cores da lua @ 21:17

Dom, 30/09/12

 

 


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semtelhas @ 13:02

Dom, 30/09/12

 

Três jogos de futebol uma coisa em comum, falta de profissionalismo.

 

Fulham/Manchester City, Manchester United/Tottenham e Rio Ave/FC Porto.

 

Salvo o caso de quererem imitar o Barcelona, que parecendo jogar lento não o faz, bem pelo contrário, simplesmente é a bola que gira rápidamente, há cada vez mais equipas que, não o conseguindo, parece se irem arrastando displicentemente pelo terreno de jogo, certas da sua superioridade, que vai acabar por se manifestar sem que para isso tenham que se esforçar muito. É preciso um superior dominio da bola, uma constante procura do espaço vazio, não qualquer um mas aquele que dia a dia se treina, e que há-de resultar numa progressão sistemática, ou então, quando a defender, uma pressão imediata sobre o jogador adversário que transporta a bola, o que, para ambos os casos exige grande capacidade fisíca e disponibilidade mental, para se poder jogar o ticataca do barça. Depois, cereja no topo do bolo, alguém que realmente desiquilibre e faça a diferença mesmo que as coisas não estejam a resultar enquanto equipa.

 

Acontece que quando se tenta pôr este esquema em jogo e ele não funciona, os jogadores tendem a disfarçar a sua inépcia com uma espécie de falsa superioridade, que mais não é que nervosismo e insegurança, crescentes à medida que o tempo vai escasseando. Normalmente, do outro laldo, estão equipas que têm a noção que só trabalhando muito conseguirão derrotar as estrelas que defrontram, acabando muitas vezes por consegui-lo. A vitória da vontade sobre a sobranceria.

 

O que se passou nos três desafios mencionadas ilustra bem este fenómeno, com resultados finais diferentes mas que podiam perfeitamente ser iguais. O United perdeu mesmo, o City e o Porto só evitaram a derrota (o City acabou mesmo por vencer!) mesmo no fim. Dir-se-á que estas três equipas vão ter jogos muito complicados para a Champions no meio da próxima semana e que, por isso, se estavam a poupar. Sem justificação, se foi o caso, pois qualquer delas tem jogadores suficientes em qualidade e quantidade para jogar duas vezes por semana. Não é esse o problema.

 

A questão é que não é fácil um treinador obrigar uns quantos milionários a vestir um fatomacaco.

 

 


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semtelhas @ 12:22

Sab, 29/09/12

 

- É cada vez mais evidente a estratégia dominante de quem detém os cordelinhos, pôr o povo no seu lugar. Ainda hoje ouvia num noticiário televisivo um desses senhores óbviamente dotado de grande inteligência e, não sei se mais importante porque não conhecia nem conheço a figura, de boas famílias, que, tendo vivido dez anos na Inglaterra, quando chegava cá de visita, sempre se admirava do nível de vida dos portugueses e da facilidade com que gastavam dinheiro, que, dizia, mesmo de onde vinha, um país rico, havia outro cuidado. Que Portugal faz(fazia?) parte de um clube de ricos num mundo, que agora desperta, de pobres. Independentemente do que há de verdade nestas afirmações subsistem algumas dúvidas: será legítimo comparar-nos com outros países da união europeia cujos rácios, que não enganam, são completamente diferentes? Para abreviar basta analisar um, o nível ou custo de vida. Filosóficamente falando, faz sentido haver um grupo, do qual o referido senhor claramente faz parte, só porque naturalmente mais dotados ou com melhores antecedentes sejam tão esmagadoramente mais beneficiados que a maioria? É liquído que esta política crua do quem tem unhas toca guitarra,  é o melhor caminho? Por cá tem como mentor principal o já célebre Borges, refugo, trunfo gasto e de imagem desgastada no FMI mas ainda operacional para quem bacalhau basta que, não obstante aconselhado a ser parda eminência, volta meia volta a sua incontida vaidade traz às luzes da ribalta. Eles parece não terem dúvidas, com menos recuos e mais avanços lá vão fazendo o seu caminho.

 

- Impressionante o espétaculo de ver policías a pura e simplesmente desancar a torto e a direito. Acontece muito últimamente nos países do sul da Europa. É verdade que há muitos desordeiros misturados com a população e que não é fácil , naqueles momentos de grande pressão motivada básicamente pelo medo comum a todos, fazer a distinção, mas a realidade é que é assim que se consegue pôr pessoas que deviam estar do mesmo lado, a lutar umas contra as outras, só usam diferentes trajes, enquanto, de cadeirão, os verdadeiros responsáveis, longe, seguros e o mais confortávelmente que se possa imaginar, maioritáriamente ignoram ou tranquilamente glosam o espetáculo, enquanto os seus lacaios vão defendendo os seus interesses no terreno. Sempre foi, é, e será a sua tática, dividir para reinar.

