semtelhas @ 13:44

Seg, 30/04/12

De uma entrevista dada ontem por Vitor Pereira, após se saber campeão, ficou-me a sua afirmação de que este foi o primeiro de muitos títulos que tem para dar ao FCP.

 

Para além de tudo o resto, evidentemente. O abraço a Pinto da Costa fez-me perceber quanto este está a mudar, como se a parte da ampulheta que estava cheia de calculismo, frieza e racionalidade esteja a esvaziar-se na outra, enchendo-se de sabedoria, tranquilidade, tolerância e até, porque não? de alguma bonomia, própria de quem, por saber muito, aprendeu a valorizar o mais importante.

 

A maneira de estar dos jogadores, naquele momento de alegria, é mais uma demonstração de força de um clube que, a nível interno, atingiu aquele ponto em que  a filosofia superou a estratégia e esta venceu a tática. Quando chegam os momentos realmente importantes, os decisivos, em vez da dúvida chega a certeza, em vez do medo a confiança, em vez de tremuras a firmeza e, assim, as vitórias. Todas as grandes organizações, seja de que setor fôr, assentam nesta hierarquia: filosofia, estratégia e tática. Por ser necessário muito tempo para implementar a primeira, apenas algumas lá chegam. Algumas conseguem boas estratégias, duradouras mas, a esmagadora maioria fica-se pelo taticismo, fácil mas efémero. Necessidades ditadas pelas urgências, quase sempre sinónimo de fragilidade.

 

É aqui que volto ao Vitor Pereira. Com tudo o que tem por trás, que é muito, mesmo beneficiando da óbvia quebra dos adversários, este homem mostrou uma capacidade de resistência, uma crença nas suas ideias e uma força interior raras. Uma vez perguntaram a George Washington qual era o segredo do seu sucesso, não cometer o mesmo erro duas vezes, respondeu. No inicio da época VP entrou de chancas mas, rápidamente mudou para sapatilhas. Neste momento a questão é se algum dia terá a capacidade de calçar as sabrinas com que, por exemplo Mourinho, ajudado por umas mãozinhas de fada, baila prodigiosamente pelas labirinticas mentes desses misteriosos seres, que são os jogadores de futebol de topo. A esta distância é dificil vislumbrar a resposta. Pinto da Costa está bem posicionado. Ainda assim, hoje, VP é, indiscutivelmente, o grande obreiro desta vitória.


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semtelhas @ 11:54

Qui, 26/04/12

 

Agosto, férias sol e calor, pai, mãe, filho e uma Lambretta.

 

Era digno de um número de circo: no selim da frente o pai, bem chegado para trás de forma a que o filho pudesse sentar-se na ponta, no detrás a mãe e, na pequena grelha porta bagagens, as toalhas,a bola o balde a pá, e ainda uma saca com o almoço, o lanche? também na saca. Para completar o quadro duas canas de pesca. Uma pequena, para a filho, que a transportava, desmontada, numa das mãos. A outra, grande, funcionava como garantia do equilibrio contra distrações( tal qual nos formula 1) pois, dada a sua dimensão, a ponta era pousada no guiador, ficando um bom metro para a frente deste, o meio segurava-o a mãe, a parte de trás era presa à grelha onde seguia a bagagem, e para além da qual seguia bem mais de um metro.

 

Saíamos bem cedinho para não apanhar muito trânsito. Mais ou menos meia hora de caminho até à praia, sempre a descer. Ainda antes tínhamos que passar na Afurada para comprar "bicha", o isco com que enganávamos ou peixes. Uma vez chegados havia que atravessar um mar de garrafas, sacas, cascas disto e daquilo, papeis, etc.,etc. Cada um com seu fardo, até ao rio. Depois de delimitado e preparado o território a cerimónia dos cremes. Para a mãe Bronzaline, bem passado, faz favor! para o pai e filho Nivea. O pai, com olhos de explorador africano a estudar a savana, estende o olhar areal fora para escolher o melhor local para montar as armadilhas, no caso lançar o isco. Não sem que antes toda uma cerimónia de montagem das armas letais tenha acontecido. Ele era o fio, o carrinho, a chumbeira, o anzol, enfim... uma canseira! Junto à água, com as duas canas e os olhos fixos na ponta das mesmas, ao mais pequeno movimento era sinal que o peixe tinha picado, o pai, o filho a uns metros, a brincar e, ao lado a mãe, a fritar.

