semtelhas @ 16:11

Qui, 28/02/13

 

Não é só in vino que nos revelamos, no trânsito, ao volante, a nossa natureza mais profunda bóia à tona como o azeite...

 

Ainda há pouco pude assistir na estrada a um desacato que me fez recuar uns anos, a dois episódios em que fui protagonista e dos quais nada me orgulho, na verdade...muito me envergonho. Mas antes o tal desacato. Haverá poucas situações mais caricatas do que ver a saltar de um daqueles autênticos carros de assalto da BMW, onde o condutor viaja lá no alto, de onde nos lobriga com um ar que soma comiseração e fastio (sei que o problema é meu, mas desconfio sempre do caráter das pessoas que conduzem estes buldózeres) bem longe do bulício e perigos de cá de baixo, com pneus para aí com um metro de largura, e nos sai um caga-tacos de meio metro, ainda sob influência do sobretudo que vestia, até lhe ouvirmos uma vozita de menina assustada, todo encolhido, perante o calmeirão que saiu como rolha de garrafa de espumante do Mini para aí de 1970. Deve ter sido a marca da viatura do superhomem de voz doce que me reavivou a memória.

 

Curiosamente os dois episódios que recordo deram-se pelas razões inversas, um porque ía, supostamente, muito devagar, o outro, muito depressa. Mesmo que nos desloquemos relativamente lentos há sempre os que ainda o são mais. Foi por isso que naquele dia, na auto-estrada, tive que dar pisca e ultrapassar uma viatura. Ainda não estava sequer ao lado da dita quando quase fui abalroado por um BMW do tipo que referi acima, o qual aliás tinha visto mas muito atrás, não podia adivinhar que circulava a 200Km/hora, que me dava màximos à velocidade da luz aí a trinta cêntimetros da traseira do meu carrito. Calmamente, muito calmamente, fiz a manobra e quando voltei à faixa da direita o fangio plantou-se à minha frente, fazendo sucessivas travagens e arranques numa atitude de provocação reles de quem, por ter medo de se meter com os do seu tamanho ataca os mais fracos. Foi aí que me debrucei para o tablier e saquei a caixa de guardar os óculos de sol que, se  manuseada da forma certa, imita na perfeição uma pistola, que apontei, com o braço já fora da janela, na direcão do vidro traseiro do camião, provocando lá dentro um verdadeiro pânico e que resultou no bater do tempo do recorde do mundo dos 0 aos 100. Ainda bem que o grunho não tinha uma arma de fogo a sério...

 

Um belo domingo ao fim da tarde, dirigia-me para as Antas para ir à bola quando, provávelmente já dominado por aquilo que chamo o sindrome da angústia de segunda-feira, que é costume começar a manifestar-se precisamente por aquela hora, um indíviduo que conduzia um carrito parecido com o meu, pura e simplesmente recusava deixar-me ultrapassá-lo. A coisa atingiu tal ponto que, de cabeça perdida, investi qual touro bravo na traseira do automovel do inergumeno para depois, perante o seu espanto, tentar finalmente passar-lhe à frente. Acontece que o homem não se intimidou e respondeu-me na mesma moeda exatamente quando já seguia ao seu lado. Ainda andámos umas quantas dezenas de metros transformados em autênticos carrinhos de choque das feiras até que um semáforo nos obrigou a parar. Em jeito de símio enfurecido saí do carro e tentei abrir as portas que, entretanto, avisadamente, o deprimido domingueiro tinha fechado a sete chaves. O que não me deixou alternativa que não fosse rumar ao meu destino. Na volta, chegou a minha vez de usar de cautela e deixar o carro bem longe da porta de casa. E ainda bem, é que o agredido encheu-se de brios, descobriu a minha morada, e foi lá naquela noite com uns matulões à procura do meu bólide, e não era para lhe puxar o lustro. Uns dias depois, feitos os respetivos mea culpa, entendemo-nos como gente civilizada e resolvemos o problema.

