semtelhas @ 12:46

Sab, 25/07/15

 

O somatório de inteligência, pragmatismo e sorte costuma resultar em sucesso. Em quê? A questão é como interpretar esta palavra com tanto de gasta quanto de dúbio em significado.

 

Segundo o filme Mr. Holmes, parece que o infalível Sherlock pouco poderia considerar-se feliz com o seu sucesso após a resolução do seu último caso. Não é que não o tenha efetivamente resolvido, simplesmente os resultados que daí advieram foram tão devastadores para si próprio que resolveu, tanto quanto parece bastante prematuramente, afastar-se definitivamente das pessoas refugiando-se numa longínqua isolada casa de campo.

 

Terá concluído que fazia mais mal que bem às pessoas. Quando, pela primeira vez e já em idade relativamente avançada, finalmente percebeu como o seu frio e inteligente pragmatismo tinha um elevado custo, não só para ele, algo que vinha constatando haviam longos anos de uma solidão cada vez mais dificíl de suportar, na qual agora acresciam as dificuldades próprias que chegam com o avançar da idade, mas também e sobretudo para os outros.

 

Trata-se de uma excelente reflexão sobre o brilho de um suposto sucesso baseado exclusivamente em pressupostos mensuráveis, objetivamente prováveis, isentos portanto de quase ou mesmo toda a emoção, até pela enorme atualidade do tema neste tempo de tecnocracia, materialismo e domínio das aparências. Mas o filme, dada a sua qualidade intríseca a todos os níveis, vai mais longe, obriga a uma autoanálise, a questionar o caminho em função de uma fragilidade que por todos espera. Afinal o que é ser inteligente e bem sucedido?

 

 


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semtelhas @ 11:49

Sex, 19/06/15

 

O exército dos que vegetam ao longo dos dias, dos que passam completamente ao lado da vida, algo mais que a simples existência consubstânciada pela chamada dignidade, resume-se a uns quantos milhares em cada uma das grandes urbes por esse mundo fora, paradigmas da sociedade atual, mas não pára de aumentar, e a transferência proveniente da dita classe média engorda-o a um ritmo assustador. Quando se olha com alguma atenção para o que se está a passar só se pode ficar apreensivo, com esta aparentemente insuperável tendência para as pessoas serem cada vez mais uma espécie de material excessivo, qualquer coisa que sobra mais e mais face ao galopante avanço da tecnologia na suas variadas vertentes.

 

Constituído por pessoas caídas na indigência pelas razões mais comuns, mas também por muitas outras por motivos há bem pouco tempo completamente insuspeitos, movimentam-se erráticamente na luta pela sobrevivência como se animais irracionais se tratassem, mas não são, e aí reside toda a diferença. É na constatação desse facto, uma espécie de queda na capacidade de raciocinar, que mora toda a tragédia da situação, porque nesses momentos são despoletados os mais profundos sentimentos de revolta, a questão, ou uma delas, passa pela maneira como se manifestam, e isso depende, naturalmente do meio em que se está inserido e das circunstâncias individuais e coletivas do fenómeno, qual o seu estado de desenvolvimento, qual o nível de infestação desta epidemia dos nossos dias.

 

O filme "Cães Errantes" trata o tema magistralmente. Prescindindo em absoluto do lado recreativo do sétima arte, como poderia fazê-lo quando é precisamente também para desvendar o embuste que representa a utilização daquela com fins inconfessáveis, onde alinha obedientemente ao lado de tudo o resto, aquelas cerca de duas horas são muito mais um ensaio sobre a nova pobreza que outra coisa qualquer. Tema desde sempre abordado, como esquecer o tratamento cinematográfico notável dado à "porca miséria" pelo italianos, e muito mais recentemente toda uma série de filmes sobretudo europeus mas também norte americanos indpendentes sobre a matéria? Mas talvez nunca com tanta pungência como nesta fita. De uma crueza levada ao extremo convoca o espetador para uma realidade a que tudo o que o rodeia, literalmente, o convida a fugir, mas o desafio é exatamente esse, puxar-nos para baixo, ser uma coisa não uma pessoa para ganhar o pão, engoli-lo sôfregamente, sentir o frio a chuva, a precaridade suja, a responsabilidade da proteção impossível, a queda no desespero perante o cansaço inevitável face a um mundo aparentemente brilhante que acontece ali mesmo ao lado e de que já se fez parte, e finalmente, o pior de tudo, a impossibilidade do amor, noção tão desgraçadamente depurada que só deixa sobrar o afeto e, mesmo esse, objeto da inveja dos que ainda navegam à superficíe, mas já na linha de água.

