Será profunda ignorância,
Principio e fim estabelecer?
Temor disfarçado, jactância,
Encurralar vida até morrer?
Como possível saber o nada?
Ignorando também o tudo?
Como dizer conhecer o vazio?
Onde a origem? E o destino?
Simples jogos de palavras,
Falta de melhor explicação.
Estão ainda por inventar,
As que dão melhor solução.
Da incontornável questão,
Nasceram crenças, religião.
Infernos, limbos e paraísos,
Finitudes de frágil aceitação.
Ingénuos apelos, esperança,
Sustentos de efémeras vidas.
Inquieta urgência, respostas,
Compensar ilusões perdidas.
Criaram-se leis e bastiões,
Ajudam, escondem solidões.
Permitem vislumbres, visões.
Perdoam, justificam tentações.
Desmistificam fraquezas,
Amenizam mar de incertezas.
Mostram original igualdade,
Fazem convergir fraternidade.
Sua condição essencial,
Virtude não demonstrável.
Demasiado tangível, mortal,
Se finita ou presenciável.
Tortuoso o caminho do crer,
Toda existência a procurar.
Esperança seu maior poder,
Existe pelo não encontrar.
Tranquilidade, paz, redenção,
Descobertas na incerteza.
Crescem com interrogação,
Sua insustentável leveza.
Ser em irredutível afirmação,
Medo, iludir personalidade.
Antes que certezas, convicção,
Ter dúvidas com humildade.
Porquê ter para ser?
Para quê antes, onde ir?
Utopia infinito querer ver,
Fé na incógnita do devir.