semtelhas @ 09:23

Dom, 30/06/13

 

Seguramente possível acontecer o mesmo noutras cidades, é em Madrid que melhor reconheço a Espanha de Cervantes, de D. Quixote e de Sancho Pança. Em Barcelona, no país Basco, ou na Galiza, onde mora um povo irmao que, juntamente com os portugueses nortenhos, constítuem uma naçao, sentem-se em demasia a especificidades de cada um destes espaços, muito próximos dos seus vizinhos França e do norte de Portugal.

 

Neste último a influência do mar sobre a populaçao é fortíssima marcando decisivamente a sua cultura em todos os sentidos, o que, visitando a Galiza, é também sensível, desde as pequenas localidades como a bela Vila Garcia, passando pela formosa Corunha, até â elegante Baiona. No caso do país Basco essa influência marítima atlântica é bastante diluída, sendo mais sensível a identificaçao com o vizinho continental do norte. Na Catalunha, e em Barcelona em particular, para além dos ares mediterrânicos, que adoçicarao aquelas gentes, parece que a condiçao periférica é determinante na histórica díctomia entre o dever de obediência à centralíssima Madrid, e a sempre adiada libertaçao. 

 

Anda-se ali por aqueles jardins, ruas, avenidas e, nao obstante toda a urbanidade de uma grande metrópole, ainda por cima bastante cosmopolita, que, inevitávelmente prejudica a visao romanceada e já algo datada do grande escritor, bem como a veste do frio materialismo dos nossos dias, pressente-se que, por baixo das várias camadas de pele que constitui essa realidade, o romântismo, a coragem e o arrebatamento quixotescos, bem como a bonomia, a sagacidade e a natural propensao para a sociabilidade consubstânciadas em Sancho Pança, e que sao as características mais profundas daquela gente. O turista de passagem terá dificuldade em descodificá-lo, mas uma estada mais demorada comprova-o. 

 

Claro que nao é alheia ao facto a sua situaçao demográfica. Por mais vezes que sobrevoe toda a zona envolvente da grande cidade, sempre me espanta a enormidade de quilómetros que a rodeiam para, de repente, depois de passar uma cordilheira e quando proveniente de noroeste, aquilo aparece como saído do nada, imenso, pleno de vida, como se alguns milhoes de pessoas tivessem enlouquecido isolando-se no meio do deserto, umas em cima das outras, ignorando uma vastissíma área de terreno livre a toda a volta. O espantoso e enorme oásis surge-nos verdejante, vibrante na lufa-lufa diária feita de tao díspares sobrevivências. Um milagre!

 

Acredito que tenha sido essa mesma força que permitiu o fenómeno, a dar as tais qualidades a este povo, e que Cervantes tao maravilhosamente expressou no seu romance. O sonho e o romantismo, ditos ingénuos, única forma de lutar pelo, à partida, impossível, a pertinácia de nao desistir contra condiçoes naturais extremamente adversas, agora recorrendo a outros Rucios e Rocinantes, e a necessidade de o fazer debaixo de um rígido código de conduta disciplinador, tudo características quixotescas, temperadas pelo bom senso e desarmante humor de Sancho, que permitem perceber nem todos os moínhos serem perigosos gigantes e seguir em frente.

 

Mais uma vez cá vamos nós, deambulando entre milhares de turistas e madrilenos, debaixo do calor inclemente, suavizado pela sombra de inúmeras centenárias ou mais recentes árvores, refrescados pela visao de fontes e lagos, pelo meio da infindável tagarelice indígena que contagia os forasteiros e anima o ambiente. Vao deslizando esbeltas Dulcineias, mais para o fim da tarde ainda mais sofisticadas e já acompanhadas por aristocráticos Quixotes, que desfilam elegantemente esguios com artísticos bigodes, os seus vistosos lenços de seda ao pescoço, a caminho de um qualquer evento social. Finalmente chegados ao local de eleiçao dos Sanchos como nós, depois de Madrid, cañas e calamares!  


direto ao assunto:


semtelhas @ 10:59

Sex, 28/06/13

 

É a sensação que fica ao ver Até à Eternidade, o filme norte americano dos anos cinquenta.

 

 

 

   

De início, aquela sensação de ingenuidade latente, mas depois, conforme os minutos vão passando, vamos sendo enfeitiçados por aqueles belos personagens, em todos os sentidos, interpretados por Burt Lancaster, Deborah Kerr, Montgomery Clift, Donna Reed e Frank Sinatra. Como outros tantos argumentos baseados na II Guerra Mundial, e em particular no ataque a Pearl Harbor, este tem essa característica que o distingue que é o facto de todo a ação decorrer num quartel das tropas dos EUA no Havai, mas acabar precisamente quando os japoneses bombardeiam a ilha.

 

E isso faz toda a diferença. Não se trata portanto de um filme de guerra tradicional, só é possível ouvir bombas nos últimos cinco minutos, mas sim do relacionamento entre pessoas numa situação com os contornos efémeros próprios de quem percebia que, a qualquer momento, tudo aquilo podia alterar-se. O resto é uma apaixonante viagem por sentimentos tão raros, o lutar pelos valores em que se acredita, seja a defesa incondicional da liberdade pondo, voluntáriamente, a própria vida em risco, pela vocação individual contra tudo e todos, em circunstâncias que aparentemente aconselham a desistência, a opção pelo amor sincero, mesmo quando isso signifique demonstrá-lo através da maior, mas também mais difícil prova, concedendo a liberdade ao ser amado, ou a eleição da amizade pura e desinteressada como espécie de pano de fundo para qualquer relacionamento saudável.

