semtelhas @ 11:55

Ter, 30/06/15

 

Os livros de Saul Bellow invariavelmente relatam a saga de um homem senão amargurado pelo menos em dúvida, à procura de encontrar e seu caminho num percurso sinuoso, cheio de altos e baixos, pleno de escolhos. Apesar de tudo entre "Morrem Mais De Mágoa", "Ravelstein", "Henderson, O Rei da Chuva", e "Herzog", escolheria sempre este "As Aventuras de Augie March" como a mais eloquente demonstração desse facto. É que percorrendo a vida de um rapaz para o qual a existência não foi fácil, através de descrições plenas de realismo, dando mostras de uma cultura insuperável em construções sistemáticas de maravilhosas metáforas da vida, transportando o leitor aos mais variados e interessantes cenários, dando mostras de um profundo conhecimento da alma humana em todas as suas vertentes, consegue esse quase milagre só possível nas mais geniais obras, remeter-nos ao mais intrínseco de nós mesmos, como que levar-nos a olharmo-nos a um enorme espelho porque ali, naquelas palavras, também nós estamos tão incrivelmente bem retratados.

 

E se a alguma conclusão se pode chegar é da inevitabilidade de independentemente de quase tudo, e o quase não passa de um mero exercício de humildade metódica..., ninguém consegue realmente escapar à sua natureza. A vida vai-se encarregando de nos ir colocando à frente uma série de hipóteses, na verdade práticamente comuns a todos no seu potencial de dar saídas para o "sucesso", as ditas oportunidades que depois cada um consoante a sua circunstância objetiva vai resolvendo, sendo que no fim acabamos sempre por fazer exatamente aquilo a que uma inexplicável pulsão, espécie de força interior, nos vai complir. Na verdade o que a experiência, ou a sabedoria, fazem, mais não é que nos ensinar a melhor encontrar esse caminho, que ao longo da maior parte da vida procuramos incessante e inconscientemente. O segredo do sucesso, leia-se da minimização do inevitável sofrimento, estará na capacidade de antecipar uma clarivedência que ou nunca chega ou é alcançada demasiado tarde.

 

 


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semtelhas @ 12:32

Sex, 22/05/15

 

A gente começa a ler aquilo e é como que invadida por uma sensação de exaltação que avança primeiro sob a forma de uma espécie de espanto, uma confusão cujos contornos só começam da definir-se mais à frente, como quando se observa um quadro que exige o tempo e a afastamemto espacial certo para se ousar tentar compreendê-lo, ou certos filmes e músicas, para depois se instalar definitivamente e em crescendo até à apoteose final. E em que consiste esse climax? Desiluda-se quem espera destas obras receitas milagrosas, mas antes a demonstração de que estas não existem, mas, isso sim, uma hipótese de caminho a seguir, como que a oferta de umas quantas dúvidas promissoras, chame-se-lhe esperança se se quiser, uma luz que aponta para dentro, o lugar onde moram todas as explicações e um mar de tranquilidade, que chega sobretudo via profunda humildade perante a grande incógnita, e absoluta assunção da verdade inteira do que se é.

 

Por estes dias onde a virtualidade e as aparências parece começarem a perder terreno face a uma gritante necessidade cada vez mais comum de percecionar a realidade, algo que nas últimas décadas tem vindo a ser assustadoramente substituído por um "faz de conta" que se apresenta das mais diversas formas, muito em particular pelo consumismo desenfreado que conduz a uma permanente insatisfação, promessas vãs para encher os bolsos aos ditadores da atualidade, mas também pelo avassalador, e devastador, uso de drogas nomeadamente as consideradas legais, cruzarmo-nos como uma destas obras pode ser completamente redentor, até porque a eventual diminuição do consumo, por exemplo, vai pôr totalmente em causa o sistema de funcionamento da sociedade, e só a verdadeira arte é capaz de produzir a mudanças de mentalidades que porventura vierem a revelar-se indispensáveis.

 

No que à literatura diz respeito, ler Faulkner, David Foster Wallace, Roberto Bolaño, Celine, mesmo a nossa Agustina ou Saramago, aos que agora juntei Júlio Cortazar e o seu "O Jogo do Mundo", são quase sempre experiências tenebrosas no sentido que, tal como afirma o grande escritor francês, normalmente nos conduzem numa viagem ao fim da noite, no entanto caminhar, tantas vezes penosamente, ao longo desse percurso parece levar-nos a essa espécie de verdade fundamental que repousa, e precisa de ser energicamente agitada, bem no fundo de cada um de nós. É então que acontece uma aparente contradição entre um inferno que se descobre e a irreprimível exaltação de por fim compreender a causa das coisas, uma alegre tranquilidade que nos invade via esclarecimentos primordiais mas repetidamente esquecidos, a nossa imensa e comum fragilidade, só e unicamente ultrapassável sem o habitual recurso à violência catártica de frustrações, quando sincera e absolutamente assumida, transformando-se então naquela humildade digna consubstânciada pelo irrevogável respeito pelo outro.

 

 


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semtelhas @ 14:43

Dom, 19/04/15

 

Para além das dialéticas dos filósofos e da sua evoluçao, Heraclito, Sofistas, Heguel e Marx com a sua tese, antítese, sintese e consequente solução do problema em análise, talvez a infinita luta entre o homem pragmático e o homem idealista constitua o verdadeiro motor da humanidade.

