É um hábito já de longa data a entidade que traduz os títulos dos filmes para a mercado nacional, em nome de uma qualquer política algures entre o económicofinanceiro e a idiotice, mas bem longe do verdadeiro interesse público, fazê-lo batizando os ditos com verdadeiros disparates supostamente mais atrativos, no fundo o costume... tentar enganar o pessoal. Raramente tal terá acontecido tão a despropósito como no caso desta fita originalmente intitulada Mude, o nome de um dos protagonistas, e por cá apelidada de Fuga quando na realidade aquilo fala é de encontros das pessoas umas com as outras e sobretudo com elas próprias. É o amor estúpidos!
Nos EUA profundos, lá no Arkansas, mais própriamente nas margens de um rio, locais habitados por gente maioritáriamente isolada e pobre por opção, uma escolha de liberdade, que a geram no seu ventre bipolar, excessivo, zonas de vegetação luxuriante, morna agora e logo a seguir extrema e exigente, por isso nela fazendo criaturas também elas extraordináriamente boas ou intrínsecamente más. Acompanhámos alguns desses raros seres, pessoas rudes nas quais a dissimulação ou a perda de tempo urbanas não têm, não podem ter hipóteses. Porém há exceções. É dessas que o filme fala, do local em que também a pureza e a ingenuidade são absolutamente genuínas.
Quase sempre pelos olhos de duas crianças percorremos um caminho onde vamos encontrando gente perdida, uns mais outros menos, no qual elas funcionam como espécie de elo de ligação entre as pessoas que não se conhecem, nem suspeitam da trama em construção que as há-de fazer confluir, pela mão dos miúdos, para um lugar que já estava dentro de cada uma delas próprias mas relegado ao esquecimento ou negação, o da tolerância, da compreensão, do amor autêntico, feito da verdade que tranquiliza. Uma lição só possível porque dada por alguém completamente impoluto e ainda imune aos venenos segregados pela sobrevivência. Magnifíco!