semtelhas @ 13:03

Qua, 23/01/13

 

De filosofia, ou de uma nova filosofia, como poderei sabê-lo ignorando tanto sobre a matéria, a obra O Homem Sem Qualidades, de Robert Musil.

 

 

 

Assenta na  perfeição nesta obra aquela que é, talvez, a mais forte luz que ilumina o caminho de quem sinceramente se atreve a questionar o mundo que o rodeia, Só Sei Que Nada Sei. Poderoso motor de busca de respostas movido pelo perguntar sistemático, a dúvida metódica, que resulta na descoberta de que o aumento do conhecimento, mais que tudo, conduz à descoberta de mundos cada vez mais infinitamente maiores, ou mais pequenos, e à irremediável conclusão do, numa razão diretamente proporcional, crescer da ignorância.

 

Musil escreve esta obra entre os anos que antecedem a I Guerra Mundial e os que antecedem o final da segunda. Um devir ao longo de mais de três décadas, práticamente toda a sua vida adulta, durante as quais escreve mais livros, todos eles bem diferentes deste que quase se pode entender como um ensaio que tem por cenário a própria vida. O ambiente que envolvia aqueles tempos, tal como todos os anteriores a grandes conflitos, seus arautos, era propício ao questionar todo o tipo de valores reinantes à época. Fosse nas relações entre os países europeus, porque é exclusivamente destes que trata, ou na relação entre as pessoas que estão na base daquelas. O escritor fá-lo, literalmente, vagueando entre os pensamentos mais rigídos ou mais libertários sobre o funcionamento da sociedade e, em paralelo, aborda essas mesmas duas grandes dimensões aplicadas ao comportamento humano.

 

Se no caso do pensamento coletivo se vale sobretudo de todo o caldo de acontecimentos que estão na origem e resultam na primeira grande guerra, e que acabam por explicar boa parte da que virá a acontecer duas décadas mais tarde na segunda, já quanto às relações humanas começa por dissecar as motivações e interações entre as pessoas de um grupo que, sem errar muito, se poderá chamar de espécie de balão de ensaio do que viria a acontecer alguns meses depois, em 1914, com o início da guerra. Se alguma coisa falha naquele ensaio é a não representação no mesmo da classe mais baixa, e também muito mais numerosa, da população. Mas, em boa verdade, o que é que essa têm haver com o desencadear das guerras? Limita-se a sofrer-lhe as consequências.

 

É nas razões mais profundas, obscuras, desconhecidas ou inconfessáveis do comportamento humano, das quais resultam todas as outras tomadas em grupo, que Musil mais se detém. Para além do já mencionado grupo de ensaio, é principalmente explorando profundamente o relacionamento pouco convencional entre entre dois irmãos, um homem e uma mulher, e a vida de cada um deles em separado, que explica o desenrolar dos acontecimentos que, durante aquele período, vieram a resultar no que aconteceu na Europa. Se há algo que está sempre presente ao longo dos três volumes que compõe esta obra é o sexo, ou o poder deste, cobrindo-a assim com um manto de sensualidade que a alimenta e convida à sua leitura. Mas também os costumes, religião, loucura, área particularmente estudada, a vida militar e da alta sociedade, etc., são aqui largamente abordadas.

 

O autor mergulha de tal maneira nos seus labirínticos raciocínios, que teria sido de grande utilidade se alguém metesse ombros à ciclópica tarefa de sistematizar tudo aquilo e, se calhar, dar corpo a uma nova forma de pensar o ser humano. 


direto ao assunto:

"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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