semtelhas @ 12:58

Sex, 06/04/18

 

 

Quando há meia dúzia de anos atrás o FCP tentou fazer o mesmo que tinha feito um quarto de século antes, dar um salto qualitativo, operar uma mudança de filosofia no clube, naquela altura sacudindo a imagem de clube de provincia para a de nacional, vinte e cinco anos depois de nacional para europeu e mundial, esqueceu-se ou minimizou um aspecto fundamental, é que se, ele sim, se tinha transformado num exemplo de excelência assente em princípios de meritocracia, o país, esse, mantinha-se refém da mediocre vassalagem ao poder em todos os sectores, também, óbviamente, no futebol.

 

Abandonar a "esquizofrénica" táctica de criar, que no caso até é bem real, um inimigo para juntar as tropas, trocando-o por um suposto conjunto de novos princípios assentes básicamente na chamada qualidade, aqui consubstânciados na contratação de um treinador caro, um conjunto de jogadores igualmente de custo muito acima da média do que era habitual, e a criação de um ambicioso projecto de longo prazo para a formação, tentando, com tudo isto, mudar os pressupostos em que assentava o sucesso do clube do tal "freio nos dentes" para uma nova filosofia, como quem muda do fato-macaco para smoking, acabou por sair furada porque, digamos, o ambiente não era, não é, alguma vez o será?, favorável.

 

Aquilo que parecia vir a ser um autêntico milagre este ano está cada vez mais distante. A realidade actual nada tem a haver com a do passado recente, por muito que custe aos portistas estes últimos anos, e não vale a pena sequer voltar a referir como nem porquê, o clube que, desde sempre, é o do regime, tem vindo a capitalizar uma vantagem quase impossível de superar, afinal tem tudo, ou quase se excluirmos a ingénua(?) noção de justiça do seu lado, está a tornar-se, e se-lo-á cada vez mais, uma luta de tostões contra milhôes. Como triste "cereja em cima do bolo", acresce que aquele que é talvez o paradigma de que o FCP é muito mais que sómente um clube de futebol, o seu canal de televisão, um caso aparte no panorama global enquanto espécie de frente regional muito para além do desporto, é sustentado ,naturalmente, pelo clube e, por este andar...

 

Resta a esperança, essa sonhadora, que o Porto Canal vá criando a sua auto-subsistência, que o FCP continue a operar autênticos milagres, nem que para isso tenha que voltar ao fato-macaco dando um passo atrás e depois dois à frente, porque quanto ao país e à tal filosofia da meritocracia será melhor esperar sentado ou, como dizia o outro, isto não é economicamente viável, vamo-nos safando com uns dinheiros que chegam de fora porque, separados de Espanha, continuaremos sempre sendo o "Marrocos de Cima".


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semtelhas @ 15:45

Seg, 04/09/17

 

Sentados numa plateia nas rigorosas dimensões da exatidão do infinito estão os misteriosos senhores Tempo e Espaço, no palco, correspondente a esta casa comum que denominámos por Terra, os actores, são as pessoas, sistemáticamente substituídas, e, em fundo, um cenário que nunca muda, ou melhor, só difere em pequenos pormenores, aqueles resultantes da constante alteração da chamada ciência, um processo vulgarmente designado por evolução. Olhar para este quadro desde que tal é possível, e registá-lo, chama-se História.

 

Millôr Fernandes, o comediante brasileiro, na verdade um grande filósofo, dizia que a felicidade começa pela constatação do óbvio, eu, modéstias à parte, acrescentaria que continua com a sua aceitação, a qual, estranhamente, nunca é atingida na sua plenitude, daí a inalcançável e sempre perseguida felicidade total.

 

Vem isto a propósito dos cada vez mais cantados, em tom de desespero, tempos loucos que vivemos. Realmente se se atententar em meia dúzia de factos, dos, digamos, mais ou menos universalmente considerados como definidores  do estado da civilização, é fácil cair-se na tentação de que se está a assistir a uma espécie de fim da História, acontece pórem que se trata da simples repetição do que ciclicamente aquela nos mostra. Os Velhos do Restelo, sempre existiram, existem e existirão.