 

- Tem tanto de surpreendente como de notável constatar um Coliseu do Porto pelas costuras, a assistir a uma ópera, Madame Butterfly. E não se julgue que aquela enorme quantidade de gente nada em dinheiro, seria ridículo pensá-lo. O que realmente se passa é a verdadeira integração da cultura, do seu espiríto, com tudo o que isso implica, por uma importante fatia da população. É um fenómeno que se verifica em todo o país, mas que é naturalmente mais visível nas maiores cidades ou onde se realizam grandes eventos. Por acaso o que se passava no palco até o justificou, excelente orquestra, bela encenação, grandes cantores, especialmente a protagonista que me pareceu capaz para os maiores palcos. Mas, à partida, as pessoas não o sabiam. Felizmente puderam desfrutar de um belissímo espetáculo e demonstraram merecê-lo, durante, com uma postura perfeitamente adulta de quem sabe estar, e no fim, explodindo num mar de aplausos bem justificados por quase três horas de evasão, proporcionada por uns quantos trabalhadores extremamente competentes. Podem tirar-nos tudo, mas esta consciência critica do fazer bem feito, sobretudo quando percetível no mundo abstrato da arte, de ver para além do óbvio, quem sabe a maior conquista da democracia, não o vão conseguir. E esse, o sucesso contra a ignorância, é a maior das vitórias.

 


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semtelhas @ 11:25

Sex, 28/09/12

 

 

Em piloto automático. Foi assim que Woody Allen criou e dirigiu o seu último filme, Para Roma com Amor.

 

Resta saber as razões porque isso aconteceu, mas suspeito tratar-se de um processo em evolução, infelizmente de decadência, e que envolve vários aspetos: cansaço, desinteresse, e sobretudo desgaste. Acontece que um Woody Allen desgastado vale mais que mil realizadores em plena fase de produção e criatividade.

 

Este mestre do cinema compensa um certo desleixo quer na direção dos atores (incluindo e especialmente sobre si próprio nesta variável), quer numa preguiçosa abordagem aos vários momentoschave em que de vai ancorando o argumento, nomeadamente recorrendo a papeis marcantes que cada um dos atores já desempenhou, o Roberto Begnini da Vida É Bela, a Penélope Cruz de Almodovar ou o Alec Baldwin do costume, com uma série de ideias e situações muito próprias, como sempre, brilhantes e atuais.

 

Continua a ser completamente desarmante como Allen desconstroi todo e qualquer tipo de ilusão, seja ela de que origem fôr. Expõe e arrasa esta desesperada luta pela sobrevivência dos média, sistemáticamente criando factos do e a caminho do nada. Qualquer réstia de esperança na pureza do amor é pura e simplesmente ridicularizada.  De toda a crença no talento faz tábua rasa. O discurso político protetor dos favorecidos é mentira, etc., etc.. No fim o que realmente conta é o reconhecimento quando transformado em poder. Foi sempre este o discurso do realizador, só que agora, aliado a uma certa sensação de decadência real ao visionarmos as debilidades do filme, fica um ainda mais amargo sabor a verdade que nem as habituais piadas conseguem minimizar.

 

Estaremos a assistir às últimas corridas da Woddy Allen? Será a reta final? Ou, como já aconteceu noutras ocasiões o homem vai renascer desta espécie de cinzas? Caso não haja retorno, oxalá tenha o bom senso de se retirar a tempo, apesar de, no caso deste trabalhador incansável, isso muito provávelmente significar o fim. Talvez voltar a filmar na Nova York natal, o que faz atualmente, o revigore para que continuemos a beneficiar por mais algum tempo das visões deste homem, como ele diz e com que se autoironiza neste filme, muito à frente do seu tempo.

 

 


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semtelhas @ 11:51

Qui, 27/09/12

Um dos mais profícuos tempos da arte.

 

Apesar de me parecer que em cada uma das suas facetas, pintura, literatura e música, podermos encontrar períodos mais ricos (o Impressionismo ou a literatura do séc XX, por exemplo), o romantismo terá sido porventura, no seu conjunto, o mais pujante período de criação, do ponto de vista qualitativo no que a estas três formas de arte diz respeito.