 

Conforme as horas passavam, e porque estas aventuras eram marcadas escrupulosamente para os dias em que a baixa mar coincidia com o fim da tarde, a distância entre nós ía aumentando. Perto do fim da tarde, por vezes já depois das oito, um enorme areal nos separava. Entre nós, muitas vezes sozinhos na praia, muitas dezenas de gaivotas. O filho, já depois de ter tirado um ou outro peixe, corria atrás delas provocando uma nuvem viva. O pai acenava-lhe lá ao longe, a mãe pacientemente esperava e, ao fundo, o circulo laranja, enorme, fogo que se apagava.

 

Para cima, venho da festa... o peso do almoço trocado pelo do jantar, peixe fresco. Cansados, sujos e felizes. A Lambretta aguentava! Que saudades.


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semtelhas @ 12:43

Qua, 25/04/12

 

Hoje não há aulas, podem ir embora. Voltem amanhã.

 

Foi nessa quinta feira que comecei realmente a perceber o que queriam dizer os meus colegas mais velhos quando, nos meses anteriores, me falavam do Maio de 68, make love not children, flower power, mudar programas de ensino, liberdade, pide, etc.. Nesse tempo cada um de nós estava incumbido de, na sua zona de residência, distribuir, entenda-se deixar pousado aqui e ali, um pequeno conjunto de folhas fotocopiadas e agrafadas, ao qual chamávamos "A Semente". Pretendia-se subversivo, apelo a revoluções. A mim, o único retorno que tive de tão nobre tarefa, foi uma sonora bofetada resultado do contacto da enorme mão paterna na minha inocente face, quando orgulhosamente lhe dei conhecimento dos meus corajosos feitos. Veio acompanhada por um aviso, se não páras imediatamente com isso ainda vais preso. Duvido.

 

Desde essa quinta feira até ao 1º de Maio seguinte os minutos, as horas, os dias, não existiram, apenas foram acontecendo coisas, uma atrás das outras, aquele que levou uma sova porque era bufo, o outro que deixou de ir trabalhar porque era lacaio, perseguia os trabalhadores (palavra a dar os primeiros passos), os que estavam desaparecidos, ou em fuga, ou já no Brasil, as ilustres figuras do exílio agora de volta, muitos jornais, a toda a hora, com letras garrafais, muita música revolucionária, o reencontro dos presos politicos com as familias e amigos e muita muita alegria, imensas pessoas nas ruas, o S Pedro foi revolucionário, culminando tudo isto em gigantescas manifestações por todo o país mas mais visíveis em Lisboa e no Porto. Quanto a mim, também por lá andei, Os Estudantes Estão com as Forças Armadas, era o que dizia no lençol o qual, no último dia de Abril desse ano, tinha estado a preparar, entre dois cabos de vassoura. Nesse mesmo dia acabou a festa.

 

Tudo o que se passou desde esse dia, em que, juntamente com outros colegas, com outros cartazes, desfilei pelas ruas do Porto, oferecendo sei lá bem o quê, sabe-se lá a quem, tinha uma certeza, o mundo ía ser mais solidário, a pobreza e a ignorância íam acabar, a justiça iria prevalecer. Desde esse dia até hoje, todos sabemos o que se passou, simplesmente cada um faz a sua leitura e, é sabido que as há para todos os gostos. Em trinta e oito anos, o que aprendi é que as revoluções existem para dar empurrões mas, depois, tudo passa por um processo de construção, sistemático, paciente, feito de recuos e avanços e durante o qual a única postura que poderá conduzir ao sucesso é a esperança pertinaz.