 

Todo o filme é construído com um realismo que roça a crueldade, o espetador tem que se obrigar a assistir aquilo, condição indispensável para se passar para o lado de lá, de facto. Algumas cenas só dão duas escolhas, ou pura e simplesmente a rejeição, o que muitas pessoas fazem, ou a resistência que acaba, quase hipnoticamente, por nos transportar para o lado daqueles incríveis atores, porque na verdade as circunstâncias a que o realizador nos submete não deixam outra saída, como que com eles solidários, finalmente compreendendo a mensagem, incorporando-a. É daqueles filmes que mudam o olhar sobre o que nos rodeia, não cobrindo-a com uma névoa supostamente protetora, mas antes descodificando uma realidade incontornável à qual não adianta tentar escapar, sob pena do sofrimento vir a ser muito maior. É que ver é sempre muito melhor que simplesmente olhar.

 

 


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semtelhas @ 12:07

Sex, 29/05/15

 

A determinada altura do filme "Timbuktu" um jihadista utiliza esta expressão para se definir a ele e aos seus pares, e dificílmente poderia ser mais eloquente. De facto, quando diáriamente assistimos a mais e mais notícias daquilo que o dito Estado Islâmico vai fazendo após as sangrentas conquistas de territórios na Síria ou no Iraque, percebe-se que os protagonistas de tão desalmada violência pouco ou nenhum amor têm à vida, pelo contrário são movidos por sentimentos intrínsecamente negativos que conduzem áquela brutal e desenfreada destruição. Inversamente do que pretendem fazer crer não é religião que os motiva, mas sim a frustração, a inveja, e profundo desejo de vingança, e um dos aspetos mais graves desta insanidade é que estão a capitalizar o descontentamento dos mais frágeis e desprotegidos do mundo que pretendem destruir, bem como dos incautos idealistas, são já aos milhares os seus jovens que sucumbem ao ciciar desta venenosa serpente. Seria simplista e sobretudo uma grande injustiça deixar fora desta equação as razões históricas mais próximas para este flagelo, as invasões do Iraque pelos EUA. Não é que o mundo ocidental, nomeadamente através do seu mais competente "polícia" não se deva defender, e desde logo no terreno de adversário, da ameaça de loucos como Saddam Hussein, a questão parece ser como, pelo menos a atentar nos resultados desastrosos que atualmente se podem verificar.

 

Como a autêntica fábula que é este maravilhoso filme, em todos sentidos da palavra muito em especial nas belissímas imagens que proporciona, quer das paisagens quer das pessoas, tão bem demonstra, ser religioso é uma coisa bem diferente do que fazem aqueles loucos, é uma força interior que, tal como eles não temendo a morte, consubstancía essa atitude seguindo um caminho completamente diferente, recorrendo às habituais manifestações humanas de harmonia e partilha, como a música, o desporto, a normal fruição da vida onde sempre está presente uma certa sedução, mesmo nos atos mais simples como vender num mercado. Não é por isso por acaso que é precisamente  tentando matar este conceito de felicidade, de a procurar,  obrigando a tapar e esconder, semeando o medo, amarfanhado esta vivência, que os terroristas num frio desespero de quem se sabe derrotado pelo impossibilidade de o lograr, fazem a razão da sua existência, no fundo uma espécie de elevar à potência máxima os objetivos de todos os frustrados desta vida. A verdadeira força está do lado da maioria dos comuns muçulmanos que simplesmente pretendem viver em paz, tendo como sua aliada a natureza que aqui parece gritar, pelo seu exemplo de beleza e harmonia, um apelo à tranquilidade. Curiosa a utilização de algumas vertentes da tecnologia de ponta ocidental, particularmente os telemóveis aparentemente de última geração, como que instrumentos do mal, sentidos como tal pelo anacronismo que representam naquelas circunstâncias. A ter a promoção que realmente merece, poucos meios serão mais eficazes que este filme para minimizar a tentação potencialmente perigosa de acreditar num mundo de bons de um lado e maus do outro, isto está cada vez mais pequeno, estamos "condenados" a entendermo-nos.

 

 


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semtelhas @ 12:06

Sex, 15/05/15

 

A força do amor, do medo, da coragem, do instinto, da retórica, da razão, da vergonha própria e alheia, da maternidade, da redenção, do políticamente correto. O que tem mais força?

