semtelhas @ 11:26

Qui, 31/05/12

Ler Émile Zola: Nana, A Taberna, Uma Página de Amor, é viajar por dentro da sociedade francesa da segunda metade do séc. XIX.

 

 

Escritor profundamente preocupado com a condição humana, cria toda a sua obra a partir de uma ideia de libertação do homem de todo e qualquer tipo de jugo a que possa estar sujeito. Manifestações contra o poder religioso consubstânciado em Lourdes, ou contra o poder politico, de que é maior exemplo a sua reação contra a perseguição aos Dreiffus, através da publicação num jornal do artigo J'Accuse, é denunciando a submissão dos mais fracos, a exploração pelos poderosos, e a larvar e nefasta influência da ignorância sobre as pessoas onde este amargurado, porque visionário escritor, mais se distingue.

 

A Taberna é um formidável romance durante o qual, acompanhando o percurso de um conjunto de pessoas pobres, nos podemos aperceber de todos os vicíos que minavam os mais desfavorecidos da sociedade francesa daquele tempo. Não é tanto sobre os problemas de que ela sofria, comum a tantos outros na Europa, mas a forma como os relata. As suas descrições da indigência e pobreza de espirito, provocadas e presentes sobretudo pelo álcool e na prostituição, são de tal ordem cruas que lhe provocaram inúmeros problemas em todo o espectro da sociedade, desde os abusados, que sentiam vergonha, até aos abusadores que se sentiam desmascarados.

 

Nana é a mais poderosa demonstração da força da depravação, pela vitória das aparências sobre os conteúdos, do poder sobre a verdade, do doentio sobre o saudável, a que alguma vez tive acesso. Numa metáfora poderosa, Nana, é destruição e decadência feita gente, disfarçada na mais atraente das mulheres, devassa em toda a extensão do seu ser, tudo em que toca acabará, mais tarde ou mais cedo, por desaparecer, por apodrecimento ou destruição, envenena a alta sociedade parisiense, trazendo à luz do dia todos os seus podres. O mais incrível do fenómeno é que este hipnotismo não é fruto de uma inteligência superior, mas fonte de uma estupidez profunda vestida de espertezas, maneirismos e sensualidade fatal, de tão animalescamente instintiva, absolutamente irresistivel. Mefistófeles no feminino.

 

Era de tal maneira incomodativo para a sociedade francesa daqueles dias, que, suspeita-se, acabou assassinado. Na pátria da sensualidade, do masoquismo e de Sade, tudo sinónimos de prazeres (?), ainda que umas vezes mais outras menos, proibidos, este autor mostra o outro lado, tenebroso, a que aqueles podem levar, ao consumo da sociedade pelos seus demónios. 


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semtelhas @ 13:19

Qua, 30/05/12

Nesta altura do ano, ao ouvir anúnciar as primeiras festas populares o pensamento imediato é sempre, este ano tenho que ir. Depois sub-repticiamente as lembranças do incómodo do barulho, da azia pós-farturas e mais que tudo do efeito deste maldito descodificador de ilusões, cada vez mais eficaz, que me vai deixando refém do crú e da indiferença, acabam por ter mais força e não vou.

 

Quando era miúdo, e por aí fora até bem dentro da idade adulta, estes eventos foram sempre acontecimentos, momentos importantes, de alguma maneira libertadores, dependendo da idade em que aconteciam, de emoção e alegria primeiro, de descontração e o desejo de contacto com uma realidade da qual sentia falta, depois. Dessas experiências ficaram episódios marcantes. Foram ontem.

 

O Senhor dos Aflitos era a festa que animava o lugar onde sempre vivi, enquanto solteiro, a casa dos meus pais. Devia ter uns oito anos e, dessa vez participei ativamente na preparação da animação. Durante uns dias trabalhei árduamente ao lado dos homens que enfeitavam as ruas. Ele era levantar paralelos para abrir os buracos dos mastros, ajudar a levar os arcos decorados com papelinhos de multiplas cores que iriam unir dois mastros, criando um túnel mágico, ou montar dois coretos, dois, no largo da igreja (incrivel como cabia tudo, e ainda sobrava espaço para os mais foliões dançarem!). Naquele domingo à tarde, momento alto, foguetes e procissão, passeei-me por ali com ar de dono da festa. Realizações.

 

O carrinho de folheta tinha sido comprado lá em cima, junto à igreja da Serra do Pilar. Foi um domingo de manhã. A descer, fazia o carrito deslizar pelo topo do muro que separa a rua da escarpa. Uma distração, caiu. Pânico, choro, medo. Perda irreparável e sabe-se lá qual a reação do pai, que tinha gasto do dinheiro que, assíduamente era martelado, não abundava. No fim, a bonança, a compreensão e, explosão de alegria, voltar atrás e comprar outro carro. Reconciliações.

 

Ainda hoje não sei como desapareceu a gaita de beiços comprada, no dia anterior, no Senhor da Pedra. Ontem tinha sido um dia bom. Mas hoje estava a ser um dia mau. Não se sabia o que podia acontecer. A perda do brinquedo assumiu dimensões catastróficas na minha mente, torturada pelo medo, pela insegurança. A salvação chegou, como outras vezes, pela mão dos vizinhos. Confrontados com o desespero da criança, meteram-se no carro e correram à feira comprar uma gaita. Atenção, tem que ser igualzinha, avisei. Abençoados.