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semtelhas @ 14:46

Ter, 24/04/12

A propósito dos 30 anos de Jorge Nuno Pinto da Costa, enquanto dirigente do FCP, têm desfilado perante nós inúmeras crónicas, entrevistas, reportagens, etc.. Na maior parte dos casos referem-se a Pinto da Costa, o dirigente desportivo, afinal essa é a efeméride em causa, em alguns casos foi-se mais longe.

 

Quanto ao dirigente, Pinto da Costa, a folha de serviços é, literalmente, inultrapassável e por todos conhecida, ainda assim, a juntar ao facto de ser o dirigente da história do futebol com mais titulos conquistados, acrescentaria duas questões menos focadas, o FCP ser o clube do mundo com mais titulos conquistados no séc.XXI, e de continuar líder, na história do futebol, no valor monetário ganho em transferências de jogadores.

Para quem como eu, viu, há mais de quarenta anos, o que era, por exemplo, receber o SLB no estádio das Antas, só faltava pôrmo-nos em sentido, enquanto as pernas tremiam com medo do que aí vinha, os olhos arregalados e a boca aberta até às orelhas de espanto e admiração pelos atletas que evoluiam de camisolas vermelhas vestidas, pode saber o que significa o perceber que, hoje, acontece rigorosamente o mesmo, mas no estádio da Luz, quando entram os heróis com camisolas azuis e brancas.

 

Quanto ao Jorge Nuno sabe-se menos, mas, o que se sabe afina pelo mesmo diapasão, sempre igual a ele próprio, tudo ou nada, família, amigos, gostos extra futebol como, por exemplo a poesia, os animais de estimação, tudo vivido com a alma toda, a sério. Ame-se ou deixe-se.

 

Homens desta estirpe sempre os houve e haverá, óbviamente raros, pela sua genialidade, e ainda bem, imaginemos, o que seria de tudo isto sem o resto, quase todos nós, para fazer tudo o resto, caminho indicado por estes predestinados, e, depois, apláudi-los sincera e fervorosamente.

 

Lembro-me de Sinatra, Picasso, Napoleão, David Cronenberg e Hemingway, como exemplo de homens geniais, excessivos, arrebatados e arrebatadores, líderes inscontestáveis nas suas artes. Tal como Jorge Nuno Pinto da Costa, maiores que a própria vida. O futuro, e só o futuro, o comprovará.

 

 

 


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cores da lua @ 21:12

Seg, 23/04/12

Gabriel Moreno

 

Não é por acaso, entre os clientes de Gabriel Moreno contam-se marcas, publicações e agências de publicidade das mais conceituadas.

 

 

 

 

 


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semtelhas @ 17:14

Seg, 23/04/12

É em torno desta ideia que se desenrola o filme, Amigos Improváveis, o campeão de bilheteira da história do cinema francês.

 

Recorrendo de uma forma sobretudo divertida a uma série de clichés, à boa maneira francesa, se constroi um filme para passar mais ou menos duas horas agradáveis, deixando, apesar de tudo, uma pequena semente.

 

Um multimilionário imperfeito, neste caso tetraplégico, um pobrezinho perfeito, a antitese do feio, porco e mau, ainda por cima negro, um argumento que os junta e que, requintes de malvadez, pisca o olho ao espetador exibindo uma série de músicas e quadros clássicos, sobejamente conhecidos, para alimentar-lhe o ego aquando do óbvio reconhecimento dos mesmos e, por último mas não menos importante, bem pelo contrário, tudo isto embrulhado numa reinante boa disposição que atravessa o filme transversalmente, resulta numa espécie de divertimento do qual todos saímos portadores de uma felicidade fácil. Não faz mal a ninguém, mas convém perceber que o facto do aleijadinho nadar em dinheiro ajuda um bocado.