 

Descontadas as questões óbvias que ali surgem claramente ultrapassadas, naquilo que é essencial este filme continua absolutamente atual, pelo que constitui um real prazer vê-lo, pela lufada de ar fresco que representa nestes tempos quase exclusivamente materialistas.


direto ao assunto:


semtelhas @ 12:37

Qua, 26/06/13

 

- Fuga ao fisco das grandes empresas ocidentais em Africa atrasa ainda mais o continente - É como semear no quintal do vizinho, colher tudo e andar. Depois chamam-lhes selvagens...

 

- Rui Rio tentou acabar com feriado de S. João - Dois coelhos de uma cajadada, afrontou governo e assustou a populaça. Um menino da Foz com a escola toda. Se fosse da linha de Cascais ía ver compensada a perseguição ao parolo de Massamá. Assim...

 

- Bancadas de Wimbledon exultam com derrota de Nadal - Alegria pelo mais fraco? Caminho aberto aos britânicos? Ou sabe mesmo bem ver um gaijo com pinta de índio a levar nas trombas?

 

- Obama propõe a Putin redução de um terço das armas nucleares - Desde o último acordo aumentaram para o dobro. Deve ser o cúmulo da aritmética, quanto mais cortam, mais cresce! Nova volta, nova corrida.

 

- Governo turco quer limitar uso de redes sociais - Presos por ter cão e por não ter. Se os deixam falar unem-se e explodem, se os calam, incham e implodem, resultado, como são muitos levarão sempre todos na enchurrada.

 

- Dolce e Gabbana presos por fuga ao fisco - Preparem-se meninos! Junta-se a gula e a luxúria, à ira e á preguiça. Não sejam avaros a comprar sabonetes nem invejosos a partilhá-los. Pequem com vaidade.

 

- Países europeus que ajudam enriquecem enquanto ajudados empobrecem - Em vez de Africa chama-se Europa, em vez de pretos são brancos. Mudam as moscas mas a merda é a mesma. Depois chamam-lhes preguiçosos.

 

- Morreu James Gandolfini, o Tony Soprano - Assim se cumpre o destino de um mafioso bom, a insustentável compatibilidade entre um homem bom e um mundo maldito. Comeu até rebentar.

 

- Acabou o prazo da patente do Viagra - Aquilo até na morte funciona! As empresas de genéricos já estão todas cheias de tesão!

 

- Em ano de eleições Merkel promete aumentar em muitos milhões o orçamento para a segurança social - Com os cofres cheios via juros cobrados pela Troika aos madrassos contribuintes dos irmãos do sul. São capazes é de ter que ir gastá-lo para paraísos mais longinquos, porque, pelo menos para eles, isto por aqui é capaz de virar inferno. 

 

- Jardim avisa que quem votar contra orientação do partido será expulso - Deve estar a sentir que, ao contenente,  já só lhe faltam as bananas e ele próprio para se tornar na república perfeita.

 

- O espião Snowden pediu asilo ao Equador -  Devia ter escolhido um local mais afastado de casa e sobretudo mais frio, assim, por muito que neve, rápidamente vai acabar derretido numa pocinha.

 

- Palestinianos ao rubro com compatriota que ganhou o Ídolos - O rapaz já apelou à união, e o Hamas mantém-se em silêncio. Como para que o moço possa prosseguir a saga no estrangeiro Israel tem que o permitir a pergunta é, qual união?

 

- Guardiola diz que estava a precisar de um desafio destes - Qual? Pôr duas dezenas de bestas quadradas a jogar em círculos? Ou conseguir transferir para o Bayern outros tantos enconadores sulistas com ar de ciganos?

 

- Mário Soares diz que Portugal tem futuro e ainda vai ser um país rico -Quando? Ele ainda vai assistir ao fenómeno? Vai ser ainda antes daqueles senhores iniciarem as excursões a Marte?  


direto ao assunto:


semtelhas @ 17:21

Ter, 25/06/13

 

Talvez nunca como desta vez, pelo menos em tempos não revolucionários, pudemos assistir a uma luta tão intensa entre o poder instítuido e uma classe laboral tão importante, pelo sua natureza estruturante, como é a dos professores. Até à data as situações mais extremas tinham acontecido sempre na área dos serviços públicos mais relacionados com o funcionamento do dia a dia das populações, como o dos transportes por exemplo, e as implicações que a perturbação dos mesmos podia causar.

 

Tudo indica que estará a terminar a batalha intensamente travada nas últimas semanas e, a confirmar-se o que tudo indica venha a acontecer, a cedência do governo a algumas das reividicações dos sindicatos, aparentemente às mais razoáveis, apetece dizer que, finalmente, parece que vivemos num regime que, pelo menos pontualmente, é profundamente democrático. Dois lados completamente empenhados na defesa das suas posições, ausência de medos, convicção e empenho, um resultado equilibrado.