 

Questão transversal a todos e nunca por alguém cabalmente respondida, talvez encontre as suas facetas mais extremas naqueles lugares que por via de uma natureza dominante de características limite, fazem as pessoas também elas excessivas, como em zonas particularmente quentes ou frias. Roberto Bolaño demonstra-o com toda a crueza em "2666", num México inclemente para com os mais fracos, tal como Ingmar Bergman ou Michael Haneke nas suas obras cinematográficas, onde sobressai a frieza letal de uma linguagem assassina que tantas vezes dispensa as palavras. Lembro-me por exemplo de um filme do primeiro, "O Ovo da Serpente", uma versão para o nascimento, ou talvez melhor, para o refinamento do nazismo, ele próprio uma derivação do fascismo original do inicío do século XX, algo igualmente magistralmente mostrado na fantástica obra de Bernardo Bertolucci, "1900". Nesse filme fortissímo de Bergman, uma das cenas mais pungentes mostra a reação de uma mãe fechada num quarto com o seu bébe durante dois ou três dias. No fim do primeiro, quando a fome começa a surgir e a criança chora, a mãe embala-o docemente e segreda-lhe palavras de consolo ao ouvido, durante o segundo, através de uma câmara de filmar estratégicamente colocada, vemos a mãe desesperada encolhida num canto, cabeça entre as mãos apertada entre os joelhos, e no canto mais afastado, o bébe pousado no chão a gritar desesperadamente. Foram precisas pouca horas mais para que a mulher, à beira da loucura porque incapaz de continuar a escutar o filho, matasse a criança batendo-lhe com a cabeça nas paredes. Com estas experiências diabólicas era suposto os nazis testarem os limites do ser humano.

 

"Força Maior" situa-se na área das "friezas" nórdicas, gentes e lugares, é um filme ele próprio pleno de força, agarra do princípio ao fim e atinge-nos naquilo que de mais frágil temos e comum com todos os outros, as nossas dúvidas. Por isso mesmo quase podia considerar-se uma espécie de ensaio, não fosse a enorme beleza das suas imagens da natureza, até alguma benevolência e um certo rebuscamento no argumento, principalmente no último terço da fita, eventualmente um "piscar o olho" à audiência, mas ainda assim perfeitamente aceitável e sobretudo legítima, afinal aquilo custa dinheiro que é preciso recuperar. Tal como os avalanches de neve que tão bem retrata, também ele é um forte abalo, mesmo para aqueles de convicções fortes.

 

 


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semtelhas @ 14:07

Sex, 01/05/15

 

Lembro-me de quando era adolescente achar que tinha um certo jeito para pôr os discos certos, dar uma sequência que me parecia adequada de forma a manter, na maior parte dos casos só para mim próprio, um certo entusiasmo com a música que ouvia, opinião em que obviamente era mais um entre tantos, apesar de ter chegado a utilizar dois aparelhos em simultâneo. Por esses dias, finais dos anos sessenta princípios dos setenta, julgo que a figura do DJ ainda não era conhecida tal qual a reconhecemos hoje, uma espécie de mago com a arte e engenho suficientes para, na esmagadora maioria das vezes com a música de outros, manter os níveis de interesse no que se está ouvir e dançar suficientemente altos, não raras vezes levando mesmo quase ao delírio as pequenas multidões. Hoje recorrendo à mais recente tecnologia, sofisticadas aparelhagens, é possível fazer perdurar a excitação ao longo de imenso tempo, basta para isso que sempre que uma música entra naquela fase menos ativa fazer disparar uma outra. O segredo está em fazer soar permanentemente um ritmo forte e bem definido, porque tal como os nossos mais ancestrais ascendentes também nós não resistimos a esse apelo primordial que, segundo se pensa, um dia um homem descobriu no interior do seu peito. Quem não conhece as célebres danças rituais dos povos primitivos ao som do tambor? Ou a utilização deste mesmo instrumento como das primeiras formas de comunicação à distância?

 

Não é por isso de estranhar este retorno às origens consubstânciado nomeadamente pela música House nas suas diversas variantes, bem como tudo o que arrasta atrás, tal como dantes autênticas tribos ululantes por essas superdiscotecas mundo fora. É sabido que, como atualmente, também outrora nessas ocasiões de celebração, eram usadas as mais variadas substâncias afim de potenciar a efeito pretensamente mágico do momento, chegando a atingir-se verdadeiros climax's coletivos, provávelmente a diferença esteja na pureza dessas substâncias, na frequência com que esses atos eram praticados, só em dias de festa, ou então, tal como hoje, boa parte daquela gente acabava por pagar caro os excessos cometidos. Para além disso também aqui se assiste à mistura de certos lobos disfarçados com a pele dos carneiros que são o resto do rebanho no seu meio, com tudo o que tal pode significar. A figura do DJ é central no fenómeno, e dado que dele fazem vida, um permanente estado festivo, é suposto viverem numa espécie de Éden. É exatamente essa ideia que o filme com esse mesmo título, Éden, pretende desmontar, e fá-lo com tal eficácia que quase torna irresístivel a quem a ele assiste a vontade de alinhar, e deixar-se perder, naqueles ritmos com tanto de repetitivos quanto de alucinantes, um convite à fuga que pode tornar o retorno bem doloroso!

