-o há quase cinquenta anos atrás a fazer aquele mesmo percurso, baixote mas com uma postura de conquistador, a cabeça reluzente de brilhantina, o rosto impecávelmente escanhoado, aquela mesma expressão grave que ainda agora vira, o olhar lá bem à frente, o fato de artista e, calçados por sapatos irrepreensíveis, os pés majestosamente atirados para o lado, esquerdo-direito, esquerdo-direito. O perfume precedia-o uns bons dez metros, Olá rapaz! Estás bom? Pega lá cinco escudos para ti. Aquela pequena fortuna, mas sobretudo a possante voz de tenor, pura e simplesmente me calavam, só permitindo que exibisse um envergonhado sorriso de agradecimento. O efeito tinha começado bem antes, eu a evitar todo e qualquer barulho que pudésse incomodar o descanso do guerreiro, atendendo às lancinantes súplicas da pobre F., quando, como de costume, sou surpreendido por sonoros desentupimentos, seguidos de intermináveis mimimimimimmmmmmi's afinatórios, tudo em nome de uma garganta bem treinada. Por vezes acompanhados, e como aquilo me encantava!, por arrebatadoras árias, das quais recordo como se fosse hoje, aquela parte dos Palhaços, de Leon Caballo, em que, após matar a amada, o assassino deixa cair estrondosamenete a faca ao chão. Dizia-se até, mito ou não, que ainda jovem recebera uma carta de um conhecido empresário italiano que o tinha visto atuar, convidando-o para uma digressão naquele país, mas que a mãe, fonte do egoísmo primordial que haveria de envenenar várias gerações, escondeu negando-se a ver-se privada daquele que era o seu preferido e alter ego.

 

Não há muito tempo fui aos Fenianos assistir a uma espécie de homenagem que os amigos lhe fizeram. Lá estava a mulher, toda encarquilhada, num dos cantos da primeira fila, ao lado o filho e a nora com ar de tirem-me daqui e, à minha frente, que estava do outro lado e na terceira fila, o neto, bem longe do avô e...do pai, ao qual, dizem-me, puxou e com quem mantém forte desavença. Três gerações de artistas por cumprir e suas frustrações. Quando me viu do palco, onde arranhava ainda muito razoávelmente um pasodoble, brindou-me com um teatral aceno de diva o qual, confesso, me encheu de orgulho e arrastou para um falso e superefémero estrelato, quando toda a sala virou a cabeça na minha direção, e que, mal pude, retribuí com o abraço da praxe. Saí ao intervalo. 


direto ao assunto:


semtelhas @ 14:54

Seg, 15/07/13

 

- Enchidos portugueses invadem a China - Aí está um futuro prometedor,  encher chouriços!

 

- Espia russa dispõe-se a casar com Edward Snowden - Isto é que é ver à frente! Está a pensar nos herdeiros. Espionagem e contraespionagem, tudo dentro de casa!

 

- Mulher que cortou pénis ao marido apanhou perpétua - Diz-se  que as comichões anormais que atacaram os juízes onde estes têm mais carne ao dependuro, foram determinantes para a sentença.

 

- Presidente democráticamente eleito no Egito foi preso e ocidente aplaudiu - Pensei que a democracia assentava no pressuposto: vontade da maioria. À pois... por cá é igual.

 

- Jesus diz que Benfica está perto da hegemonia do futebol português - Ninguém vai explicar ao homem o que é hegemonia? Deixam-no assim à solta e depois queixam-se!

 

- Sporting pode perder Bruma. Jefferson interrompe presidente com desabafo mal cheiroso. Schaars e Arias saem por menos de 10% do que custaram - Tão pouco tempo e já tanta gente a cagar para o homem! 

 

- Vale de Azevedo nomeado sacristão da prisão - E parece que também é o mais fervoroso dos crentes! Por mim soltava-se já o santo homem. Ali para os lados da Luz, onde o terreno é mais propício para o artista medrar.

 

- Exministro chinês foi condenado à morte por corrupção, com pena suspensa - Estes já estão a começar a facilitar! Mais dia menos dia estão rodeados de Oliveiras Costa e Bárcenas. Forca já!

 

- Durante a primeira missa de Manuel Clemente como cardeal, ouviram-se palmas para Cavaco e Passos -  De certeza que era o povo genuíno que enchia os Jerónimos a expressar agradecimento e admiração.