 

Alguns episódios, mais, ou menos, relacionados com este assunto, ilustram bem a natureza dos principais atores da contenda:

 

- A completa dependência do primeiro ministro do andamento da carruagem, personagem menor no processo, aliás bem condizente com a sua realidade, um produto mediano de escola partidária, descaracterizado, com recorrente necessidade da utilização de processos básicos como a mentira, a arrogância, o revanchismo e a prepotência, para levar a sua avante.

 

- A sensação da presença decisiva no andamento das negociações, nestes casos não diretamente ligados às finanças, de eminência parda do executivo, Vitor Gaspar, e da consequência indireta do provável desenlace, um dos que o sentirá como uma derrota clara e desafio aquilo que é a sua linha de pensamento, para a frente custe o que custar.

 

- A estrondosa derrota de Nuno Crato, não tanto pelo conteúdo, mas pela forma como, surpreendentemente, se deixou enredar numa série de equívocos através da tomada de posições bem mais consentâneas com o seu colega tesoureiro, do que com um homem óbviamente muito mais esclarecido e culto que isso, e que só se podem entender à luz de grandes pressões a que terá sido sujeito. Foi pena. Oxalá não seja sacrificado na remodelação, ele, que juntamente com Paulo Macedo, é dos mais firmes valores de um governo maioritáriamente enfeudado aos partidos da coligação, mais o inefável Alvaro, oriundo de um mundo oposto perante um outro ao qual tem vindo a adaptar-se, à medida que vai aprendendo a lidar com a matreirisse mafiosa, uma confusão para quem estava habituado aqueles ares puros e límpidos do saudável e ingénuo Canadá. Não sem se fartar de dar calinadas atrás de calinadas, tantas que hoje, com evidente bonomia, acha genuína piada aos mirabolantes exercícios circenses dos seus pares, o que lhe fica francamente bem, demonstrando mesmo a inocência de algumas das preciosidades que proferiu.

 

- Quanto continua entranhada na nossa sociedade a ideia dos ditos brandos costumes, mas que funcionavam sempre para o mesmo lado, porque para o outro a brandura era só conversa. Foram muitos anos a tirar o chapéu ao poder, a defender uma falsa paz, que fedia de podre, e propíciadora de uma revolta silenciosa, veneno que ía fermentando na sociedade paralisando-a em favor de meia dúzia de inteligentes. Quando se acredita verdadeiramente na justeza das nossas convições há que lutar francamente por elas, o resultado final será sempre mais puro e nobre, contribuindo assim para um futuro melhor. O duelo a que assisti que melhor exemplifica esta ideia, para o bem e para o mal, foi entre Mário Nogueira, e Henrique Raposo, um bloguista residente do Expresso. Fazendo coro com tantos outros opinadores, mas num estilo claramente agressivo que é a sua marca, o sr. Raposo, como jocosamente lhe chama Nogueira, destilou o seu ódio conservador do costume, tantas vezes cego e até doentio, mas sempre absolutamente sincero, insultando o sindicalista. A resposta foi demolidora de falsa indiferença, amesquinhamento e agressividade contida, merecidas é certo, mas também elas fruto de, talvez recônditas, frustrações mal resolvidas que resultam num radicalismo latente.

 

No fim fica a sensação que a democracia funcionou em pleno, com todas as suas imperfeições e virtudes, das quais devo realçar a maior delas, que pela aplicação do bom senso, tenham sido protegidos os mais frágeis, a maioria.

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 13:00

Seg, 24/06/13

 

 

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 12:38

Dom, 23/06/13

 

Cada ano renovada,

Vontade de festejar.

Alegria reencontrada,

Em vez de receber, dar.

 

Vieram bons augúrios,

Nasceram ambições.

Chegaram infortúnios,

Morreram ilusões.

 

Invoca-se o destino,

Interpela-se a sorte.

Canta-se qualquer hino,

Infeliz procura de norte.

 

Perdidos neste deserto,

Que fazer? Parar? Andar?

Mesmo se tudo incerto,

Está ali a Estrela Polar.

 

Vai avançando a vida,

Chega a força do saber.

Foi ganha? Está perdida?

É deixar acontecer.

 

Sempre pré ocupados,

Com tanto para fazer.

Estão lançados os dados,

Chegou a vez do prazer.

 

Fluem acontecimentos,

Caiámos na realidade.

Paremos por momentos,

Espaço à serenidade.

 

Vazio ser sem emoção,

Cinza, triste e assético.

Esqueçamos a razão,

E o bolor do estético.

 

Tudo é libertação,

Largar amarras, ousar.

Negar medo, frustração,

Expulsar males e gritar.

 

Porquê continuar calados?

Para quê sufocar ais?

Deveres já foram pagos!

Escusado esperar mais.

 

Ignoramos o futuro,

Razão maior para viver.

Radioso ou escuro,

Nada mais há a temer.

  

Só sei que nada sei,

Dizia o mais erudito.

Fui por aí, caminhei,

Encontrei o infinito.

 

 

 

Para a minha amiga I.