 

São, por isso, extremamente exageradas todas aquelas infindáveis manifestações a esse propósito, o assustador fim dos tempos, venham elas sob a forma de lancinantes lamentos, inteligentes avisos, ou ridículas ameaças. Acabou o desejo? agora o acto sexual é mecânico e frio?, os empregos vão acabar? o que se vai fazer a milhões de pessoas? vive-se mais tempo mas "morre-se" em vida? a arte está a morrer às mãos do pragmatismo fruto do endeusamento da vulgaridade bem promovida? Provávelmente tudo verdades, contudo falsidades enquanto anúncio manifestamente exagerado da morte da civilização.

 

Somos intrinsecamente conservadores, parece portanto, mas não é, muito mais fácil resistir, maldizer o novo que tememos porque a ele temos grandes dificuldades em nos adaptarmos, dá muito trabalho, do que não tentar contrariar, como dizia o sábio, o óbvio, até porque a sua aceitação seguramente muito contribuiria para a felicidade de quem o conseguir fazer. Transmitir aos mais novos alguns truques, no sentido mais nobre e lato do termo, que se foram aprendendo é uma coisa, outra, muito diferente, é condescender com algo que se acredita, erradamente, conduzir ao precipício. Aprenda-se então, hoje com os filhos, amanhã com os netos.

 

Voltando ao princípio, os senhores Tempo e Espaço, na sua incognoscível infinitude, ininterruptamente observando da primeira fila dessa plateia com as medidas exatas do infinito, são implacáveis no seu avanço(?), na indefinição para espaciais perguntas, mas são pródigos em exemplos ao longo da História, as pessoas mudam, mas o cenário, esse, só em pequenos detalhes, aqueles também resultantes dos ditos cataclismos globais, invariávelmente provocados pelos mesmos cientistas actores, como poderia o cenário fazê-lo? Aproveitemos pois tal dádiva! Não é óbvio?

 


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semtelhas @ 12:07

Qua, 10/05/17

 

Este jardim à beira-mar plantado está prestes a viver um autêntico Dia de Portugal e da raça, como tão bem o definem os respectivos paradigmas, mas que resolvo substituir por má lingua a qual, quase exclusivamente num execício de estilo, opto utilizar.

 

Senão vejamos, num único dia, o próximo sábado 13, e por ordem cronológica, vem cá o papa Francisco, o Benfica vai ganhar o seu primeiro tetra e, the last but not the least, pela primeira vez vamos ganhar o Festival Europeu da Canção. Se isto não merece ser elevado ao primeiro lugar do pódio dos dias maiores de uma nação então não sei o que o mereça.

 

Na verdade nunca lançar os fogos, como diz a nossa maior bandeira o ilustre CR7, fez tanto sentido. Começa desde logo pelo centenário de um dos maiores embustes da História da religião que dá pelo nome de Fátima, arrancada e ferros pela igreja católica nos idos anos vinte do século passado, tentando assim inverter a brutal tentativa do recém instaurado regime republicano atirar para o lixo da História do obscurantismo de então, e não agora?, protagonizado pela santa igreja católica. Se nos primeiros anos tal atitude fez corar de vergonha muita gente minimamente decente e com alguma honestidade intelectual, os anos e o fabuloso negócio em que aquilo se tornou, trataram de lavar a imagem da coisa de forma a que hoje haja uma espécie de acordo tácito entre o poder instituído e os donos daquele sagrado espaço, consubstanciado no princípio de que em troca do silêncio que consente dos religiosos e que rende votos, os políticos fecham os olhos aos impostos de muitos milhões por ele devidos até hoje. Quanto ao tetra do glorioso acontece num ano em que nem era preciso o célebre manto protetor tal foi o ineficácia de dragões e leões. No entanto, num misto de vale mais prevenir que remediar e a incontrolável tentação de responder ao vicío, assistiu-se na mesma à mais desavergonhada ajuda de todos os poderes ligados à bola no sentido de levar ao colo o SLB até ao título. Mais do mesmo afinal de contas, se excluirmos aí um quarto de século durante o qual os ventos da democracia favoreceram um ir ao são, com alguns exageros próprios de um abrir uma garrafa plena de pressão imposta por décadas de mordaça, concedo. Finalmente temos um Salvador, o tal rapaz, misto de hippie/beto/kamikase da ingenuidade, segundo afirma sempre que se sente seguro em qualquer lugar comprova-o fazendo cócó, entre outras preciosidades, que através de uma canção que é um somatório de clichés estilísticos resulta numa bonita melodia, isto num país que já lá levou Lusitânia Paixão ou Chamar a Música, só para ficar entre canções ditas ligeiras, que nos vai elevar ao olimpo desse tão importante evento hoje muito mais, e mais um, fastidioso espetáculo televisivo, onde as canções pouco contam, para arrebanhar as massas ululantes, entre muita maquilhagem que os e as torna mais ou menos todos iguais, um barulho infernal que os põe moucos aos trinta e tal, e continuadas agressões visuais que é suposto esmagarem as espantadas criaturas. 

