Alta, magríssima, vestida de negro
A roupa justa, elastico prende cabelo
Muito maquilhada, pestanas de metro
Estuda papel com olhar circunspecto
Lentamente senta-se à secretária
Caneta na mão escreve treta diária
Utente pergunta quando e onde
Não levanta cabeça, gentil, responde
Colega do lado sussurra qualquer coisa
Sorri suave como abelha em flor poisa
Riem sobrancelhas fortes e negras
Ao longo risco preto dos olhos paralelas
Lábios grossos permanecem unidos
Distendem-se sensualmente vivos
Maças do rosto pálido agitam-se
Covinhas e altinhos multiplicam-se
Paciente, como embalado pelo bailado
Quando chega minha vez fico parado
Como quem chama olha-me frontal
Não imite palavra, para ela o normal
Fala com os olhos, acha suficiente
Um pedaço assim ficou, tranquilamente
Até que eu decidisse finalmente avançar
Muito longe estava, estaria?, de pensar
Quão profundamente me tinha atingido
Como mover-me depois de tão ferido?
Compreende, liberta sorriso luminoso
Desperto apaziguado, olhar espantoso!
Bem rasgados encimam nariz frágil, fino
Dos que se bem fitados traçam destino
O verde deles é de um musgo maduro
Que à luz hesita entre o claro e o escuro
Com fundo de um branco limpo, imenso
E leve humidade, dão-lhes brilho intenso
Despeço-me e com sorriso sou saudado
Fujo, quanto tempo ficarei hipnotizado?