 

 

 


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semtelhas @ 12:53

Sex, 24/04/15

 

É recorrente a ideia da possibilidade de que, sem que a imensa maioria das pessoas tenha disso conhecimento, seres de outros planetas já circulem entre nós há muito tempo, sendo que se quase todos vêem nisso uma ameaça à humanidade outros existem que daí só extraem perguntas. Subjacente a esta reflexão está sempre a imparável evolução dos computadores, venha ela de onde vier, e o resultante domínio destes sobre os homens.

 

É neste contexto que filmes como "Ex Machina" se movem, sendo que neste caso em particular não é preciso sequer tirar os pés da Terra para refletir sobre, e questionar, uma série de coisas. 

 

Onde conduzirá esta desalmada corrida à alta tecnologia para além de proporcionar um crescente conforto? É sabido que cada vez é menos necessário sair de casa para obter tudo o que é indispensável à sobrevivência. E o que dizer sobre o papel das redes sociais, que crescentemente substituem o contacto fisíco por uma espécie de afeto plastificado? O que pensamos todos ao ver um número cada vez maior de gente que, por esse mundo fora, usa máscaras quando sai à rua para se proteger das múltiplas doenças que por aí vagueiam à solta depois da derrota dos antibióticos?

 

Aparentemente a solidão é o futuro e, com ela, chegarão toda uma série de novos problemas, especialmente a total ausência do imprecindível verdadeiro afeto, aos quais nem os "melhores" de nós escaparão. O domínio global estará nas mãos de quem melhor saiba gerir a informação, e esta será consubstânciada, em última análise, através da Inteligência Artificial. O que nos dá este filme é uma perspetiva, mais ou menos assustadora, do momento em que as máquinas herdarão dos homens não o seu melhor mas o seu pior, o instinto de sobrevivência, ou talvez mais adequadamente para máquinas, de preservação. Nesse abismo de procura da perfeição estética dotada de consciência, perder-se-á pelo caminho qualquer resquício de sentimento autêntico, sobrando exclusivamente o interesse em permanecer existindo, ou ,se se quiser, uma má consciência.

 

Serve este magnífico exercício sobretudo como metáfora sobre os dias que correm porque não é difícil aí aplicá-lo, tirando os aspetos mais ficcionados, quase literalmente. É que esses lunáticos, espécie de génios do mal, já andam por aí, e, o pior, é que estão disfarçados de salvadores, merecem de quase todos a maior das admirações, ganham milhões e, por isso, o seu poder aumenta exponencialmente.

 

 


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semtelhas @ 11:58

Sex, 10/04/15

 

Excluindo aquelas situações em que até o apelo ao sentimento materno é ultrapassado, quando todos somos bichos, uma das magnas questões com as quais os homens sempre se confrontaram é quando em circunstâncias limite, perante escolhas "impossíveis", opta pelo amor, pela fidelidade, ou pela honra tal qual ela é entendida por cada um. Mais do que uma história bem contada, eficiente e eficaz em todos os sentidos, nomeadamente o comercial, particularmente bem embalada por uma bela banda sonora, é na resposta a esta pergunta que reside a alma do filme "Suite Francesa".

 

1940, uma cidade nos arredores de Paris, o amor proibido entre uma francesa e um tenente alemão. Quantas vezes? Quantas pessoas? Terão enfrentado este mesmo dilema vivendo dentro de tão cruel cenário? E neste preciso momento, aqui e agora, por esse mundo fora, não serão inumeras as pessoas que sofrem da mesma dúvida? Alguém disse que o homem é a sua circunstância, provávelmente esta afirmação encerra em si mesma uma espécie de solução. No fim talvez tudo não passe de uma questão de honestidade de cada um para consigo próprio, porventura o truque estará em conseguir sabermos colocar-nos a pergunta, e conseguir responder-lhe obtendo a sincera sensação de assim melhor ter respondido ao mais profundo desejo da alma, e acreditar que a este corresponde o que é mais justo.

 

 

 

 


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semtelhas @ 12:01

Sex, 20/03/15

 

Ela diz para ele, "sabias que se estiveres fechado com o teu gato e morreres ele ao fim de três dias come-te a cara?" Pretendia com isto reforçar a ausência de sentimentos do bicho que ela própria tentava exercitar, a par com toda uma infindável panóplia de treinos durissímos, em nome de um fim que se aproxima.

