semtelhas @ 14:16

Seg, 31/12/12

 

Aqueles todos do costume e mais um.

 

Tem vindo a instalar-se ao longo dos últimos tempos a ideia da inevitabilidade do empobrecimento generalizado, da esmagadora maioria das pessoas, única via, dizem, para o restabelecimento da saúde das finanças do conjunto sócio-económico onde estamos inseridos.

 

Lembro-me perfeitamente de no final dos anos oitenta do século passado, uma certa faixa da sociedade recorrentemente utilizar o papão da crise para justificar inúmeros pedidos de sacrifício aos trabalhadores comuns, de atrasos nos pagamentos de salários, e mesmo de massivos despedimentos. Já pouco menos de uma década antes, e mais ou menos uma depois, se assistiu a um cenário parecido onde, as razões das crises vão mudando, o petróleo, a globalização ou a bolha imobiliária, mas curiosamente a estratégia de quem provocou as crises para delas sair incólume é sempre a mesma, a instalação do MEDO.

 

No entanto nunca como na atual se tinha ido tão longe nesse implacável desiderato de quem tendo mais, de nada quer abrir mão, bem pelo contrário, assumindo agora sem qualquer espécie de vergonha ou bom senso, que todo o problema está no dito, estado social, origem de todos os males e, portanto, objeto de perseguição tenaz.

 

Ignorar que foram cometidos excessos, sobretudo pelo proliferar de facilitismo, nomeadamente na falta de controle sobre determinadas benesses através da atribuição de subsídios para tudo e mais alguma coisa é, no mínimo, falta de honestidade intelectual. Corrigam-se pois. Mas muito pior é esquecer que esse mesmo clima de relaxamento serviu para encher os bolsos de um sem número de pessoas bem melhor colocadas para sacar que o comum dos mortais, e, neste caso, não se está a falar só de falta de escrúpulos para usufruir de mais uns tostões aldrabando no atestado da junta de freguesia, na declaração para o fundo de desemprego ou para o rendimento mínimo, trocos se comparados com os biliões que alguns desviaram aproveitando a confusão e a permissividade reinantes. Se é verdade que não se deve justificar um erro com outro, também o deverá ser quando chega a hora do ajuste de contas, é quem mais roubou (chame-mos os bois pelos nomes) quem mais deve pagar e não o contrário.

 

O assalto a direitos básicos a que estamos a assistir, a um serviço de saúde público garantido para quem não tenha possibilidade de o pagar, à educação gratuita do ensino obrigatório aos que não tenham meios para contribuir, ou a subsídios de sobrevivência, sejam de desemprego, de subsistência básica, ou de reforma, adequados às possibilidades de cada um, representa, de facto, um retrocesso civilizacional que a ninguém serve. Desde logo aos diretamente beneficiados e, a médio prazo a todos os outros. Trata-se de uma espécie de suicídio coletivo que a história recorrentemente comprova. Cegos pelo exercicío e usufruto do poder (quantos de nós lhe resistiríamos?) não é expectável que parem de ameaçar com o fantasma do medo, e de praticar uma política de crescente empobrecimento das populações, via rápida para que mantenham ou aumentem o seu poder. Cabe à esmagadora maioria restante (são pequenos? mas são MUITOS) cumprir o seu papel, de forma tão ordenada quanto inflexível,  respondendo à desumana e potencialmente fatal escolha de quem manda, a todos os níveis, oferecendo empenho na sua atividade, mas também exigindo dignidade e respeito.

 

O fatalismo é a retórica dos fracos. Para começar uma nova atitude, tranquila, constante, vencedora. Sem medos. 


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cores da lua @ 13:58

Seg, 31/12/12

 

A arte e sabedoria de encher o copo na medida necessária:

com a família, os amigos, saúde, o sorriso, rir de prazer, e outros prazeres.

 


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semtelhas @ 12:48

Dom, 30/12/12

 

Mecenas da humanidade.

 

 

 
 
 
 
 
 



semtelhas @ 13:47

Sab, 29/12/12

 

Houve o tempo da pressa

da aflição, da urgência.

Um dia... onde pára essa?