 

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 16:05

Sex, 21/06/13

 

Eram os últimos dias da guerra. Um oficial nazi da SS deserta e junta-se à família que tenta esconder do que viria a seguir. Reencontra a mulher, os filhos, e uma enteada, agora uma belíssima jovem, perante a qual não consegue disfarçar um olhar predador que não escapa à mãe, o que vem reforçar a imagem de cobarde, de que esta o acusa e que com ele transporta. Lore, a rapariga, é também o nome deste filme poderoso. 

 

 

  

Daí para a frente constroi-se um documento sobre o inferno que foi a vida das famílias alemãs no pós guerra, seguindo o calvário em que se tornou a fuga desta jovem a quem a mãe, após se entregar ás tropas aliadas, deposita a responsabilidade de, juntamente com quatro pequenos irmãos, um deles bébé, atravessar um país autênticamente a saque e sedento de vingança, onde as violações, os assassínios, a violência totalmente gratuita, era exercicida sobre os civis alemães como se de culpados oficiais militares se tratassem, até casa de uma irmã, tentando assim salvá-los de uma morte certa.

 

Arrepiante o retrato que nos é dado do quanto estava profundamente convencido aquele povo, nomeadamente os mais jovens que não tinham conhecido outra coisa, da justeza da luta de Hitler, muito em particular contra os judeus, símbolos de toda a maldade reinante sobre a terra: a mentira, o roubo, a ganância, etc., em confronto com a irrepreensível ordem estética, seguramente, e ética, supostamente, da pura raça ariana. Fica também claro que, naquele período, ninguém ficou inocente, americanos, ingleses, franceses, russos, e até, muito especialmente, os próprios alemães, divididos entre os que, com enorme dificuldade, se rendiam às evidências, uma realidade que lhes eram brutalmente esfregada na cara, e os outros, que preferiam continuar a ouvir a voz interior, há muito enraízada, para muitos mesmo uma natureza intríseca, recusando-se a admitir os óbvios e hediondos excessos cometidos.

 

Sem falhas este realmente fantástico filme, uma obra prima pela absoluta excelência sob todos os pontos de vista, o argumento baseado num romance, as interpretações, os cenários, o guarda roupa, a caracterização, e sobretudo a condução daquilo tudo, numa realização perfeita, a qual só nos permite ver a luz na última cena. Uma sucessão de imagens por vezes bastante cruel e mesmo perturbante, mas sempre seguindo um critério assente num único objetivo, passar com o máximo rigor histórico uma mensagem urgente pela, ainda há pouco tempo, inacreditável sensação de imensa oportunidade. Da vintena de pessoas que estavam na primeira sessão do dia de estreia não fazia parte um único jovem, estavam todos na sala ao lado, de onde nos chegavam resquícios das inumeráveis explosões, a ver Brad Pitt salvar a humanidade de mais uma invasão de extra terrestres ou coisa que o valha. 

 

Provávelmente as coisas são assim mesmo mas, como a mundo está por estes dias, lembrar o sucedido há, afinal de contas, tão pouco tempo, especialmente aos principais protagonistas do futuro, seria de uma importância decisiva, porque aquilo não pode voltar a acontecer. É por isso muitas vezes questionada a utilidade prática destes verdadeiros documentos que, pelo menos por cá, na maior parte das vezes são vistos exclusivamente pelo mesmo círculo restrito de pessoas. Quase todas as outras, sobretudo as que mais contam para o efeito, estão completamente alienadas a alimentar, à semelhança de outros casos noutras áreas, uma indústria global e crescentemente decisiva na formação do caráter das gerações mais novas, que movimenta milhões, de pessoas e em dinheiro, e engorda meia dúzia. Será que, tal como à heroína da fita, precisarão de ser dilacerados por acontecimentos de uma violência sem nome para acordarem?  

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 14:13

Qua, 19/06/13

 

- No Brasil as manifestações de protesto não param - Por esta é que ninguém esperava! E agora? E se os chineses, os russos, os indianos e outros que tais lhe seguem o exemplo? Onde fica a tal reserva de esperança?

 

- Poder de compra dos portugueses está 25% abaixo da média da União Europeia - Há aqui qualquer coisa mal que não está bem. Ou não valemos mesmo nadinha, ou estes senhores que nos desgovernam são a nossa desgraça.

 

- Bancos continuam a não financiar as PME's - Claro! Esses sabem o que andam a fazer. Financiar empresas para produzirem e venderem a quem?

 

- Tribunal condena homem preso por polícias à paisana depois de insultar Cavaco - Será que esta gente ainda não percebeu que o melhor que têm a fazer é deixar o pessoal falar? Assim estão a fazer um convite para que passe à ação.

 

- Passos Coelho diz que vai alterar a lei da greve - Se mesmo sabendo que são precisos dois terços do parlamento para o fazer, não resiste a estas alarvidades, imagine-se o que seria se os tivesse!

 

- Líder da Juventude Centrista diz que dois pais ou duas mães não produzem filhos equilibrados - Alguém explique a este senhor que o equilibrio advém da sensibilidade de cada um dos parceiros e não daquilo que têm entre pernas. Fixações...

 

- Príncipe Saudita vai processar Forbes por o baixar na lista dos mais ricos no mundo - Se o gaijo é assim tão rico, porque é que não compra a merda da revista e mai nada?

