semtelhas @ 14:00

Ter, 02/07/13

 

Segundo Witold Gombrowicz, no seu livro Ferdydurk, existimos em função de uma certa forma de estar que nos é imposta do exterior, dividindo-nos básicamente em dois rebanhos, os intelectualoides e os grunhos.

 

 

 

 

  

Como prova deste seu ponto de vista o autor arranca com a estória na cidade, onde descreve vários exemplos da deformação provocada pela urbanidade excessiva, digamos assim, refém de um certo modernismo bacoco, em que mais ou menos tudo é permitido em nome da sacrossanta arte e dos seus profetas, os artistas. A depuração da sociedade por via de uma maturidade aprendida e apreendida através desses génios, que abre os olhos aos ingénuos e infantilizados ignorantes. No outro extremo os grunhos com as suas horríveis caretas em vez de rostos, e que só procuram o caminho da crueza extrema, feia, violenta e destruidora.

 

Para que não fiquem dúvidas, somos depois transportados até ao campo, onde reina a decadente e parasita aristocracia que só subsiste em função da capacidade de afrontar a criadagem, espécie de animais para todo o serviço, que funciona sobretudo como pano de fundo para a absolutamente inócua existência dos senhores, como que dando espessura à mesma, e sem a qual a mesma não faria qualquer sentido. A ponte entre estes dois mundos nasce da necessidade inultrapassável do urbano por algo real, genuíno, que dê contornos ao vazio ali reinante, recorrendo o autor à imagem do jovem camponês, básico, sólido, dócil e humilde.

 

O que está subjacente a tudo isto é a ausência do conceito de amor na sua conceção mais pura, considerado interesseiro e lamechas, particularmente o que tem origem na mulher; a prevalência da juventude renovadora e ignorante, sobre a velhice sábia, único caminho para a salvação dessa peste que é o conhecimento (aqui o autor declara-se explicitamente contra a ideia kantiana que a felicidade vem exclusivamente pela acumulação de saber), através da destruíção de todos os estériotipos; a opção do humor sarcástico como melhor maneira de atingir esse objetivo maior que resulta na libertação da prisão que representa a dependência da forma, de toda a ética e estética.

 

Obra profundamente crítica, provocadora, por vezes quase insana e mesmo sadomasoquista, a vaguear entre a maior humildade à mais irritante presunção,  está assente numa vasta cultura do autor, nomeadamente de filosofia, como fica bem demonstrado na entrevista que é apresentada no final do livro editado pela 7 Nós, que ajuda, e muito, a compreender o seu pensamento

 


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"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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