 

Ainda uma outra. Passagem de testemunho. Sábado, um ameno final de tarde. Na mais larga das alamedas do Palácio de Cristal, entre majestosas árvores e em dia de Feira Popular, lá ao fundo, mesmo pelo meio, o meu filho, pequenito ( três anos?), a correr. A alegria exultante do espaço, da segurança, ali, ao alcance de um virar da cabeça, e das fantásticas expectativas, algodão doce, carrinhos, carrocel, música, cor e luz. Correções.

 

Hoje, herdeira deste espiríto, desta áurea, uma só romaria, outros deuses, outras procissões, a dos livros. Como nas outras, também lá se encontra alimento para alma,  comprimido em paralelipípedos de tomar pela mente. Faróis na procura do melhor que a criança que fomos nos legou.

 

 

 


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semtelhas @ 12:45

Ter, 29/05/12

Vénus - Botticelli

 

Hoje como ontem, cada vez mais importantes na minha, nas nossas vidas, as mulheres. Segundo estudos relativamente recentes, uma pesquisa feita ao longo de anos, conclui que o cromossoma y tende a desaparecer. Significa que a tendência é para o dominio do cromossoma x, que define o feminino, pelo menos seguindo as interpretações correntes nesta matéria. As palavras andróginos ou hermafroditas ganham outra dimensão.

 

Uma vez desperto pela noticía, não me foi dificíl reparar como ela é fácilmente demonstrável no dia a dia. Basta deixarmo-nos ficar parados à porta de uma qualquer escola, onde, dado estarmos na presença de jovens, o facto é mais visível.

 

Nas gerações mais velhas é notória a cada vez maior presença de mulheres em posições de quem toma decisões, que tem o poder. Para além da natural evolução, e ainda não tomando em linha de conta o estudo referido, parece-me que a cada vez maior ausência da força fisíca na atividade humana, estão aí as máquinas para o fazer, mesmo na guerra, será decisiva para esta transferência da responsabilidade de quem é mais dotado de poder fisíco para quem o é mentalmente. Refiro-me a resiliência, tolerância, ponderação, paciência e capacidade de sofrimento. Se a estas juntarmos as mais específicamente qualidades femininas, beleza, sensibilidade, sagacidade e intrinseca capacidade de sedução, e deduzida a referida cada vez menor necessidade de recorrer à força, então ficam claras as razões desta mudança.

 

Apesar de tudo são ainda notórias as marcas deixadas por uma sociedade que sempre menorizou as mulheres. O mais lamentável é a constatação que em muitos casos, nomeadamente em atividades em que a  comparação entre os desempenhos de ambos os sexos é mais fácil, por exemplo a condução de um automóvel, a óbvia insegurança de muitas delas, não sendo mais que o inevitável reflexo de gerações de perseguição, acabe por ser autoassumida como uma incapacidade natural (?), de género, pior ainda aproveitada para a manutenção de uma certa inércia. Exemplo comezinho mas demonstrativo de outras realidades bem mais importantes.

 

Outra das abordagens redutoras porque completamente ultrapassadas, estão aí os que vivem nas sociedades mais desenvolvidas para provar que a questão cultural é decisiva, tem haver com o desempenho sexual, no que à liderança do mesmo, em todas as suas vertentes, diz respeito, e à influência que tal teria sobre tudo o resto. Uma visão Freudiana já há muito posta em causa e, face ao estudo referido, completamente esmagada.

 

Voltando ao princípio fica a interrogação, nesta como em muitas outras matérias, qual será a ordem dos fatores, o cromossoma y tende a desaparecer em função do sentido em que a sociedade foi  evoluíndo ou, pelo contrário, evoluímos neste sentido porque o corpo humano já tendia para que o cromossoma x viesse a dominar? Faz toda a diferença. Tanta quanto se o universo influência o homem ou este é que é o universo, no sentido que a forma como o vê e explica está indissociávelmente ligado à sua absoluta incapacidade de ver e abarcar o todo, seja lá isso o que fôr. A galinha ou o ovo? 


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semtelhas @ 14:14

Seg, 28/05/12

A SIC e a TVI correm o risco de vir a ser responsabilizadas por graves problemas de saúde da população, desde nevrites nos dedos das mãos, tal é a frequência com que se passa de um canal para o outro, até às graves consequências que podem resultar da discórdia entre os membros das familias, quanto ao tempo de antena a dar a cada um dos canais ao domingo à noite.

 

Enquanto no palco vão desfilando os "artistas", que é suposto cantarem, o que, em abono da verdade, alguns conseguem fazer, o verdadeiro espetáculo vai-se desenrolando através do desempenho dos apresentadores e, especialmente, do júri. Isto de valorizarmos mais o acessório que o essencial é muito comum entre nós, e, a prová-lo, cá vai disto.