 

O fim dos tempos, ou da História, é um tema recorrente e atualmente muito em voga. Quantos de nós se interrogam onde isto vai parar? Num mundo alegadamente orfão de ingenuidade e valores, onde parece valer tudo para ter pouco importando o ser, parece assistir-se a uma espécie de fuga em frente perante um generalizado medo latente, nascido sobretudo na dúvida de como sair deste labirinto aparentemente fatal.

 

Acontece porém que esta é uma pergunta que se repete desde os primórdios da humanidade, o que mudam são, digamos assim, os monstros, os motivos que irão levar ao tal decisivo desabar. Contudo os homens foram sempre capazes de dar a volta e cá estamos nós a comprová-lo. É certo que necessitando de brutais purgas, consubstânciadas em epidemias ou guerras que renovam consciências e matam milhões obrigando a novos recomeços, mas sempre a elas sobrevivendo.

 

É sobre esta matéria o filme "Os Combatentes", mais sobre a terapia que o diagnóstico, o que não deixa de ser, logo à partida, uma novidade a saudar. Voltando ao gato, o mais importante é a nossa relação com ele enquanto vivos, e aí, mais que qualquer intensa preparação para o desastre que se adivinha, interessa é gerir esse tempo com sensibilidade e bom senso. São os que inteligentemente tranquilos e efetivamente informados se preparam para a tempestade, a que se seguirá a renovadora bonança, que sobrevivem, tudo o resto não passa de desesperadas demonstrações de impotência e medo perante o futuro.

 

 


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semtelhas @ 14:28

Sex, 13/03/15

 

Nada como ter que enfrentar circunstâncias difíceis, muito difíceis, num ambiente extremamente adverso para perceber a verdadeira natureza das pessoas. O cenário são os EUA naquela fase em que os largos milhares que entravam principalmente por Nova Iorque, na sua maioria uma pequena parte, os que sobraram da enorme mortandade, dos muitos mais que meses antes haviam empreendido desde a longínqua Europa a demorada e tortuosa travessia do Atlântico. Mais concretamente os que tinham a coragem de viajar para o oeste, "os territórios" como então eram conhecidos, uma espécie de nova "terra prometida", infelizmente para muitos deles terrívelmente longe, pelo menos aquela que realmente valia a pena, a Califórnia, com as suas imensas planícies verdes de terreno próspero. É que para chegarem a esse paraíso tinham que atravessar o inferno dos estados desérticos do meio, verdadeira prova de fogo e formidável tarimba para os que o logravam conseguir. É precisamente aí, nesse inferno feito de planicíes áridas a perder de vista, onde manda o permanente vento e as respetivas imensas nuvens de pó, que se confere do que as pessoas são feitas. Pequenos aglomerados de casas com uma estrada de terra a atravessá-las, no meio de quilómetros e quilómetros de terra seca à qual aqueles ingénuos heróis utópicos sacam, à base de sangue suor e lágrimas, a escassez de uma sobrevivência surreal. Em tais situações limites a existência só é possível ou recorrendo à religião perto da cegueira, ou à mais absoluta maldade, não há estado intermédio. Uma permanente luta entre o bem e o mal.

 

"The Homesman" é o filme que retrata tudo isto admirávelmente. Não só pela crueza com que o faz, na autenticidade, na linguagem, no guardaroupa, nas interpretações, mas talvez sobretudo pela forma excecional como é filmado. Os enquadramentos são fabulosos, a fotografia maravilhosa, os tempos, a maneira como os sentimos a decorrer é fantástica, e depois claro, a magnífica história que suporta a intemporal História de fundo. Uma filme de cowboys e índios do oeste, com cidades de madeira, perigosos saloons, hóteis artificiosamente sofisticados, cavalos e tiros, mas como se estivéssemos a ver o outro lado disto tudo, o lado "a sério", e o que se perde em glamour ganha-se em autenticidade. No fim fica a sensação de, aquilo sim, ser um western autêntico, até pela dúvida que nos deixa a roer os pensamentos, afinal quem ganham, os bons ou os maus? Que lado escolher? Sensacional obra de mestre.

 

 


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semtelhas @ 12:40

Sex, 27/02/15

 

Doc vive nos alucinados anos sessenta nos EUA, e é uma espécie de mistura certa entre alma boa e iluminada, também ele completamente mergulhado no mundo de drogas mais ou menos psicadélicas que naquele tempo eram o "pão nosso de cada dia". Detetive privado exerce um enorme fascínio sobre todos os que o rodeiam graças à sua bondade intríseca e rara, então como agora e sempre, diferença substâncial para todos os outros no mundo onde se movimenta, desde logo porque nada ingénuo, enquanto aqueles, se não eivados de uma certa ingenuidade quando comparados com os similares personagens de hoje, eram seguramente  igualmente maus, produzidos, ricos e poderosos, bem como de toda a fauna que costuma andar em volta destes predadores, desde polícias, prostitutas e bandidos de todo género. Uma ave rara.

