Tenho saudades do meu cão
Tenho saudades dos meus gatos
Tenho saudades das minhas mulheres
Das que tive e das que tenho
Tenho saudades do meu filho inocente
E de sentir que era o seu héroi
Tenho saudades da minha mulher ingénua
E de quando todo o seu corpo ria para mim
Tenho saudades dos meus amigos
E pena por não lhes ter dito tudo
Tenho saudades de quando era novo
Tenho saudades dos primeiros livros
E de neles deixar de ser eu
Tenho saudades de morrer na música
E de ressuscitar com gente ao meu lado
Tenho saudades do meu pai protetor
Tenho saudades do meu irmão pequeno
Tenho saudades da minha mãe nova
Tenho saudades do mar da minha infância
E de nele mergulhar nas ondas frias
Tenho saudades do cheiro da minha prima
De lhe vislumbrar os pelos púbicos e enlouquecer
Tenho saudades do olhar da minha tia
Tenho saudades das feridas nos meus joelhos
E da minha cegueira também quando corria
Tenho saudades da felicidade vir com o sol
Tenho saudades de seguir os carreiros de formigas
E de sentir o cimento quente na cara
Tenho saudades das corridas de caracois
Dos caminhos de baba e do campeão lá no alto
Tenho saudades da tristeza chegar com as núvens
Tenho saudades de gostar do frio
Tenho saudades de ter medo da chuva forte
Tenho saudades de me sentir perdido com o vento
Tenho saudades dos primeiros filmes
E de me apaixonar pelas atrizes
Tenho saudades de sair do cinema a flutuar
E com os jeitos, e a ser, o meu héroi da fita
Tenho saudades do sabor do primeiro beijo
E da euforia calma, e da volupia, que ele provocou
Tenho saudades do eu que me chega pelos cheiros
Tenho saudades da bondade dos vizinhos
Tenho saudades dos domingos nas Antas
Tenho saudades da alegria pura e cristalina
Tenho saudades das sensações absolutas, inteiras
Tenho saudades dos climaxes loucos
Tenho saudades dos pequenos desgostos devastadores
Tenho saudades da tristeza infinita
Aquela que aperta a garganta e faz correr as lágrimas
Tenho saudades dos sabores perfeitamente acabados
E dos momentos que as suas memórias me trazem
Tenho saudades de me sentir completo
Tenho saudades dos medos profundos
Tenho saudades de admitir uma estética perfeita
Tenho saudades da possibilidade da ética total
Tenho saudades do ódio puro
Tenho saudades do espanto ao descobrir
Tenho saudades do conforto no voltar
Tenho saudades das casas onde vivi
Tenho saudades dos carros que tive
Tenho saudades do pião, do arco e da gancheta
E da fisga , e dos carrinhos Matchbox
E da bolas azuis da Nívea na praia e do seu cheiro
E de fazer Legos diferentes da fotografia da caixa
Tenho saudades dos orgasmos primordiais
E da plena satisfação de existir que lhes seguia
Tenho saudades de corpos femininos jovens
E de os ter nús ao meu lado em tardes quentes
De, na penumbra, pensar que era realmente feliz
Tenho saudades de desesperar de saudades
Das que sentia logo após deixar um meu amor
Tenho saudades de sentir a esperança no verde
Nas árvores, nas florestas, nos prados do campo
Tenho saudades de ficar olhar as núvens brancas
De vê-las avançar lentamente no azul maravilhoso
Tenho saudades do céu estrelado na noite algarvia
No meio da serra escura, sem frio e no silêncio total
Tenho saudades da água morna e da areia fina
E do peixe grelhado e do vinho branco gelado
Tenho saudades de jogar ténis à chuva, só com meias
Do meu filho, pequenito, a correr atrás das bolas perdidas
Do meu irmão e eu jogarmos como não houvesse amanhã
Tenho saudades do nosso primeiro jardim
Das dálias vermelhas sangue, dos veludos enormes
dos junquilhos amarelos, dos gladíolos elegantes
E multicores, das zínias e das tulipas brancas
E do meu pai vergado a libertá-las das ervas
E do cheiro a terra molhada após a rega do fim da tarde
E dos lanches solitários dos dias de Verão
Do sabor do pão, do queijo, do fiambre e do Sumol
Depois de sorver magníficas estórias do Mickey e do Pateta
E do Ene 3, e do Ogan, da Mademoiselle X, e do Kalar
Tenho saudades de acordar sem conhecer o dia que chega
Tenho saudades de quando descansava enquanto dormia
...
