Desde há longos anos que o FCP abre a época, no inicío da festa de apresentação da equipa, com a dança do dragão, nunca aprofundei mas imagino tratar-se, obviamente, de um ritual oriental que é suposto abençoar quem dele beneficia. A cerimónia acontece em pleno relvado, onde umas dezenas de pessoas, meia dúzia a castigar bombos de vários tamanhos e uma sonante sineta, e os restantes a manipular uns enormes dragões, sobretudo compridos, ainda que já bem menos que no inicío, nas Antas, onde sómente um dava a volta ao relvado, encabeçados, pleonásticamente, pela enorme cabeçorra do bicho. Acontece que desde a primeira vez, aos meus olhos, a dita cabeça é a, menos vistosa, mas não feroz, de Pinto da Costa. E, á medida que os anos vão passando, mais o fenómeno se intensifica.
Todo o cerimonial é personificado na pessoa que é o treinador da equipa principal de futebol. Claro que quando não é o seu primeiro ano, tudo aquilo decorre com mais naturalidade. Com Jesualdo a coisa estava a tornar-se tão rotineira, que foi preciso mandar o homem exercer os fabulosos poderes adquiridos para outras bandas. Mas quando é a primeira vez então a questão assume foros de verdadeiro teste. Uns mais outros menos à vontade, lá se vão submetendo às várias provações que lhes vão sendo gentilmente sugeridas: ele é subir para cima de umas escaditas, para aspergir algum qualquer precioso liquido sobre as assustadoras narinas e chamejantes olhos do mitológico animal; dizer umas curtas, mas significativas palavras às portentosas orelhas do monstro; dar duas ou três corridinhas, para trás e para a frente, e uma série de sentidas e respeitosas vénias olhos nos olhos com o bicho; entre outros seguramente essenciais exercícios para que a magia funcione. No fim o chefe de cerimónias entrega ao pobre e humilhado abençoado, uma vistosa espada plena de curvas e orientais ornamentações, segreda-lhe aquilo que penso devem ser alguns úteis conselhos para dominar a fera, e é-lhe permitido fugir dali para fora, normalmente num pouco disfarçado passo de corrida. É que tudo isto é feito em frente de, ontem quarenta e cinco mil pessoas, noventa mil olhos. É dose!
Tratando-se da, metafórica, cabeça do famoso presidente, aquilo que se espera é que a mensagem passe cristalina, que não restem dúvidas sobre quem manda ali, cuja magnitude maior é a absoluta confiança depositada no benzido, ao qual são oferecidas as melhores condições, a mais ampla margem de manobra, e sinceríssimas promessas de não interferência... até ao dia que deixe de as merecer. Assim se vê a força do PC.
Quanto ao resto foram noventa minutos marcados por surpresas e expectativas. O Porto surpreendido por uma equipa bem mais agressiva que as maciínhas que, contra o que é costume, lhe apareceram pela frente lá pelas américas, a jogar sempre atrás da linha da bola mesmo quando dentro do seu meio-campo; e de, perante esse facto, não obstante estar óbviamente exaurida por pesadas cargas de trabalho, e uma longa viagem haviam dois dias, o FCP não ter conseguido arranjar energias para, em frente ao seu público, dar a volta à situação. As expectativas, essas, saíram furadas para quem queria observar alguns dos que parecem os melhores trunfos para o que aí vem, como Herrera e Quintero. Paulo Fonseca pareceu mais preocupado com o resultado. Compreende-se. A pressão é muita. A ver vamos, tranquilos. É que Pinto da Costa lá estava, atento, no seu posto de observação.