 

- Christine Lagarde, quando era ministra da economia de Sarkozi, disse-lhe para ele a utilizar como mais lhe conviesse - A mulher não deve ver-se ao espelho.

 

- Cavaco disse que consenso político não é o que desejava - Atendendo à habilidade que tem demonstrado em gerá-lo, está mesmo a ver-se qual é o conceito de consenso que vai por aquela ilustre cabeça.

 

- Governo grego apagou televisão pública - Devem ter-se esquecido de correr com o Relvas deles a tempo.

 

- Paulo Portas defende diminuição do IRS ainda nesta legislatura - Lá para 2015, depois das contas equilibradas, diz. E antes das eleições, pensa.

 

- Durão Barroso apoia EUA e Reino Unido contra França pela globalização da cultura - Para arriscar o tacho desta maneira o artista deve estar mesmo na corda bamba. O melhor é aceitar o apoio do amigo de Boliqueime para o substituir.

 

-  Google colabora com a CIA fornecendo dados dos seus utilizadores - Depois do sucesso do capitalismo na terramãe do comunismo, só faltava o bigbrother na pátria da democracia.

 

- A Marca encheu as páginas centrais enaltecendo a obra do FCP - Dizendo coisas como, Dragão dos ovos de ouro, ou o toque de Midas, referindo-se a Pinto da Costa, a propósito de ser o clube mais bem sucedido da história das transações de jogadores de futebol. Deve ter sido o SISTEMA.

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 15:31

Seg, 17/06/13

 

Depois de pousar a folha em cima do balcão e enquanto ela não me atendia, eu, para cá e para lá em frente ao dito, espreitando o noticiário televisivo e pensando que este ía ser mais um daqueles dias em que os provérbios me haveriam de afluir à cabeça a tal  ritmo, um atrás do outro, até, como de costume, quase entrar em parafuso. É então que reparo nela a lançar-me olhares furtivos enquanto digitava ágilmente os meus dados e a, disfarçadamente, juntar o polegar com o indicador da mão direita experimentando círculos de vários tamanhos. Quando me encara é para dizer, a seguir à primeira urina do dia faz para dentro deste recipiente durante 24 horas. Incrédulo encosto a barriga ao balcão, e, à espera do pior, espreito com o rabo do olho para debaixo do tampo... confirma-se, haviam recipientes de três tamanhos! Dou uma rápida mirada ao que me tinha sido fornecido, uff! Era o médio, podia ter sido pior... percebeu a minha manobra e pôs um sorriso malandro na cara, ao qual respondi com a expressão mais melosa que o meu gato me ensinou. Nada feito, afiambra as trombras mais ameaçadores que vi nos últimos tempos, de tal ordem que só descanso quando saio dali para fora.

 

Ainda antes destes potencialmente abaladores minutos, e desde que tinha deixado a praia, algumas frases não me largavam, por trás liceu, pela frente museu, ou, ...dá dentes a quem não tem nozes (hoje dá mais jeito assim), aos quais agora, desesperado, depois do infeliz relance na televisão onde passava a notícia do fecho compulsivo da televisão estatal grega, reparo ter-se juntado uma outra, a lei do menor esforço. Se, quanto às duas primeiras me desenvencilhei fácilmente, já a terceira se mostrou bem mais problemática. Foi para tratar desta última como ela merece que despachei as outras, muito provávelmente ambas a azucrinar-me pelo mesmo motivo, vento frio e mar bravo, em areias limpas e serviços de apoio de praias tropicais. É que, para além das poucas criancinhas a correr debaixo d'olho das vigilantes enregeladas, só lá estavam os nadadores salvadores embrulhados nas toalhas, isto em duas das seis prais que cruzo, nas outras estavam completamente sózinhos, e uma quantidade considerável de senhoras que para manterem a linha e sobreviverem à intempérie, lá andavam comigo a caminhar, e cujas silhuetas eram bem apreciáveis, algumas mesmo desejáveis... quando vistas de trás nos seus justinhos trajes de malha.

 

Já a questão da lei do menor esforço puxou um bocado mais por mim. Dizia a notícia que o governo grego pretende reabrir a cadeia de televisão que tinha dois mil e setecentos funcionários com cinquenta. De facto assim compreende-se que não seria fácil adoptar uma postura de convencer, em vez desta de vencer, por ko. Mesmo que fossem de cinquenta em cinquenta dispensas negociadas, íam andar naquilo anos. Tudo isto fez-me lembrar algumas das minhas experiências laborais: sempre que era preciso resolver algum problema, juntava-se mais um ingrediente, mexia-se, levava-se ao forno que era a conversa fiada, e esperava-se que tudo ficasse resolvido. Para não correr o risco da matéria prima faltar, comprava-se o dobro da necessária; com medo de não se cumprir o prazo de entrega, contratava-se um exército de gente e atirava-se o prazo para as calendas; temendo que os custos viessem a ser superiores ao previsto, aumentava-se ao preço de venda. Como é óbvio, toda esta política só foi possível enquanto a mão de obra foi extremamente barata, as matérias primas abundavam, e eram provenientes de países ainda a morar nesse, para o ocidente, maravilhoso mundo da ignorância. O problema é que fazer contas ao pormenor, fiáveis, com uma hipótese miníma de falhar, dava muito trabalho. Parece-me que foi a esse mesmo trabalho que os gregos resolveram fugir, o que aliás lá, tal como cá, parece ser um hábito. Nem que para isso tenha que se passar por cima das mais elementares regras do bom senso e do respeito pelo outro. Os tempos vão mudando e as leis vão ficando, até quando?