Tenho saudades de mim
É curioso como a desgraça vende sempre exceto no propaganda política. Talvez porque quando se trata de exultar com o mal alheio o discurso não é feito para cada um de nós, aconteceu ao outro enquanto eu estou aqui a salvo na minha vidinha, um consolo! Mas quando o discurso é político já estão a falar para mim, a prometer-me isto ou aquilo, e como dos fracos não reza a história há que vender pão e circo, sendo que, quer o pão quer o circo se devem adequar ao perfil a quem se dirigem. Pode adquirir as mais variadas formas, pôr diferentes máscaras, mas a mensagem tem sempre que ter no seu núcleo a esperança, ser positiva, mas também intrínsecamente sincera, acreditar em si mesma. Fazer das massas estúpidas pode resultar durante algum tempo mas acaba por falhar. Como se a multidão tenha uma espécie de saber intuitivo, coletivo, capaz de decifrar príncipios tão importantes como a justiça, a dignidade, a liberdade. Hoje o markting recorre a ciências que vasculham o cérebro a limites até há pouco tempo completamente insuspeitos, no entanto, ver o filme Não, pela intemporalidade que lhe confere a forma como aborda o tema, permite perceber que por mais longe que vão, ou mais fundo que escavem, haverá sempre esse tal saber intuitivo em cada um, e na esmagadora maioria dessa entidade coletiva que constitui a multidão, no limite intrínsecamente boa, que sempre se autoprotegerá contra os piores de nós.
Já toda a gente tinha percebido que o Cavaco não ía resistir a deixar cair a máscara apesar de todo um esforço para se tentar perpétuar enquanto salvador da pátria, o homem que mais tempo esteve no poder em Portugal, como ele orgulhosamente diz, que nos protegeu de todos os perigosos desvarios da esquerda, o país bom aluno que viria a ter um futuro radioso caso obedecesse sem esmorecimentos ou quaisquer espécie de dúvidas, ás instruções de iluminados como ele, não porque possuídores de conhecimentos suficientemente vastos, de vistas largas, daquilo que é a natureza humana, mas porque profundamente conhecedores dessa ciência exata que é a economia, só eles poderiam indicar esse caminho do progresso.
Ontem ficou claro que o PR resolveu assumir-se de vez. Cada vez mais acossado, frontalmente desmascarado por aquele que terá sido porventura a sua principal vítima, José Sócrates, sente que chegou o momento de se colocar do seu lado da barricada. Por muito que queira fazer do povo estúpido, até o mais simples percebe que não é possível pedir consenso e defender descaradamente um dos lados. Nem sequer interessam as suas intenções, conduzir os ignorantes pelo bom caminho? Porque destas está o inferno cheio. Provávelmente é melhor assim. Só merece respeito quem se faz respeitar, e quando aquele que devia ser o garante do bom senso, do equílibrio, se não de todos, pelo menos a esperança da maioria das pessoas que lhe deram essa responsabilidade, opta por afrontar aquela que parece ser a opinião de, no mínimo, grande parte dos eleitores, então a sua presença naquele lugar perdeu muito da sua legitimidade porque deixou de merecer a confiança de muitos. Afinal não tem as qualidades indispensáveis para ser o garante do que de mais precioso uma sociedade pode ter, a liberdade de escolher os seus representantes. Ou por mais que ele e os seus acólitos atropelem regras básicas de convivência democrática tem que se levar com eles até ao fim do mandato? Como dizia o padre António Vieira, o que seria do mundo se as regras nunca fossem ultrapassadas?
A sabedoria de que trata o filme Não, há-de fazer o seu caminho, e também estes frios e calculistas tecnocratas, que estão no poder em vários países europeus hão-de ter o que merecem. Pena que entretanto tenham atrasado, se calhar mesmo destruído, o sonho europeu que ainda há poucos anos era visto como exemplo, e mesmo o atingir do que até aí tinha sido considerado uma utopia, a união dos países em torno de um bem comum, tendo por base a ajuda dos mais fortes aos mais fracos, e deixado para trás estes, entretanto parcialmente desativados em nome de um processo maior, entregues à mesquinhez e ao revanchismo dos lacaios que fazem vénias enquanto lhes tiram o tapete.
A saudade, não se sente pela ausência de alguém. A saudade, acontece quando sentes a presença de alguém.
Um destes dias ouvi na televisão qualquer coisa que o Carreira ía estar na televisão ontem à noite. Avisei logo as minhas amigas para me lembrarem. Adoro o Toni!
Afinal devo ter ouvido mal. O que deu foram uns senhores a falarem daquelas coisas, que está muito mau, que é preciso mais isto e mais aquilo, que eu bem avisei, e não sei que mais. Sei que não estava lá o Toni, eu nem desliguei porque pensei que nos íam fazer uma surpresa como ás vezes fazem a sra D Júlia e a Fátima Lopes, mas não, acho que o programa devia ser sobre as carreiras daqueles senhores, por isso me enganei.
Mas pronto, até gostei. Havia um velhote que ralhava muito com os outros que ficavam cheios de medo a olhar para ele. Deve ser mais uma daquelas pessoas que tenho visto muitas vezes, como é?, Ecomistas? Ai não, isso são as mistas só com legumes do café da Zezinha. Economistas, é isso! Não percebi bem o que ele disse, só que estava tudo mal, que já não tinha esperança porque é velho, que se não se fizer assim e assado vamos todos para a Grécia. Aqui pensei logo que não quero deixar a minha casinha. Falava muito alto e do pagode e as pessoas riam-se, e eu também me ri porque quero é ver toda a gente feliz. Não sei porquê, mas deviam deixar este senhor, ou um dos outros todos que estão sempre a falar na televisão, tomar conta disto, pela maneira como falam de certeza que sabem onde está o mal.