 

No caso da pintura há dois marcos do romantismo que também são referidos como dignos de figurar ao lado dos melhores, Delacroix e Turner. Apreciar duas obras destes pintores, Liberdade Guiando o Povo, do primeiro, e Mar em Tempestade do segundo, ajudam a explicar porquê.

 

 

 

Na literatura autores como Stendhal, Balzac, Camilo ou Vitor Hugo, falam por si. A ingenuidade, pureza e arrebatamento própria deste movimento artístico é particularmente notável nessa colossal e intemporal obra que é, Os Miseráveis de Vitor Hugo.

 

 

 

É na música que o romantismo tem o seu período mais importante. Bastará nomear Beethoven, Wagner, Tchaikovsky, Liszt, Chopin ou Brahms, só para lembrar alguns, para se perceber a grandiosidade que a música atingiu, em qualidade e quantidade naqueles anos. Recentemente tive a oportunidade de, pela primeira vez, ouvir a 4ª sinfonia de Brahms, que me parece espelhar na perfeição o espiríto daquela época.

 

 

 


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semtelhas @ 12:41

Qua, 26/09/12

-Y (coveiro contratado para enterrar a empresa) via telefone: Sr. X ( funcionário) vá ao gabinete do sr. W (patrão) porque ele deseja falar-lhe.

-X dirige-se para lá, como de costume bate duas vezes, abre a porta e dá um ou dois passos para o interior. O sr. W não está, em cima da secretária vê vários maços de notas  de todas as cores, 20, 50, 100€, automáticamente recua e quase choca com o patrão que surge repentinamente por trás e olha atentamente para as mãos dele, diz-lhe: Agora estou ocupado, depois ligo-lhe. 

 

-Y chama X ao seu gabinete, diz-lhe para se sentar e dispara: Andam para aí a dizer que o sr. é primo do engº que o contratou. Que por isso sempre beneficiou da proteção e ajuda dele para progredir na empresa. É verdade?

-X: Não. Só o conheci na entrevista de seleção para o emprego, depois de, juntamente com mais candidatos, ter feito testes numa empresa para o efeito. Segundo me informou posteriormente fui escolhido por ter os melhores resultados nos testes psicotécnicos, e demonstrado muita da experiência necessária para o lugar a ocupar.

-Y: tem a certeza que não é primo dele? É a única explicação que as pessoas encontram para a sua rápida progressão na empresa.

 

W convoca uma reunião com todos os principais responsáveis da empresa e, com Y ao lado, traça um quadro negro da situação e começa a culpar sistemáticamente X por parte dos problemas, atirando as questões para o ar, ficando depois insistentemente a perscrutar à volta, pelas pessoas presentes, procurando manifestações de acordo com o que dizia. Alguns falam mas enveredando por outros caminhos. À maioria não consegue sequer ver o olhar, está pousado na mesa.

 

Y chama ao seu gabinete uma das mais antigas funcionárias da empresa, que trabalha na secção liderada por X, e chama também este. Pergunta: Dona... é verdade que o sr. X não acompanha devidamente o vosso trabalho? Que não vos ajuda a encontrar soluções para os problemas que vão surgindo? Que por vezes é ríspido e mal educado convosco? Etc.. Utiliza um tom seco, bastante assertivo, quase ameaçador, de quem não aceita uma negativa. A todas as perguntas a funcionária responde que não, mesmo quando, irritado, as reformulou.

 

Alguns meses depois de Y ter chegado à empresa, W junta todos os X no maior armazém e anuncia: A empresa está numa situação muito dificíl pelo que não vai poder pagar os salários no fim do mês.

Foi o primeiro de vários anúncios do género. Os salários foram sendo sistemáticamente atrasados. Apesar de haver encomendas foram começando a ser estratégicamente negligênciadas. Paralelamente os X desistiam para poderem receber pela segurança social. Desde a chegada do coveiro até ao fecho, a empresa, com cinquenta anos, cento e vinte empregados e cinco milhões de euros de faturação, não chegou a durar três anos:

 

 

                                   W + Y = -X+X+X+X+X+X+X+X+X+X+X+X+X...




semtelhas @ 12:08

Ter, 25/09/12

Dramática esta situação a que muitos dos países inseridos no nosso raio de ação económicosocial chegaram.