 

Enfim, tudo a condizer. Valha-nos ao menos um presidente da república e um primeiro ministro que o que mais gostam é de jogar ao sério um com o outro, a ver qual deles é o primeiro a confessar que o importante é fazer de conta que está tudo bem, circunstância em que ambos têm o mestrado e doutoramento, espécimes raros por estes lados mais dados a choros e lamentações, um exercicío de confiança como agora se diz,  tão notóriamente importante nestes dias do virtual, particularmente nas finanças. Por isso vivam os três f's, Fátima futebol e fado. Quem disse que tinham acabado? Fomos é pioneiros!

 


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semtelhas @ 12:55

Qua, 09/11/16

 

São cinco da manhã, chove copiosamente, e o barulho intenso potenciado pelo silêncio da noite, só serve para me afundar ainda mais numa estranha angústia que me invade assistindo aquilo que será, porventura, o princípio do fim de um sonho lindo da humanidade, uma sociedade mais justa. Depois da "cura pela dor" que foi a segunda grande guerra e respectivas consequências, todo um conjunto de processos que pareciam, e conduziram de facto até certo momento, à mais equitativa distribuição da riqueza gerada pelos países ditos desenvolvidos, após a chegada ao poder de Reagan e Thatcher e sobretudo depois da queda das torres em Nova Iorque, a degradação desse caminho tem vindo a acelerar culminando agora na eleição de Trump. Há muito era esperada a eleição de um qualquer brilhante vendedor da "banha da cobra" num país mais importante do que onde isso se tem verificado com alguma regularidade, agora que viesse a acontecer no primeiro deles todos poucos acreditavam, especialmente depois de oito anos de Obama, uma espécie de antítese do futuro presidente. Hoje é mais fácil perceber que também a eleição daquele correspondia já a uma vontade de mudança estrutural, e como se dava o caso do homem ser negro...

 

Foram décadas desperdiçadas pela denominada esquerda, incapaz de gerar as mudanças fundamentais, aquelas que correspondem à alteração das convicções mais profundas, tarefa só alcançável via educação, uma luta contra a ignorância que só parcialmente, muito parcialmente, foi ganha. Hoje é evidente que ao mundo rural que normalmente votava na manutenção de valores pouco condizentes com um futuro mais esclarecido e paritário, se juntou uma boa parte de uma classe média em desagregação, proveniente de todo um sector industrial decadente refém do implacável avanço da tecnologia. Uma espécie de fuga para a frente que pavorosamente se espalha por todo o mundo ocidental como se tem visto e, muito provávelmente, irá ser confirmado nas eleições do próximo ano na Alemanha e em França, o que, a acontecer, não augura nada de bom para a Europa de que fazemos parte e, muito particularmente, para países totalmente dela dependentes como Portugal.

 

Há sempre a esperança do "artista" não ser tão mau quanto se fez anunciar, que os próprios pares não deixem que o seja, ou até, quem sabe?, que aconteça algum "acidente" ao "espécime", mas que os riscos são enormes já ninguém duvida e, infelizmente, para o confirmar bastará recuar na História e relembrar que tipo de promessas foram feitas, um exemplo, por Hitler quando tentou chegar ao poder, tornar a fazer a Alemanha grande, que ninguém ficaria de fora dos "amanhãs que cantavam", a identificação clara dos "maus da fita", eles contra o mundo, enfim tudo o que Trump prometeu e que o elegeu não obstante, aliás tal qual o ditador nazi, no primeiro discurso após vitória veio amenizar, porque na verdade, agora o que não lhe vai faltar é tempo para pôr em prática o que tão convictamente prometeu. Alguém dizia que a mentira perfeita é aquela proferida por quem consegue enganar-se a si próprio, e isto é verdadeiramente assustador.