Como eles se tratavam todos por sr. dr. não fiquei a saber o nome deles, mas eram todos muito simpáticos, menos o velhote, e devem ser pessoas muito importantes. Por acaso também não gostei muito de um russo barbudo que estava lá que estava a dizer umas coisas que me fizeram lembrar o filho do meu antigo patrão, que Deus tem, que quando o pai morreu nos juntou lá no refeitório e começou com a mesma conversa, qualquer coisa da renovação, do investimento ou lá o que é, da produtividade, que tínhamos de trabalhar mais, como se fôssemos de ferro!, e mais uma data de coisas que não percebi nada. Só sei que mudou aquilo tudo, trocou uns para aqui outros para ali, as pessoas começaram a ficar chateadas e ele respondía-lhes que se não estavam bem que se pusessem melhor. E foi o que eu fiz e quase toda a gente fez. Deu-nos a carta para o desemprego e passado uns meses fechou. O pai ainda fazia muita falta, mas a culpa também foi dele! O filho só andava lá pelas escolas, nunca esteve um dia na fábrica, como é que ele podia perceber alguma coisa daquilo?
O outro rapaz novo fazía-me lembrar o menino Tomás, o namorado da menina Raquel que é filha da minha senhora certa. Depois tenho mais duas ou três, depende, para passar a ferro e assim. Parece-me que devem ter andado no mesmo colégio, acho que é para os militares. São mesmo parecidos, as pessoas quando eles falam ficam muito caladas espantadas a olhar para eles, com aquele aspeto! Sempre impecáveis! Tudo do bom e do melhor! E aquela maneira de falar devagar para a gente perceber bem o que eles querem dizer, com aquele olhar assim mesmo de frente! Pronto eu sei que são militares mas até assustam um bocado! Andam para aí a falar em guerra e não sei quê, mas eu estou descansada porque de certeza que estes militares não vão deixar ninguém fazer-nos mal.
Depois havia outro que parecia o meu médico de família, uma joia! Tive tanta sorte, é o melhor lá do Centro de Saúde. Só ele é que fazia um bocado de frente ao velhote, mas a medo, até parecia que a seguir lhe ía pedir desculpa. Não percebi porquê, mas eu também não percebo nada. Falou muito em justiça, nos mais novos, que ainda há esperança, que é preciso mudar mas com a ajuda de todos, e o velho do outro lado aos gritos a dizer que não há tempo prá justiça, que não adianta porque os srs ministros só complicam, que nos está, como é que ele disse?, na massa do sangue, mas ao mesmo tempo dizia que a vida é muito simples! Não percebi nada! Mas lá está, é como eu digo, ele até diz que é muito simples, porque é que nunca põem estes senhores lá no governo?
Ah! Já me ía esquecer! Também lá estava aquela senhora, qualquer coisa Ferreira...ou Lima, toda tesa que já vi outras vezes. Ontem parecia que estava um bocado triste, ou então foi o raio do velhote que assustava toda a gente. Tinha um vestido preto curto e justo e rendado do peito até ao pescoço, os senhores também íam muito bem, tudo a condizer! Ela está um pedaço duma mulher! A minha avó é que tinha razão, gorda e bonita! Só espero que na próxima semana em vez de falar das carreiras de mais senhores importantes como estes, leve lá o Toni, só ele é que nos dá alegrias.
Cavaco esqueceu-se de nomear Saramago entre os maiores escritores portugueses - Os colombianos já conheciam e admiravam Saramago, agora que conhecem Cavaco, compreenderam melhor porquê. Num país de Cavacos os Saramagos também têm que ser daninhos.
Depois de Coimbra, Capela também influência resultado so SLB/SCP - Pedroto chamava-lhes roubos de igreja, agora são mais à Capela, sem música, mas a dança é a mesma.
Miguel Gonçalves, a demolidora máquina de motivar do extinto Relvas, diz que maioria dos desempregados não quer e não sabe trabalhar - Quando este infeliz cair não vai ser bonito de se ver.
Poiares Maduro escolhido para secretário de estado - A fazer fé na vibrante e convicta conferência de imprensa em que fez de Gasparzinho, vai juntar-se ao igualmente verde e titubeante Maduro venezuelano. Verduras perigosas.
Durão Barroso diz que portugueses são muito trabalhadores - Especialmente quando emigram.
Formula de excel para a austeridade está errada - Alguém vai acreditar que o erro foi inocente?
Câmara do Porto não libertou verba, não há Feira do Livro - Este Rio podia chamar-se Cavaco, também nunca tem dúvidas, não lê jornais e raramente se engana. Depois ficou assim...