 

Hoje, talvez como nunca pela conjuntura sócio-economica que atravessámos, é preciso muita cabeça-fria na estrada ao volante de uma viatura, e, mais que isso, ser inteligente. Porque ali não há verniz, cuidadas educações ou refinadas culturas que resistam, o que sempre transparece é a incontornável verdade de cada um. A qual, como pessoalmente pude (e posso) experimentar, está sempre a tempo de ser aprofundada.


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semtelhas @ 13:46

Qua, 27/02/13

 

Raramente lembrado,

Difícilmente decifrado,

Sempre que acontece

Com magia se parece.

 

Contornos esbatidos,

Palete de cores vivas,

Intensamente vividos

Barreiras destruídas.

 

Nunca os cinco sentidos

Assim se manifestam,

Inteiramente absorvidos

Corpo e alma o atestam.

 

Desejos escondidos

Ali são descobertos,

Se impulsos  reprimidos,

Logo com asas, libertos.

 

Chorar de felicidade

Gargalhar de alegria,

Sorrir de doce maldade

Molhar após euforia.

 

Explosão de prazer

Invasão de suave paz,

Rir, gritar ou morrer,

Nada assim satisfaz.

 

Feito de recordações

Também de ilusões,

Nascido das emoções

Liberta de opressões.

 

Sensação breve, fugídia,

Poderosa ou tranquila,

Climax quando refulgia

Tristeza, se esquecia. 

 

Descobrem-lhe razões,

Sentires reprimidos,

Dão-se terapias, poções

Hipnose e comprimidos.

 

Salve-se o essencial

Onde não há mistério,

Sonhar é bom e normal

A saúde como critério.

 

Júbilo expandido

Sofrimento mitigado,

Tudo lhe é permitido,

Até ser interrompido.

 

Assim a vida se ilumina

O bom e positivo a brilhar,

Ajuda quem desanima

A se erguer e Respirar.

 

Diz-se, comanda a vida

Como viver sem o fazer?

De tudo desprovida

Seria lento evanescer. 

 


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cores da lua @ 21:50

Ter, 26/02/13

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

© Noell S. Oszvald

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semtelhas @ 13:31

Seg, 25/02/13

 

- António Borges recomenda o fim da austeridade e diz que o Governo está a ser injusto com os mais desfavorecidos - Quem tem cú tem medo, como diria o ilustre Viegas.

 

- Um cardeal escocês foi suspenso pelo Vaticano sendo-lhe assim vedada a possibilidade de votar no conclave para eleição do novo papa - Não estará o Governo da Igreja Católica Romana a exagerar? É que se levam a coisa muito a sério qualquer dia falta-lhes quorum.

 

- Relvas balbuciou Grândola Vila Morena com os manifestantes - Agora já se percebe porque é que Passos Coelho o mantém no Governo, esta à espera de ter uma abertinha na agenda para o ensinar a cantar. Tinha que haver uma razão!

 

- O Jardim do BCP recebe 165.000€/mês de reforma - Como devoto religioso que é, e figura cimeira da também mui crente e solidária Opus Dei, de certeza que vai todo para os pobrezinhos.

 

- Os emigrantes portugueses em França, a maioria, optaram por exercer o seu direito de voto naquele país - Depois venham para cá mandar postas de pescada.

 

- Oficiais de alta patente reuniram-se preocupados com a situação nas Forças Armadas - Que será que estas, na sua esmagadora maioria, decorativas e dispendiosas figuras da nossa democracia quererão? Uma revolução? Ou manter os lautos tachos herdados doutras guerras?

 

- Mourinho afirma que em Portugal os impostos são implementados sem critério - Pronto! Se no SLB ainda tinham alguma esperança de o ver treinar o seu clube do coração, podem esquecer, vir para cá e ficarem-lhe com 65% da massa? Toma!

 

- Os dinamarqueses transmitem aos filhos essencialmente o valor da imaginação, os portugueses o da poupança - Está finalmente explicada a torrente criativa dos vikings e os bancos portugueses a abarrotar de dinheiro.

 

- Harrison Ford vai voltar à saga Guerra das Estrelas - Já tinha saudades! Parece que estou a vê-lo desviar-se das balas com aquele seu famoso jogo de ancas! Ou isto foi no Indiana? Espero que a Calista não tenha escangalhado o homem.