 

- Portugal impediu avião que transportava Morales a entrar no seu espaço aéreo - Anda o Paulinho sempre de chapéu na mão por aqueles lados, ele é o Brasil, a Venezuela, tudo hermanos, e vêm agora os camones com exigências destas. Não se faz!

 

- José Miguel Júdice diz que é preciso acabar com os partidos que temos para isto ir para a frente - E que tal, já agora, também com os escritórios de advogados de onde provém boa parte do melhor do recheio dos ditos?

 

- Mira Amaral disse que o BIC não comprou o passado do BPN - Quer dizer que por dezenas de imóveis, alguns, como a sede, autênticos monumentos, já para não falar dos outros ativos, pagou 40 milhões? À grande Gaspar, Albuquerque & Cª!

 

- Powell e Gay, exrecordistas dos 100m, acusaram doping - E nós que pensávamos que aquilo era só alimentação saudável, vida regrada e muito treino! Marotos.

 

- Extesoureiro do Partido Popular espanhol deu com a língua nos dentes - Esta gente só perde em continuar a substimar-nos. Quanto problemas podiam evitar se aprendessem alguma coisa com o vizinho pobre. 

 

- Vigilante branco da Florida absolvido depois de matar negro - Agora até o presidente é preto e estas coisas continuam a acontecer! Ou será que sempre que uma autoridade branca mata um negro não tem necessáriamente que ser por racismo?

 

-  Cientistas descobrem que a obesidade herda-se através do esperma - E o resto? É pelo estilo do macho? Ou pela vontade com que dá a trancada?


direto ao assunto:


semtelhas @ 12:20

Dom, 14/07/13


 

 
 
 
 

direto ao assunto:


semtelhas @ 13:33

Sex, 12/07/13

 

Já não bastava um produto filho do senhor rico lá da terra, que troca a cultura pela agricultura de andar por casa, a quem não ensinaram a comer com a boca fechada mas transmitiram o espírito de merceeiro, que tem sido uma espécie de carrasco do, e que, este país merece; uma libelinha queque que voga sobre as nossas cabeças há décadas, viciada em voos rasantes sobre a populaça em demonstrações misto de vaidade e carências afetivas, e que sempre deixam marcas sobre os incautos que insistem acreditar na bondade dos seus desígnios; que chegue a primeiro ministro um suave grunho formado pelo partido, cujo bem sucedido e ilustre paizinho dominava na vila, e que lhe passaram os valores correspondentes a um conservadorismo ressabiado; ou a ministro das finanças um contabilista fundamentalista em toda a linha, desde a doentia rígidez na maneira de fazer contas, apesar destas o desmentirem sistemáticamente, até ao insuperável estilo gozão dos que se creem inimputáveis; para agora chegar à presidência da Casa da Democracia uma absolutamente surpreendente histérica fina, de boas famílias, que à medida que perde o verniz vai deixando claro que a educação e cultura que foi adquirindo pouco lhe tem servido, para além, naturalmente, das benesses que foi acumulando e que muito terão resultado da notável capacidade de dissimulação de que dá provas.

 

Aqui há uns tempos dizia o nosso primeiro que se a lei da greve não serve, mude-se a lei! Por estes dias, refém da mais que óbvia possibilidade do Paulinho das Feiras voltar a atacar daqui a dois ou três meses, Cavaco vê-se obrigado a esquecer o cartão do PSD, e optar por uma solução evidente há muito tempo, seja ela um acordo ou um governo de gestão, ontem Assunção Esteves, compungida, e depois de insultar quem estava nas galerias da Assembleia da República chamando-lhes nazis, atirou para o ar a necessidade de ter que se revêr a lei que lhes permite o acesso aquelas. Se se manifestarem irão passar uma noite na pildra? Ser-lhes-à aplicada uma multa severa? Ou pura e simplesmente se fecha de vez o acesso aquilo? Como é possível a senhora não ter percebido que a ela compete presidir aos trabalhos e não berrar aos insurretos, até ao falsete! Para que se ponham a andar dali para fora? Que se mil vezes o povo gritar, mil vezes as autoridades devem, com respeito, impôr a ordem, mandá-los sair se não houver alternativas, mas nunca limitar a livre expressão daqueles que são a razão da senhora ali estar, e que lhe pagam a côdea ao fim de cada mês, e lha garantem, e bem cedo!, para o resto da vida? Como é possível alguém que, à semelhança de quase todos, senão mesmo todos que a precederam naquele lugar, a ilustre não perceba que é precisamente dessa dialética que se faz a democracia?