 

As inteligências da TVI, mais de acordo com espetáculo, mais popular, as da SIC querem-se mais elitistas, querem entreter mas também, dizem, formar. A diferença começa logo nos apresentadores, num, dois jovens, ela muito bonita e simpática, ele brincalhão e confiante, ambos em claro sobaproveitamento logo, algo desligados daquilo tudo, no outro, uma estridente e curvílinea, loura, ruiva, morena, etc. e um homossexual, experiente e competente comunicador, que se entretém, e à plateia, a falar de paus... Quanto ao júri própriamente dito temos, primeiro os chefes, os especialistas, o que, cá na terra é sinónimo de arrogância, portanto a grunhice abunda. Mais no caso dos que se levam mais a sério. Não queriam mas tem que ser, dizem eles. Todos temos que ganhar o nosso, digo eu. Depois temos as boazonas de serviço. Neste caso se uma é a presunção feita ingenuidade, uma boa rapariga boa, a outra é assim uma espécie de misto entre "tesão à solta" (abençoada!) e savoir faire. Na variável popular temos um cantor que não canta mas encanta as ditas massas ( isto é a inveja a falar ) e, no outro lado, aquele que é talvez o maior conjunto de banalidades ambulantes que já se viu, e o ar importante e decisivo com que ele decreta as suas leis! Por fim, mas não menos importante, os machos da ordem, meninas, e senhoras oblige. Assim, a uma espécie de virgem assustada, por vezes atrevidota, sempre prestes a cair no mais terrível dos prantos ( como as lágrimas sempre marejam naqueles estonteantes olhos!), mas que, todos o sentimos, pode esfrangalhar qualquer um se lhe pedirem muito ( que grande ator! ), corresponde, no outro canal, um poeta, e dos bons, a vender-se. Não lhe chegou o tombo! Tinha que voltar ao lugar do crime. Ainda havemos de acreditar que aquilo foi de propósito. Vi o poeta, há uns tempos, sem aquele artefacto que lhe provoca quedas e, fiquei a pensar que neste caso, ao contrário de Kafka, o zangão transforma-se num ratinho ( grande artista !).

 

Tristeza, melancolia, saudade? Baixos, vestidos de preto, com verrugas e peludos? Silenciosos, desconfiados e acabrunhados? Onde já vai tudo isso! Acabaram-se os, venho da festa..., viva o foguetório!


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semtelhas @ 13:11

Seg, 28/05/12

Ao cimo das escadas à direita o quarto mais pequeno, também o mais silencioso, nas paredes livros, algumas fotografias, as que interessam, e pousadas algumas recordações, poucas, no canto, junto à varandita, o sofá.

 

Tic-tac, tic-tac, tic-tac, o coração do relógio a bater, único som audível; no ar o cheiro perfumado dos livros novos misturado com o dos velhos, mais seco e agreste, tal como as pessoas, gastos pelo tempo; lá fora o verde das árvores e o azul do mar, numa nesga lá ao fundo, a devolver a luz do sol; os dedos acariciam mais um passaporte para o sonho para a aventura; na boca já o sabor da ficção, preparação para superar realidades.

 

Demoro-me nas lombadas. Tantos amigos! Alguns para sempre. Também alguns inimigos, no fim, sempre compreendidos e perdoados. A dureza de Cormac McCharty, a loucura de Faulkner, as fugas de Hemingway e as estórias de Steinbeck. As pessoas de Tolstoi, as tragédias de Dostoievski e as almas de Gogol. As alucinações de Gabriel G Marquez, a sensualidade de Llosa ou as loucuras de Bolano. Os infelizes de Flaubert, as mulheres de Balzac, a sociedade de Zola ou as trevas de Céline. A beleza de Thomas Mann, as aventuras de Conrad, a vida segundo Laxness, e o sempre inacabado Proust, culpa dele, vitima de buscas do tempo perdido. O génio de Saramago, a sibilina Agustina, os sábios Torga ou Raúl Brandão, os mestres Camilo e Eça, o grande Virgilio Ferreira. E os novos? Tantos! Todos pequena amostra de um universo sem limites.

 

 

Noutros tempos, outros sitios,  quartos com visões para outras nesgas, mas sempre o mesmo colete de salvação, a mesma bóia, o mesmo livro de instruções para a vida. Tic-tac, tic-tac, tic-tac...


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cores da lua @ 23:08

Dom, 27/05/12

Consultórios, autocarros, bancos de jardim, praia, estes e tantos outros lugares, espaços privilegiados para, com orgulho e vaidade, ostentar os mais elaborados e meticulosos trabalhos de croché.

 

No lar, frente ao televisor, um cesto agulhas e linhas, doses de paciência, às mãos de meninas e senhoras prendadas que transformavam novelos em objectos de admiração. Esta ocupação, dita de mulheres, foi também muitas vezes a forma de amealhar uns escudos para garantir alguma, mesmo pequenina, independência financeira.

 

Quase todas as raparigas tinham de passar por esta prova, uma superavam outras não. Superei-a, mas não fiquei fã. Admiro a paciência, desmedida, de quem, se dedica a tal tarefa. Mas hoje o crochet, é abordado de forma muito diferente, passou a outra dimensão.

 

 

© Johamiltonarte







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semtelhas @ 12:11

Sab, 26/05/12

Li algures que o principal drama de África reside no facto  de as potências colonizadoras, numa lógica de partilha, terem traçado as fronteiras entre os países daquele continente a régua e esquadro, dividindo tribos a meio, sem qualquer respeito pela sua vivência. Parece-me que ainda que de uma forma menos grosseira, o mesmo erro foi cometido noutras latitudes provocando problemas semelhantes.