 

- Os jogadores do Paços cantaram a Grândola para se inspirarem antes do jogo com o SLB - Bem me queria parecer que íam acabar a cantar aquela canção que começa assim, Ser benfiquista... É o que dá brincar com coisas sérias...

 

- Berlusconi prometeu devolver o IMI e ofereceu Balotelli ao Milão - Mesmo assim parece que vão correr com ele. Será que finalmente as pessoas perceberam que o artista lhes ía ao bolso para pagar as ofertas?

 

- O contrato de Antonio Borges foi renovado por um ano - Podiam ter avisado o homem com tempo, sempre eram poupados a ouvir certos disparates. Fica o aviso.

 

- O Oscar de Melhor Atriz foi atríbuido a Jeniffer Lawrence e o de Melhor Ator para Daniel Day-Lewis - Aquele país não é mesmo para velhos nem desalinhados, que o digam Emmanuelle Riva e Joaquin Phoenix.

 


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semtelhas @ 14:10

Dom, 24/02/13

 

Porque inteiros, sem partidos e em protesto.

 

 

 

 

 
 
 
 
 
 
  
  
 
 
 
 
 
 
 

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cores da lua @ 21:50

Sab, 23/02/13

Hoje, entre aqueles emails que se trocam em massa, recebi um que particularmente despertou a minha atenção:

 

Maiakovski, poeta russo escreveu, no início do século XX (1893-1930):

Na primeira noite, eles se aproximam

e colhem uma flor de nosso jardim.

E não dizemos nada.

Na segunda noite,

já não se escondem,

pisam as flores, matam nosso cão.

E não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil deles,

entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,

e, conhecendo nosso medo,

arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada,

já não podemos dizer nada.

 

Também Martin Luther King (1929.1968):

O que mais me preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem carácter, dos sem ética… o que mais me preocupa é o silêncio dos bons!


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semtelhas @ 13:44

Sab, 23/02/13

 

Não. Não é um lisboeta afetado a pronúnciar a palavra senha, é mesmo a sanha em que se pode tornar esta forma de protesto contra a governação, cantando a Grândola Vila Morena.

 

Curioso como quase quatro décadas depois a canção pode voltar a servir para dar início, pôr em marcha, agora já não os militares saíndo dos quarteis em direção aos locais onde morava o poder, mas a tomada de consciência, um abrir dos olhos e, porque não?, dos corações, de quem nos governa, para o degradar contínuo da qualidade de vida da maior parte dos seus compatriotas, para um nível que cada vez mais nos afasta da média europeia, e que, além do mal que já está a causar, poderá vir a ter reflexos profundos nas gerações vindouras. Esta saga autoritária de austeridade, no conteúdo, mas também na forma como foi e continua a ser imposta, está a criar um sentimento de revolta que resulta neste tipo de manifestações, já não tanto reféns de um programa político, como alguns membros do Governo e do PSD, ingénua, mas também malévolamente, tentam fazer crer, mas com origem na sociedade civil, nomeadamente nos mais jovens, como acredito cada vez mais se provará, sobretudo se se insistir nesta política.

 

Ouvindo algumas personalidades da nossa praça, ou lendo as caixas de comentários, que referem as interrupções por via da Grândola durante palestras em que participam membros do governo, concluem-se duas coisas: muitas dessas personalidades acusam esse tipo de manifestações, elas próprias, anti-democráticas porque impedem que alguém expresse a sua opinião, e que uma parte da opinião da população é violentamente contra as mesmas. Às primeiras é preciso perguntar que outra forma, minímamente eficaz, têm as pessoas de protestar? Indo para a rua às centenas de milhar para depois serem olìmpicamente ignoradas? Pode ainda questionar-se que tipo de respeito tem demonstrado quem nos governa por alguns direitos básicos, até tidos como adquiridos? Pura e simplesmente fazendo tábua rasa, por exemplo, da Constítuição da República? Desculpam-se que os tempos não são de meias-medidas, que a situação real não o permite, que em tempo de guerra não se limpam armas. Pois é precisamente por isso que este tipo de manifestações são, não só legítimas como correspondem a uma necessidade provocada por quem está do outro lado. Do lado em que se puseram. São efeitos, não causas. Dos segundos, quase sempre anónimos, penso tratarem-se de pessoas cuja crise lhes passa ao lado, ou serem pessoas visceralmente contra qualquer tipo de intervenção estéticamente ofensiva confundindo, no caso, aquela com ética, ou então tratarem-se de opiniões objetivas, óbviamente respeitáveis mas que penso, em qualquer dos casos, serem escassas. Por isso será desejável que o Governo não aproveite maldosamente esta aparente divisão entra a população, apesar de já ter dado alguns sinais nesse sentido, descambando para uma espécie de vale tudo, porque, aí sim, as coisas poderiam assumir proporções realmente dramáticas.