Cientistas descobriram dois planetas semelhantes à Terra - Oxalá estejam bem mais desenvolvidos que nós terráqueos, porque sendo necessários milhares de anos para lá chegarmos, vamos ficar a roer as unhas muito tempo.
Esposas de Viseu fotografaram milhares a visitar casa de meninas - É o que dá ser esposa e não ser mulher. Lembra-me aquela sábia máxima, senhora na rua, puta na cama.
Rapazes e raparigas aprendem de maneiram diferente - Estive a ler o artigo da Abigail que é...imenso. Resumindo: elas são mais inteligentes, querem ter escolas só para elas e os rapazes só lá vão com desenhos, logo (subliminar) devem ser elas a tomar as rédeas da situação. MMMMMMMMMMM...OK!
Estudo prova que, para a mesma distância, caminhar depressa é tão eficaz para a saúde como correr - Ou seja o que conta é a distância percorrida e não o tempo gasto. Se não fosse aquele depressa ali a complicar, ainda íamos assistir à alentijação da coisa.
Crise trava clínicas low cost do Pingo Doce - Safa que estes sabem mesmo da poda! Do que a gente sofre. Já não chegavam os saldos onde nos matámos uns aos outros por uma costoleta de porco! Agora vão plantar clínicas de saldo ao lado, para estarmos operacionais para os próximos. Enchem-nos de mimos!
Lei das Armas de Obama foi chumbada - É triste, mas não deixa de ter alguma lógica onde mais armas se vendem para o resto do mundo. Ninguém mais que eles promove, alimenta e vive da venda de armas. Não passou assim tanto tempo num país em grande parte feito por rejeitados e bandidos de todo lado, que se impuseram pela lei da bala.
Em anos recentes, por questões profissionais, fui várias vezes a Cercal do Alentejo. Depois de largas dezenas de quilómetros de estrada, nas margens uma paisagem sem fim, ora verde, ora em tons de castanho até ao quase amarelo, e dois ou três carros que como nós se aventuraram naquele fim do mundo, súbitamente, sem que nada o fizésse prever, as primeiras casas em ruínas, lá ao longe. Logo a seguir sombras insuspeitas confirmam habitações de ambos os lados daquilo que deixou de ser uma estrada para passar a rua relativamente estreita, dois camiões cruzam-se à justa, já anteriormente anunciada por um semáforo intermitente. Ainda dentro do mesmo minuto, um pequeno largo com um jardinzito onde se podem ver os velhotes do costume a ocupar os escassos bancos. Estacionávamos por ali e, em pouco mais de uma hora tínhamos tempo de visitar os dois clientes da terra que ficavam um de cada lado do largo, pelo que cruzávamos práticamente tudo o que faz o Cercal: dois cafés, um dos quais também restaurante, meia dúzia de lojas, uma pequena capela, ao lado a Junta da Freguesia, lá ao fundo um edifício um pouco maior que nos disseram ser a escola, e um posto dos CTT. Dependendo da estação do ano e da hora do dia em que por lá passávamos, podíamos ver algumas ou quase nenhumas pessoas a dar uma razão da existência daqueles sinais de vida e, sobretudo, da nossa presença em tal sítio. Em dois anos um dos clientes deixou de comprar e o outro só o fez para justificar a nossa deslocação, disse-nos.
Vi ontem num noticiário televisivo o que me pareceu ser uma boa parte dos habitantes do Cercal, a protestarem na rua contra o encerramento da estação dos correios. Acredito para a esmagadora maioria dos espetadores daquela notícia, pouca ou nenhuma atenção lhe tenham dado. Normal. É distante, não afeta muita gente, e está longe de ser um grande problema, especialmente nos dias que correm. Acontece que aquela situação se repete em muito mais locais por este país fora e, para as pessoas que lá vivem é algo complicado de resolver. Provávelmente neste caso em particular até nem o será muito, transferem-se os serviços para a Junta de Freguesia, mas sabe-se que a questão é muito mais vasta que isso. São as estações dos CTT, são escolas, centros de saúde e outros serviços públicos, cinemas e bibliotecas, comércio e indústria. Assiste-se a um acelerado abandono em todo o lado que não seja, quase exclusivamente, a faixa costeira, enquanto os centros urbanos, nomeadamente Lisboa e Porto (que aliás também já apresenta alguns sinais de diminuição de oferta em vários domínios) vão beneficiando de uma centralização que, independentemente dos custos que já lhes trás fruto de alguns excessos próprios dos grandes centros habitacionais, seguramente que num futuro não muito longínquo, vão sofrer enquanto zonas essenciais num país profundamente desigual, desiquilibrado por um centralismo que o desertificou em boa parte e remeteu os seus habitantes, (muito) mais uns que outros, a um nível e qualidade de vida ímpares pela negativa, na Europa ocidental.