 

Se a opção é o investimento, em nome do consumo e do crescimento que é suposto criarem riqueza e emprego, que deverão promover uma melhoria na qualidade de vida da sociedade, são sempre os mesmos a chegar primeiro à distribuição de benesses, seja porque estão claramente mais bem preparados para lá chegarem (um avanço que a maior parte das vezes é de várias gerações), seja porque fazem parte do mesmo clube de quem decidiu, quando não são os mesmos, acabando por, a prazo, se cair na mesma concentração de riqueza que esteve na origem do problema inicial, da crise, levando ao retorno à revolta e descontentamento das massas face ao empobrecimento de quase todos, para que alguns se vão tornando cada vez mais ricos.

 

Se por outro lado a opção é a austeridade, esta acaba por fatalmente recair sobre a maioria, desde logo porque de outra forma nenhuma austeridade poderia resultar, mas também, e mais uma vez, porque quem toma estas decisões normalmente faz parte da minoria bem na vida, e porque, também neste caso, está muito melhor preparada para gerir esta situação, por exemplo pura e simplesmente deslocando o seu capital muitas vezes acumulado em meis dúzia de familías desde há largas décadas, para outros locais do mundo ainda em estádios mais básicos de desenvolvimento e portanto ainda permissivos, ou então, no outro extremo, para países abutres, que se tornam atrativos para receber esses capitais alheios, vivendo de um negócio financeiro à custa da desgraça alheia. Resultando deste processo a progressiva queda do consumo, o aumento do desemprego, e o inevitável definhar da sociedade, caindo-se no único aspeto que estes dois cenários têm em comum, o empobrecimento de muitos para o enriquecimento de poucos e as consequentes revoltas.

 

Provávelmente resultante do cansaço e da falência de um sistema, dizem. Na verdade o sistema parece ser sempre o mesmo, sacar enquanto dá, depois é porrada até que a sociedade renovada à força, mete a mão na consciência, reorganiza-se e recomeça tudo. Um novo mundo onde só muda a tecnologia, sempre mais sofisticada e fator acelarador do inevitável, como sempre irão ganhar os mais fortes. A lei da selva. Sendo este o nosso destino é importante dele ter consciência mas, mais importante ainda, é cada um de nós fazer tudo o que está ao nosso alcance para, bem cientes da incontornável realidade da qual partimos, a nossa natureza, minimizar diferenças e tornar a sociedade mais justa. Ninguém consegue ser autênticamente feliz lado a lado com a miséria. 

 


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semtelhas @ 11:04

Seg, 24/09/12

Não os que vendem a sua capacidade para matar ao serviço de quem pagar mais, mas os que o fazem com o seu talento futebolístico.

 

Começa a ser interiorizado pelos adeptos que os jogadores se tornaram em peças de uma máquina, a equipa, substituíveis como qualquer outra, se possível melhor, mais evoluída, que permita melhorar o seu rendimento.

 

Um pouco como em tudo o resto, o que interessa é o resultado final. Curiosamente, no inicío do processo, quando um jogador é contratado, funciona tudo ao contrário, isto é, o que mais é realçado é precisamente a individualidade, um valor com importância muito além de simples peça de substituição, o que, na verdade, só vem reforçar o sentido  quase exclusivamente mercantilista que o futebol está a levar. Como qualquer outro produto, o jogador quando se compra é um bem precioso, quando se vende, dispensável ou substituível. Outro fator que realça a completa industrialização do que já foi essencialmente uma paixão, é a publicidade e os restantes interesses que andam à volta da comercialização de um artigo qualquer, ou seja, a uma superinflacionada importância do seu valor junto do comprador, corresponde uma menorização no vendedor.

 

Dá-se uma transferência da tal paixão, da mística, do jogador para a equipa. Cada vez é mais notável este efeito. Tornou-se uma necessidade quando as estrelas, hoje estão aqui mas amanhã podem estar do lado do principal dos adversários. Por outro lado tem vindo a verificar-se uma crescente mercantilização também já das equipas, por via da venda dos próprios clubes. Dada a dimensão do negócio há cada vez mais capitalistas interessados em nele investir. Resta um último azimute aos clubes que ainda não venderam a alma ao diabo, procurar muito para além do futebol e que não envolvam questões materiais, razões ou circunstâncias que mantenham o interesse dos adeptos. É por este caminho que se está a entrar, o que pode ser perigoso e, no limite, levar a restrições severas à pratica deste desporto fantástico.