 

Forma muito inteligente de contrariar o estado das coisas, começa mesmo a ter seguidores noutros países, pode dar origem a reações extremas. Haja bom senso, porque, de uma maneira ou de outra,  ninguém ficará impune. Cada um tem aquilo que merece.


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semtelhas @ 11:37

Sex, 22/02/13

 

Bestas do Sul Selvagem é não só  um filme sobre um lado lunar dos EUA, mas também daquela, aquele que fica sempre na sombra, pobre e escondido.

 

 

 

Há  uma ideia, preconcebida, dos protagonistas desse mundo como gente sorumbática, vingativa, beligerante, ou seja, feios, porcos e maus. Nada mais errado neste caso. O filme retrata a vivência de um conjunto de pessoas que voluntáriamente escolheu a liberdade desprezando o conforto, e, à sua maneira, são felizes. São seguramente porcos no sentido em que o seu conceito e a prioridade que dão à limpeza é bem diferente do normal, serão feios numa perspetiva simplista de beleza, na qual a estética está refém de pressupostos exclusivamente ligados à plasticidade ou à simetria, e mesmo maus se se confundir maldade com luta pela sobrevivência e defesa dos princípios em que se acredita, até à morte. Pelo contrário, a sensação com que saímos da sala de cinema é bem diferente, goste-se ou não da escolha feita por aquela gente, fica bem claro que a marginalidade por que optaram corresponde a um profundo desejo de liberdade, que é uma comunidade absolutamente solidária, que fazem da dignidade no sentido mais intrínseco do termo, algo de inegociável e, acima de tudo têm como principal arma e sua maior força, um expressar de sentimentos profundamente genuíno, o que faz com que, ali, amor, ternura, perseverança ou coragem, não sejam palavras vãs, antes vividas até ao limite.

 

Filme duro, difícil, pela sua crueza, está nos antípodas de tudo o que costuma ser o cinema feito nos EUA. Sem qualquer cedência a facilitismos e sem cair em quaisquer tentações comerciais, a realidade é-nos imposta a cada minuto, servida por um argumento, também ele simples e direto como a própria vida o é, sem artefícios ou explicações desnecessárias, é tudo perfeitamente e duramente óbvio, por um conjunto de atores verdadeiramente notáveis, sobretudo a protagonista em volta da qual toda a estória decorre, uma menina de nove anos com uma interpretação assombrosa.

 

Por que é que será que há cada vez mais pessoas a fugir da civilização instalada, e do seu progresso, sereia, predador e necrógafo do corpo e alma de quem a ele se vende, fatalidade à qual hoje poucos conseguem escapar? Será uma espécie de acordar para os valores mais profundos da natureza humana? Uma procura de coerência com as restantes formas de vida que nos rodeiam? Um fluir mais natural e harmonioso. Poderá tal desiderato ser considerado feio, porco e mau?

 


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semtelhas @ 12:04

Qua, 20/02/13

 

Ontem, durante o intervalo do jogo com o Málaga, o descanso do guerreiro, dei comigo a apreciar os meus companheiros de luta das quase exclusivamente vitoriosas batalhas do Dragão.