Se somarmos a este êxodo interno, o externo, cada vez mais gente abandona Portugal, e já não são só os mais jovens, deixando para trás carreiras imaginadas, sonhos interrompidos, vidas destroçadas, e acima de tudo, uma política que insiste em perseguir e amesquinhar o povo que somos, para o bem e para o mal, veja-se este caso recente de se querer obrigar quem tem um quintal a declarar às finanças o que lá cultiva caso o venda, então ocorre a pergunta, com que objetivo é que se pode governar assim? É que alegar ser para salvar o país já não convence ninguém, porque isto não é salvar, isto é matar. É cada vez mais claro que quem decide o faz á luz e no isolamento dos gabinetes, com base em estatísticas, rácios e formulas matemáticas óbvia e desgraçadamente falíveis em grande escala, os quais abandonam para se meterem numa viatura de alta cilindrada ou num avião, em direção a um outro qualquer ambiente assético e virtual, logo ali ou a milhares de quilómetros de distância. Parece que qualquer ligação com a realidade não só não é promovida como é mesmo evitada. Para quem é que esta gente está a governar? Fazem lembrar aqueles apresentadores dos telejornais que quando anunciam o tempo para o dia seguinte abrem um sorriso de orelha a orelha, que vai estar um sol imenso, para depois virmos a verificar que isso só será verdade para Lisboa e arredores. Uma cegueira de tecnocratas confortávelmente instalados, teóricos a quem o país parece dever a obrigação de servir como cobaia nas suas perigosas experiências de arrogantes meninos previligiados, e não o contrário, de serem eles a convicta, humilde e esforçadamente, protegendo, não maltratando e desrespeitando a população que os elegeu, servirem o país.
Sob o efeito de uma sensação excruciante de pavor que me apertava a garganta e punha o coração a bater descontroladamente, dei connosco a planar dentro do carro depois de uma curva que desesperadamente tentei fazer, mas não consegui, seguindo em frente em direção ao precípicio.
Horas antes tinhamos recebido o telefonema de um cliente importante de Barcelona, que nos informara ter sido visitado pelo nosso vendedor em Espanha, mas para lhe apresentar uma proposta de contrato da concorrência, à qual ele se havia juntado. Tratava-se de um dos mais relevantes compradores naquele país, representava largos milhares de contos anuais, pelo que práticamente entramos em pânico. Agradecemos o aviso tendo consciência que, para além da consideração que nos era devida por anos de bom relacionamento, também significava uma forma de pressão sobre as condições contratuais, e pedimos-lhe uns dias para resolver a situação. Infelizmente, disse-nos, amanhã de manhã bem cedo vou meter-me num avião para a Argentina afim de acompanhar o funeral da minha mãe. Não sei quando volto porque terei muitos assuntos a resolver por lá, alguns demorados por questões legais, e quero deixar os assuntos da empresa tratados. Não nos restava outra hipótese, tínhamos que ir para lá imediatamente. Informámo-lo disso mesmo. Estávamos a meio da manhã quando eu e o responsável pela exportação arrancámos.
Alguns meses atrás convencera o patrão a contratar, para fazer o mercado espanhol, um amigo de longa data agora a passar um mau bocado. Tratava-se do único filho dos vizinhos de cima de sempre dos meus pais, e com quem, apesar de ele ser mais velho seis anos, sempre mantivera uma relação amistosa, ainda que não muito próxima, até por ter origem em eu, desde a mais tenra idade, ter sido uma espécie de segundo filho dos pais dele, que aproveitando-se do facto dos meus saírem cedo e voltarem tarde, e eles estarem mais dísponiveis, muitas vezes me raptarem para sua casa e de mim tratarem. Quando resolvi ajudá-lo passaram-me muitas estórias pela cabeça: a mãe sempre aflita na expectativa dos aerogramas que chegavam de Angola em plena guerra colonial, sinal que estava vivo, e as suas manifestações de alegria agarrada ao carteiro quando este lhos entregava; ainda antes, as suas festas de aniversário para as quais me convidava e que, dada a diferença de, e naquelas idades, se tornarem para mim verdadeiras revelações; e, após voltar do ultramar, as viagens que com ele e a mulher fiz pelo país acompanhando o FCP, os primeiros problemas de dinheiros, a hepatite gravíssima que sofreu, dizia-se, provocada pelo consumo de drogas, o casamento na corda bamba, etc., etc.. Sentia-me em dívida com ele. Chegara a oportunidade para lha pagar.