 

Não é por acaso que apesar da morte lenta das razões que durante décadas levaram as pessoas aos estádios, estes continuarem a encher-se de gente cada vez mais ruidosa e participativa. Acontece que as motivações porque lá vão são outras. A mercantilização, a utilização furiosa do markting, os elevados valores em causa, tornaram aquilo que era um desporto num negócio importante. Assistimos a uma espécie de superficialização de um fenómeno que calava bem fundo, era de amor que se tratava, uma coisa para a vida, muito mais que paixão passageira. À semelhança de muitas outras áreas também esta está à mercê de interesses imediatos e, rápidamente trocados por outros mais rentáveis. A vulgarização que conduz ao desaparecimento ou então, áquilo a que temos assistido, transformar o futebol utilizando-o para outras guerras: politícas, económicas, sociais. Venha o diabo e escolha.


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semtelhas @ 12:33

Dom, 23/09/12

Obras como, D. Quixote, de Cervantes, O Alquimista, de Paulo Coelho, ou Gente Feliz com Lágrimas, de João de Melo. Obras únicas, mas também, em certo sentido, únicas obras destes autores.

 

Não sendo óbviamente o caso daqueles escritores de um só livro, estes são daqueles casos em que as obras referidas são de uma dimensão tal, que tudo o que foi feito depois não passa de obra menor ou simples repetição.

 

O caso do livro de Paulo Coelho será porventura o mais paradigmático. Desde logo porque O Alquimista, ele próprio pode considerar-se uma repetição de tantos outros, ditos livros de auto-ajuda, mas também porque, de facto, o que o autor escreveu depois está muito longe daquela obra emblemática. Discordo da teoria de ser um livro de auto-ajuda, ainda que, à semelhança de toda e qualquer obra de qualidade, evidentemente contribua para o crescimento e bem estar do ser humano que dela usufrua. A mensagem nesta inseridade, comum ao que já tinha acontecido e posteriormente veio, e virá a acontecer, será eventualmente uma das mais preciosas para quem dela souber tirar proveito: quantas vezes passámos uma vida à procura, por todo o lado e de todas as maneiras, de algo, normalmente da felicidade(seja isso o que fôr), quando isso mesmo sempre esteve ali, bem ao nosso lado. Não chega olhar, é preciso ver.

 

Gente Feliz com Lágrimas, é um livro extraordinário. Autêntico, pungente, sofrido, libertador, feliz. Acredito que só é possível escrever daquela maneira quando se está a fazer tratando-se de um relato pessoal. Foi o caso. Há naturalmente autores com uma tal capacidade de apreensão da realidade que os rodeia que quase conseguem fazer passar a sensação que viveram aquelas sensações. Simplesmente fica a faltar o quase. Não é o caso deste livro de João de Melo que relata magistralmente, como de uma saga de que de facto se trata, a sua vida numa muito pobre ilha açoreana e posterior vinda para o continente. Uma estória de infernos, redenções e perdões baseada em sentimentos profundos, vividos na primeira pessoa, e tendo como principais protagonistas a familia e amigos do autor. Prova de que nada pode ser tão verdadeiro quanto o é a realidade, que pode ser de grande crueldade, mas também da mais pura felicidade que tudo pode superar se assente no mais elevado dos sentimentos, o perdão.

 

D. Quixote é uma das grandes obras da literatura mundial. Ainda que o quizésse dificilmente Cervantes conseguiria repetir a universalidade desta estória. Relatando a viagem de dois homens por algumas centenas de quilómetros, em tudo diferentes, um esguio e nobre, sonhador, possuidor de grande sentido de dignidade, o outro gordo e pobre, pragmático, de dignidade feita em fidelidade ao seu senhor. Nestes dois estilos opostos, nas variadissímas situações que lhes vão surgindo ao longo da viagem, exemplos daquelas que todos nós já enfrentámos ou que algum dia haveremos de enfrentar, coragem/medo, amor/ódio, verdade/mentira, ternura/violência, etc., está toda a vida. Acresce que esta formidável saga nos é apresentada da melhor forma possível, com humor. Esta obra enorme está para os espanhóis, e para o mundo, como Os Lusíadas, outra obra única, está para os portugueses e para a humanidade. A primeira paradigma da existência por via desse confronto entre o sonho e a realidade, da qual resulta uma prática feita de energia e vivacidade, a segunda resultante num longo e melancólico olhar em frente, só possível quando sobre o mar, poéticamente imaginando sempre adiados mundos melhores.


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semtelhas @ 13:58

Sex, 21/09/12

 

Três noticías relacionadas com religiões, ou grupos religiosos.

 

Nos EUA algumas pessoas pertencentes ao grupo religioso Amish, foram atacadas fisícamente por alguns dos seus pares, supostamente por não cumprirem requesitos exigidos por aquele, suspeitando-se  no entanto que as verdadeiras razões terão haver com disputas familiares.