 

Ignorar o fator mais unificador daquilo que constitui uma comunidade, a cultura, no sentido mais amplo do termo, hábitos, crenças, idiossincrasias, em favor de questões politico-económicas, está históricamente provado vir fatalmente a resultar mal. Se em África isso é evidente, também na Europa o efeito nefasto dessas uniões forçadas é fácilmente comprovável. E nem é preciso recuar muito no tempo, basta pensármos naquilo que se tornaram a União Soviética e a Jugoslávia, enquanto uniões forçadas pelas guerras mundiais, e de como não "descansaram" enquanto não voltaram ao que se poderá chamar as suas fronteiras naturais.

 

Vem isto a propósito da crise económico-financeira que o dito mundo ocidental atravessa, e que óbvia e rápidamente se tornou sobretudo social, particularmente na União Europeia.

 

Começo por ressalvar que poucos países terão lucrado tanto com a adesão à União quanto Portugal. Dos cenários traçados daquilo que seria este país caso não o tivéssemos feito, não conheço um único que não seja catastrófico, nomeadamente na questão mais sensível, a moeda. A forma como a união foi pensada fazia sentido, sendo um espaço comum deveria ser da responsabilidade de cada um aquilo em que cada qual era melhor. E assim se fez, não sem dor, mas sem grandes problemas, afinal os mais poderosos mantiveram, por tradição e agora também por doutrina, o poder. Agricultura para um, pescas para o outro, indústria para aquele e tecnologia para o outro. Simplesmente sobraram uns quantos. Os mais pobres, os periféricos. Tudo bem pensou-se, são tão pequenos, representam tão pouco na economia comum ( 2% no caso de Portugal), que a solução é desmantelar aquilo com que só complicam a vida das verdadeiras forças motrizes, dando-lhes pequenas compensações, e depois logo se verá.

 

Não durou muito este idílio. Primeiro porque não se sabia que ía acontecer um 11 de Setembro, que haveria de colocar no poder, em nome da segurança e para evitar a repetição de "erros" cometidos, testas de ferro de enormes grupos económicos globais, nomeadamente nos EUA, que não descansaram enquanto não recuperaram o tempo perdido com Clintons, preocupações sociológicas europeias e afins, para voltar a encher os bolsos. Agora com reforçado empenho, urgência e espirito vingativo. Outra questão menorizada foi o disparar da natureza globalizante da economia e ainda, que se uma pequena economia não faz mossa, meia dúzia delas juntas infetam todos. Finalmente, talvez o mais importante porque profundamente estruturante, a única questão em cima da mesa foi a economia, as finanças. Ou seja, o que verdadeiramente une as pessoas, aquilo que é verdadeiramente a sua identidade, nunca foi ponderada: a questão cultural. Como há mais de um século atrás foi tudo planeado a régua e esquadro.

 

Le monde énervé ©Jenny Brial 

 

Hoje é mais claro para todos que, ainda que demore mais, é sempre preferível convencer as pessoas que vencê-las. Explicando até à exaustão, referendando uma e outra vez, mostrando os objetivos, lá ao fundo, onde vão morar os nossos netos. Num mundo tão globalizado é impossível ter a pretensão de se viver isoladamente, sobre todos os pontos de vista. Faz sentido que as fronteiras caiam, afinal isto tornou-se tão pequeno que seria quase como estar a dividir um galinheiro, ninguém se conseguiria mexer. Mas é possível, mais, indispensável, que se respeite aquilo que são os costumes mais profundos de cada comunidade. Provávelmente esta que à partida seria uma dificuldade, pode até ser um caminho facilitador: por exemplo, não seria mais aceitável uma região norte, ou algarvia, com um estatuto bem definido no sentido de previligiar  e potenciar os beneficíos do que ela tem em comum, numa perspetiva da União e não de Portugal? Só assim se poderá obter de cada uma dessas comunidades e de todas em conjunto, a força e harmonia necessárias para combater os piores de nós.

 

É quase sempre em ambiente de grandes males que surgem os grandes remédios: governadas por uma estrutura comum composta, por exemplo, pela economia, finanças, defesa, e diplomacia que "acabem" os países e vivam as regiões.


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semtelhas @ 12:53

Sex, 25/05/12

Vem aí o campeonato da europa de futebol e já começa a sentir-se a histeria no ar. É certo que insuflada pela publicidade e incendiada pelos inúmeros artigos que se multiplicam na comunicação social, mas,mesmo assim, não deixa de continuar a surpreender os níveis de adesão das pessoas. Os anos passam, é suposto a sociedade ir-se libertando, porque mais esclarecida, das habituais ratoeiras que lhe são estendidas mas não, continuámos a cair na esparrela.

 

Não sendo especialista na matéria, não sei se é encontrável, ou provável, na natureza dos portugueses, a montante dos séc. XV e XVI, qualquer característica definidora de inconstância e insatisfação recorrentes. Históricamente comprovável é que a partir do momento em que os portugueses saíram mares fora, a bordo das por si criadas caravelas, descobrindo meio mundo, nunca mais nos abandonou uma certa sensação de grandeza, de império, que tem sido muitas vezes analisada e discutida mas também sistemáticamente repetida.

 

É pacifíca porque óbvia, mas do qual já nos separam quatro décadas!, a responsabilidade que o salazarismo teve neste sentir, reforçando-o até, pela utilização que lhe deu como véu ou cortina de fumo e anestesiante sobre a população, fazendo com que acreditasse na grandeza de um povo, no sentido de liderança, o que, de facto, nunca foi verdade.