 

Ainda antes, na habitual viagem pedestre entre a Ponte de D. Luís e o estádio, tinha vivído uma experiência estranha. Perto de minha casa há um talho cujo dono se chama Carlos, é pequenito e daquele tipo de pessoas que só sabem falar aos gritos. Por aqueles lados, e num raio bastante razoável, quem canta a alvorada não são os galos, é o Carlos. É que o homem em vez se ficar por onde tem a carne ao dependuro, não, planta-se na porta do estabelecimento e arredores berrando em todas as direções, desde os bons dias a toda a gente, até a perguntar à dona qualquer coisa se é do lombo ou da rabada. Vem isto a propósito do percurso, Porto acima, até ás Antas, onde o Carlos me apareceu multiplicado às dúzias. Porque é que será que boa parte dos espanhois só sabem falar alto? Impressionante! Num percurso para aí de três quilómetros ouvi falar mais, mas muito mais, em castelhano que em português.

 

Curiosamente, durante o intervalo, mantiveram-se estranhamente sossegados permitindo-me uma reflexão sobre todos os meus vizinhos, é que não faltou nenhum. De nós, sou sempre o primeiro a chegar e a sair. Assim uma espécie de FIFO (first in first out), deve ser mais uma das manias que me ficou das teorias da produtividade e afins. De forma que os vejo a todos chegar. A coisa passa-se num ritmo uniformemente acelerado. Primeiro a menina queque, que ontem vinha particularmente artilhada, uma profusão de símbolos do FCP, tudo de altissíma qualidade, que, não obstante ali na zona só estarmos os dois, olimpícamente me ignora, à parte umas furtivas olhadelas que se esforça por disfarçar, e que quanto mais próximo o pontapé de saída, menores são os espaços entre uma série de tiques próprios de uma menina com pedigree, como por exemplo aquele jeito muito especial de coçarem o nariz com a palma da mão, totalmente aberta, num largo movimento ascendente, ou os relances em volta com expressão algo enfadada de quem não tem paciência para vulgaridades. Depois vem o grupo da frente. São três, o morcão, o esperto e o porreiraço. O primeiro é mais ou menos como eu (lá está...) sempre calado, o segundo é pouco menos que insuportável porque, para além de saber tudo, nada está bem. É o treinador que não presta, este e aquele jogador que...o homem desfaz-se em explicações técnicotáticas que dispara em todas as direções, deixando a assistência em estado catatónico e acabando sempre a falar sózinho. É o porreiraço que me salva, e sobretudo salva o amigo de ser linchado, cada quinze dias, pela multidão circundante. De repente começa a chegar toda a gente: a boazona louraça que lança flamejantes chispas em volta que afirmam, sou pequena e boa!; o distraído que me faz sempre levantar duas vezes por se enganar na fila, apesar de eu, desesperado, tentar repetidamente avisá-lo; aquele casal de idosos que teima em ir à bola mesmo passando quase todo o jogo a dormitar debaixo de um barulho ensurdecedor, e demorarem meia hora a chegar às suas cadeiras deixando toda o pessoal à beira de um ataque de nervos; o gaijo que durante todo o desafio manda bocas à nossa equipa e ao qual, já várias vezes, estive para lhe perguntar qual era o numero dele de sócio do SLB; o par de monhés de alta casta, de trás, que para além de me obrigarem a lançar-lhes olhares de poucos amigos para ver se deixam de me massacrar as costas com os seus ilustres e pontíagudos joelhos, passam a partida a lançar tiradas inteligentes, pérolas tipo: o fulano de tal hoje não me está a convencer referindo-se a este ou aquele jogador ou, acho que me esqueci de desligar a água da piscina. Quanto ao meu vizinho própriamente dito, o do lado, já bem entradote, magnata do comércio local, entretém-me a mostrar as mensagens no telemóvel de uma das suas cinco namoradas cinco (sempre casadas, garante, inclinando-se todo para trás sem sair do lugar, com o pequeno corpo todo teso, cenho franzido e um movimento rápido da mão direita para que não fiquem dúvidas, enquanto me desvenda a sua preciosa regra de ouro!), a combinarem a hora a que se vão encontrar mais logo para um pézinho de dança lá numa das agremiações da terra, ou então insistindo em  aconselhar-me o uso de óleos vários e outras revigorantes poções mágicas, apesar de eu ter idade para ser seu filho (nessas ocasiões dou comigo a pensar, aflito, que se passa?).