 

Misturar coisas sérias com comédia é sempre um risco, sobretudo quando se alinha por um caminho de facilitismos, engano para incautos e procura da lágrima fácil e de soluções milagrosas. É sabido serem aqueles  mais que raros, no entanto, talvez tenha sido o caso. Diz-se no inicio da fita ser a mesma baseada em factos reais e, a comprová-lo, no final, é mostrada uma imagem da pessoa, ainda viva, que inspirou a personagem tetraplégica.

 

Quero acreditar que há ali uma mensagem subliminar, fugidia, mas muito compensadora, reconfortante: ser pragmático não tem que significar, fatalmente, insensibilidade ou frieza, pode-se sê-lo tendo em conta as especificidades de cada caso, ou situação, dará mais trabalho, será concerteza mais dificil, não está ao alcance de todos mas, no fim, fará toda a diferença. O segredo estará em não desistir e olhando, ver as verdadeiras raízes dos problemas, caminho único para encontrar soluções. Assim uma espécie de pragmatismo no ser sensível.

 

 


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semtelhas @ 14:40

Dom, 22/04/12

Quando se fala de futebol, de Espanha, do Barcelona, do Real Madrid, estamos a referirmo-nos ao topo, muitos milhões, comunicação social usada a abusada até à náusea, tudo o que gira à volta daquela tribo em geral e desta em particular, é glosada até ao limite.

 

Acontece que, por obra sabe-se lá da quê, ou de quem, talvez por se tratar de uma área pela qual os portugueses sempre mostraram grande apetência e muita habilidade, na crista dessa global e glamorosa onda surfam Mourinho e Ronaldo. E o mais notável nesse facto é o de continuarem a bater recordes. Mourinho caminha a passos largos para se tornar o melhor treinador da hitória do futebol, e Ronaldo, se não chegar a tanto quanto a futebolistas, não ficará longe. Mais espantoso ainda, ambos devem a sua excelência não a algum especial instinto natural, mas a muito trabalho, quase, se não mesmo cientifíco. Mourinho é o rei do calculismo, o maníaco da estatistica. Como é óbvio é favorecido por uma inteligência superior que, entre outras coisas, lhe dá uma enorme capacidade de interagir com as pessoas (e que pessoas! todos milionários, normalmente pouco cultos e, normalmente, não muito educados). Quanto a Ronaldo quase se pode dizer que, independentemente de um inegável talento intrinseco para a bola, há ali muito laboratório, diria mesmo que a capacidade fisica é a essência do sucesso. Uma vez lançado é quase impossível pará-lo, somatório de velocidade e resistência. Lembra-me o que alguém dizia: Messi joga em circulos, Ronaldo em linhas retas.

 

 

É surpreendente tudo isto vindo de um país como Portugal, normalmente considerado, justamente(?), um pequeno país, mediano nas suas qualidades, por vezes mesmo mediocre. Depois de, repetidas vezes, ter assistido a reações, digámos, menos nobres, destes nossos ilustres compatriotas, sempre me pareceu bem encaixá-las num cenário de necessidade de alguns excessos indispensável para minimizar as distâncias artificialmente causadas pelos poderosos, passado, comunicação, poder em geral.

 

Já ontem, não gostei especialmente daquele gesto de Ronaldo, quando após ter marcado o golo da vitória, em vez de correr, desalmado de alegria, ou de tranquilamente festejar com os colegas, aconselhar calma, ainda estou cá para resolver. Indicia egocêntrismo onde teria ficado melhor espôntaniedade ou grandeza. Fiquei feliz com o golo e com a vitória. Mas ficaria mais ainda se Ronaldo tivésse a perceção que esta não é só dele, aos olhos do mundo também é de Portugal. Seremos realmente grandes quando os nossos melhores tiverem essa largueza de espírito que permite festejar, não a derrota dos adversários, mas a nossa vitória.

 


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semtelhas @ 14:12

Sex, 20/04/12

Para mim, penso que para muitos, e, no meu caso durante muitos anos, África era sinónimo de infindáveis espaços abertos, misteriosas florestas, a selva, o calor, o sol, a abundância, duas colheitas anuais, a beleza e docilidade dos nativos, enfim, um sem-fim de aventuras ali, à mão de semear, esticar o braço e colher o fruto.

