Apesar de não terem feito mais que a sua obrigação, não deixa de ficar no ar um certo sentido de admiração pelas decisões tomadas pela maioria dos juízes do Tribunal Constitucional.
Num país que, tantas vezes injustamente, normalmente pela endémica falta de informação e tradicional arrebanhar, se autointitula de terceiro mundista, atrasado ou como sendo dirigido por uma corja de corruptos, acontecer este facto de um punhado de homens e mulheres afrontarem o poder instítuido em circunstâncias tão delicadas como são as que atualmente os portugueses atravessam, há-de querer dizer alguma coisa.
Não será difícil adivinhar quão espinhoso terá sido chegar a estas conclusões noventa dias(!) e uma hora depois. É sabido que na constítuição deste orgão superior de justiça há o cuidado de fazer representar, de forma tanto quanto possível equitativa, as duas grandes correntes político partidárias, uma mais liberal representada pelo PSD e outra mais social pelo PS, inclusivamente já chegaram à comunicação social ecos das lutas travadas nos bastidores dessa escolha. Talvez este facto ajude a perceber melhor como é possível uma decisão de tal importância para o futuro próximo dos portugueses, demorar uma eternidade a ser tomada com os inconvenientes já antes previsíveis e agora incontornáveis.
Do anunciado, para além da saudável demonstração de independência da justiça relativamente ao poder político, e da não menos importante constatação da tal tendência político/partidária dos juízos ter sido superada por um aparente sentido de equidade, sobressai a decisão de considerar como constitucíonal o imposto de solidariedade que incide de forma crescente sobre quem mais ganha. É que, neste caso, a interpretação da lei remete para um conceito de equidade de um ponto de vista mais largo, como se os juízes se tivessem profiláticamente afastado para melhor verem na sua totalidade, a pirâmide social que constítuimos, analisando essa igualdade numa perspetiva global e não estreita, como seria se respeitando cada extrato por si, o que óvbiamente tornaria as suas opções amputadas de um sentimento, o mais generalizadamente possível, considerado justo. Acresce que foi precisamente essa proposta que mais indignou Cavaco Silva que se apressou a adjetivá-la de câo para baixo...
Resta a esperança que esta atitude vença e faça escola, que seja aproveitada esta magnífica lição, que nos foi dada a todos por homens e mulheres que se recusaram a ver a árvore em vez da floresta.