Foi-se, ficou a paciência.

 

Tantos anos a correr

sem tempo para nada.

Para vir agora a saber,

que afinal pouco andava.

 

Ainda a tempo de descobrir

Que o ganho está no ser.

Finalmente distinguir,

a diferença que faz do ter.

 

Haja sabedoria para ver

quanto mais cedo melhor,

da importância de viver

desfrutando tudo em redor.

 

Ao diabo a alma não vender

só nos quer pôr a dormir,

para fácilmente poder vencer,

e vegetár-mos sem sentir.

 

Aprendámos a respirar

sem medo dele usufruir,

bem fundo deve ir o ar,

a menos faz-nos diminuir.

 

Atirar para longe a pressão

atente-se no que dá o inverso.

Convém aprender com a lição,

ou na escuridão ficar imerso.

 

Eis chegado o momento,

o tal, o da grande verdade,

o de dar tempo ao tempo,

antes que seja tarde.

 

Ouvem-se vozes a carpir,

tarde demais para mudar.

Não é o tempo para desistir,

é sempre possível recomeçar.

 

Ouvir mais o coração,

não há tempo a perder.

Por uma vez calar a razão,

inspirar e começar a viver.

 

 


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semtelhas @ 12:18

Sex, 28/12/12

 

Depois de várias tentativas, finalmente, a americana soltou a francesa que há dentro dela. Foi no filme Paperboy.

 

 

 

Longe vão os tempos daquela boneca loura de olhos azuis, um metro e noventa de elegância máxima. Para lhe fazer justiça é forçoso dizer-se que a esta silhueta nunca correspondeu uma Barbie, até pelo contrário, mas nunca como neste filme a pudemos ver tão, digamos, atrevida. Desde que se libertou de Tom Cruise parece que ganhou um novo fôlego novo, isto é, em energia e estilo. Moulin Rouge, The Others, The Hours e Dogville, mostram uma atriz bem diferente do que tinha feito até aí, valendo-lhe vários prémios.

 

Para quem viu, e gostou, de Precious, também lhe vai agradar este Paperboy, mesmo que neste a mensagem seja mais difusa. Tal como aquele, trata-se de um filme excessivo, no sentido de que o realizador não está tão preocupado em passar imagens que remetam para a realidade, como em exacerbar esta, não nas emoções ou situações, por vezes até algo chocantes, mas na linguagem sempre inteligente e sagaz de todos, literalmente todos personagens, uma fluência e resposta na ponta da língua, claramente exagerada e que sistemáticamente nos acorda para o facto de estarmos a assistir a uma ficção. O efeito obtido acaba por ser de um certo equilíbrio porque quando estamos  a afundar na estória, ele trata de nos trazer à tona, acorda-nos, perdendo-se assim a oportunidade de vermos um grande filme para nos ficármos pelo interessante.

 

Quem não se mostra minímamente preocupada com isso é Nicole Kidman que agarra o personagem pelos cornos, que nunca mais larga. Epicentro de toda a estória oferece-nos uma interpretação magistral. Incrível como esta mulher passou do aparente estilo "apagas a luz?", para o "liga os focos e destapa os espelhos". Seria o Cruise? A verdade é que já marchou outra. O Globo, o Óscar, e o que mais houver para a Kidmáne.

 


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cores da lua @ 20:22

Qua, 26/12/12

 


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semtelhas @ 13:41

Qua, 26/12/12

 

Tudo indica que, brevemente, a maior parte de nós terá que ir pregar para outra freguesia.

 

Impressionou-me aquela manifestação que algumas centenas de pessoas fizeram há uns dias frente ao Palácio de Belém, na tentativa de sensibilizar o Presidente da República no sentido deste minimizar os efeitos, que consideram negativos, do projeto governamental de diminuir drásticamente o número de freguesias, por via da absorção de umas por outras.