O dia estava escuro mas não chovia. Naquele tempo tinha para meu serviço um Renault 11 GTS (1400cc/90cv), um carro com o qual me sentia seguro, mais por o conhecer e dominar perfeitamente, do que pela sua qualidade que, sendo mediana, que já trazia conta-rotações, o que à data era raro. Lembro-me do conta-rotações porque naquele dia, durante aquela viagem Porto/Barcelona, o ponteiro andou sempre a queimar o vermelho. O Barros, que conhecia o percurso como a palma das mãos, fez de navegador naquelas partes da antiga IP5 cheias de curvas, espreitando a que se seguia, repetindo sucessivos, pode ultrapassar, aos quais eu obedecia sempre com o coração nas mãos, não só por não estar habituado a tão temerária condução, mas sobretudo porque cada vez que avançava, não tendo qualquer ângulo de visão para o fazer com a miníma segurança, pura e simplesmente me entregava às suas indicações e a um destino que desconhecia. Para complicar, já bem dentro de Espanha e ainda antes da abençoada auto-estrada de seiscentos quilómetros entre Burgos e Barcelona, começou a cair uma chuva miudinha que nos infernizou a vida atrás de inúmeros camiões, e só não nos matou durante umas quantas ultrapassagens suícidas, porque eu já tinha feito muitas viagens com aquele carro, e porque...não calhou.
Acordei. Precisei de longos minutos para baixar o ritmo, tranquilizar-me e voltar a adormecer. Para o conseguir recordei que mantivemos o contrato sem grandes concessões, como o celebrámos com um lauto jantar nas Ramblas, e que o meu examigo me poupou ao sacríficio de o rever. Sequer para o fecho de contas a que tinha direito.
Aqui há uns tempos a RTP exibiu o filme 1900, uma saga de mais de cinco horas onde se pode assistir ao nascimento de alguns dos ismos que marcaram o séc. passado, socialismo, fascismo, comunismo e nazismo. Já o tinha visto em 1976, no Coliseu o Porto, mas desta vez percebi como é intemporal. Está a acontecer. Agora.
O filme de Bernardo Bertolucci, e que tem como protoganistas um menino rico e um pobre, Robert de Niro e Gérard Depardieu em príncipio de carreira, em volta dos quais é construído todo um argumento onde a luta de classes, no sentido mais amplo do termo, vai adquirindo várias facetas durante o periodo que vai desde os anos anteriores à primeira grande guerra, até ao fim da segunda. Para quem gosta do típico filme italiano com todo aquele realismo que lhe é característico, seja pelos personagens de Fellini, pela beleza das imagens de Visconti, a perversidade de Pasolini, ou pela relevância dos temas do próprio Bertolucci, aqui encontra tudo isso. Uma autêntica lição de história que influência para sempre quem a ela tem a felicidade de assistir.
O que ali se relata é a eterna luta da humanidade pela sobrevivência e as suas especificidades em cada fase histórica, sendo que para além dos habituais lados presentes na contenda, uma minoria poderosa e agressiva e uma maioria fraca e subserviente, que na luta vão promovendo uma espécie de evolução em que tudo muda para que o essencial fique na mesma, que se vai repetindo em ciclos, e independentemente das estratégicas ideológicas, políticas ou militares que, também elas se vão renovando e refinando para o mais do mesmo seguinte, há uma variável constante, o posicionamente geográfico dos agressores e dos agredidos. Foi sempre no centro da Europa que nasceram aqueles conflitos.
Hoje, mais de cinquenta anos depois, e quando se assiste ao recrudescer dos discursos xenófabos do norte relativamente ao sul do continente, evidente anúncio do desmembramento do projeto de união que nasceu precisamente para evitar novos confrontos, fruto do habitual abuso das classes dominantes, e de um brutal encolher do mundo, processo de globalização muito mais rápido que os burocratas europeus a construir o tal edíficio sólido para a tudo isso resistir, que apanhou a Europa em contra-pé, ainda que, provávelmente, só pricipitando o que viria a acontecer mais tarde, o desenterrar de ódios não resolvidos, assiste-se a mais um dejá vu.
Uma das grandes vantagem dos registos históricos é precisamente aprender com os erros cometidos. Se até há algum tempo parecia que os países do norte constítuiam um todo que de alguma maneira afastava os fantasmas da guerra da qual boa parte deles também foram vítimas, agora as trocas de acusações estão cada vez mais remetidas à Alemanha, mais uma vez de volta a uma posição dominante e â respetiva arrogância, e aos países preguiçosos do sul, particularmente a Grécia que até já reclama um ajustar de contas relativas a dívidas das tais guerras, cada vez mais presentes, de volta à nossa memória coletiva desta vez não por via dos filmes ou dos livros, mas por uma ameaça que se sente crescente.
Diz-se que está tudo suspenso da reeleição, ou não, de Merkel em Setembro próximo. Que primeiro ela tem de conquistar os alemães, supostamente dando-lhes a ideia de que vai continuar a praticar uma política de rédea curta perante os países incumprimendores, o que eles desejarão e portanto indispensável para a contínuidade no poder para, então sim, retomar o projeto europeu de crescimento comum, de momento só presente nos discursos. Alguém acreditará nisto? E se fosse verdade os alemães íam aceitar pacíficamente terem sido enganados? E, por outro lado, conhecem-se alternativas credíveis à atual chanceler alemã?
