- O grande homem é o que reconhece quando e em que é pequeno, enquanto o pequeno é o que não o reconhece porque teme reconhecê-lo.
- Destruiste Jesus Cristo, Lincoln e Lenine, e chamas ou chamas-te libertadores a Napoleão, Estaline ou Hitler, mas só tu podes libertar-te.
- És tu que geras a tua própria miséria, hora após hora, dia após dia; que não entendes os teus filhos e que tu próprio lhes partes a espinha antes de terem sequer uma oportunidade de desenvolver-se ao metê-lo em escolas que têm por professoras galinhas cacarejantes; reprimindo a sua sexualidade; que devoras o amor em vez de o apreciar; que és avaro e ávido de poder; que mantens o cão preso para te sentires dono.
- Pensas que os fins justificam os meios, quando o fim é a trajetória com que o alcanças. Cada passo de hoje é a tua vida de amanhã.
- A única coisa capaz de conquistar-te para o caminho certo, evitando a destruição que provocas à tua volta, será o teu sentido da pureza, a tua aspiração à verdadeira vida. Uma vez superada a tua mediocridade, a mesquinhez, começarás a pensar, de inicío errática, ridícula e erróneamente, mas com seriedade. Terás que aprender a suportar a dor que todo o esforço de pensamento comporta.
- A decisão é tua Zé Ninguém, quanto a desejares ou não a guerra. Se ao menos pudesses ter consciência de que o teu trabalho serve a vida e não a morte. Se ao menos pudesses saber que todos os Zés Ninguéns da Terra são como tu, no que têm de bom e de mau. Mais tarde ou mais cedo hás-de parar de berrar "viva" a torto e a direito, a recusar que o teu trabalho seja usado para a morte e não para a vida.
- Então o teu destino será uma vida limpa e sem ambições, acompanhando o crescimento dos teus filhos, assistindo à sua alegria; não deixarás passar a Primavera sem a sentires; mesmo em tempos de perturbação não perderás o norte nem o sentido de vida; ouvirás a voz do teu coração a murmurar que a única coisa que vale a pena é viver alegremente a própria vida, não consentindo que o sofrimento te torne duro e amargo.
Estes alguns excertos da extraordinária obra, Escuta Zé Ninguém, de Wilhelme Reich, o cientista "louco", o escritor maldito, por todos os poderes perseguido e na prisão, muito provávelmente, assassinado. Lio aos vinte anos e o meu olhar sobre o que me rodeava mudou para sempre, mais de três décadas depois descubro-o visionário. Um pequeno grande livro.