 

Bastará pensarmos no que foi herdado pelos povos colonizados, por exemplo, pelos impérios romano ou britânico, para percebermos como é errada, até ridícula, tal comparação. Os legados destes dois impérios ainda hoje são claramente visíveis, o que no caso do romano, pelos 2000 anos decorridos, ainda é mais notável, falemos de testemunhos palpáveis, visíveis, ou culturais. No caso do britânico a commonwealth fala por si. É admirável como à volta da figura icónica da rainha há toda uma série de princípios e forma de vida que, é só analisar os rácios de desenvolvimento dos países que fazem parte dessa "saúde comum", fazem jus a este nome.

 

Liderar é, em última análise, proteger e, para isso é necessária uma postura que, independentemente do conhecimento profundo de tudo o que se passa à volta do problema a resolver ou da comunidade a conduzir, assenta num certo distanciamento, não arrogante mas que permita ter uma perspetiva das coisas. Ninguém consegue ver seja o que fôr se o tiver encostado ao nariz. Trata-se de uma condição indispensável para ver o todo, sem se perder nos pormenores. Ora acontece que os portugueses são, por natureza, demasiado fraternos, simples e até calorosos, para manter distâncias. A regra sempre foi misturarmo-nos, com tudo, e é muito, que isso tem de bom. Simplesmente sempre nos diminuiu qualquer capacidade de liderança duradoura.

 

Acredito ser esta contradição entre um certo sentido de império que se mantém entre nós, bastante marcado até em certos casos, e a nossa objetiva incapacidade de liderança, a história tem-no provado à saciedade ( não se governam nem se deixam governar ), que conduz, nestes momentos de confronto direto com outros países, a este desfilar de excessos de crença e, ou frustação, áparte a ordem dos fatores. Se é bom o facto de nos compararmos com os melhores, no que isso representa na procura do melhor, também pode ser péssima a profunda depressão do eventual falhanço.

 

A bipolaridade, no sentido mais lato, não tem que ser má. Uma pessoa dada a estados de alma não poderá ser, concerteza, grande gestora, mas, se calhar, essa é condição essencial para poder ser artista, criadora de algo que rompa com as rotinas e ajude, numa aparente contradição, a tornar o mundo mais equilibrado e aceitável. Seremos bipolares mas, também, poetas. Estou em crer que, na prática, a realidade tem sido essa mesma, mas não seria mais saudável, por transmitir segurança e tranquilidade à semelhança de toda e qualquer outra questão, assumi-lo? Assim uma espécie de histerismo não histérico. Reconhecido e aceite à priori.

 


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cores da lua @ 23:54

Qua, 23/05/12

Um ritual, um vicio, depois do almoço, o café.

Mas hoje, o instante de todos os dias, foi diferente, surpreendente, prolongado.

 

Na mesa um café, na mão esquerda um pacote de açúcar. Até aqui nada de novo, até que os meus olhos se cruzam com uma andorinha! Uma andorinha sim, preta, no pacotinho de açúcar. De repente senti-me viajar muitos anos atrás, à infância, ao lar doce lar. Casa portuguesa, tinha na fachada, andorinhas, concerteza!

 

Lembro-me do contraste, o preto, no azul-bebé das paredes. Um bando de andorinhas, quase sempre ameaçado pelas bolas, desgovernadas, dos traquinas: os rapazes. Um bando de andorinhas protegido, como uma espécie viva, pela minha mãe. – M…, vai jogar a bola lá para o fundo, se partes uma andorinha….

De vez em quando, era inevitável, acontecia. De vez em quando, nas romarias, nas festas populares, renovava-se a espécie, e a primavera continuava.

 

 

 

Ansiava pelo ano em que a pintura da casa se renovava. Argumentava, sem resultado - vais estragar a parede, pintada de fresco, não coloques as andorinhas, é piroso!

Certo ano, vi com efeito os meus argumentos e não vi mais, nas paredes lá de casa, as andorinhas. Curioso, nos últimos tempos, casas bonitas, serenas, tranquilas, estão de novo embelezadas, por andorinhas!. Faz-me pensar, outros tempos, outras vontades.

 

Arrefecia o café, queria trazer a andorinha comigo, por isso decidi-me a cortar um cantinho do pacotinho de açúcar. Faz-me pensar.

 

Bebi o café e tentada a não perder a andorinha, pedi à sra. D…, dona do café, se me podia dar mais um daqueles pacotinhos, inteiro. – Oh! Era o único; mas vai levar a colecção, é uma edição limitada e vou separar-lhe um de cada. Foi aí que descobri, a colecção, símbolos de Portugal, da RAR. Apesar de eu insistir que agradecia mas só queria mesmo a andorinha, lá estava a sra. D… e o sr. M… entre os pacotinhos, a separar um exemplar, de cada símbolo, para mim. A dona D… o senhor M…, colegas de trabalho, o melhor dos melhores exemplos que conheço de uma equipa de trabalho, duas pessoas, numa sintonia, só comparável à natação sincronizada.

 

Feliz, pela andorinha, pelas memorias, pelo momento proporcionado pela RAR,  pela inexcedível boa vontade da sra. D… e sr. M…., trouxe os exemplares comigo.

 

 

A colecção – 30 SIMBOLOS DE PORTUGAL – , não tenho espírito de coleccionadora, no sentido material, mas vou guardar estas memorias, doces.