Pode ser que ainda salte alguma lula da caldeirada do caldeirão de políticos teutónicos com ideias federalistas para a europa, única forma de manter a paz no continente, como o tentou Kohl por exemplo, mas suficientemente inteligente para as ir implementando a um ritmo que não agrida o espírito beligerante alemão. Pode ser que Merkel seja esse líder, mas também pode acontecer ser eleito alguém que diga, porque acredita, tudo aquilo que parece ser o que a maior parte dos alemães hoje querem ouvir. A realidade é que entretanto alguns países só sobrevivem somando dívidas à dívida.
Depois das guerras, aos alemães bastou serem iguais a eles próprios para recuperarem, se pagaram as suas dívidas não sei, mas sei que alguns países, se forem iguais a si próprios, não as vão conseguir pagar em ambiente de paz, se não houver respeito de todos pelas idiossincrasias de cada um. É só ver o 1900.
Do latim tenere, tipo, manter ou segurar, o que de facto significa, que entretanto foi degenerando para o dito entreter, divertir, distrair e coisa e tal. Hoje o entretenimento serve para enganar, violar, torturar, humilhar, degradar, e por aí fora. Uma Piada Infinita.
David Foster Wallace, no livro com aquele título, encontrou novas possibilidades para aqueles vinte e seis simbolozinhos que conhecemos por alfabeto, e mais uma vez demonstrou a absoluta necessidade de um total desprendimento da vida, para se ser capaz de escrever algo a que se possa chamar obra-prima. É desta massa que são feitos os génios.
Obra inqualificável sobre qualquer ponto de vista exceto na sua genialidade ímpar, como que descontroi a realidade por via de um aprofundamento feito de palavras sobre a standardização daquilo que é a vida, sem dó nem piedade, quase maldito.
Alternando entre uma luxuosa academia de ténis, uma decadente casa de recuperação para todo o tipo de dependências, as ruas de Boston, tendo como protagonistas centrais uma família abastada, de hábitos pouco comuns, e um homem produto de uma família pobre, mas igualmente disfuncional, vai narrando estórias atrás de estórias difícilmente adjetiváveis que vão desde o completamente alucinadas, passando pela profunda crueldade, até à mais desarmante inocência, mas sempre recorrendo a um humor por vezes perfeitamente delirante, e sempre cavando bem fundo na história de vida de alguns dos personagens principais, na maior parte dos casos desgraçadamente trágica, durante as quais faz a prova mais cabal da degenerescência em que apodrece a sociedade norte-americana e afins dos nossos dias, com uma crueza só ao alcance dos eleitos, e que penso alguma vez tenha sido feita. Lendo-o lembrou-me Celine, em Até ao Fim da Noite, mas indo ainda mais longe, um maior desespero pessoal e coletivo, talvez a prova de que nunca se terá ido tão baixo na degradação, certamente porque somos hoje muito menos inocentes. Todos.
Obra autobiográfica onde podemos descobrir um homem absolutamento farto da sociedade de consumo assente numa competição feroz desde cada vez mais tenra idade, que relega para o desespero milhões de falhados, completamente frustados com a sua incapacidade de atingir os supostos patamares mínimos para merecerem ser respeitados, e não simplesmente (mal) tolerados porque origem dos poderes reinantes, profiláticamente adormecidos pela publicidade, e por toda uma diabólica máquina do tal entretenimento, que mais não fazem do que desavergonhadamente tentar, e não conseguir, esconder um pavoroso mundo de fuga à realidade, nomeadamente e de forma alarmante e crescente, por via de todo o tipo de drogas, maioritáriamente entorpecedores químicos cada vez mais elaborados nas viagens que proporcionam. No fim, fatalmente, a, até agora inenarrável violência, filha das ressacas dos estupefacientes, mas sobretudo da queda no real insuportável, perante o qual têm que enfrentar uma insustentável culpa que lhes foi inóculada pela sociedade e pelos progenitores, vítimas e agressores, que lhes envenena e destroi a vida.
Aquilo que Wallace fez antes de se pendurar no fim de uma corda, foi transmitir-nos a sua penosa passagem pelo inferno, um aviso, numa espécie de grito redentor e legado, último resquício de lucidez há muito perdida pela impossibilidade de ser vivida, e absoluta necessidade de ser sentida.
Pacheco Pereira pede demissão do Governo - Mais um que escolheu a utopia e desprezou a política. Coração grande. Toca Pacheco.
Relvas não desiste do lugar de deputado - Já tínhamos o Galo de Barcelos e o Zé Povinho, suspeito que também vamos passar a ter o Dr. Relvas, este como ícone do alto e lato significado do Dr. em Portugal.
Sporting em dificuldades com os bancos, enquanto Benfica lança obrigações para 45 milhões - Será que já perceberam onde está o inimigo? Daquele lado da rua onde vão jogar dia 21.
Málaga acusa árbitro de jogo com Dortmund de racismo - Aí está mais uma prova que estavam ali a mais, mas a culpa não foi deles...
Descendentes de Estée Lauder doaram ao MET de Nova York milhões em quadros cubistas - De certeza que agora aquele museu vai distríbui-los, pelo mesmo custo, pelos seus congéneres mundo fora...