 


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semtelhas @ 12:31

Qua, 24/08/16

 

Goooooloooo! O grito, rasgando o manto tépido de sereno silêncio que cobria a luminosa noite do Porto vista das mais altas escarpas de Gaia, irrompeu inesperado para os muitos que por ali deambulavam anestesiados pela perfeição da estética, mas também profundamente desejado por outros que, como eu, ansiosamente o aguardavam. Na verdade, no meu caso, tratara-se de uma fuga na tentativa de mitigar o sofrimento perdendo-me por lugares percorridos vezes sem conta, deste mas especialmente daquele lado da ponte. Demorei-me sobretudo naquele miradouro sobranceiro ao rio, dele a uma escassa dezena de metros, antes quase completamente escuro oferecendo por exclusiva companhia o suave marulhar do rio convidando às caricias que eu e a então ainda só namorada apaixonadamente trocavamos, agora um dos mais trepidantes espaços da zona, pleno de luz, um verdadeiro caleidoscópio, música e gente para todos os gostos, como que paradigma de todo o resto. Pressinto uma espécie de nostalgia recordando aqueles feios porcos e maus mas meus sítios de antigamente. Afasto o pensamento niilista quando me apercebo que do que tenho saudades é da idade que então tinha. Lá mais adiante um português baixinho e anafado, todo de preto, poupa à Elvis, enquanto a partenaire convenientemente loura e razoávelmente atraente se vai esfalfando num vaivém que se pretende sedutor mas cuja gordura excessiva vai traindo, canta numa voz surpreendentemente imaculada e num belo sotaque castelhano Volare, a eterna canção italiana. Penso, será provocação?, mas não, simples irónica coincidência.

 

Que belo momento este! Tendo por fundo esta magnifica cidade que tão maravilhosamente se vem reinventando, mostrando-se ao mundo em toda a sua plenitude histórica, mas muito especialmente enquanto espaço previligiado sob o ponto de vista humano e cultural, ouço e sinto a alegria proporcionada por um daqueles que nas últimas décadas tem sido um dos seus principais embaixadores, emprestando-lhe a, neste caso, quase contraditória faceta de excelência via enorme demonstração de profissionalismo, inquebrantável vontade, inquestionável classe. Assim se formam vencedores e se faz o futuro. Assim se cumpre o sonho de uns e se inflinge o pesadelo a outros, como àquele exministro do mais surreal governo desta nossa frágil democracia, espécie de Flopes, honra ao chefe, mas ao contrário, em vez de pateta alegre, antes triste e ressabiado. Assim de dá mais um passo na luta contra a mediocridade inevitável num país maioritáriamente movido a inveja. Aquietado, abandono o excelente miradouro sobre a cidade, um bem conseguido e altaneiro bar/café, sob o olhar descontente mas permissivo do gerente pelo não consumo, condescendências de hora tardia. Saboreio lentamente o doce apaziguamento e vivo já as batalhas que se aproximam, tão habituais que constituem um vício, vinte e uma vezes tal como só mais outros dois clubes!, do qual já não podemos prescindir. Ainda antes de me juntar à familia abandonada à sua sorte perante tão grande desafio, a moer remorsos pela falta de coragem e solidariedade, um último relance ao cenário que, mais uma vez, me embalou até a um Porto seguro.


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semtelhas @ 11:33

Seg, 11/07/16

 

Não é que já não me tenha acontecido noutras ocasiões, por alturas de festejos clubísticos, mas há sempre aqueles olhares reprovadores que acusam árbitros, porrada, sistema etcetal. Desta vez senti mesmo aquela aura de campeão a pairar ali em cima, a brilhar algures a poucos cêntímetros da minha alegre carola! A novidade é que para além de ninguém se fazer esquisito quase todos me acompanhavam ostentando a ditosa coroa. Fantástica sensação esta de pertença! Como alguém ontem dizia é como se se tenha acabado a mania do complexo de inferioridade para sempre.

