semtelhas @ 12:30

Qui, 21/11/13

 

Sentindo o cerco do tempo, da sua escassez, apertar-se, Mário Soares reage como só os homens que por natureza e destino, com os quais também as circunstâncias colaboraram, o fazem, elevando à máxima potência e tentando levar à prática até às últimas consequências, das quais por convicção e condição, em boa verdade já nada temem, aquilo que foram as mais profundas crenças de toda a sua vida.

 

Ao longo dos quase quarenta anos que Portugal leva de democracia este homem esteve sempre presente quando a mesma, por várias razões, esteve em causa. Uma vez conquistado esse direito durante boa parte da ditadura de meio século que a antecedeu, durante o qual prescindiu da boa vida que a sua família lhe podia proporcionar, para lutar pela libertação dos seus compatriotas, tornou-se no seu principal protagonista.

 

Após os primeiros anos revolucionários, quando o país resvalava parecia que inapelávelmente para o comunismo, nesse tempo para muita gente, sobretudo fruto do enorme atraso e ignorância, ainda um sistema milagroso, próximo da perfeição, utopia que viria a ser desmascarada mais de uma década depois, foi ele o principal garante da liberdade recentemente conquistada e ainda tão frágil. Em 1986 liderou a nossa adesão à comunidade europeia o que verdadeiramente virou o país do avesso a ponto de, decorridos quatro décadas estar incomparávelmente melhor em práticamente todos os rácios que mais importam. Depois, enquanto presidente da republica, numa eleição que constitui ela mesma uma espécie de manutenção da democracia porque partindo com 8% das intenções de voto em poucas semanas inverteu a tendência, acabando por derrotar a candidato da direita por 1%, quando este, juntamente com um governo baseado em gente do tempo da outra senhora e liderado pelo frio e tecnocrata Cavaco, se preparava para restaurar muitos dos interesses entretanto perdidos, inaugurou uma nova forma de estar entre o poder e o povo através das chamadas presidências abertas, durante as quais, por períodos nunca inferiores a uma semana, saiu da capital e se instalou noutras zonas do país. Durante esses períodos fazia-se acompanhar pelos membros do governo que lhe pareciam os mais adequados para tratar dos assuntos em que a respetiva zona era mais carente, promovendo a descentralização e o contacto direto entre eleitos e eleitores.

 

Hoje, claramente debilitado, perante a situação de mudança de paradigma da sociedade em que estamos inseridos, resultante do liberalismo exacerbado nascido da vingança do longínquo Maio de 68 e consequente reforço do estado social, consubstânciado nas políticas de Tatcher e Reagan, e mais recentemente tendo como bode expiatório a luta contra o terrorismo, que levou à falência da economia às mãos da alta finança que realmente nos (des)governa, nomeadamente das mais frágeis como é o caso da portuguesa, não resiste a gritar o mais alto que a sua atual realidade o permite, numa magnifíca demonstração do que lhe vai na alma. A efémera ilusão da imortalidade? Concerteza. Mas acredito que acima de tudo, muito acima, o indomável apelo da liberdade. Caberá agora aos atuais interpretes, de entre os quais ele foi o mais brilhante, daquilo que é a governação, saberem aproveitar inteligentemente o precioso legado que este notável homem insiste em nos deixar.

  


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"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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