 

Na Rússia representantes de várias confissões religiosas vão-se desdobrando em afirmações, ora contra ora a favor, das posições defendidas pelo grupo rock Pussy Riot, mais em função dos apoios que daí lhes poderão advir, do que concretamente quanto à justeza do que as jovens difundem.

 

Por quase todo o mundo islâmico multiplicam-se a manifestações de protesto contra a exibição de um filme onde o profeta Maomé é insultado.

 

A história da humanidade está cheia de exemplos da utilização das confissões religiosas para tudo, menos para o que foram inicialmente criadas, procurar a harmonia entre as pessoas na procura de dar um sentido à existência, a esperança para perguntas sem resposta. Nenhuma religião está inocente neste processo, sendo que aquela que domina o espaço onde vivemos, a cristã, carrega estigmas tão pesados como, por exemplo, as cruzadas, a inquisição e mais recentemente a pedofilia.

 

O que para mim é verdadeiramente surpreendente é que este mesmo mundo que obviamente retratámos como muito mais informado, o que tem conduzido a um recrudescer nas inevitáveis reinvidicações de um exponencialmente crescente número de, ainda há pouco tempo insuspeitas populações por todo o planeta, e no que respeita a uma maior equidade na qualidade de vida de todas as sociedades, continue massivamente a cair neste logro do discurso fundamentalista. Desde as pequenas guerras entre familías até a globais revoltas, o nome de pessoas que inicialmente conquistaram pequenos grupos que, em alguns casos, chegaram aos milhões, na esmagadora maioria dos casos crescendo à volta de ideias de tolerância e solidariedade, é invocado para instigar ódios e violência quase sempre para esconder inconfessáveis interesses.

 

Afinal em que mundo vivemos? Muito mais informado e esclarecido, justamente reinvidicativo de uma vida melhor? Ou ainda ignorante e passível de cair em engôdos mais próprios de uma vivência nas trevas? 

 

A resposta a esta pergunta poderá desvendar boa parte das dúvidas relativamente à bondade, pilar fundamental das principais religiões, das manifestações de ódio e apelo à violência que diáriamente surgem por todo o lado. Venham de onde vierem.

 


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semtelhas @ 16:04

Qui, 20/09/12

Um destes dias fui passear ali para os lados de Cortegaça, na volta, passei por Esmoriz e parei na zona da Barrinha à qual a terra dá o nome. Estava um dia particularmente quente de verão. Fiquei por ali um bocado olhando aquele lago e as pessoas que por lá deambulavam, especialmente as crianças, enquanto me ía invadindo uma espécie de euforia mansa. De repente eram os olhos de uma criança de oito anos que absorviam sôfregamente tudo o que a rodeava.

 

Durante uns anos passámos parte das férias grandes em Esmoriz. A minha avó materna alugava uma casa, durante aquele período em que os meus pais e uma outra filha e o marido estavam de volta ao trabalho, para eu e os meus primos termos mais algum tempo de praia. Íamos de comboio o que, para quem conhece o local, sabe significar uma distância razoável a pé até chegar à barrinha junto da qual se situava a casa. A viagem constituía a primeira aventura. Eu, os meus três primos, um rapaz e duas raparigas, e a minha avó que se fazia acompanhar da minha tia M., a mais nova das filhas, formáva-mos um grupo alegre mas disciplinado. Podia, por isso, desfrutar calmamente da viagem de comboio aprendendo assim a gostar tanto a viajar daquela forma, que ainda hoje é a minha preferida. Entrávamos nas Devezas e, depois de arrumadas as inumeras sacas e embrulhos, eu já numa janela, o filme das praias que se sucediam, madalena, francelos, miramar, espinho..., o areal e o mar a chamarem, como se dizia na altura, pouca terra, pouca terra, pouca terra, lá se ía arrastando a locomotiva movida a carvão, e que deixava para trás uns rasto de fumo e um cheiro característico que ajudavam a adensar o ambiente de expectativa. Depois era descer até à praia, uma boa meia hora, normalmente pelo meio da rua que seguia a direito, porque os automóveis eram muito raros. Quase como se já estivéssemos na casa.