 

Nada como situações extremas como esta que atualmente o país atravessa para se perceber o que determinadas casas gastam. Ao menos o Alberto João não engana ninguém! Fosse ele o sr. Silva e isto era tudo submetido a um estado de emergência por decreto, rasgava-se a Constituição, fazia-se uma à medida, e vivam os gorilas a dominar macacos na republica das bananas da Madeira. A ver se isto não entrava na ordem! Diz o que muitos pensam. Ontem ou antes de ontem, passou na televisão a imagem de um indíviduo a contar o que se tinha passado, durante a aflição da proximidade do fogo de um incêndio florestal das casas de habitação, quando o fogo estava a uns metros evacuamos todos! disse. Neste caso da Assembleia não havia fogo, mas pela reação da presidenta até parecia que sim! Quanto a evacuações digamos que umas foram pelos métodos adequados outras, porque erróneamente expelidas, quer na forma quer no conteúdo, mais fizeram lembrar o tal senhor da televisão.


direto ao assunto:


semtelhas @ 14:28

Qua, 10/07/13

 

As árvores mudaram de lugar

O sol deixou-se ficar

Os rios escaparam do leito

O mar parou de se revoltar

As flores resolveram cantar

Nos cumes bailou o nevar

O horizonte brilhou satisfeito

Do nevoeiro irrompeu o eleito

As pedras começaram a olhar

O inferno tremeu a gelar

Os bichos viam espantados

A chuva não quis parar

Nuvens eram castelos alados

Lagos dormiram descansados

Desertos oásis desejados

Predadores pouparam presas

Antes indefesas agora ilesas

Mães celebraram agradecidas

O céu recebeu sem dor

As fêmeas pediram amor

O vento soprava convulso

O ódio sentiu-se expulso

Os machos foram conquistar

As folhas quiseram levitar

Os pássaros ousaram gritar

As ervas estavam a ouvir

A terra abriu-se a rir

A lua aprendeu a caminhar

Nos montes cavalos corriam

Gatos miavam e cães latiam

Repteis temeram ciciar

As crianças queriam ler

Os velhos exigiram partilhar

Perversos caíram a chorar

O surdo-mudo tentou falar

As estrelas cintilaram de prazer

O cego jurou ver

Os avaros experimentaram dar

Condenados insistiram acreditar

Os bébés adoraram mamar

Aos doentes apeteceu dançar

Os juízes condescenderam

Os mais fracos venceram

Viciados superaram ressaca

Palhaços voltaram a ter graça

O louco pôs-se a pensar

O preguiçoso a trabalhar

O prisioneiro pôde sonhar

O indeciso finalmente escolheu

O que sempre ganhava perdeu

O medroso arriscou mudar

O desistente voltou a tentar

O impaciente teve que esperar

E ao tempo restou parar

 


direto ao assunto:

cores da lua @ 22:50

Seg, 08/07/13

E uns gritam,
e outros dizem
Toma conta de mim
Estamos longe do fim,
estamos longe do fundo,
só quero um segundo,
Toma conta de mim

Toma conta de mim
Que eu tomo conta de ti!

direto ao assunto: ,


semtelhas @ 13:41

Seg, 08/07/13

 

Um destes dias alguém me dizia que tendo milhares de fotografias guardadas no computador, sentia falta de rever imagens do passado, e que, por isso, estava a fazer uma triagem de entre elas para mandar imprimir, colocar em suportes físicos e espalhar por toda a casa.

 

Fez-me lembrar um episódio que me ocorreu há mais de vinte e cinco anos, quando deixei esquecida em cima de uma rocha na margem do rio Vouga, ali perto de Sever, após uma sessão fotográfica com a família na ressaca de um lauto almoço naquela mesma terra, num restaurante perto dos bombeiros, onde se comia, (come?) uma vitela assada que se desfazia na boca, mas nunca suficiente para que dispensásse-mos o cabrito, também assado, também no forno de lenha, tal qual o arroz que por lá passava para lhe dar aquele aroma e texturas irresístiveis.