 

Agora imagine-se que tudo isto é relatado sob o ponto de vista da musa do heroi da história, a maior entre toda uma série delas que "lhe vão comer à mão", como toda a gente aliás. Então o que resulta é uma série de diálogos onde o fantástico, o brilhantismo, o génio, andam por ali à solta do princípio ao fim. Como ainda por cima alguém teve a ousadia de tentar passar esta torrente caótica e plena de genialidade para o cinema, é-nos dada a possibilidade de durante mais de duas horas pura e simplesmente sair daqui para fora e vaguear por uma universo paralelo onde o absurdo, a cor, o humor, o inesperado, a beleza, a podridão, o abuso, o sonho, numa palavra, a vida, desfilam perante o nosso olhar atónito, também ele alucinado até porque apropriadamente embalado por uma banda sonora à altura. Fellini não faria melhor, então se pensarmos nos rostos escolhidos e na forma como são filmados... Tal como os livros de Thomas Pynchon, também este filme, e alguns outros, de Paul Thomas Anderson é, ele próprio, um "Vício Intrínseco".

 

 

 

 


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semtelhas @ 14:43

Sab, 21/02/15

 

Uns mais outros menos quem não tem problemas de infância? mas a questão é o aproveitamento que os outros fazem pelo facto de os ter-mos. Todos. A começar nos progenitores, origem do mal, até ao psiquiatra onde acabamos. Haverá traço mais comum à sociedade atual que a violência latente? E será que esta se exprime mais transversamente noutras circunstâncias, que não seja no trânsito onde todos mais inexorávelmente nos revelamos até ao mais profundo dos nossos cromossomas? E o que dizer do polipropalado civismo? Como interpretar a maneira absolutamente despudorada como em seu nome somos, todos os dias, pura e simplesmente vilipendiados, agredidos, enganados, roubados, muito em especial precisamente por aqueles que mais o gritam, as entidades oficiais, tornando-se elas próprias no paradigma daquilo que alegam perseguir? E se uma qualquer justiça divina desse provas de existência, e protege-se quem ousa-se ser audaz em atos de justa vingança seja lá isso o que fôr? E se os deuses se unissem e as estrelas se alinhassem a favor do desgraçado que foi vítima da maior das bestas, e o salvassem do purgatório após o seu ato de revanchismo? A falta de respeito dos poderosos pelos mais frágeis é assim uma espécie de cognome de uma hipotética História da humanidade, mas seguramente que nunca como hoje, seguramente como amanhã..., esta foi exercida com maiores requintes de cínica  malvadez, onde a venda da alma ao diabo terá atingido tais limites, onde a força da retórica tenha assumido tanta importância! Por fim, mas não menos decisivo nos dias que correm, como avaliar o peso do virtual, das aparências, do parecer por troca com o ser, naquilo que tudo isto significa na terrível máquina compressora do consumismo que nos deprime e mata, tornando a existência em algo permanentemente insatisfatório porque irrevogávelmente em busca da novidade seguinte? Um oásis jamais atingido?

 

E se todas estas questões forem colocadas sob a forma de histórias onde o humor, o suspense, o choque, a surpresa, mas também a verosimilhança que honestamente teremos que lhes reconhecer não obstante o seu caráter limite? Então estamos perante um caso muito sério de talento para transmitir, de uma só penada!, um conjunto de mensagens absolutamente cruciais, como que um GPS para quem queira movimentar-se de uma maneira minimamente inteligente numa qualquer sociedade de ponta dos dias que correm. "Retratos Selvagens", sensacional filme argentino que transborda talento do primeiro ao último minuto.

 

 


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semtelhas @ 12:55

Qua, 18/02/15

 

Ainda um destes dias, a propósito da forma ideal de sair de crise, via a austeridade europeia ou a aposta na capitalização da sociedade seguida por Obama, lia um ilustre espanhol defensor do caminho do sacrificio, dizer que para os EUA aquela solução resultou porque ali o domínio sobre o mercado, considerado sob todos os pontos de vista, dos vários estados é efetivamente exercido obtendo-se assim, apesar de tudo, uma relativa harmonização entre quem pode dar e quem tem de receber. Uns dias depois ouvia Viriato Soromenho Marques indiretamente confirmar isso mesmo ao defender a federalização da UE, um governo central que efetivamente defenda os interesses de todos, opinião que acredito estar nos antípodas da do dito espanhol...

 

É realmente impressionante como, para o bem e para o mal, os EUA continuam a funcionar como uma espécie de farol para o mundo. Assume por isso ainda maior importância um olhar atento sobre aquele país e, para o efeito, há um sem numero de oportunidades dada a completa abertura daquele ao mundo, mas talvez o cinema, é certo que crescentemente acossado pelas imensas séries, continue a representar a forma mais eficaz de o fazer.