 

Distribuir camas, para que cada um logo arrumasse as suas coisas, era a primeira tarefa ainda antes de, calções vestidos, rumar à areia e à água. Aquela zona era frequentada por pescadores que tinham daqueles normais barcos de madeira para pescar. Lembro-me que um tinha escrito de lado Primavera, a branco num fundo preto. Devia ser o meu preferido. Havia um outro em tudo semelhante menos o nome, que era o do meu primo D.. Estavam ancorados dentro de água com pé, de maneira que aquilo foi um sem fim de estórias de batalhas de piratas, nas quais os remos, a areia, as pedritas e as conchas tinham papel fundamental. Sempre debaixo do olhar complacente dos pescadores e distante da avó e da tia. Os jogos da bola, e as primeiras descobertas de um prazer inexplicávelmente superior a qualquer outro quando a minha prima A., um pouco mais velha, insistia em certas brincadeiras...( nas quais o meu pobre primo nunca pôde participar), completavam as horas desses maravilhosos dias. Recordo ainda a fúria com que a minha avó nos lavava diáriamente, ficávamos como novos, quando voltávamos a casa quase noite, antes de jantar e após o qual recolhíamos á cama completamente extenuados, de coração a rebentar de alegria e a cabeça de aventuras e de entusiasmo a imaginar o dia seguinte.

 

Abençoada ingenuidade que tanta alegria de viver proporciona. Tempos irrepetíveis nos quais tudo o que fazemos marca indelévelmente o nosso futuro. Ali começou a minha atração por viajar em comboios, descobri a magia dos barcos e senti a mais bela sensação que é possível sentir, escostando a minha pele à pele daquela menina que me olhava bem nos olhos, permitindo que me afundasse nos seus e caísse num doce abismo, do qual despertava quando cheirava o perfume dos seus cabelos enquanto, desajeitada mas subtilmente, roçava os meus nos lábios dela, sensação divina que me fazia revoluir no peito uma euforia de que só muito mais tarde descobri o significado, e que naquele dia, quarenta e muitos anos depois, ainda que ténuamente, revivi.


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semtelhas @ 13:08

Qua, 19/09/12

Era uma vez dois irmãos gémeos, um rapaz e uma rapariga, austríacos, nos anos cinquenta do século XX.

 

Filhos de um exSS, estropiado na guerra, e de uma exprofessora, vivem os quatro numa casa pobre de num bairro periférico de Viena. O ambiente familiar varia entre as sistemáticas agressões do homem sobre a mulher, substituta possível dos desgraçados que sofriam as atrocidades a que ele as sujeitava, fisícas, verbais e morais, ás quais a própria mulher não escapa, antes funciona como espécie de cobaia de degradantes experiências, especialmente sexuais, entre insultos, ameaças e agressões de toda a ordem, e a educação dos filhos, feita do destilar de veneno, inculcar ódio e submissão, para além das inevitáveis agressões fisícas.

 

Quando chegam à idade de pré-adultos, estes jovens aprenderam que a única forma que tinham de sobreviver num mundo que, para eles, se limitava ao presente, à cruel realidade que viviam, a quem tinha sido roubada qualquer réstia de esperança no amanhã, ou a possibilidade de sonhar, era construir um mundo alternativo só deles, completamente desligado da realidade, uma abstração onde se refugiarem. Ele na literatura, naturalmente a mais sombria, a qual ele realmente compreendia e de que sentia personagem, ela na música clássica, particularmente nos compositores mais sofridos, como o irmão, aqueles que melhor transmitiam o que lhes ía na alma. Uma vida de faz de conta, que desesperadamente mantinham perante todos, menos em casa, utilizando para isso a mentira sistemática perante os outros e sobretudo si próprios, e na qual só se sentiam vivos, existindo para além das suas fantasias, praticando o mal, fazendo o outros sofreram na mente e na carne as suas descargas de ódio e amargura acumuladas.

 

Retrato monstruoso de um mundo de violência, transmitido de pais para filhos, consubstânciado nos atuais gangs urbanos que aterrorizam as populações das cidades onde vivemos, mas também numa imensa e silenciosa massa anónima, também ela vitima deste mesmo tipo de violência que, ruminante, vai lentamente envenenando a sociedade, e para quem este livro funciona como um espelho.

 

Brutal, inclemente, absolutamente cru e assustador porque de uma atualidade desarmante, surpreendente, Os Excluídos, de Elfriede Jelinek (Nobel em 2004). Para mentes adultas.


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cores da lua @ 22:07

Ter, 18/09/12

 

 

67 anos depois da sua publicação, em 1945, este romance de George Orwell continua actual. Qualquer diferença entre esta sátira e a realidade, é pura boa vontade e imaginação.

 

Fica a esperança do argumento se tornar obsoleto (e não será por força de boa vontade ou imaginação).