 

Se observado atentamente, aquele conjunto de pessoas, sendo muito heterogéneo, porque representando as mais diversas freguesias, fazia-o exibindo os diferentes símbolos mais significativos de cada uma delas, uma força comum os unia, o sentimento de grupo, a sensação de pertença a uma comunidade de pessoas que sentem ser uma certa forma de poder, que mesmo sem que consigam explicar exatamente porquê, lhes continua a dar alento para continuar a lutar dia a dia em circunstâncias cada vez mais dificeis. Tirem-nos poder de compra, obriguem-nos a deslocarmo-nos dezenas de quilómetros para irmos ao Centro de Saúde, ou condenem-nos a um crescente isolamento, mas não nos tirem o orgulho de dizer que somos de "Reduza do Meio".

 

Ao longo da história são incontáveis as ocasiões em que se minimizou o efeito da Cultura, neste caso de cariz mais popular. O último dos quais, entre os mais graves,  resultou no mais mortífero conflito pós 2ª Guerra Mundial, fruto da forçada e artificial criação da exjugoslávia. Atualmente,  sentimos dolorosamente na pele, esta penosa sobrevivência da União Europeia, porque quase exclusivamente assente em pressupostos económico-financeiros.

 

É realmente profundamente lamentável que os tecnocratas que nos governam, como aliás acontece por práticamente todo o nosso o mundo (salvé Obama), só à força percebam que, a longo prazo, sómente a cultura faz sentido como verdadeiro fator de união entre os povos. O problema, como bem sabemos, é que os resultados rápidos para tapar os buracos que esses mesmos senhores cavaram, nos quais outros estão a cair enquanto eles assobiam para o lado, se obtêm através desta sanha na procura de sinergias, como eles dizem, para justificar uma fuga para a frente, da qual, como é costume, serão as vitímas(?) menores.

 

De certeza que se pode poupar algumas verbas do Estado reduzindo o número de freguesias, portanto é forçoso fazê-lo, mas haja a sensibilidade e bom senso para preservar algumas prerrogativas que garantam a manutenção do tal sentimento de pertença, que muito alimenta a auto estima de um povo que tanto dela carece. Ao menos isso.

 

Resta a (fraca) consolação, que se atuarem nesta matéria, tal como em muitas outras, com os pés, vão apanhar o maior trambolhão  da história de eleições livres em Portugal.


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semtelhas @ 12:30

Dom, 23/12/12

 

Eles andam por aí...

  

 
 
 
 
 
 
 

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semtelhas @ 10:19

Sab, 22/12/12

 

Dizem os entendidos que os maiores escritores são os que criaram o seu próprio estilo de escrita, absolutamente original. Lembro-me de Tolstoi, Kafka, Musil, Faulkner, James Joyce, Roberto Bolaño e... Saramago. O principal efeito que estes monstros sagrados da literatura criaram foi o enorme exército de seguidores. Acabei agora de ler, A Máquina de Fazer Espanhóis, de Valter Hugo Mãe, o qual Saramago apelidava de "tsunami" da literatura em Portugal.

 

Para quem gosta do nosso Nobel da Literatura, é uma felicidade reconhecê-lo, renascido, pelo talento deste angolano desde muito jovem a viver nas Caxinas, Vila do Conde. É também esse o legado que estes grandes vultos da humanidade nos deixam, as preciosas sementes daquilo que foram, que, por vezes, vão frutificando nestes novos talentos, também eles potenciais candidatos a acrescentar algo de novo ao que genuínamente herdaram.

 

Ainda será cedo para ver em  Valter Hugo Mãe o escolhido, o eleito como principal sucessor do tal estilo de Saramago. Que o era do próprio escritor parece não haverem grandes dúvidas, mas já não estou assim tão certo que a ambição de Hugo Mãe se fique por aí.

 

A leitura desta obra, para além da constatação da capacidade de pousar sobre as coisas um certo olhar, onde a vertente social, o humanismo, a liberdade, estão sempre presentes, o autor fá-lo recorrendo a uma linguagem por vezes poética, também humorística, a míude irónica e mesmo sarcástica. E é precisamente por aqui que ainda lhe pressinto algum caminho a percorrer. Relativamente jovem, terá  feridas por fechar que deixam escapar uma amargura que azeda ligeiramente o texto. Um veneno que o tempo se encarregará de diluir. O facto de se tratar de um doído texto dedicado ao seu pai prematuramente desaparecido, e a eventual responsabilidade, ainda que indireta, das agruras do tempo da outra senhora, têm nisso contributo essencial.