 

E depois claro, há aquele tipo meio esquisito que já anda por ali há anos, que parece chegar sempre de véspera e se estica na cadeira como quem está em casa (e estou!), quase não fala, mas quando sucedem golos importantes como o de ontem, parece tolinho a saltar aos gritos, preparado para abraçar fraternalmente qualquer um deles se o deixassem (mas não deixam, ficam é meio desconfiados a olhar de lado, a ver quando me vai dar uma coisa), ou mesmo um dos Carlos, se não estivéssem do outro lado do estádio.


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semtelhas @ 14:55

Ter, 19/02/13

 

Intrínseco, todos temos,

Uns mais, outros menos.

Ao olhar é dado a ver,

Impossível esconder.

 

Em todos sobrevive,

Nele ninguém é livre.

Nuns pouco se sente,

Noutros omnipresente.

 

Inseminado pelo Mal,

Gerado na Culpa,

Monstro seminal,

A dignidade insulta.

 

Porque se encontraram,

Alguém saiu aleijado,

Não se afastaram,

Ficou para coitado.

 

Desde cedo assustado

A sensação de perdido,

Está sempre espantado,

Muitas vezes esquecido.

 

Sofre, faltou ternura,

Tenta mostrar serviço,

Só aumenta a amargura,

A sensação de metediço.

 

Carente, sem auto-estima,

Age sempre por interesse,

Com pouco se anima,

Uma máquina parece.

 

A dúvida faz o caminho,

Nasce o apelo à vingança.

Sente que está sózinho,

Uma vida sem esperança.

 

Vai-lhe crescendo o ódio,

Sobrevive de calculismo.

Cada dia um nó górdio,

Descansar um eufemismo.

 

Perante o enorme vazio,

Dia a dia mais frieza.

Tudo surge como tardio,

É invadido pela tristeza.

 

Nada a esperar do futuro

O sofrimento será eterno.

Porque tudo sente inseguro,

Quer fugir daquele inferno.

 

Sobra o abismo para sonhar,

Por fim livre, nada a temer.

Só lhe resta acordar,

Cumprir a vontade, morrer.

 


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semtelhas @ 13:44

Seg, 18/02/13

 

É o que poderia muito bem constar na idade aconselhada para assistir ao filme Lincoln de Steven Spielberg.

 

 

 

Se excluírmos alguns maçadores diálogos a propósito da estratégia para fazer passar a lei anti-escravatura, em interação com uma proposta de paz que poria fim à guerra civil dos EUA, práticamento tudo o resto é mais um exercício Spielbergiano de entretenimento, no quais é imbatível, neste caso particularmente rico em esmagados olhares esclarecedoramente parados dos vários personagens pousados sobre Lincoln, num estarrecido espanto e admiração, enquanto a música nos vai, também a nós, crescentemente conduzindo a um estado de prostração perante tanta genialidade. Bastante manipulador para que não demos por isso. Se pensarmos que Portugal foi o primeiro país do mundo a abolir a escravatura (quase cem anos antes ainda que só em parte do Império) e de como esse facto é quase desconhecido, poder-se-á avaliar, descontando a reconhecidamente pouco informada população dos EUA, quão delirante é este seu inflamado levar aos píncaros.

 

O argumento é perfeito em termos de atualidade, seja analisado do ponto de vista oportunista, ou de homenagem ao atual inquilino da Casa Branca, o eventual lado interesseiro da coisa não pode ser ignorado. Está claro que é perfeitamente legítimo mas se enquadrado num filme infanto/juvenil, com objetivos mais formadores de patriotas do que própriamente numa obra preocupada em transmitir a realidade do que realmente se passou. Nem aquele género de lavagem à corrupção, legitimando os meios atendendo aos fins, conferem a este filme um ambiente mais verosímil porque o realizador trata logo de nos embrulhar em mais uma frase pomposa, uma música gloriosa ou uma imagem teatral. Talvez lhe comece a faltar aquele inconformismo ( A Cor Púrpura, A Lista de Schindler, O Resgate do Soldado Ryan, etc.) indispensável para nos dar obras algo mais que luxuosos e competentes divertimentos.