Estudo demonstra que mulheres só precisam de três segundos para optar por homens com pénis grandes - Como diria o Zé Fernando, um pequenitates meu amigo, parafraseando muitas e ilustres figuras que perduram e perdurarão como grandes pensadores da história da humanidade, o que interessa é a cabeça o resto é para levar e trazer.
Vitor Gaspar proíbe quaisquer novas despesas - Já não chegava sermos pobres ainda tinha que vir este fazer de nós burros.
Kelvin chuta duas vezes e faz dois golos - Então não é assim que eles são marcados? Alguém faça o favor de explicar isto ao resto da equipa do FCP (menos ao Helton, senão ainda vai por ali abaixo)
CDS dá um no cravo, outro na ferradura - O Paulinho é bem bom a saracotear-se lá pelo estrangeiro, lo tiene todo!, mas se lhe metessem uma barra comprida nas mãos (calma...), e lhe dissessem para caminhar sobre um arame esticado não faria pior.
Custos do trabalho em Portugal descem vinte cêntimos, ficando em menos de metade da média europeia - Mais uma prova que as políticas seguem o bom caminho. Mais algum tempo está tudo a trabalhar de borla...no desemprego.
François Holland quer acabar com paraísos fiscais - Por cá o seu homólogo também andou preocupado com o assunto. Por causa dos milhares de ações que tinha do BPN.
Mário Soares diz que quando não há dinheiro não se paga - É melhor esclarecer rápidamente a quem é que não se paga, porque cheios de ideias já andam o Passos e o Gasparzinho.
Tatcher, tal como o seu amigo Ronnie, morreu completamente baralhada das ideias - Parecidos em tudo, quando um dizia mata o outro dizia esfola, os papás do regabofe (que seguramente não adivinhavam nem desejavam). Um padrão?
Família Soares dos Santos ganha milhões em salários e na distribuição de lucros - Ainda bem! A fazer fé no quanto sofre com a crise o decano do Pingo Doce (quando o afirma, a sua expressão facial é lancinante), terá agora oportunidade de distribuir algum pelos pobrezinhos portugueses, do que não paga em impostos, profiláticamente transferidos para a Holanda, e assim poder dormir descansado com aquela ternurenta expressão de bébé rabugento que tem.
Hoje a Aguda estava triste e cinzenta
No areal há um grupo que se lamenta
Mar revolto, indomável não dá tréguas
Cabisbaixos, fartos de tantas esperas
Barcos tombados, alinhados na areia
Quadro bizarro, medo da maré cheia
Perto deles deambulam cães, gaivotas
Também eles matam as horas mortas
No muro da estrada passeiam caracóis
Se há sol ali preparam redes e anzóis
Mulheres de avental lavam caixotes
Janelas e portas, espreitam velhotes
Vento sudoeste, núvens e algum azul
Pouca esperança enquanto sopra sul
Infeliz sina do mar estar dependente
Do seu estado d'alma vive, morre gente
Lá ao longe avaliam se podem arriscar
Memória calada revê quem ficou no mar
De soslaio, mulheres e velhotes a dizer
Não nós, mas crianças precisam comer
Talvez um ou outro esqueça o temor
Quem fica em terra rezará com fervor
As mãos calejadas, os sulcos do rosto
Vidas duras, no horizonte o desgosto
Incerto e efémero isto de ser pescador
Mar, sol, vento, frio, calor e também dor
Alta, magríssima, vestida de negro
A roupa justa, elastico prende cabelo
Muito maquilhada, pestanas de metro
Estuda papel com olhar circunspecto
Lentamente senta-se à secretária
Caneta na mão escreve treta diária
Utente pergunta quando e onde
Não levanta cabeça, gentil, responde
Colega do lado sussurra qualquer coisa
Sorri suave como abelha em flor poisa
Riem sobrancelhas fortes e negras
Ao longo risco preto dos olhos paralelas
Lábios grossos permanecem unidos
Distendem-se sensualmente vivos
Maças do rosto pálido agitam-se
Covinhas e altinhos multiplicam-se
Paciente, como embalado pelo bailado
Quando chega minha vez fico parado
Como quem chama olha-me frontal
Não imite palavra, para ela o normal
Fala com os olhos, acha suficiente
Um pedaço assim ficou, tranquilamente
Até que eu decidisse finalmente avançar
Muito longe estava, estaria?, de pensar
Quão profundamente me tinha atingido
Como mover-me depois de tão ferido?
Compreende, liberta sorriso luminoso
Desperto apaziguado, olhar espantoso!
Bem rasgados encimam nariz frágil, fino
Dos que se bem fitados traçam destino
O verde deles é de um musgo maduro
Que à luz hesita entre o claro e o escuro
Com fundo de um branco limpo, imenso
E leve humidade, dão-lhes brilho intenso
Despeço-me e com sorriso sou saudado
Fujo, quanto tempo ficarei hipnotizado?