Não é como o amor
Não é como a paixão
Também provoca dor
Com pudor, desilusão
Em tudo são diferentes
Porque mais toleráveis
Muito menos dementes
Até quase expectáveis
Traz a compreensão
Da inevitabilidade
Da força da razão
Face à contrariedade
Firme, gravada a fogo
Se gerada na infância
Mesmo ingénua de todo
Vence tod'a circunstância
Quando mais madura
Feita de caminhos comuns
Ganha em espessura, e
É sem fingires alguns
Verdadeira preciosidade
Dispensa culpa, acusação
Chega devagar na idade
Liberta de medos e solidão
Um acordar para o real
Um perceber e aceitar
Que cair e falhar é normal
E dever resistir, levantar
Descobrir o sereno prazer
De ouvir, de sorrir, ajudar
Tranquilidade no fazer
Recompensa no tolerar
O consciente deixar-se ir
Um aprender a escutar
Sentir sábio tempo a fluir
Só depois, convicto, falar
Espécie de amor depurado
Como paixão suportável
Pouco e raro o exigido
E erro sempre aceitável
Quando ato por cumprir
Triste vida por viver
Um nada como existir
Os sentidos esquecer
É destino para seguir
O escasso ambicionar
Suave alegria no devir
Receber e também dar
Querer incondicional
Profundo, do coração
Onde o belo ou sensual
São desejo não condição
Perene, eloquente
Se autêntica amizade
Da alma imanente
E até à eternidade