 

Vale a pena ler, ver, ou rever.

(Fica aqui o filme completo)

 

Ainda do mesmo autor, George Orwell, " Nineteen Eighty-four", romance famoso pela demonstração do exercício do poder dos governos sobre a vida dos cidadãos.
(Filme Completo)

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semtelhas @ 12:40

Ter, 18/09/12

 

Entre a manifestação popular do último sábado e a maior, muito, mas mesmo muito maior, que foi a do 1º de Maio de 1974.

 

1 de Maio de 1974
15 de Setembro de 2012 - © Tiago A. Pereira

 

Desde logo a já referida dimensão, incomparáveis, depois o nível de informação de que cada uma das pessoas intervenientes é hoje portadora, ou, por outras palavras, muito mais cultas e educadas, no sentido académico do termo e, muito mais importante, a das motivações.

 

Quem esteve naquele primeiro 1º de Maio no Porto, sabe que aquilo foi um S. João. Quase todas as ruas da baixa compreendidas entre a praça da Batalha, o Marquês, a praça de Republica, a de Carlos Alberto e o Infante, eram um mar de gente. Não creio que no resto do país tenha sido muito diferente. Em nome do rigor que fortalece e é indispensável para tornar credível qualquer opinião, a verdade acima de tudo.

 

Sendo duvidoso, nestes casos, o que assume maior importância, naturalmente a partir de certos limites, se a quantidade se a qualidade, sempre direi que, mesmo sendo muito menor, esta manifestação teve muito mais qualidade, no sentido mais estrito do termo. A primeira foi um anúncio de liberdade, poderá dizer-se que, em boa medida,  foi o instinto que levou aquelas pessoas para a rua gritararem a sua alegria. Nesta última bastou ver e ouvir algumas reportagens televisivas feitas por este país fora, para perceber que muitas daquelas pessoas estavam razoávelmente convencidas de qual era o problema e a maneira de o resolver, o que não tendo óbviamente que ter correspondência em eficácia, retrata conhecimentos para os quais é necessária preparação de base. Se comparadas reportagens é notável o que se evoluiu em trinta e oito anos.

 

Onde essa evolução é de facto espantosa pôde verificar-se em dois aspetos, um pontual o outro global. O primeiro refere-se ao comportamento das forças de segurança, em especial quando agredidas à pedrada, no único momento que contrariou a postura (que não o de muitas vontades...) dos manifestantes. Impressionante demonstração do espiríto e prática democraticas ao resistirem estoicamente a tão brutais agressões, não caindo assim na armadilha dos provocadores (a soldo?), que poderia ter conduzido a resultados cujas dimensões não podemos delimitar. Mas o espanto maior é toda aquela gente na rua sem ser para ir para a festa. Aquela contenção, muita vezes quase silenciosa, com que as pessoas manifestaram a sua preocupação e incapacidade de dar a volta aos seus problemas. Muitas vezes à beira das lágrimas confessaram a sua impotência. Cada um manifesta revolta à sua maneira, consoante a sua personalidade. Todos conhecemos aqueles que quanto mais apertados estão, mais esbracejam, gritam, disparam em todas as direções, mas sabemos que a esmagadora maioria se cala, se esconde, de si própria e dos outros, e desaparece afundada em depressões. Até por isto, e apesar disto, foi pungente aquilo a que pudemos assistir no último sábado.

 

Dizem-nos, melhor, fazem-nos sentir, que ainda há muito por onde espremer, devem estar a atribuir-nos elasticidades como a de etíopes ou afins, ignorando que as necessidades sempre se adequam aos recursos, que no nosso caso, mal ou bem, têm andado a propalar (eleições oblige) há décadas. A toda a frieza e calculismo devem ser impostos limites. Cuidado com a revolta dos pacíficos.

 

 


direto ao assunto:

cores da lua @ 21:44

Seg, 17/09/12

Está aberta a caça: ao Coelho e ao Voto. Já não basta o desgoverno em que estamos metidos, é ver agora o desfilar de milagreiros  prontos a salvar o país.

Primeiro o Portas, a seguir o Seguro, depois outro, outro e outro.

 

Porque será que, mesmo antes de terminar a entrevista, já sabia quais iam ser as respostas? Já dificilmente alguém me convence. Terão de se esforçar muito, muito, muito mais. E se para escolher um lado é preciso conhecer os dois, estamos tramados,  já os conhecemos, quase todos, e só percebo uma certeza - a DESESPERANÇA.

 

 

mudam as moscas, mas ...

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"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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