direto ao assunto:


semtelhas @ 12:07

Dom, 16/06/13


direto ao assunto:


semtelhas @ 13:48

Sex, 14/06/13

 

Lidos centenas, talvez milhares, de artigos, diagnósticos, prognósticos, vistas e ouvidas análises com origem nas mais diversas personalidades, de todos os quadrantes políticos, sociais, religiosos, ao longo de mais de quarenta anos, iniciei-me um ou dois anos antes do 25 de Abril de 1974 com o Expresso, parece-me estar a assistir ao fim de um ciclo que terá começado uma geração antes da minha.

 

Com o final da II Guerra Mundial, com toda a devastação por ela provocada, surgiu o Estado Providência, a segurança social, como forma de combater a pobreza, facilitar a reconstrução, uma espécie de renovação com os altos objetivos de criar uma sociedade baseada na solidariedade, e cujos pilares seriam a educação, a saúde, a justiça, tudo a construir num clima de paz indiscutível, após o pesadelo dos milhões de mortos ainda bem presentes na memória coletiva. O advento da Guerra Fria, nascida da intervenção direta de duas potências globais no continente europeu aquando do conflito, curiosamente uma delas, a União Soviética, maioritáriamente asiática, e a outra, os EUA, da américa do norte, proporcionou um género de paz podre consubstânciada nas duas alemanhas. O surgimento de líderes políticos como Ronald Reagan, Margueret Tatcher ou Gorbatchov, e de Karol Wojtyla como Papa, todos produtos de um certo desgaste de um sistema já com mais de  uma geração sobre o término da guerra, veio reiniciar um processo de liberalização mais ou menos feroz da sociedade que, a libertação dos países da leste europeu, como que caucionou, sendo a queda do muro de Berlim, o desmembramento da União Soviética, e o fim da Guerra Fria, os exemplos maiores deste virar de página.

 

A década que se seguiu foi de preparação para o que haveria de abalar o mundo. A explosão do universo da informação por via da internet, que   resultaria na globalização que tornou tudo mais perto e pequeno, mais competitivo e reenvindicativo. A tomada do poder global pelo neoliberalismo como que marcou passo face a essa revolução que ía acontecendo, ainda algo lentamente, o que permitiu uma evolução mais ou menos pacífica ainda que já pontuada por conflitos, nomeadamente o da Guerra do Golfo, ovo da serpente que haveria de eclodir mais tarde. Potenciais potências globais como a China, a Rússia ou o Brasil, entre outros, aproveitaram a oportunidade que lhes era dada por esse iato de tempo histórico entre os tempos da mão de obra barata e o despertar das populações, para rentabilizar as muitas riquezas naturais que possuem, e começaram a atrapalhar a economia do todo poderoso dito mundo ocidental, e a enervar os seus principais beneficiários, a alta finança, as grandes empresas globais, os extratos mais elevados de uma sociedade que, de cima a baixo, se tinha tornado preguiçosa.

 

A oportunidade que estes falcões e abutres esperavam surgiu com o ataque, à bomba, ao coração do tal mundo. Ao seu principal país, EUA, na sua principal cidade, Nova Iorque, e no seu maior ícone, as Torres Gémeas. A partir daí, em nome da luta contra esse novo papão, em substituíção do medo da guerra nuclear, que tudo iria justificar, o terrorismo, e beneficiando da presença de um presidente marioneta ao leme do país farol do mundo, foi um fartar vilanagem. Como que recuperando o tempo perdido, misturado com um sentimento de vingança pouco disfarçado, os poderosos desataram a trabalhar uns para os outros. Usando sobretudo a construção civil, setor que, como é sabido, movimenta práticamente todos os outros, desenharam uma teia de leis que os protegia, e um sistema bancário viciado que legitimava o comprometimento de milhões num falso futuro, iludidos e enganados por uma riqueza só virtualmente existente, reassumiram o poder real em roda livre, uma fuga para a frente que criou uns milhares de milionários e muitos milhões de pobres.

 

Quando acabou por se descobrir que, afinal, o rei ía nú, quem estava no poder, independentemente da côr partidária, algo cada vez mais irrelevante, um sistema político em falência, caiu ou foi corrido nas eleições seguintes, e foram castigados meia dúzia dos principais responsáveis pelo estado das coisas, tendo ficado completamente impunes 99.9% dos restantes. A pergunta que se impunha era, como sair deste buraco? É para essa pergunta que ainda ninguém encontrou uma resposta cabal. Uns, como Obama, puseram as rotativas a funcionar e distribuíram dinheiro pela população, como que dando-lhe o benefício da dúvida, acreditando que o consumo vai reativar a economia, criar emprego, e, acima de tudo, que quando este surgir as pessoas vão mesmo querer trabalhar e assim justificar a aposta nelas feita. Outros tiram dinheiro e direitos, acham que a cura virá pela dor. Ir ao sâo pelo castigo e pela dolorosa tomada de consciência do que apelidam de excessos, para, então sim, começar de novo. Aparecem os primeiros sinais indicativos de, sem pôr em causa a bondade inicial das apostas, qual delas terá mais possibilidade de êxito. Também algumas evidências, o sonho europeu parece cada vez mais uma utopia, os EUA vão perder o monopólio do poder mundial, e o ritmo a que as coisas acontecem, fruto de uma informação global desenfreada, jamais permitirá previsões a médio prazo.