 

V S Naipaul, no livro A Curva do Rio, dá-nos uma imagem bem diferente daquele continente e desmonta, peça por peça, esse sonho, tão comum, de África ser um mundo de sonho.

 

É pelo relato de um indiano emigrado no costa oriental africana, do movimento deste para oeste, posterior fixação num país aí situado e recentemente independente, que vamos percebendo os altos e baixos que este, como tantos outros países daquela parte do mundo passaram, passam e, tudo o indica, passarão.

 

A descrição que Naipaul nos vai dando dos indigenas, das suas idiossincrasias, ora frágeis, dóceis, colaborantes e humildes, ora selváticos, arrogantes, tiranos, excessivos e bipolares, espelho e fruto da terra vermelha, inicío, sustento e fim. Nas suas fases pacificas como que atraem os estrangeiros para a sua teia, armadilha feita sobretudo de ganância. Um conjunto impressionante de riquezas por explorar e a aparente facilidade em fazê-lo, para depois serem apanhados e destroçados, assim como uma espécie de vingança de quem acorda no meio de uma paz podre, revolta de quem se apercebe da sua ancestral inabilidade para competir com os forasteiros e os exercitos de colaborantes e lacaios que aqueles vão arregimentando de entre a população local. Ciclo vicioso de guerras, de construção e destruição, cujas maiores vitimas são os legitimos donos daquelas terras, assistindo à sucessiva destruição de gerações de nativos e de tudo o que, como que silenciosamente contrafeitos, tinham entretanto construído. 

 

Não sei, penso que ninguém saberá, se algum dia, todo este caminho secular entretanto percorrido, poderá levar a resultados mais animadores. Hoje, após a leitura desta obra relativamente recente, não procuraria África para viver.

 

the global africa project photo: geronimo patton

 

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semtelhas @ 14:11

Qua, 18/04/12

Refletindo exclusivamente sobre as mais importantes religiões monoteístas, o cristianismo e o islamismo e, somando-lhes a maior não pertencente a este grupo, o budismo, não teísta (não acredita na existência de Deus), abrangemos mais de 80% da população religiosa.

 

Jorge de Sena escreveu uma frase que dizia mais ou menos isto: como é possível alguém poder afirmar que após a morte nada existe? É profundamente estúpido e ignorante proferir tal sentença. Quem o pode provar?

 

Analisando as religiões na sua pureza inicial verificámos que: o cristianismo professando o amor praticado pelo seu profeta Jesus Cristo, dando a outra face, e acreditando numa vida superior após a morte, no céu para os bons, no inferno, lugar de pecadores ou no purgatório, espaço de purificação a caminho do céu; o islamismo através do seu Julgamento Final, onde todos serão avaliados pelas suas ações terrenas, decorrendo daí o seu futuro no Paraíso ou no Inferno; e o Budismo, onde se defende que no cumprimento do seu Carma, cada um vai definir as futuras reencarnações, podemos concluir que a esmagadora maioria dos crentes se recusa a dar por terminado algo que, em boa verdade, nem sequer sabem como começou.

 

Nos dias que correm, de descontrolado consumismo, na base do qual tudo funciona e, à custa do qual uma infíma minoria domina todos os outros, faz todo o sentido o crescimento do ateísmo. Ainda que seja algo intrinsecamente utópico, porque não provável, defender a ideia de que após a morte tudo acaba, faz todo o sentido: aproveite-mos, leia-se gastemos, enquanto cá estamos. Tudo é negócio, a vida torna-se uma espécie de corrida contra o tempo, chegando-se ao cumúlo de fazer sentir culpados, inferiores e incapazes aqueles que não adotam essa atitude. Se não aproveitaste, aproveitasses! Enquanto dá. Uma espécie de chico-espertismo global.

