semtelhas @ 12:50

Sab, 01/06/13

 

Ontem, ou antes de ontem, vi um anfiteatro cheio de gente conhecida a ouvir atenta e veneradamente um velhinho que falava do palco, onde estava acompanhado por meia dúzia de personalidades umas mais, outras menos, hipnotizadas, mas todas rendidas à e pela convicão com que Mário Soares falava.

 

 

Não passaram muitas semanas desde que, após uma operação ao coração, temos visto e ouvido um homem considerávelmente mais enfraquecido. Está mais curvado, perdeu quase todo o cabelo, fala por um fio de voz, e sobretudo exibe no rosto cansado uns olhos mortiços que não auguram nada de bom. Deveria, gostaria, de o ter escrito como se este retrato correspondesse a algo do passado, ultrapassado, mas sei que o entusiasmado desempenho de Soares naquele evento, representou apenas uma interrupção num imparável e normal processo de decadência. Acredito mesmo que, tendo contríbuido para lhe reacender a alma, igualmente o tenha desgastado muito fisícamente. Até por isso é tão importante  e urgente dar atenção ao que este homem diz.

 

Desde que comecei a ver o mundo que me rodeia pelos olhos de um rapaz/adulto, por natureza e empurrado por uma revolução, que me lembro da presença paternal de Mário Soares. Primeiro aquele senhor que chega depois do exílio em França, acompanhado do todo poderoso Cunhal, ícone da resistência ao obscurantismo. A seguir o mais importante resistente à tentativa de implantação de outro tipo de trevas pela mão do tal exprofessor, exchefe partidário, examigo. Depois como nos leva pela mão ao seio da família europeia e, posteriormente, ocupa inextremis, o lugar de presidente da república evitando assim, naquele tempo, a deriva neoliberal a que assistimos atualmente, sendo que só o conseguiu graças à indicação de voto de um Álvaro Cunhal já convencido.

 

Após ter abandonado a política ativa tem-se desdobrado em iniciativas sempre no mesmo sentido, apelar à melhoria de condição de vida dos mais desprotegidos, mas sempre dentro de um ambiente de saudável convivência entre a população, uma luta permanente pela diminuição das desigualdades de nível e qualidade de vida entre classes sociais. Sempre atento avisou dos perigos das políticas de Margaret Tatcher e Ronald Regan, gritou bem alto a loucura que representava a opção seguida, ultraliberalismo em roda livre, depois da queda das torres gémeas em Nova Iorque, e, nos últimos anos, basta ler as suas crónicas na Visão para perceber como antecipou muito do que se está a passar atualmente, o elevadíssimo preço a pagar pelo total desrespeito pelas maiorias mais frágeis.

 

Ninguém como ele enalteceu o povo português, as suas características mais intrinsecas. Nunca alguém lhe ouviu uma palavra de critica ao seu país ou aos seus compatriotas, nem sequer ao seu pior defeito, a inveja, mão de todos os nossos males, porque omite o mérito, minimiza a excelência, esconde o bom exemplo, promovendo assim a mediocridade. Teve sempre força para resistir a esta espécie de maldição que condena este país, ainda lhe resta alguma como o demonstrou na Aula Magna. Até quando? E depois? Vislumbra-se alguém no horizonte a quem ele possa passar esta responsabilidade de representar para os portugueses a liberdade, a tolerância, a auto-estima, o positivismo e a esperança?


direto ao assunto:

"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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