 

Filmes como "The American Sniper" e "Selma", para além dos aspetos estritamente cinematográficos que são notáveis, dão sobretudo lugar a uma reflexão sobre a natureza daquela sociedade e da sua relação com o mundo. Se no caso de "Selma" os recentes problemas entre a comunidade negra e a polícia, vêm demonstrar o enorme caminho que por aqueles lados falta percorrer no que a equidade racial diz respeito, já quanto ao filme de Clint Eastwood a questão é muito mais global, a todos diz respeito. É que, se por um lado, o papel de polícias do mundo tem que ser assumido por alguém, por outro não deverá sê-lo como o é dentro de portas contra os negros e, neste ponto, os filmes quase se tocam. Aquela mesma atitude "à lei da bala". Mas no essencial apelam a posturas radicalmente diferentes, apesar de, dirão os mais céticos, conduzirem aos mesmos escassos resultados. Um defende a sublevação pacífica do povo, a outra o olho por olho/dente por dente. Martin Luther King e o velho realizador aqui em representação de todos os "duros", consubstânciam o Deus ou o Demónio que cada um neles queira ver, infelizmente não há receitas milagrosas mas, à boa maneira norteamericana, o pragmatismo de poder ver dois grandes filmes.

 

 

 

 


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semtelhas @ 12:17

Dom, 15/02/15

 

Há aqueles que tal como conta a lenda andam uma vida a tentarem libertar-se sem o conseguirem. Luta inglória essa de querer cortar totalmente com as raízes, nomeadamente as criadas pela relação paterna. Diz a história que tendo partido ainda novo, ao longo dos anos o rapaz foi dando notícias ao pai, sempre a mesma, que por muito que andasse ainda não encontrara o fim do reino daquele. Até que um dia, já velho de barbas brancas, enviou uma última missiva anunciando permanecer em busca desse objetivo. 

 

Depois, entre a esmagadora maioria que se limita a aceitar o que o destino lhes oferece, distinguem-se os raros que contra ele se rebelam, e nunca negando o intrínseco, o inevitável, antes fazem da sua vida uma demonstração de inabalável força de vontade, no sentido de seguir o seu sonho, normalmente superando os progenitores para além daquilo que é evolução resultante da passagem do tempo. Tarefa tanto mais árdua quanto se os ascedentes mantiverem um perfil protetor, misto de exercício de poder e de condescendência ardilosamente disfarçada de amor.

 

É deste último que trata o filme "Whiplash". Magnífico retrato de um rapaz tentando afirmar-se num mundo cujas circunstâncias pareciam empurrá-lo para a descrença e o abismo. Dotado de uma natureza indomável e de um enorme talento, nega-se a qualquer tipo de cedências no imparável caminho para o sucesso, o que lhe traz antipatias e acusações de utópico, mas sobretudo da implacável condescendente mão protetora do pai, que na verdade significava a destruição da sua autoestima. Formidáveis alguns momentos, particularmente aquele em que o pai, observando-o com admiração e respeito, tem no rosto estampada a dor da derrota.

 

 


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semtelhas @ 12:02

Dom, 08/02/15

 

Haverão poucas palavras cujo significado foi mais vezes, e sobretudo mais profundamente alterado, corrompido, viciado, conspurcado, que amor. No entanto não há nenhuma que seja mais cristalina naquilo que pretende transmitir, a dificuldade estará precisamente na sua natureza objetiva, isto é exatamente o facto de se tratar de uma palavra, logo sujeita às mais variades adulterações, truques e aproveitamentos. Talvez seja essa a razão para que melhor, muito melhor, provávelmente até a única forma de realmente o atingir em toda a sua profundidade e dimensão, seja praticando-o, consubstânciando-o em ações concretas.

 