 

Estará a fechar-se um ciclo, algo terá que parar esta vertiginosa queda num poço de que ninguém conhece as paredes nem o fundo. As gerações mais jovens, e as vindouras, têm que ser imbuíadas desses valores que surgiram no pós guerra em meados do séc. passado, só assim poderão encarar um futuro que, atualmente, não conseguem adivinhar. Pode ser que não tenham que pagar um preço tão elevado quanto o tiveram que fazer os seus antepassados. 

 


direto ao assunto:


semtelhas @ 13:42

Qua, 12/06/13

 

Um nevoeiro, ora mais fino ora mais cerrado, ía filtrando o sol que  chegava morno, aconchegante, depois da brisa aveludada, que acarícia, ajudar a dissipá-lo o suficiente para vislumbrar-mos as rochas, origem daquele doce e penetrante odor a algas, caranguejos, mexilhões, mergulhados ou a boiarem na água cristalina das pocinhas entre elas. Lá ao longe a razão do rumorejar, as ondas suficientemente altas para sustentarem dois ou três surfistas nas suas cristas. Magníficos de equilibrio e liberdade.

 

Os sentidos captaram e ligaram a memória. Há mais de cinquenta anos, naquela mesma praia, o miúdito que era eu, brincava entre aquelas mesmas pedras, outra água, talvez e mesmas poças. Alguns metros acima, na areia seca, elas, um olho na conversa, outro em mim, anda cá R., para te pôr creme, é quando está assim que queima mais. Outra, vingando-se da falta de sol, vim eu da Suiça para isto! o raio do sol levanta-se tarde, e atira-se precocemente ao lanche. Tem calma mulher, daqui a pouco nem o aguentas!

 

Perguntando-me como era possível alguém querer melhor que aquilo, perdendo-me naquele mundo que para sempre haveria de ser o meu, o da minha imaginação, os castelos de areia íam tomando forma no meio de seguros canais a toda a volta e pontes perfeitas, dentro e por baixo dos quais a água do mar circulava controladamente. As fortificações e adornos eram as pedritas multicolores que recolhia logo ali ou um pouco mais acima, por vezes descobria um ou outro pequeno peixe para fazer de ameaçador crocodilo no fosso.

 

Quando o sol, finalmente diziam elas, descobria, o melhor de cada um daqueles dias, já tinha ficado para trás. O nevoeiro e a sua causa, a ausência de vento, juntamente com a temperatura amena, a mistura de cheiros frescos de uma suave intensidade, a maré vaza, e um quase silêncio, como que transmitia magia aquelas duas, ou três horas quando tinha sorte. Depois o encantamento ía-se quebrando à medida que a maré enchia e o espaço diminuía, o vento aumentava e com ele o ruído.

 

Feliz país este à beira-mar plantado. Mais de metade das suas fronteiras com esse formador de caratéres, por ele borilados, adocicados, fazedor de equilibrios e de bom senso, que trazem nostalgias mas afastam amarguras mais fundas, daquelas que, quase sempre, resultam em atroz violência, a mesma que, mais para o interior, já podemos sentir, mas não da forma quase demente, como a que vai crescendo à medida que avançamos continente adentro. Fantástico este imenso manto azul sem fim, tão revolto quanto tranquilo, que, simultâneamente, nos remete à  frágil condição, e revitaliza a natureza, de humanos que somos.


direto ao assunto:


semtelhas @ 19:40

Seg, 10/06/13

 

- O governo quer tornar pública lista onde consta quem beneficia de ajudas sociais - Bem podem tentar explicar porquê, mas depois da política que praticam, é óbvia a intenção de uma espécie de caça às bruxas que só existem nas cabeças destes tristes.

 

- Cada vez há mais orgãos de comunicação social portugueses a passar para mãos angolanas - Para além de Portugal ficar cada vez mais pobre e menos livre, não se percebe como Angola ficará mais rica.

 

- Secretário de estado foi interrompido por manifestantes e apressou-se a abandonar a sala - Juntou-se a fome à vontade de comer, um não tinha nada de bom para dizer, os outros estão fartos de ouvir o que não querem.  Propaganda para quê? Já se sabe do que a casa gasta.

 

- Gestores agora demitidos por causa dos swaps já foram nomeados por este governo - Pois...só que na altura estava à espera para ver no que aquilo dava, e agora faz este espalhafato como não soubesse de nada. Ou nós somos muito burros ou eles não têm vergonha nenhuma.

 

- Cientistas provam que acasalamento funciona como gatilho do amor - Andámos há séculos a dizer-lhes isso, mas elas insistem que só o querem fazer se fôr por amor. A velha questão das prioridades...

 

- MIchael Douglas diz que cancro na garganta foi provocado por sexo oral - A ser verdade, não lhe bastou ter aberto a boca quando não devia uma vez. Tinha que reincidir no erro.