 

A receita resultou de uma improvável mistura entre talento irreverente e concentrada disciplina servindo-se um magnífico prato de inteligência! E quem melhor para o fazer que um homem especialista em cálculos matemáticos profundamente crente na ressureição? Foi vê-lo durante todo o percurso sistemáticamente contido mas exibindo uma confiança sincera e irrevogável, para, finalmente, imediatamente após a certeza que estaria no jogo decisivo, soltar toda a alegria conseguindo assim passar a mensagem essencial: libertem-se rapazes, descansem que agora Ele acaba o serviço, como se adivinhasse que O dito viria disfarçado de Éder, o último dos suspeitos, de tal maneira que nem os suprassumos franciús desconfiaram! Aliás, a este respeito, devo dizer que salvaguardando uma cultura ímpar, nunca duvidei que o melhor dos franceses sempre foram as francesas...

 

Agora, até pelas incríveis circunstâncias em que o fenómeno se deu, como presidente um homem com uma "bagagem" de tal ordem que toda a menoridade, chame-se ela prepotência, vaidade ou falsa responsabilidade, soam  ridículas, passando por um primeiro-ministro cujo humanismo pragmático desarma por completo os profetas da desgraça, até uma conjuntura externa que parece caminhar apressadamente para uma espécie de "finalmentes", apetece desejar que os astros continuem a alinhar-se a favor deste pequenogrande país, porque enfim se terá percebido que a sorte ficará inevitávelmente um fato muito largo, ou apertado, caso não se adote o tal regime, o que dá muito trabalho. 


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semtelhas @ 11:41

Sex, 10/06/16

 

Dia feriado. O passadiço parece a rua Stª Catarina à hora de ponta mas, ainda assim, não são poucos os que resolvem levar os quadrúpedes a passear. A maior parte leva-os pela trela há no entanto sempre uns quantos que os deixa soltos. Desde umas centenas de metros atrás havia reparado numa mulher, aí pelos trinta, que exibia notória dificuldade e insegurança tentando segurar pela trela um bem disposto e enorme labrador de pelo quase branco. Sempre que se cruzavam com outro cão o bicho, claramente por raramente o fazer, excitava-se imenso obviamente contagiando o seu semelhante.

 

Aconteceu quando seguíamos numa daquelas partes em que o caminho de madeira se eleva  relativamente ao chão, no caso talvez metro e meio a dois metros, Na ocasião estava já bastante próximo do duo de que me vinha paulatinamente aproximando. Súbitamente, como circulava muita gente a visibilidade não era a melhor, surge um doberman, como uma seta, castanho claro, não muito grande e ainda jovem mas já com aquele porte que distingue a raça. Aparentemente nada aconteceria caso o irrequieto labrador não demonstrasse incontrolável entusiasmo e a intenção de "cumprimentar" o primo afastado. Assustado o doberman reage mordendo-o ao de leve levando a que o pobre labrador imediatamente desse um salto para trás caindo no pequeno abismo.

 

Aquilo a que se assistiu depois foi um misto de horror e incredulidade, ainda por cima naquele cenário de pacífica fruição das maravilhas de uma natureza que convidava, quase obrigava, todos os sentidos a viverem a beleza das cores, a magnitude das fragâncias libertadas pelas plantas recentemente molhadas, o calmante rumorejar do mar sereno, a ternura da brisa morna na pele. Aflita, a mulher tentou puxar o cão que se debatia frenéticamente pendurado pela trela presa debaixo das patas da frente. Arrastada face à evidente impossibilidade de içar um peso de mais de trinta quilos altamente potenciados pelo movimento intenso, num movimento cuja rapidez e engenho só o instinto permitem, consegue passar o resistente artefacto por cima das cordas que unem os troncos a delimitar o passadiço, ganhando assim cerca de um metro. Tudo isto acontece em escassos segundos enquanto os transeuntes ou se afastam rápidamente ou pura e simplesmente paralisam face à ameaça do doberman que, entretanto, como que esperando o reaparecimento do labrador para o respectivo ajuste de contas, distribuía ferozes latidos impedindo a aproximação de fosse quem fosse, nem daquele que parecia tratar-se do dono a multiplicar-se em ridículas supostas ordens infalíveis, uma espécie de linguagem de código que o bicho nem ouvia.

 

Foram dois ou três minutos naquilo até que, completamente descontrolada, a mulher, tinha amarrado fortemente a trela ao pulso direito, gira sobre si própria a uma velocidade incrível, talvez na tentativa de ganhar impulso e trazer o animal até à plataforma de madeira, mas este, vendo o que o esperava finca as patas por baixo daquela levando a que a dona, num inacreditável exercício de contorcionismo, acabe por ficar ela própria com o pescoço entre a grossa corda e a larga e resistente tira de cabedal. Só nesse momento o dono do doberman resolve aplicar-lhe um furioso pontapé, penso que lhe acertou meio na cabeça meio no pescoço, levando a que este, depois de cair, se afastasse cambaleante.