 

http://www.docerar.pt/index.php?id=183

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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semtelhas @ 14:31

Qua, 23/05/12

A promoção massiva, quase insultuosa para a inteligência das pessoas, que a SIC utilizou para um programa em que contava a ascenção de Jorge Mendes a maior empresário do futebol, em valores transacionados, criou em mim tantos anti-corpos que quase o perdi. Felizmente, e porque foi longo, acabei por ver para aí metade. E valeu a pena.

 

Durante o reportagem foram entrevistadas muitas pessoas ligadas ao futebol, de jogadores a presidentes, de treinadores a dirigentes, de vários clubes, dos mais importantes a nível interno e global e, consequentemente, adversários, rivais e até inimigos uns dos outros. Contudo absolutamente de acordo quanto à valia do empresário: honesto, frontal, inteligente, solidário, resiliente e, mais que tudo, trabalhador incansável. Retive a opinião de Peter Kenyon, antigo manager do Chelsea, que dizia, num mundo cão como este só há uma via para o considerarem, incontestávelmente o melhor, ser boa pessoa, intrinsecamente, porque só por aí se conquista a confiança das pessoas, a chave do sucesso. Também lembro Laporta, antigo presidente do Barcelona, que comparava Jorge Mendes a Jerry Maguire (Tom Cruise), o do filme, a dizer aos jogadores que só pondo todo o coração no jogo e deixando a pele no campo podem vencer.

 

Dois dos mais importantes testemunhos, talvez mesmo os principais, foram os de Mourinho e Ronaldo. Tal como todos os outros, também eles devem a JM boa parte da sua ascensão ao estrelato, sempre protegidos e guiados, no meio do turbulento e perigoso mundo dos milhões, por este simples, simpático e brilhante português.

 

Comum a estes três portugueses podemos encontrar a sagacidade, a sedução, o talento intuitivo e a capacidade de trabalho, mas em doses distintas. A sedução é maior em JM. Mourinho é o mais sagaz, ficando a maior dose de talento para Ronaldo. Está no entanto na enorme capacidade de trabalho destes homens a maior virtude de qualquer um e de todos eles. Um vive em aviões, práticamente não tem familia, são os clientes!, e como dizia com muita graça o presidente do Corunha, aquilo é um telemóvel com um homem agarrado. O outro é um fanático da teoria, da estatística, analisando o futebol como se de uma ciência se tratasse, dedicando, por isso, práticamente todo o seu tempo ao jogo. Quanto a Ronaldo é sabido, dito por todos e de todos os clubes por onde passou, que é o primeiro a chegar aos treinos e o último a sair. Um futebol de laboratório, experimentado até exaustão.

 

Não deixa de ser irónico mas também muito significativo que, três portugueses, sejam o melhor empresário de sempre, o melhor treinador da história e o atual melhor jogador do mundo, e, imagine-se! sobretudo por serem grandes trabalhadores! Dá que pensar.

 


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semtelhas @ 12:33

Ter, 22/05/12

A necessidade de encontrar uma chave suplente levou-me a uma gaveta daquelas que passámos anos sem abrir. Da chave, nada, mas, escondida lá ao fundo uma pequena caderneta, já gasta e suja pelo pó que diz, Inter Rail.

 

Teve que me ser concedida a emancipação para requerer o passaporte. Corria o ano de 1976, quase a completar dezoito anos e, para trás, tinha ficado um ano a trabalhar numa empresa de livros os quais eu entregava contra pagamento. Uma vez acabado o 5ºano, e face às revolucionárias mudanças no sistema de ensino, tirei um ano sabático para ganhar dinheiro. A escolha não foi inocente. Já há muito debaixo de olho aquela possibilidade oferecida aos jovens de, durante trinta dias, viajar por toda a europa a um custo relativamente baixo.

 

Depois de devidamente planeada a tracejado num mapa da europa, juntamente com um colega que já vinha das carteiras da escola, e da aventura dos livros, foi dar inicío à alucinante viagem.

 

 

Desembarcar em Paris, naquelas circunstâncias, deparar de rajada com aquele conjunto Trocadero, torre Eiffel e jardins sequentes; Campos Eliseos e Arco do Triunfo; o ambiente de Montparnasse; as meninas nuas por baixo das suas peles na rua S Denis; garrafas de coca-cola por todo lado (ainda não era vendida em Portugal), etc.etc. foi só o começo. Uma das decisões que tínhamos tomado era que dormiríamos sempre nos comboios, em viagem. Foi o que fizémos entre Paris e Londres. Uma viagem atribulada. Primeiro foi a saída do comboio, em Calais, para entrar no barco em que atravessámos o canal da Mancha. Era de noite e foi uma viagem rápida. Ainda assim a primeira experiência em alto mar. Depois, em Dover, e antes de retomar a viagem rumo a Londres, a exaustiva revista e questionário pela policía britânica. Tudo plano, o som de uma orquestra a tocar jazz num jardim, pequenos estabelecimentos de hot-dogs, frango frito, flores e livros a cada esquina, o Big Ben a Camara dos Comuns e a ponte lá ao fundo. Depois Nelson lá do alto e, em Picadilly, os hippies lá em baixo, no metro, nos passeios, e muito, muito mais. O primeiro grande banho de cosmopolitismo. Seguiu-se o norte. Áparte Amesterdão, com os seus inúmeros canais e bicicletas, as sex shops e o haxixe vendido por todo o lado, tudo muito parecido. Em Copenhague, Cristiânia, um enorme jardim, naquele tempo ocupado exclusivamente por marginais, no sentido mais lato do termo, e onde se vendia droga a peso, com balanças de ourives, e que tinha tudo o necessário a uma vida frugal. Uma utopia viva. Li que acabaram com aquilo há dois ou três anos. Tal como na Dinamarca, também em Estocolmo ou Oslo omnipresentes a beleza, simpatia e disponibilidade, para os nossos padrões, das raparigas e a antipatia da população em geral quando nos via com a mochila ás costas. Muitos bêbados também. Sobretudo ao fim do dia. Lembro-me também do espanto do sol às duas da manhã, no comboio na Noruega, no meio de montanhas inacreditávelmente belas.