 

Será preciso uma boa dose de patrioteirismo para oscarizar este filme (nas categorias mais relevantes). Sobretudo tendo como alternativas, O Mentor, Argo, ou 00.30 Hora Negra, só para referir os igualmente originários dos EUA. Nem Daniel Day- Lewis escapa a um certo facilitismo se pensarmos nos desempenhos em My Lefte Foot, Gangs of New York ou Haverá Sangue, entre outros.

 


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semtelhas @ 12:53

Dom, 17/02/13

 

Pop, pop, pop, pop, pop, pop...

 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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semtelhas @ 12:34

Sab, 16/02/13

 

O outro queria voltar para a ilha...temo que comecem a escassear face a tantos pretendentes. Talvez não seja má ideia explorar esse nicho de mercado por cá (viva o empreendedorismo!), do fabrico de bunkers. Lá fora fazem-se anticataclismos naturais e antiguerra nuclear, entre nós acho que vou apostar nos antidepressão, afinal o mercado dos antidepressivos correspondentes comprimidos é francamente promissor, vasto e em imparável crescimento (campeões da Europa dizem as estatísticas). 

 

É que se os há por cá desconheço, esses buracos de luxo, espécie de suítes enterradas, mas para todo o serviço, talvez por ainda estarmos mais ocupados (o atraso do costume) em lidar com este nosso já ancestral problema de viver nesta bipolaridade, que vai desde ativamente pôr-mos em prática a nossa já muita comprovada capacidade de lacaios, outra vez e sempre do poder, bufando pidescamente assim substituindo o Estado na sua obrigação de fazer cumprir as leis, com a fundamental diferença, sinal dos tempos, que agora em vez de se receber a cenoura ainda temos que pagar, até ao assistirmos, impotentes, ao descontraído caminhar para o abismo a que esses mesmos doutos governantes do bufanço, das fileiras dos quais sábiamente um recentemente se retirou para agora livremente os poder mandar ir tomar no cú (isto, assim, em brasileiro, não deve querer dizer aquilo em que estou a pensar) por interposto fiscal da faturação, nos estão a conduzir. Pergunto-me se o chefe da banda não terá razão quando nos manda ir dar uma volta, é que isto tanto parece a caminho da desertificação como, no segundo seguinte, um promissor ninho de oásis de oportunidades, assim se tenha poder ou dinheiro, o que, como é sabido, toca a poucos.

 

Pelo meio a habitual mania das grandezas de uns, intrépidos marinheiros de várias águas, particularmenete das mais turvas, penso que originária no sucesso resultante da pulsão que constitui o apelo do mar por todo o lado (comum a todos os países nestas circunstâncias quando descobrem antes de serem descobertos, e terem um vizinho de ombros largos), que conduziu a uma postura tipo mais olhos que barriga, e o tradicional conservadorismo dos habituias e agoirentos velhos do restelo, o atávico medo, de muitos outros que formam uma imensa mole de sibilas e manhosos sempre prontos a alimentar-se da desgraça alheia. De um lado excesso de tudo e mais alguma coisa: jornais, clubes, cantores, concursos, cafés, restaurantes, empresários, empreendedores, advogados, arquitetos, professores, estudantes, políticos, jornalistas, jogadores da bola e de casino, lojas, automóveis, auto-estradas, centros comerciais, psicólogos, licenciados e doutores e engenheiros em geral, do outro, gente com pouca qualificação, velhos, criancinhas por todo o lado, funcionários públicos, polícias, militares, gente de meia idade à deriva, etc., etc., etc.. Uma esquizofrenia para a qual não vejo saída.

 

Há uns tempos atrás, perante este meu discurso pessimista, um amigo, pai de três meninas entre os dois e os oito anos de idade, dizia-me com sentido humor negro: ok, quando chegar a casa vou pegar nas minhas filhas, escolher uma ponte bem alta, e atiramo-nos dela abaixo. Talvez esta incapacidade de ver um futuro seja a mais acabada confissão da muito portuguesa caracteristica de nada fazer nem sair de cima (cá está o meu momento Viegas). Oxalá que sim, entretanto... QUERO IR PARA O BUNKER!


direto ao assunto:

cores da lua @ 20:46

Qui, 14/02/13

 

 

 


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cores da lua @ 20:15

Qui, 14/02/13







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