 

Interessante viagem ao país que fomos e, mais importante, que nos tornou em boa parte daquilo que somos.


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cores da lua @ 20:58

Sex, 21/12/12

 

 

© Stephen Fitzgerald and Nathan De Ceasar . Music of Grant Harold.

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semtelhas @ 14:16

Sex, 21/12/12

 

Quando se abondona a sala de cinema depois de assistir a Vertigo, de Alfred Hitchcock, é legítimo perguntar-se: porque foi este filme, recentemente, considerado o melhor da história da sétima arte?

 

 

 

Se tivémos a paciência necessária para, quase durante duas horas e meia, absorver atentamente o que nos foi dado a ver, o tempo encarregar-se-á de nos mostrar que aquela estória se entranhou de tal maneira na nossa memória que dificílmente a esqueceremos. É exatamente por isso que o filme mereceu tal distinção, porque não sendo abertamente violento, de suspense, policial, dramático ou romântico, acaba por nos tocar sobre todos esses aspetos ao ponto de lhe sentirmos um nível de verosimilhança que nos coloca na pele dos personagens, com todas as emoções, e são muitas, inerentes. É assim a vida, uma mistura de tudo, onde o acaso tem sempre o papel mais importante.

 

Felizmente este era um dos filmes deste realizador que ainda não tinha visto. Os que conhecia eram muito mais assumidos nos seus objetivos, Psico, Os Pássaros, Janela Indiscreta, Intriga Internacional, etc., faziam opções muito mais claras nos seus estilos de policiais, suspense, ou thrillers, e centravam-se em consegui-lo. Neste caso parece que Hitchcock fez questão de em tudo atingir a perfeição. Filmado em S.Francisco dos anos cinquenta mostra-nos uma realidade deslumbrante. Primeiro porque naquele tempo quando se filmava um vestido de seda, um fato de lã, uns sapatos de pele de crocodilo, um móvel em madeira preciosa, quadros célebres, automóveis belissímos em cores pastel, edificíos de época lindissímos, etc., etc., tudo aquilo era real, constatámo-lo na textura das coisas. Essa sensação passa para o outro lado do ecrã e contribui decisivamente para dar veracidade ao que vemos. Depois há o ritmo. Nada de atropelos. Um cinema em que a preocupação é exclusivamente fazer bem feito. Aparentemente naquele tempo os produtores não seriam tão pressionantes. Curiosamente nem o argumento é fabuloso, nem os atores espantosos, nem a música particularmente arrebatadora. No entanto o conjunto resulta de tal maneira harmonioso que quando aquilo acaba fica a sensação de que, tal como cada um de nós vai levantar-se da cadeira e continuar, também o protagonista o vai fazer. Algo que não acabou. Sabe-se como aqueles anos otimistas do pós guerra foram glamorosos nos Estados Unidos, Hitchcock capta com mestria essa ambiência, como que com ela embrulhasse aquela magnifíca estória, através de longos planos do rio, da Golden Gate, das belas fachadas ao longo das estradas, até de um frondoso bosque de sequoias, as milenares árvores com mais de uma centena de metros de altura (chega mesmo a mostrar-nos numa delas, que foi cortada para o efeito, a história dos últimos séculos nela marcados à medida que o seu diâmetro aumentava). Tudo isto dá ao filme uma espessura que o torna poderoso.

 

 

 

Há filmes que contêm essa magia de se insinuarem em nós de uma forma, que somos transportados para dentro do ecrã e por ali continuamos embalados muito para além das luzes serem ligadas.


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semtelhas @ 12:08

Qua, 19/12/12

 

Apanhar, rebuscar, procurar.