 

- Gaspar diz que a chuva prejudicou a construção civil - Gozação, ingenuidade ou estupidez? Se, justamente, considerarmos pouco inteligente sistematicamente julgar todos os outros mais burros que nós mesmos, então digamos que o homem é vaidoso, morcão e menos esperto que pensa.

 

- Passos diz que não teme os portugueses nem eleições - Aqueles doze armários que gravitam em volta do artista devem ser para o proteger das correntes de ar. Ganhar eleições? Só se fôr para responsável de condomínio do prédio lá em Massamá.

 

- Sporting vai fazer despedimento coletivo de sessenta funcionários - Pelo menos a cortar relações este Bruno Carvalho já está a mostrar serviço, primeiro foi com o FCP, agora é com os seus próprios trabalhadores. Promete!

 

- Reformados de todo o mundo estão a aproveitar benesses oferecidas por Portugal - Com tanto velhote a entrar e tanta juventude a sair, isto qualquer dia parece um lar da terceira idade.

 

- 1% dos ricos do mundo são donos de 39% da riqueza do mesmo - Por mais dinheiro que ganhem e poder que tenham, nem vendendo tanta infelicidade conseguem comprar a felicidade que desejam.  

 

- Provedor de Justiça defende eleições antecipadas - Não sei porque que é que esta declaração levantou tanta polémica. Então o homem não está no lugar para providenciar que se faça o que é justo?


direto ao assunto:


semtelhas @ 13:37

Dom, 09/06/13

 

 




semtelhas @ 11:40

Sab, 08/06/13

 

Simplificando, nasceu como tentativa de, numa atividade laboral, minimizar o desiquilibrio de forças entre quem manda e quem obedece. Depois, como complemento para evitar outro tipo de desiquilibrios, foi instítuida a figura da requisição civil, para os casos em que a greve punha em causa a segurança das populações, no sentido mais lato do termo, e dos serviços mínimos, para que a sociedade possa continuar a funcionar de forma minímamente eficaz durante a duração da mesma.

 

Não conheço a lei da greve, não quero, nem tenho que conhecê-la, para compreender aquilo que é suposto as leis terem intrinsecas nelas mesmas, o tal senso comum, ou o bom senso, segundo Kant, o tal que dizia ser este o que há de mais bem distríbuido. E aquilo que percebo é que quem faz uma greve está a praticar um ato cívico limite, até porque durante a sua duração não aufere qualquer remuneração, uma última tentativa de ganhar uma causa que acha justa. Quem é objeto desse protesto, e caso tenha responsabilidades alargadas perante a sociedade, tem obrigação de preservar quem é alheio à questão central de eventuais repercussões negativas. É suposto que desta discussão se faça luz, isto é, que, voltando a Kant, o bom senso aconselhe cedências e promova aproximações. Mas não tenhamos ilusões, o consenso saudável só será atingido se as partes forem absolutamente honestas, principalmente consigo próprias, lutando ao máximo pelas suas ideias.

 

É por isso que não compreendo, nem acho aceitável, a tentativa de instaurar um clima de guerra, baseado na hipotética existência de um lado composto por um bando de malfeitores, e outro de virgens ofendidas. Este quadro só sobrevive num país onde a falta de respeito entre as pessoas, sobretudo intelecual, ainda é enorme. Onde ainda é possível haver uns quantos convencidos que são muito mais espertos que todos os outros, que fácilmente conseguem enganar através de um discurso populista, procurando vencer pela criação de divisões entre as serôdias hostes da populaça, contribuindo assim para a eternização de um atraso endémico. Há dois lados, cada um sinceramente convencido da bondade das suas razões, e há leis para regulamentar o dirimir das mesmas. Que a luta seja completa, digna e até ao fim, porque só assim se curará a ferida, indo ao são. Mas não é legítimo que se destrua tudo em volta, a vida continua. Há, portanto, que manter o essencial a rolar para, uma vez ultrapassado o problema, a roda tenha avançado o suficiente para que as coisas prossigam. Sobressaltos que resultam em melhorias, eis o que se pretende.

 

Lamentável a utilização do fantasma do medo, seja por quem fôr. Não seria já tempo de tranquila e honestamente praticar uma democracia saudável, fazendo uso das leis que ela tão profusamente gerou?  

 


direto ao assunto:

"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
procurar
 
comentários recentes
Pedro Proença como presidente da Liga de Clubes er...
Este mercado de transferências de futebol tem sido...
O Benfica está mesmo confiante! Ou isso ou o campe...
Goste-se ou não, Pinto da Costa é um nome que fica...
A relação entre Florentino Perez e Ronaldo já deve...
tmn - meo - PT"Os pôdres do Zé Zeinal"https://6haz...
A azia de Blatter deve ser mais que muita, ninguém...
experiências
2018:

 J F M A M J J A S O N D


2017:

 J F M A M J J A S O N D


2016:

 J F M A M J J A S O N D


2015:

 J F M A M J J A S O N D


2014:

 J F M A M J J A S O N D


2013:

 J F M A M J J A S O N D


2012:

 J F M A M J J A S O N D


subscrever feeds
mais sobre mim