 

O minimo que o senso comum manda é perguntar. Duvidar. Pois se não se sabe a resposta! Qualquer tipo de fundamentalismo é vazio, ôco, por trás só pode ter uma de duas realidades, ignorância ou objetivos inconfessáveis.

 

Vi, há largos anos, um filme Contacto, baseado numa obra homónima de Carl Sagan, no qual Jodie Foster, a protagonista, após ter "estado" num determinado sitio, levada por uma nave espacial, e quando questionada em tribunal se o podia provar, ela, anteriormente cientista empedernida,

acabou como que empurrada, encurralada, a utilizar a única palavra com a qual podia explicar a sensação, inquestionável, de que tinha estado lá: fé.


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semtelhas @ 14:49

Ter, 17/04/12

Realismo mágico, enquanto escola literária sul americana, e a magia feita realidade são conceitos diferentes, complementares, normalmente, onde um acaba o outro começa.

 

Como é sistematicamente sensível nos livros daquele que é o mais conhecido rosto do Realismo Mágico, Gabriel Garcia Marquez, este estilo como que convoca um novo fôlego para a vida. Os velhos de GGM no Outono do Patriarca, Amor em Tempo de Cólera e o inesquecível José Arcádio Buendia, em Cem Anos de Solidão, entre tantos outros são disso prova. Em A Memória das Minhas Putas Tristes, este autor chega a demonstrar que é a partir dos 50/60 anos, uma vez ultrapassados todos os medos e escapado às doenças que normalmente, quando aparecem, é nessas idades, que a vida realmente começa. Um caminho feito da realidade crua e nua que é a vida, para um outro, com um certo misticismo redentor, salvador. Aqui menos religioso do que é, por exemplo, entre os velhos da Europa, mas recorrendo mais à liberdade das ideias, da fantasia, onde o tempo e a imaginação não têm limites. Uma transposição, nem sempre suave, para o mundo dos sonhos, é a experiência que Gabriel Garcia Marquez nos proporciona. Viagens alucinantes.

 

 Para ilustrar o outro conceito, magia real, parece-me ser Mário Vargas Llosa o escritor mais adequado. Neste caso o caminho é feito por crianças, jovens e homens novos, alguém que, pela sua idade, ainda vive dentro de um mundo mais, ou menos, ilusório, ainda mágico, do qual o autor vai (nos) levando pela mão, fazendo essa quase sempre dolorosa, traumática passagem, para a dita vida real. Em livros como Conversas na Catedral, politicamente, em Tia Júlia e o Escritor, sexualmente, ou nos Cadernos de Dom Rigoberto, no amadurecimento, podemos constatar essa metamorfose. A nostalgia presente nas obras de GGM dá lugar a uma certa esperança no futuro. Ou, pelo menos, na possibilidade de o construir pos si próprio. Escritor profundamente interessado na politica, como o demonstra nas Conversas... e no fantástico A Festa do Chibo, verdadeiro paradigma da "republica das bananas", mas também capaz de transmitir sensualidade a niveis deliciosamente perturbantes como na Tia Júlia ou nos Cadernos de Dom Rigoberto.

 

Navegando nestas águas impossível ignorar o homem que misturava e baralhava, no mesmo texto, magia e realismo nos seus estados mais puros. Roberto Bolano, caso tivesse durado, provávelmente seria tão ou mais lido que os "monstros" atrás referidos. E daí...talvez não. Se calhar o que conduziu a pena de tão espantoso escritor, só seja sensível quando se sabe com os dias contados, nada a perder, já a sentir a arajem e o reflexo do que lá vem.

 


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cores da lua @ 21:35

Seg, 16/04/12

Por um lado, a recriação de um ritual hindu  Holi, a festa das cores, celebrado  entre fevereiro e março, simboliza o início da primavera e o triunfo do bem sobre o mal.

 

 

 

Por outro lado, a criação de um novo código de cores, Coloradd de Miguel Neiva, um código universal, impar, onde se celebra o triunfo do simples sobre o complicado.