 

Pareciam formigas. Em anos anteriores já tinha visto um aqui, outro ali. Quando chego ao ponto onde posso ver o areal, lá estão eles, homens, mulheres, novos e velhos. Agora que o mar, já farto, resolveu devolver tudo o que durante um ano andaram a impingir-lhe, é ver um exército munido das mais diversas armas, varas, navalhas, cestos, sacos, até sofisticados carros com rodas para transportar grandes pedaços de madeira, a atacar o precioso lixo. No meio daquela multidão que trabalha ao longo dos três quilómetros que percorro, descubro aquele velhote que, últimamente desaparecido, habitualmente vejo sentado no muro que separa as dunas da estrada. Quase sempre só, por vezes com mais um ou dois compinchas, com pinta de abastado, semana atrás de semana a apanhar sol e a deixar a vida correr. O que andava ali a fazer?

 

Passado um bocado ouço um chilrear que vai aumentando de intensidade. Descubro lá em baixo, num espaço relativamente liso delimitado por duas balizas, um ervado, uma dúzia de crianças que gritam correndo atrás de uma bola. Cá em cima, por onde passo, ela, catorze, quinze, berra - querem ir caminhar? - em uníssono - NÃO. Ela, exatamente quando me cruzo com ela murmura - foda-se. Ele, da mesma idade, displiscente, e duplamente, encostado às cordas, ordena - daqui a vinte minutos vamos caminhar, não é só jogar à bola (pode ser que o cantinho e a oportunidade aconteçam).

 

Rasantes passam dois ucranianos(?) a correr ao mesmo tempo que conversavam algo que devia ser muito interessante, dado o entusiasmo com que o faziam, mas que me escapou no meio daquele confusão de  ieves, oves e itches. Devia ser sobre o apurado nível de forma que estavam a atingir. O mesmo não podia dizer aquela caminhante senhora, de lânguido olhar, que seguramente procurava outra coisa.

 

Lá longe, quase inaudíveis, as viaturas na estrada só deixavam escapar um zumbido, insetos em movimento de olhos acesos, a manhã seguia escura. Dentro delas podiam-se adivinhar diferentes vontades: o escritório ou a fábrica da sobrevivência; o comboio, o barco, o avião, o continuar ao encontro de um qualquer objetivo; o regresso ao conforto da casa; a deslocação ao café, pequeno-almoço e jornal, quebrar rotinas, invadir outros mundos.

 

De repente, ainda a marítima zanga, o AVISO: passagem proibida, passadiço em manutenção. A experiência estende o olhar mais adiante e descobre que é possível contornar o desastre evitando assim o nefasto contacto com o alcatrão da estrada. Baixo-me para ultrapassar a minha desobediência e, ZÁS, ouço os calções a rasgar-se (ainda bem que trouxe o capote contra a chuva!). Vão-se os calções chega a memória. Foi há quanto tempo? Para aí dezasseis anos. Uns Abanderado todos catitas que ainda um destes dias apreciei no meu filho, pose vaidosa, numa fotografia na Tavira do nosso contentamento. Mas ainda há esperança. Para os calções e para Tavira.

 

A bicharada lá anda, em maior número e mais feliz quando chega o frio e a chuva, porque mais livre dos intrusos que para eles fomos(?). Coisas, sexo, amor, sobrevivência, reconhecimento, memória...respigadores, é o que todos somos.


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semtelhas @ 14:26

Ter, 18/12/12

 

Parece carecer de alguma legitimidade histórica falar do português, ainda assim, admitindo que quase mil anos de fronteiras tenham criado um espécime com caracteristicas bem definidas, diria que Mourinho configura um dos seus mais notáveis exemplares se visto numa perspetiva de reconhecimento pelos seus semelhantes.

Sagaz, truculento, com algum gosto pelo risco, enérgico e trabalhador na razão diretamente proporcional aos beneficíos daí retirados, com uma costela a puxar para a nostalgia, solidário, fanfarrão e vaidoso qb. Só podia ser Especial.

 

Se a isto somarmos ter tido alguma sorte no berço em que nasceu, que fez por merecer ao longo da vida até ao dia em que lhe foi dada a oportunidade de ir trabalhar para o patrão certo, reconhecido por catapultar quem por lá passa para o estrelato, assim saibam aplicar os ensinamentos e a embalagem ali adquiridos, e demonstrando uma rara capacidade de perceber o essencial do seu sucesso, ter tudo a funcionar sempre a alta rotação, uma guerra permanente contra as rotinas que resultam em conformismo, e já na bagagem muitos dos segredos do mundo do futebol, mudou-se para onde este mais brilha.

