Atualmente poucos conseguirão imaginar António José Seguro como primeiro-ministro. Ou, no minímo, convenhámos que é um exercicío que exige algum esforço.
A arte da conquista do poder político é apaixonante para muita gente, sempre o foi, basta dar uma volta pela comunicação social para o perceber tal é a profusão de opiniões sobre a matéria. Pessoas tão reconhecidamente inteligentes como António Vitorino, Marcelo Rebelo de Sousa e Miguel Sousa Tavares, mesmo descontando o facto dos dois primeiros estarem ligados a partidos políticos, são disso exemplo pelas não poucas vezes que se deixam iludir pela forma, desvalorizando o essencial conteúdo dos assuntos que abordam.
A história política recente de Portugal, desde a revolução de 1974, é fértil em episódios que resultaram em soluções completamente inesperadas. A condição sempre presente nessas ocasiões foi o país estar a viver um estado de exceção. Neste momento vivemos essa circunstância e, por isso, acredito que o menu de escolha eleitoral que se apresenta aos portugueses consiste num conjunto de opções que, pela sua complexidade, não facilita a escolha dos candidatos a lançar pelos partidos.
Nesta equação que representam as eleições autárquicas e as legislativas talvez seja de fixar desde logo a variável perdedor das primeiras, o PSD. Partindo desse pressuposto cabe ao PS escolher quem vai capitalizar essa vitória na luta que verdadeiramente interessa, qual o seu candidato a primeiro ministro em 2015. Acredito que o congresso socialista a acontecer após essa que se adivinha uma esmagadora vitória nas autarquicas, irá reforçar decisivamente AJS, até por que abafa o mais que certo sucesso do camarada em Lisboa. Se o congresso for realizado antes, e como o secretário geral socialista o ganharia de qualquer maneira, resultará numa vitória imediatamente desvalorizada pelas autárquicas no horizonte, António Costa a delas sair em ombros, e, consequentemente, ainda com quase dois anos pela frente, atacar a liderança do partido, e do país, ascendendo o seu vice a presidente da câmara.
Os partidos da coligação que governa já deram como perdidas as autárquicas, até por contam com a habitual alternância nas escolhas dos eleitores, mas definir quem deve apresentar-se às legislativas não parece tarefa fácil no caso da PSD. Acredito que mesmo que lá para o ano começam a dar alguma folga no cinto ao qual tanto furos nos têm obrigado acrescentar, as caras da austeridade terão sempre que ser sacrificadas e, mesmo assim, o candidato a líder terá que ser uma personalidade muito forte, quase indiscutível naqueles aspetos hoje considerados mais importantes, dos quais destacaria ser de confiança. Nos partidos do poder ainda não chegou a hora, públicamente, de contar espingardas, quando chegar parece-me que, se quiser, Rui Rio será o candidato com mais hipóteses.
Uma vez feita a dissertação a propósito deste autêntico jogo de xadrez sobre o tabuleiro da política nacional, tão ao gosto dos teóricos e na maior parte das vezes mortalmente ferido de inocuidade, sempre direi, num esforço de dar conteúdo à coisa, que de calculistas tipo Costa ou Rio, à semelhança de António Vitorino (a saudosa Constança) se calhar vão ficar-se pelas contas de cabeça, estou cansado. Não estaria na hora de dar oportunidade ao aparentemente mais inSeguro mas também genuíno, puro e bem intencionado candidato?