Um caso feliz de genuinamente MADE IN PORTUGAL, permite aos daltónicos, de todo o mundo, ver as cores.

 

      

 


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semtelhas @ 15:06

Seg, 16/04/12

 

Parece ser consensual, entre os entendidos, que os cães dirigem o seu instinto afetivo às pessoas e os gatos à casa, ou território. São múltiplos os caminhos que nos confirmam este princípio.

 

Um destes dias, ao chegar a casa, o gato não apareceu. Estranho uma vez que é sempre o primeiro a dar as boas vindas, logo ali no hall de entrada, esfíngico, tranquila e muito corretamente sentado, como já ali estivesse há muito tempo. Na verdade sente-nos bem antes de entrarmos.

Passados alguns minutos de procura acabei por descobri-lo num canto da casa, agachado no chão, o olhar para mim num misto de apreensão e lamento. Um pedido de socorro. Algumas investigações depois concluí que tinha engolido uma considerável quantidade de fios que lhe estavam a complicar a digestão. Uma vez resolvido o problema, gato de volta. Agradecido? Nem por isso, foi mais a satisfação de se sentir novamente bem e, vai daí, toca a coçar-lhe a barriga, para que volte, realmente tudo, ao que deve ser.

Normalmente anda para ali a pavonear-se, como quem diz, olhem para mim, como sou elegante, equilibrado nos atos e na forma, conveniente aos olhos sedentos de beleza,  pouco exigente quanto à alimentação e super asseado. Quase um objeto decorativo vivo, transmissor de uma certa paz, segurança. Mas não lhe peçam mais que isso. Pieguices, grandes demonstrações de carinho não é com ele. Egoísmo dourado perante o qual nos curvámos.

 

É sabido que os cães são a antitese disto. Quando estão doentes não param de se queixar. Ao chegármos a primeira coisa que fazem é saltar-nos para cima e sujeitar-nos a uma interminável sessão de lambidelas. A alimentação e a limpeza são todo um catálogo de obrigações e cuidados, caso contrário as viagens ao veterinário tornam-se um pesadelo a vários níveis. Tranquilidade e equilibrio? O que se tem é barulho, confusão, alguns estragos e uma exigência, a tempo inteiro, de atenção, de interação. E, uma eventual não colaboração, pode levar a amúos sérios, prolongados. Pedido de reconquistas. Como compensação, para além da sempre útil fidelidade sempre à mão, do alarme e até ação contra situações e pessoas indesejáveis, acima de tudo muito carinho e proteção. Colocam-nos num pedestal e nós, agradecidos, tudo lhe perdoámos.

 

À parte quaisquer juízos de valor, neste caso absolutamente ridiculos, tratam-se de naturezas opostas, que se complementam e fazem o todo, surgiu-me a tentação de identificar pessoas segundo estes princípios. Cão ou gato?

 


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semtelhas @ 19:13

Sex, 13/04/12

Ouvir uma entrevista a Simone trouxe-me algumas memórias.

 

Foi com o Chico que comecei a perceber que as coisas estão longe de ser fácilmente explicáveis (Flor da Terra), que de bons conselhos está o inferno cheio (Ouça um Bom Conselho), da fragilidade da condição feminina (Mulheres de Atenas), da forma que alguns homens privavam outros da sua liberdade (Apesar de Você), ou de um sem fim de hinos ao amor (Rita) e mais que tudo à vida (Vida).

 

E Caetano, Vinicius, Bethânia, Elis, Jobim, João Gilberto, Simone, e mais recentemente a grande Marisa Monte? É maravilhosa a maneira como aquela gente se exprime a cantar, passando alegria, esperança e vontade. Em português. Provávelmente o povo mais musical de todos.

 

Também nos livros o Brasil se faz passar quente e vivo, Machado de Assis (Dom Casmurro), Jorge Amado (Terras do Sem Fim), João Ubaldo Ribeiro (A Casa dos Budas Ditosos) ou Rubem Fonseca (O Seminarista), são escritores de todos os estilos, para todos os gostos, e sempre com aquela marca de exotismo, realismo, qualidade.