 

Começamos a descer pela Alemanha. Em Hamburgo elas a dançarem nuas em montras. Como é possível? Em Munique, no estádio, ainda frescas as memórias do ataque aos israelitas na aldeia olimpica. Uma sensação de vazio, frieza, perfeição e pontualidade. Em Viena começamos a descontrair. Monumental. Jardins imensos, encimados por palácios incríveis. Música por todo o lado, especialmente valsas. Um metro muito bonito, dizem que dos mais antigos. Recordo ainda uma salsicha e batatas fritas com um molho fantástico numa das poucas refeições quentes que fizémos. A passagem pela antiga Jugoslávia, por Belgrado, foi meteórica e ficou marcada por uma má experiência num supermercado onde comprámos uma suposta especialidade local, que veio a revelar-se não comestível.

 

Entrámos em Itália por Trieste. Um cheirinho deste magnifíco país. Seguiu-se Veneza e parecia que começavamos a entrar num sonho. Água por todo o lado, as gôndolas, a praça de S Marcos, as casas, os italianos a falar, as pizzas e o esparguete com quilos de parmegiano, tudo! Descemos a Roma e não fomos romanos. Verdadeiramente parolos não mais baixámos a cabeça ou fechámos a boca, ele era o Coliseu, o Palácio dos Imperadores, a Pietá, um sem fim de monumentos, qual deles o mais significativo. Cada vez mais esgotados, ainda tivémos tempo de ir ver o Uomo a Milão, o lago lago Leman a Genébra, o topless em Nice e a Sagrada Familia, bem como o não menos sagrado Nou Camp, em Barcelona. Madrid já foi a correr. 

 

Trinta dias e onze quilos menos depois estava de volta. Dormidas para aí, já não me lembro, vinte e quatro horas seguidas, a sensação que tive, e que até hoje mantenho, é que tinha vivido um sonho. Foi uma autêntica vertigem que sei que aconteceu pelas fotografias que tirei e pela existência deste caderninho que aperto entre os dedos. Comecei a viagem com dezassete anos, quando terminei tinha dezoito, pareciam trinta. Depois daquela lavagem ao cérebro nada voltou a ser como era.


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semtelhas @ 10:56

Seg, 21/05/12

Rever O Fiel Jardineiro, alguns anos decorridos, fez-me perceber que a questão focada no filme não é assim tão longinqua quanto me pareceu naquela ocasião.

 

O excelente filme do brasileiro Fernando Meireles, com os não menos competentes Ralph Fiennes e Rachel Weizs, aborda o problema da utilização de africanos, no seu meio ambiente, como cobaias para a utilização de novos fármacos. Chocante a forma como laboratórios de todo o mundo, do dito civilizado, mata ou marca para sempre seres humanos em nome de eventuais descobertas que é suposto objetivarem exatamente o contrário, salvá-los. Na verdade é atrás de muitos milhões que correm.

 

Infelizmente esse mesmo efeito está também presente na nossa realidade. Basta lembrarmo-nos da intoxicação informativa que os laboratórios fomentaram aquando da crise sanitária provocada pela gripe das aves ou, mais recentemente, da gripe suína. Aparentemente tudo foi feito com a melhor das intenções, proteger o perigo da instalação de uma praga a nível global, potencialmente imparável. O problema é que, em plena crise, houve muitos e reputados médicos que falaram em exagero e, no fim da putativa epidemia, os países deitaram para o lixo milhões em vacinas. Os laboratórios, esses, já tinham o dinheiro em caixa.

 

Ainda mais perto de nós, no tempo e no espaço, somos constantemente assoberbados pela necessidade de tomar um sem fim de medicamentos, de fazer um sem número de exames. Correndo o risco de parecer irresponsável e temerário., este tipo de cerco parece-me conter uma grande dose de exagero. Há muito dinheiro por trás dos negócios da saúde. E nem sempre têm haver com a falta dela.

 

 

Sempre que, como terapia, me empurram para tomar mais isto ou fazer mais aquilo, certamente que não com más intenções mas também é verdade ser mais fácil, e, se calhar vantajoso, receitar uma saca de remédios, lembro-me sempre da minha avó materna que, quando, como ela dizia, eu a consumia, avisava: num mexas no q'está queto.


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semtelhas @ 14:49

Dom, 20/05/12

É o que apetece chamar ás exigências feitas pelos países desenvolvidos aos classificados como em desenvolvimento.