 

Para além de uma inesperada atitude de quase absoluta calma provocada pela exaustão extrema, o labrador parecia estar bem tranquilamente refastelado observando a dona a um metro a chorar convulsivamente. Não sei se só pelo efeito da descarga nervosa, afastei-me de imediato da multidão que crescia e se acotevelava em tão pouco espaço, mas acredito que com algumas lesões e seguramente muitas nódoas negras mas, apesar de tudo, com alguma sorte. O enorme vermelhão na parte lateral do pescoço, e a incapacidade de mexer o braço direito que repetia entre esgares de dor, não anunciavam nada de bom, mas podia ter sido bem pior.

 

 


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semtelhas @ 12:02

Sex, 22/01/16

 

Tendo acabado de assistir a "O Renascido", ainda cheio de sede de vingança e com as mandíbulas ensanguentadas a clamar por carne, optei por um restaurante de grelhados. Nunca lá tinha ido e aquela hora, meio da tarde, é pouco frequentado pelo que para além do patrão que simpáticamente nos serviu e da patroa que por detrás do balcão nos ía lançando uns sorrisos comerciais, andava a deslizar ali pelo meio das mesas a empregada da limpeza agarrada a uma esfregona a qual fazia passear indolentemente, mas com eficácia, pelo piso negro de um material que não consegui identificar. Mulher talvez pelos quarenta, baixinha, cabelo preso e com um rosto indistinto fazia-se notar por um olhar fugídio, para além de um relance que me lançou exatamente antes do momento em que desapareceu dali nunca a encarei nos olhos, possuidora de uma visão lateral de pedir meças ao Messi, eram sobretudo as enormes protuberâncias que se lhe elevavam orgulhosamente do peito que chamavam a atenção. Usava uma camisola branca em algodão PGM, fina e transparente, que deixava ver o sutiã preto, daqueles que são uma espécie de quarto de bola e fazem jus ao nome, sustentam por baixo e imagino sejam feitos de poderosa fibra de carbono tal o peso que suportam, deixando à solta todo o resto que goza alegre e saltitante daquela liberdade controlada. Primeiro o filme, das mais paradigmáticas demonstrações do que pode ser o cinema em toda a sua força e espetacularidade, exceto naquilo que talvez mais conte numa autêntica obra de arte, transmitir uma qualquer espécie de esperança no futuro por via de um exercicío de beleza, mesmo se recorrendo à mais atroz das violências como é o caso, o que manifestamente não consegue. Depois aquele restaurante vazio mas pleno de interesse face à postura, digamos, comercial, dos três personagens, particularmente da inusitada empregada, que me fez lembrar o trocadilho entre "butterface" e "but her face!", utilizada para nomear mulheres feias mas apetitosas, neste caso o mais adequado seria "mas aquelas prateleiras!", levaram-me a recuar trinta anos e a outros restaurantes mas na terra do Tio Sam.

 

Na verdade desde que deixámos para trás o Canadá, frio e cinzento por fora, demasiado quente e iluminado por dentro, insonso e triste em qualquer dos casos, pelo menos naquele remoto mês de Maio ainda bem nevoso por aqueles lados o que nos obrigou a fazer, literalmente, quilómetros, em verdadeiras cidades subterrâneas, e entrámos nos EUA, sempre dentro de um jipe percorrendo desde as montanhas Cherokee bem a norte até ao sulista Alabama, cruzando vários estados e cidades como Nashville, Charlotte, ou Atlanta de onde seguimos de avião para Nova Iorque, isto é desde o interior à mais palpitante das cidades, parecia estarmos permanentemente na presença de um qualquer eficiente e simpático vendedor. Fosse o índio da reserva junto ao qual nos fizémos fotografar, o patrão e as empregadas da várias fábricas textil que visitámos, os ascensoristas dos hoteis, enfim fosse quem fosse que nos atendesse em todo o lado, não havia ninguém que não estivesse a vender alguma coisa. Um imenso e eficiente departamento comercial.