 

No cinema há vários realizadores mundialmente reconhecidos. Porque nos diz, duplamente respeito, lembro-me de Fernando Meireles e a sua adaptação do romance homónimo de Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira. E que dizer, também deste realizador, do excepcional Fiel Jardineiro, sobre a utilização dos negros africanos como cobaias para medicamentos produzidos por grandes laboratórios mundiais?

 

Ninguém utiliza melhor a televisão que os brasileiros. São o maior produtor mundial de telenovelas. Os estúdios são da dimensão de pequenas cidades e, dentro delas, nascem atores, argumentos e cenários, literalmente. Trata-se já de uma das principais receitas do país, para além de os brasileiros as utilizarem para vender a imagem que lhes interessa para chamar turistas.

 

Para o fim o futebol. Talvez o maior embaixador brasileiro no mundo. Seria fastidioso enumerar o sem fim de futebolistas dali oriundos e credores dos maiores elogios, por todo lado. Só reforçam a ideia daquilo que é a força de ser brasileiro: alegria, criatividade, energia, ritmo, numa palavra positivismo.

 


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semtelhas @ 16:38

Sex, 13/04/12

É o nome de uma peça de Shakespeare e agora também o de um filme de Ralph Fiennes.

 

Remetem para o império romano nomeadamente no que respeita à guerra, aos seus heróis, à integração destes na vida politica e a toda a intriga à volta desta. No caso do filme, utilizando, penso que sempre, o texto shakesperiano, as imagens são dos dias de hoje, a guerra faz-se com armas automáticas, granadas e obuses, o senado é o parlamento, os arautos são os jornalistas e a praça são as conferências de imprensa nos estúdios de televisão.

 

Para quem gosta deste tipo de textos, poéticos, profundos e declamados, sempre quase minuciosamente descritivos das situações e das ideias, chega a ser empolgante ver e ouvir as interpretações de corpo inteiro, com o corpo e a alma, de Ralph Fiennes e de Vanessa Redgrave, entre todo as outras, "só" muito boas.  Do ponto de vista técnico o filme é irrepreensível, som, imagem, movimentos de câmara, ora fixos, ora ao ombro, fotografia, adereços, cenários, vestuário, etc..

 

Mas onde reside a maior grandeza deste filme é no argumento. Tal como já referi penso que a totalidade dos textos é tirada da peça de Shakespeare, e é precisamente aí que está a essência: podia ter sido escrito ontem.

O drama dos homens que, por sentido de missão, querem ser politicos e, simultâneamente, totalmente honestos, verdadeiros, coerentes com tudo e todos, para com eles próprios, ao serem confrontados com a absoluta impossibilidade de o serem. A inultrapassável incapacidade da coexistência entre uma certa ideia de perfeição, na sua essência ética e estéticamente inatacáveis, seguindo um determinado pressuposto de harmonia e fluidez, e a natureza e condição humanas. O decisivo poder da intriga e da mediocridade, básica ou como disfarce de incapacidades operativas ou de vontade. Hoje como ontem. E, acima de tudo, a eterna confusão entre o verdadeiro heroísmo, o tranquilo, tolerante, perseguindo objetivos intrinsecamente bons e o outro, fruto de frustrações indeléveis, bravura amarga, fuga para a frente, de olhos bem fechados, assente em e criador de ódios.

 

O final não é particularmente feliz. Talvez, também nesse aspeto, esta obra cumpra o seu destino, demonstrar, tal como a passagem do tempo, quão inalcançável e utópico é esse eterno desiderato da humanidade: acabar com as guerras. 

 

 

:::   TRAILER   :::

 


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cores da lua @ 20:51

Qua, 11/04/12

Cane, um rapazinho, 9 anos, e a coragem de seguir em frente com os seus sonhos,  onde a palavra - impossível - não tem lugar.

Cane, um rapaz Feliz!

 

 

 

 

 

 

 


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