Terra Prometida, de Gus Van Sant, fala-nos de "progresso", de mentira, de poder, de dinheiro, da terra terra, e da terrinha, de amor e de verdade.
Nestes tempos de saturação em que, cada vez mais, a tecnologia parece fazer com que cada um de nós se sinta dispensável, quase a mais, está instalada uma guerra pela sobrevivência onde vale pouco menos que tudo. Alguns dos mais habilitados, seja por que razão fôr, enfrentam essa disputa recorrendo a algumas das armas mais poderosas ao seu dispôr, nomeadamente aos recursos que este exaurido planeta ainda vai oferecendo, para dominar a vasta maioria dos restantes. Esse processo atingiu níveis de sofisticação elevadissímos, de tal forma que, porventura perto do último reduto, à única maneira de os contrariar já não é suficiente procurar lutar no mesmo campo através de gente muito bem preparada sobre todos os pontos de vista, mas sobretudo baseando-se em alguns dos valores mais profundos que subsistem na cada vez mais cansada, descrente e indiferente sociedade que somos, as raízes de cada um, a verdade, o amor.
É de todos esses valores que este filme trata, os bons e os maus. O argumento é construído de forma a fazer a demonstração clara de quanto é fina a parede que separa lados aparentemente tão distintos, como é fácil qualquer um cair para um ou para o outro face a uma realidade que se apresenta de uma dificuldade que parece intransponível no presente, e ainda mais no futuro. Procura-se explicar que enquanto não se mudarem os pressupostos daquilo que se diz ser uma vida boa, daquilo que são as ambições que nos são inculcadas diáriamente, a toda a hora, jamais saíremos dessa prisão onde nos pretendem meter definitivamente, sem sequer perceberem que dada a dimensão do embuste, se sentirão tão prisioneiros os milhões de alienados quanto eles, seus carcereiros, pelo simples facto de que uma vivência minimamente feliz e saudável só é possível com a participação da maioria.
Como seria bom se, como no filme, houvesse sempre um velho sábio, informado e bom, uma mulher bela, disponível e boa pessoa, uma comunidade plena de exemplos de boa vontade, pureza e cooperante, tudo isto em doses suficientes para transformar um predador de alto gabarito, num homem capaz de vasculhar nas suas origens as razões para se tornar numa pessoa fundamentalmente preocupada com o bem comum, porque percebeu que só assim atingirá o seu próprio bem estar.