 

Manteve e reforçou o registo na exata medida em que o ego ía crescendo. Numa feliz mistura de falta de dominío do inglês e de arrojo, auto intitulou-se de special one no sítio certo para o fazer, onde a qualidade é reconhecida sem reticências. Atento aquele mundo, descobriu a "galinha dos ovos de ouro". Não se fez rogado, nem desperdiçou a oportunidade. Sem nunca prescindir dos indefetíveis (sê-lo-ão enquanto souberem quem é o chefe), rodeou-se dos melhores intérpretes e montou o circo. Sucesso. Sentindo que o feitiço se estava a quebrar forçou a  partida.

 

Em Itália, tanto caminho andado em tão pouco tempo, repetiu a receita beneficiando já da notariedade que infunde respeito e facilita certas imposições. Com algumas nuances, volta a vencer.

 

Fiel à sua regra de ouro, mesmo deixando literalmente em lágrimas metade dos adeptos do Inter, muda de ares. Nunca se sentiu tão poderoso, impôs as regras e voltou a montar a armadilha. Duas questões fundamentais começaram a criar dificuldades, ter como principal adversário talvez a melhor equipa da história do futebol, a que se juntou o facto de ter que o fazer no país com quem os portugueses cultivam mais anti-corpos. Em Espanha Mourinho nunca foi o melhor, e era precisamente lá que mais precisava de o ser. Como é normal acontecer nestas situações, um mal nunca vem só. Devia ter fugido dali enquanto era tempo e a sua estrela brilhava, mas nem o destino, sempre fiel servidor, ajudou, e, contra todas as previsões Di Matteo foi campeão europeu gorando-se assim a possibilidade dos milhões russos substituírem a indemnização espanhola. Deixou-se ficar mesmo sentindo que arriscava muito. Provávelmente conta com o prestigío entretanto adquirido como escudo contra o peso do fracasso. Oxalá tenha razão.

 

Desde que, contra tudo e contra todos, abandonou o FCP, Mourinho sabe que em dois anos seca tudo à volta, o discurso perde eficácia, tem que ir "pregar para outra freguesia". É por isso que agora, quase em desespero, faz tudo para que o Real dê o primeiro passo, faça a primeira oferta. Pela primeira vez está a sentir negativamente esse estigma que sempre temeu mas que também sempre soube utilizar a seu favor, ser português com tudo o que isso implica em termos de imagem. Em Espanha esta questão é particularmente sensível, ainda mais nestes tempos em que tanto se põe em causa o valor das pessoas enquanto espanhóis ou portugueses. Por vezes dá a sensação que o treinador português está com o freio nos dentes, já fez comparações pouco abonatórias para nuestros hermanos entre os jornalistas ingleses e os espanhóis, também relativamente aos adeptos, perguntou quem é esse?, referindo-se a um colega, e não há jogo algum em que não acuse os jogadores, habitualmente os seus grandes aliados.

 

Quando se sobe tão alto quanto Mourinho subiu, não há olhos que não o vejam. Independentemente do seu absolutamente inquestionável valor enquanto treinador de futebol, utilize o estilo que utilizar desde que sempre dentro das regras legítimas, seria muito triste que por uma qualquer incapacidade, viesse dar razão aos que lhe atribuem o sucesso por vir de onde vem, não pelas melhores qualidades, mas pelas piores, que todos conhecemos, o que parece começar a multiplicar-se por todo lado, desde logo na forma jocosa como pronunciam, el português. 


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cores da lua @ 20:49

Seg, 17/12/12



Lhe oferecerem flores, não será inédito mas será um gesto bonito. E se de repente lhe oferecerem "bolas da praia" ?. Sim, perceberam bem, bolas da praia?

Pois foi, um destes dias, um dia especial, fui acarinhada com uma entrega surpresa: bolas da praia, surpreendentemente deliciosas ;) Naquele dia senti-me mais nova, do que o dia seguinte. É uma questão de copo meio cheio, ou meio vazio.

