Thomas Mann escreveu, entre outras obras, Os Buddenbrook, e a, para mim inesquecível, Montanha Mágica; Gustav Mahler compôs nove sinfonias, algumas das quais se encontram entre o que de mais harmonioso se criou na música. Em conjunto conceberam A Morte Em Veneza.
Tinham em comum, para além do brilhantismo e da profundeza psicológica das suas obras, caracteres sombrios, melancólicos, como que da falta de algo por cumprir.
Em Montanha Mágica, Thomas Mann quase nos convence que o desprendimento de grandes expectativas sobre a vida, o viver na eminência de ver esta terminada a qualquer momento, a exaltação da existência a cada minuto que passa, pode levar a uma encantatória doçura no caminho para a morte.
O que resulta das composições de Mahler é uma espécie de sentimento de tudo ou nada, de algo de definitivo, de perdido e logo recuperado, num permanente embalo que remete para desenlaces trágico-românticos, ao mesmo tempo de adoração e desespero e, finalmente, para sempre tranquilos.
Quando Visconti, com a sua, talvez ainda inegualada, arte de transformar cinema em belíssimos quadros em movimento, envolveu o romance A Morte Em Veneza, de Mann, com o Adagietto da 5ª de Mahler, alcançou e deu-nos um vislumbre de céu.
Faz-nos sentir que o momento poderá ser lindo, e digno da expressão - acabar em beleza!