Por estes dias em que paira no ar como que uma dúvida global, o que realmente importa? O pragmatismo do negócio e da feroz concorrência que prometem o sacrossanto crescimento, ou a dita utópica opção por uma espécie de meio caminho entre isso e o respeito pela dignidade humana, seja lá isso o que fôr em função das latitudes de que se fale? Apetece-me pensar que apesar da inegável excelência de uma obra notável como é "O Renascido", seguramente, nestes próximos tempos, um potente arauto da força dos EUA e, acima de tudo, fonte de imensamente lucrativo negócio mas considerávelmente vazio de uma mensagem da esperança pela qual todos gritámos, escolho o outro escaparate, as "prateleiras" de todas as anónimas e simples empregadas que por esse mundo fora representam com simplicidade aquilo que realmente interessa, a ingénua(?) e saudável humanidade.


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semtelhas @ 14:27

Dom, 09/08/15

 

 


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semtelhas @ 13:12

Qui, 06/08/15

 

 


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semtelhas @ 15:55

Seg, 03/08/15

 

 


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semtelhas @ 14:41

Sex, 31/07/15

 

Numa análise forçosamente simplista digamos que o eleitorado maioritário de um país sofrerá de uma evolução de o levará de um estado de quase completa crença dos salvadores fruto de muita ignorância, passando para um outro intermédio onde começam a aparecer franjas crescentemente importantes a pôr em dúvida as ideias que lhe são vendidas sob forma de promessas, a finalmente uma situação na qual a maioria pura e simplesmente deixa de acreditar no discurso político não obstante também este ter vindo a refinar-se na arte de mentir ao longo do processo bem como, deve-se reconhecê-lo, ele próprio benefeciar de um incremento na procura do intelectualmente honesto. A esta última fase corresponde, como é óbvio, a circunstância de um forte aumento na abstenção.

 

Este fenómeno é fácilmente verificável nas suas várias vertentes se se pensar nas práticas em países do terceiro mundo, no nosso, de alguns dos nossos vizinhos mais desenvolvidos, e até, já nos antípodas da ignorância, nas sociedades mais esclarecidas, onde se verifica um retorno ao ato cívico do voto por se reconhecer que quem vai governar o fará de forma digna e correta, como acontece em alguns dos países nórdicos.

 

Por cá, às portas de eleições, é confrangedor verificar que ao fim de mais de quarenta anos de liberdade objetiva, se continua a assistir a um discurso partidário, incluindo aqui quem está no poder, que sufoca pela incredulidade de como é possível os que mandam e os que querem vir a mandar, continuarem a desconsiderar tão descaradamente a massa votante. Logo à partida aquele que deveria estar acima de qualquer suspeita dá o mote não demonstrando imparcialidade, o que podendo parecer normal é muito importante porque se perde uma referência que se não objetiva, pelo menos psicológicamente tem a vantagem de passar a sensação de que, nem que seja no limite, a justiça existe. Depois os tristissímos e sempre repetidos exemplos de uma parte afirmar uma coisa, e a outra o seu rigoroso contrário,  o que conduz à inevitável descredibilização. É realmente incrível que precisamente quando deveria imperar o bom senso do equilíbrio, no justo e sincero apresentar de propostas ao eleitorado, é quando se assiste à maior radicalização, para depois no exercicío da governação, durante a qual efetivamente se deveria gerir com determinação ao aplicar o proposto, se entra numa espécie de águas turvas para que possa imperar a mediocridade.

 

Claro que sempre se poderá dizer que é dessa dialética que o povo, sistemáticamente dito sábio..., vai tirar as suas supostas justas conclusões, de forma que dessa fervente caldeirada sempre emergirá a lula certa. Simplesmente para isso era preciso que o tão maltratado eleitorado tivesse a preparação necessária, que manifestamente não tem. Quando como ainda ontem se assiste ao governo falar em 12% de taxa de desemprego e o PS em 25%, o que acontece é uma de duas coisas, ou, como acredito desgraçadamente se passa,  grande parte das pessoas vão votar com espírito bairrista ou, ainda pior, clubísta, não tendo em mente um qualquer projeto de vida, ou então restam as minorias, umas menos minorias que as outras como é o caso dos que nem põe os pés nas assembleias de voto, e os que, entre os quais tristemente me incluo, optam por comparecer por uma razão algures entre uma sensação do cumprimento da obrigação de dever cívico, não se criar o perigoso vazio de poder, e a miserável escolha do mal menor.