Quem mas ofereceu conhece-me bem. Para o registo, ficou uma para a fotografia - logo depois saboreada.

E se de repente a (o) surpreenderem?

Não coma a vida com faca e garfo. LAMBUZE-SE.
(Mário Quintana)

 

BOLAS DA PRAIA


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semtelhas @ 16:17

Seg, 17/12/12

 

Ontem foi-me dada a possibilidade de assistir a dois programas televisivos muito bons, um deles mesmo da exceção, daqueles que apetece guardar como se de um documento muito importante se tratasse, e que é o caso.

 

O segundo deles desenvolvia o tema do neuromarketing. Tendo por base as neurociências que, de uma forma extraordináriamente simplista, significam especialmente o estudo da ligação, e a sua demonstração gráfica, entre as várias partes que compôem o cérebro de uma pessoa e as suas atitudes, ou, aquilo em que cada um de nós está a pensar antes de executar algo, recorrendo essencialmente a ressonâncias magnéticas. A aplicação destes ensinamentos à arte de vender um produto já resultaram em conclusões preciosas para atingir esse objetivo, nomeadamente quando utilizadas na publicidade: o consumidor faz a sua escolha muito mais respondendo ás suas emoções que à razão; a história prova que uma das emoções mais eficazes é o medo (é dado como exemplo a sucesso das religiões); um dos principais pressupostos para que um artigo venda, que o anúncio seja eficaz, é o contexto em que é exibido, ou seja o nível de abertura que a audiência tem para o receber (raras vezes será o prime-time). Trata-se de uma matéria impressionante, vasta e muito complexa, que está a dar os primeiros passos carecendo portanto de qualquer legislação restritiva que acautele abusos. Basta pensar que sendo já possível identificar gráficamente no cérebro, a relação entre o que se está a pensar e o que se vai fazer, e sendo semelhante em todos nós, como essa informação seria importante se estivesse (não está?) acessível às grandes marcas com potencial para gastar milhões nestas matérias. Claro que entidades que fazem estes estudos já se apressaram a jurar que só fazem medições e as facultam a quem as encomendou, e garantem que jamais será possível condicionar alguém a comprar isto ou aquilo...

 

O primeiro, o tal que vou tentar guardar para posteriores consultas, foi o último Câmara Clara na RTP2. Obedecendo aos mesmos critérios de qualidade e exigência, Paula Moura Pinheiro fez um resumo do melhor de sete anos de programas sobre, literatura, música, cinema, história, filosofia, arquitetura, etc., que é um notável documento pluridisciplinar do saber. Tendo abordado vários assuntos de importância global, lembro-me do Maio de 68, da Revolução Industrial, do Império Romano ou Britânico, do Holocausto, entre muitos, muitos outros, foi especialmente sobre o nosso país que o programa se debruçou. Durante todos essses anos foram muitas as vezes que senti orgulho no nosso país e nas nossas gentes, mas nunca como ontem, por ser só sumo, o tinha sentido com tanta intensidade e resultando de tanta evidência. O entusiasmo, o profissionalismo, o empenho com que aquelas pessoas fizeram este magnifíco trabalho ficou claramente espelhado neste apanhado pela forma como potencía tudo o que foi feito. Não obstante a grandeza e dignidade com que a principal responsável e os seus mais diretos colaboradores se despediram, em mais uma demonstração de tolerância, civilidade, positivismo, solidariedade, numa palavra, de nobreza, vai ser muito dificíl preencher um buraco negro aos domingos à noite. Porque, como dizia Rosa Montero num dos programas, é muito dificíl resistir a tornarmo-nos imbecis. Sem questionar as prioridades de quem as estabelece, esta fobia do cortar, como o poderia fazer? Não deixa de ser questionável, e mesmo um risco, começar por um dos poucos programas que esclarecia e genuinamente alimentava a auto-estima de um povo.

 

 

É precisamente esta dúvida que une estes dois programas que tive a sorte de ver ontem. Haverá melhor antídoto contra os avanços abusivos dos aproveitadores sem escrúpulos do costume, valendo-se das legítimas, formidáveis e imprescindíveis descobertas da ciência, que uma população bem informada, com ideias bem claras?    

 


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