 

Agora que vai terminar o prazo para o cumprimento total de alguns objetivos ecologicos, sobretudo relativos a alterações climáticas, definidos em Quioto em 1997, tentando preencher o vazio que se possa criar e respetivas consequências que se instalarão se nada fôr feito, as principais potências socio-económicas começam a contar espingardas.

 

É tudo menos surpreendente a forma como países cujas sociedades já beneficiam de níveis de conforto elevadissímos, tendo, inevitavelmente, como bitola uma média que inclui o maior número possível daquelas, procuram obrigar economias emergentes como a China, India ou o Brasil, a atingir rácios incomportáveis porque incoerentes com o crescimento das mesmas. Trata-se não só de egoísmo como de desonestidade porque é precisamente a esses países que o mundo dito desenvolvido, em crise profunda, terá que recorrer no tempo e com a intensidade que ninguém conhece, para tentar reequilibrar os seus resultados economico-financeiros. Atirar o odioso da responsabilidade das futuras hecatombes ecológicas, com as respetivas consequências sobre as próximas gerações, para cima dos países motores da economia, crescimento, no fundo salvadores de um certo tipo de sociedade (veremos se, ainda assim sobreviverá), seria uma injustiça, se estes o permitissem. Sabemos que não o vão fazer. Na realidade já são eles quem define as regras do jogo. Pelo menos em tempo de paz.

 

Como dizem os maiores consumidores do planeta, make no mistake (não se iludam), como principais beneficiários, são as sociedades que melhor vivem quem mais terá que poupar, não só pelo exemplo mas, sobretudo, porque é justo. É hoje claro para todos não ser possível alargar ao planeta os níveis de conforto, por exemplo, europeus, seriam precisos os recursos de mais dez Terras, mas é licito que oitenta por cento da população terrestre aspire a sair da, em muitos casos indigência, na qual vive.

 

Por muitos problemas que cada um tenha, e hoje temos muitos, conceitos como poupança, reciclagem, luta contra todo e qualquer tipo de desperdicío, nunca fizeram tanto sentido. Medir a nossa pegada ecologica é um bom começo.


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semtelhas @ 13:05

Sex, 18/05/12

Terna É A Noite, de Scott Fitzgerald e, Procurem Abrigo, filme estreado ontem de um realizador, ainda, pouco conhecido e um tema comum:esquizofrenia.

 

No caso do livro o tema é abordado de uma forma não muito profunda, ainda assim dá para perceber como pode haver uma espécie de transferência da doença, do portador inicial para quem assumiu a responsabilidade de curar ou minimizar o sofrimento acompanhando permanentemente o doente. Obra envolvente, num ambiente de alta sociedade e a decorrer na europa do inicio da séc. XX. O cariz psicologico é intenso, sempre presente e profundo. As misérias humanas dos poderosos. Embrulhadas em glamour e a lembrar O Grande Gatsby, do mesmo autor.

 

O filme é só, ou quase, sobre esse caminho que leva à doença: mania da perseguição, obsessão e depressão. Perturbante e poderoso porque muito bem construído e valendo-se de dois atores excecionais, Michael Shannon, que já em Revolucionary Road se tinha valido da sua figura e talento para interpretar um desiquilibrado, e Jessica Chastain, A Árvore da Vida, As Serviçais, e muitos mais que por aí hão-de vir. Tem tudo para se tornar uma das próximas divas do cinema.

Somos seres muito frágeis, sempre próximos dos limites. Para o bem e para o mal é essa nossa condição que nos faz andar, sempre para a frente, enquanto humanidade. Sem olhar a obstáculos ou meios. Uma fuga. Todos diferentes, reagimos diferentemente. Naquela que é, talvez, a cena central do filme, o doente manifesta-se, publicamente, pela primeira vez. Não sei o que mais arrepiante, se a demonstração assustadora da queda no abismo do "demente", se o medo, o silêncio e a omnipresente pergunta nos olhos de todos os outros, incluindo a sua mulher e filha, também posso ficar assim?

 

Sobra uma pergunta, onde começa e acaba a sanidade e a insanidade mentais? E uma hipótese de resposta: procurem abrigo, sabemos onde, quais os melhores, mas, caso estes se mostrem insuficientes, em último caso, e como sugere o filme, numa boa terapia.


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semtelhas @ 11:29

Qui, 17/05/12

Já esperava uma coisa assim,

ficar com a praia só para mim,

as pessoas têm medo de enfrentar os elementos,

quanto a mim tenho-o é quando elas são aos centos

 

Não sei se é da vida, se é da idade,

eis a harmonia, a tranquilidade,

depois de por labirinticos caminhos ter procurado,

parece-me, finalmente, tê-las encontrado

 

Dizem da arte ser oitenta transpiração,

para mim será sempre muito de intuição,

se para criar é preciso sobretudo suar,

chamem-lhes tudo, mas artistas não

 

Procurar as respostas dentro de nós?

depende da dimensão da dor,

Nalguns casos só com vós,

porque para a superar, só à força de amor

 

Fico estátua a observar...

depois da chuva o pardal vai-se lavar,

o que poderá a tão grande paz levar,

donde vem? quem ma está a dar?

 

Belo e útil o tédio, se leva à introspeção,

feito remédio, tal qual oração,

ainda que aqui se trate de acreditar,

enquanto ali de, simplesmente pensar

 

© Helen Burgess

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"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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