 

Pela imagens que guardo na memória penso que seria Primavera, apesar de me recordar de algum calor. O rio corria vivo e transparente, e se nos atrevêsse-mos a molhar os pés e entrar alguns metros até aos joelhos, podiam ver-se os peixes logo ali à frente entre as algas verdes. O pessoal estava feliz e descontraído pelo que nos deixámos ficar por um bom bocado. Ás tantas lembrei-me que tinha trazido a minha fiel companheira, uma Yashica rolleiflex, de um modelo já bastante interessante, que tinha comprado em 79/80, e com a qual estava a construír a história fotográfica da minha família, particularmente do seu núcleo principal, uma aprendizagem que tinha resultado em excelentes exemplares, quer de pessoas, quer de paisagens como, por exemplo, as proporcionadas pela cidade do Porto.

 

Lembro-me que tirei algumas fotografias, com o prazer e atenção do costume, quer no que diz respeito a enquadramentos, luz, espaço envolvente, etc., quer ao desperdício, pois naquele tempo as revelações, passar a suporte físico em papel, eram caras, e eu tinha que ter especial cuidado pois, caso não o tivesse, o que aliás me aconteceu varíadissimas vezes, como o comprovam as centenas de fotografias que tenho espalhadas por albuns e soltas em gavetas, ía por ali fora na tentativa de perpetuar tudo e mais alguma coisa naquele quadrado mágico onde, tantas vezes, via muito mais do que simplesmente lá aparecia.

 

Quando, já em casa, descobri que me tinha esquecido da máquina na margem do rio invadiu-me uma tristeza profunda. Cheguei a pensar voltar apesar de já ser noite, mas lembraram-me que, quando viémos embora, muitos outros lá ficaram e muitos mais íam chegando. Para além do registo dessa tarde, muitos outros deixaram de ser feitos. Não que não tenha comprado outra, já não rolleiflex, mas a verdade, um tanto despropositadamente até, percebo-o hoje, nunca mais tornei a sentir o mesmo entusiasmo enquanto fotografava e fotográfo. Quase como quando nos morre um animal de estimação, mais do que o equipamento, tinha deixado para trás momentos de felicidade que com ele presente, e ativo, vivera. Intuía a dura constatação que perdera algo irrecuperável.  

 

Acresce que hoje, como em tantas outra coisas, a fotografia está refém da tecnologia, da virtualidade, incrementos técnicos que lhe conferem inúmeras possibilidades, um sem fim de ofertas, mas que a esvaziam daquilo que era a sua essência, captar o momento. Dir-se-à que existe sempre essa hipótese, pois, mas quem é que acredita que o que está a ver é genuíno e não uma qualquer batota do photoshop? Uma epidemia que está a matar a verdade na medida em que, cada vez mais, só existimos em função do olhar do outro. Uma superficialidade que impede o aprofundar desde logo para dentro de nós mesmos, que nos conheçamos, condição indispensável para lidar satisfatóriamente com o mundo que nos rodeia.

 

O universo da imagem, e da fotografia em particular, é quase um paradigma deste fenómeno, daí a necessidade crescente de voltar ao tradicional, o fiável, o autêntico, único caminho que permite olhar para dentro através da fixação da verdade naquele olhar ou naquela situação, evitando assim a frívola fuga para a frente promovida pela rentável adulteração da realidade, que só soma frustração à insatisfação. Um ciclo vicioso.

 


direto ao assunto:

"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
procurar
 
comentários recentes
Pedro Proença como presidente da Liga de Clubes er...
Este mercado de transferências de futebol tem sido...
O Benfica está mesmo confiante! Ou isso ou o campe...
Goste-se ou não, Pinto da Costa é um nome que fica...
A relação entre Florentino Perez e Ronaldo já deve...
tmn - meo - PT"Os pôdres do Zé Zeinal"https://6haz...
A azia de Blatter deve ser mais que muita, ninguém...
experiências
2018:

 J F M A M J J A S O N D


2017:

 J F M A M J J A S O N D


2016:

 J F M A M J J A S O N D


2015:

 J F M A M J J A S O N D


2014:

 J F M A M J J A S O N D


2013:

 J F M A M J J A S O N D


2012:

 J F M A M J J A S O N D


subscrever feeds
mais sobre mim