A histórica relação entre poder e estética nunca foi pacífica. Atraem-se mutúamente porque, para atingirem a perfeição que procuram, precisam absolutamente um do outro. Como, quando levados ao extremo, são muito inteligentes e persistentes, conseguem construir grandes obras mas, como também têm em comum um egoísmo profundo, vão-se desgastando implacávelmente um ao outro, acabando por criar um mundo de descrença, desolação e destruíção à sua volta. O nazismo e o comunismo estão aí para o provar.
É curioso observar como, salvaguardando as devidas proporções o mesmo efeito é produzido na relação entre pessoas. Imaginemos, primeiro, uma Vivien Leigh tal qual as suas personagens em E Tudo o Vento Levou ou em Um Elétrico Chamado Desejo, bela, sonhadora, ao mesmo tempo (aparentemente) frágil e predadora. Depois O James Cagney dos filmes, sedutor, algo carente mas corajoso e ambicioso. A convivência entre estas duas personalidades que, inicialmente, tem tudo para resultar brilhante e fecunda encerra, no seu intímo, uma luta de interesses, de lideranças, que pelo desgaste mutuamente causado por resultar em algo desolador. Sendo certo que, tal como nas sociedades, este tipo de desolação tenha também a ver com as altas expectativas iniciais, não deixa, por isso, de ser um facto.