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semtelhas @ 13:59

Seg, 27/07/15

 

- Passos: se quem pede empréstimo diz que não resulta, o melhor é não perdermos dinheiro - Referindo-se à Grécia... O mais rafeiro dos merceeiros não diria mais!

 

- E remeteu decisão portuguesa sobre restruturaçãode divida grega para póseleições - Estará convencido que Portugal vai pagar? Nem o mais refinado Pilatos faria melhor!

 

- Rui Rio diz que preferia que não houvessem mais candidatos de direita, e ter o apoio do PSD - E, já agora, não seria melhor não haverem também de esquerda?

 

- Alemanha já vem buscar médicos à saída das universidades portuguesas - Entregam a sua saúde na mão de incompetentes preguiçosos? Pois...

 

- Ricardo Salgado em prisão domiciliária - Parece impossível! Tanto tempo para arrumar as coisinhas e deixa-se apanhar? É bem feito!

 

- Juiz manda tirar pulseira eletrónica a Joaquim Barroca - Um dia antes de prender Salgado em casa...ainda lá dentro porque o quis, Sócrates já faz miséria!

 

- Costa pede para que se deixe Cavaco acabar mandato com dignidade - Seria preciso que o ilustre não a confundisse com presunção e humildade com subserviência.

 

- Governo promete possibilidade de devolução de Imposto de Solidariedade - Segundo parece acham o burro tão asno que seguirá a miragem de uma cenoura raquítica!

 

- FMI ou Berlim, alguém vai ter que ceder - Para bem dos gregos Obama vai obrigar Merkel a aceitar primeiro perdão de divida. Quem se seguirá?

 

- RTP gasta 2.3 milhões em limpezas - Não é que a casa não seja especialista em limpezas...de pessoal. Pelo visto muito mais baratas...

 

- Descoberto a 1400 anosluz um planeta semelhante à Terra - Sabendo-se que a um corresponde viajar a 300000km/s, ainda vai demorar um bocado a confirmar a coisa...

 

- Ministério Público coloca policia 24 horas por dia à porta de Ricardo Salgado - Não ficava mais barato uma pulseirinha? Pois é, há dignidades mais dignas que outras...

 

- Pedro Proença candidato à Liga de Clubes - Um ex, e que árbitro! A isto chama-se tentar minar o sistema por dentro. Se ganhar vai perder muitos amigos...

 

 

 


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semtelhas @ 16:53

Dom, 26/07/15

 

 


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semtelhas @ 12:46

Sab, 25/07/15

 

O somatório de inteligência, pragmatismo e sorte costuma resultar em sucesso. Em quê? A questão é como interpretar esta palavra com tanto de gasta quanto de dúbio em significado.

 

Segundo o filme Mr. Holmes, parece que o infalível Sherlock pouco poderia considerar-se feliz com o seu sucesso após a resolução do seu último caso. Não é que não o tenha efetivamente resolvido, simplesmente os resultados que daí advieram foram tão devastadores para si próprio que resolveu, tanto quanto parece bastante prematuramente, afastar-se definitivamente das pessoas refugiando-se numa longínqua isolada casa de campo.

 

Terá concluído que fazia mais mal que bem às pessoas. Quando, pela primeira vez e já em idade relativamente avançada, finalmente percebeu como o seu frio e inteligente pragmatismo tinha um elevado custo, não só para ele, algo que vinha constatando haviam longos anos de uma solidão cada vez mais dificíl de suportar, na qual agora acresciam as dificuldades próprias que chegam com o avançar da idade, mas também e sobretudo para os outros.

 

Trata-se de uma excelente reflexão sobre o brilho de um suposto sucesso baseado exclusivamente em pressupostos mensuráveis, objetivamente prováveis, isentos portanto de quase ou mesmo toda a emoção, até pela enorme atualidade do tema neste tempo de tecnocracia, materialismo e domínio das aparências. Mas o filme, dada a sua qualidade intríseca a todos os níveis, vai mais longe, obriga a uma autoanálise, a questionar o caminho em função de uma fragilidade que por todos espera. Afinal o que é ser inteligente e bem sucedido?

 

 


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"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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