Foi exatamente isto que o realizador de "Boyhood" fez. Fê-lo na forma, o filme é em si mesmo um magníficamente conseguido ato de amor, quantas vezes se terá assistido a esta forma de filmar, recorrendo às imagens reais de quatro personagens em quatro momentos específicos no espaço de doze anos? Obtendo assim, especialmente no caso de um rapaz luminoso dos seis aos dezoito anos, e da sua irmã uns dois anos mais velha, possuidora de uma inteligência acutilante, mas também dos pais. Mas onde a fita se eleva ao brilhantismo é no seu conteúdo. Duas pessoas completamente diferentes, cada uma delas paradigma, por um lado do responsável organizadinho, organizadinha neste caso, por outro do idealista irresponsável, por isso absolutamente incompatíveis debaixo do mesmo teto, geram, trocando as personalidades no caso dos géneros, dois espelhos de cada um deles. Uma vida de saltimbancos, de poucos altos e muitos baixos sob o ponto de vista do prática do dia-a-dia, cujo final, percorrendo os mesmos caminhos de toda a gente, revela os mesmissímos resultados não obstante a mistura das respetivas naturezas. Concretizando, o rapaz evolui de um pragmatismo a raiar a mudez para um futuro desejado e feliz, a rapariga de umas expressividade e sucesso notáveis para uma vulgaridade morna, tal qual como os progenitores, a mãe a caminho do desatino, o pai da contenção. Resumindo, tinha tudo para dar errado, para aquelas crianças serem uma espécie de cardápio de todos os ditos traumas de infância, tanto mais que foram sistemáticamente sujeitos ao convívio com os perigosos companheiros, a atração dos opostos, que a mãe sucessivamente vai metendo lá em casa. Mas não! Bem pelo contrário. E porquê? Porque foram sempre profundamente amados, independentemente das circunstâncias da vida a cada momento. 

 

Provávelmente no mais alto momento deste belo filme o filho pergunta ao pai, what's the point?, qual é o sentido da existência? e obtém como resposta, não sei, ninguém sabe, andamos todos para aqui a improvisar. A melhor maneira de a suportar será porventura como o grita tranquilamente, é o amor estúpidos!

 

 


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semtelhas @ 11:43

Dom, 01/02/15

 

Era uma vez uma noite de Natal numa casa enorme, plena de belas carpetes orientais, frondosos cortinados vermelhos grenã e dourados, lindas e requintadas mobílias, pejadas dos mais belos ornamentos em brilhantes metais e preciosos minerais. Nas paredes formosas tapeçarias e quadros maravilhosos enchem os sucessivos salões de paisagens bucólicas, ou de frenéticas caçadas, ainda de verosímeis retratos. Na enorme e sumptuosa sala de jantar, inumeras mesas de apoio transbordam de vistosas travessas onde as mais gostosas iguarias se mostram apetitosas, faltam escassos minutos para que se dê início à ceia da família. Por todo o lado centenas de velas emprestam ao ambiente uma incomparável sensação de conforto e bemestar. A vaguear por entre tudo aquilo, ainda sózinho, um menino insere-se perfeitamente naquele quadro, também ele é parte intrínseca daquele sonho, na forma, bonito e vestido de acordo, mas sobretudo no conteúdo, no seu rosto está estampada uma imaginação quase delirante. Depois começam a chegar os outros personagens da história, e percebemos tratar-se de uma família de artistas de teatro. Tudo começa na matriarca, uma avó sábia, antiga atriz que abandonou o teatro para se entregar á sua maior paixão, ser mãe. Nela está consubstânciado tudo, a sensibilidade e o bom senso, o sonho e a realidade, a cabeça bem alto na Lua, mas os pés sempre bem assentes na Terra. Os filhos são palete de todas as cores, desde o mais desgraçadamente negativo, sofredor e carrasco, passando pelo normal, o comum, paradigma da frustração assumida, fruto do inalcançável talento, até ao incorrigível sonhador, indispensável vendedor de sonhos, e por isso por todos adorado. Não faltam as companheiras que encaixam como testo em panela, nem os maus da fita, os destruidores dos sonhos que comandam a vida, os ditadores do ascetismo forçado e da frugalidade doentia, que amarguram e envenenam, as verdadeiras origens de todos os males do mundo. Mas é em dois dos netos, um adolescente rapaz sonhador, e a sua irmã, uma menina a respirar sensatez por todos os poros apesar de não chegar sequer aos dez anos, que está a resposta para o enigma. As duas partes de uma harmonia perfeita.

 

A vida é um palco onde agimos em função de um qualquer papel, todos fazemos parte de um história que vale a pena ser vivida especialmente se do lado dos que a deixam fluir livre, mas tendo por medida a não usurpação disso mesmo no outro. Uma existência a preto e branco, ou cheia de cor. Uma reflexão sobre as crianças, telas limpas onde tudo pode ser escrito, a vida ativa refém da responsabilidade, tão diferentemente sentida, e a velhice como inexorável retrato do antes construído. "Fanny e Alexander", um filme de Ingmar Bergman a raiar a perfeição, uma autêntica viagem pelo mundo dos sonhos, feito, plano a plano, com insuperável cuidado, um resultado que só é possível atingir se nascido de algo construído com muito amor, um talento ímpar, e um conjunto de recursos materiais e humanos fora do comum. Uma festa para os sentidos quando encarados na plenitude da sua sensibilidade e profundidade.

 

 

 

 


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"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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