 

São inumeras as histórias ao longo dos séculos que relatam essa realidade, e uma das formas mais eloquentes de a demonstrar será, eventualmente, o descobrir e desvendar as vidas de uma família notável, desde um momento primordial, a presença de um pioneiro, e das gerações seguintes até ao seu declínio.

 

Foi o que fez Philippe Mayer no seu livro "O Filho", cujo título é uma espécie de sinal daquilo em que as coisas se vão tornar, para o bem e para o mal. Para o efeito não poderia haver melhor cenário que os EUA dos primeiros colonos, maioritáriamente emigrantes da velha Europa.

 

Depois é a saga épica, contada ao pormenor, nomeadamente nos seus aspetos mais violentos ou sórdidos, desde o durissímo confronto com os indígenas, os famosos "indios", a implantação nas vastas terras após e durante o enorme extermínio de gente, fauna e flora, particularmente de enormes ranchos onde manadas de gado a perder de vista eram dominadas por cowboys, até ao advento do aparecimento do petróleo.

 

Um texto pleno de conhecimento objetivo sobre as matérias que expõe, bem como do razoávelmente profundo sobre a natureza humana, que proporciona uma longa viagem por entre as venturas e desventuras de uma família que nasce e cresce básicamente "à lei da bala", ainda que, paralelamente, os sempre presentes mas escassos laivos de "sonhador" humanismo, acabem como que por temperar, ou pelo menos tentá-lo, uma ascensão feita essencialmente à custa de constantes atropelos à dignidade humana.

 

Uma formidável demonstração magistralmente romanceada daquilo que, afinal de contas, é a História da humanidade. Como sempre acontece no final de grandes obras, também aqui sobra uma nostalgia de abandonar aqueles personagens que, no fundo, tão bem conhemos, em que tão bem nos reconhecemos, e, neste caso, sobretudo pela confirmação da existência de como que um fatalismo que nunca abandona os homens, que sempre os deixa longe da utópica perfeição, sequer perto da desejada felicidade.

 

 

 


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semtelhas @ 15:23

Sab, 28/03/15

 

Polulam por aí os cursos de "Escrita Criativa".

 

É sabido que há essencialmente duas formas de ver a criatividade, aquela que assenta fundamentalmente na inspiração e a que resulta básicamente da transpiração, e nem uma consulta a um bom dicionário vai dissipar as dúvidas relativamente a qual destas duas visões de criar estará mais próxima da verdade, até porque o termo aplica-se indiscriminadamente desde a mais etérea arte ao ato mais técnico. Detendo-me exclusivamente às artes mais convencionalmente assim denominadas, torna-se óbvia a necessidade da aprendizagem miníma do seu domínio nos seus aspetos mais estruturais, como seja a capacidade de fazer soar um som  minímamente harmonioso(?) de um instrumento musical, conseguir utilizar tintas sobre uma tela obtendo uma qualquer estética(?) no caso da pintura, ou saber escrever para além do estritamente necessário(?) se falando de literatura. Acontece porém que, a partir de determinado ponto, torna-se extremamente dificíl traçar fronteiras entre a capacidade para adquirir mais ou menos tecnicidade, e a demonstração de criatividade instintiva, de talento em estado puro jamais passível de ser aprendido. É exatamente aí que reside a diferença entre uma grande obra e uma obra maior.

 

Vem isto a propósito do livro "Assim Para Nós Haja Perdão", A. M. Homes. Tem tudo para ser um grande livro, contudo não consegue disfarçar a permanente tentação de agradar ao leitor, sempre a "piscar-lhe o olho" ainda que recorrendo com grande mestria, seguramente resultado de uma grande capacidade de aprendizagem das melhores técnicas de escrita criativa, a toda uma panóplia de truques bem como a muita e apreciável informação resultado de investigação honesta e efetivamente estruturante conferindo idoneidade ao livro, para o manter mais que interessado, efetivamente agarrado, quase dependente da leitura que o prende a cada virar de página. Infelizmente, ou talvez não, a sensação que fica é em tudo similar à que se tem no consumo de um qualquer outro produto aditivo, quer-se sempre mais mas nunca se está verdadeiramente satisfeito. Chega-se ao fim e instala-se uma espécie de vazio nascido da insustentável leveza do triunfo da técnica e da falta de génio autêntico. Se calhar só a capacidade de instalar essa expectativa já é definidora de muito talento, ou então aquilo já foi feito para ficarmos a "chorar por mais". Na resposta a esta dúvida mora a verdade da real dimensão desta obra. 

 

 


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semtelhas @ 16:19

Seg, 02/03/15

 

Ele é um médico ginecologista que vive na era estalinista, homem pragmático, adorador do princípio científico da causa -efeito, porém acredita em algo inexplicável que gere o universo. Intrínsecamente bom e franco vive numa sociedade toda ela feita de truques e manhosisses com as quais nunca contemporiza, salvando-se dos campos de correção graças à sua reconhecida enorme capacidade enquanto médico, frontalidade inabalável e humanidade ilimitada. Encontra numa paciente que salva da morte inextremis a sua alma gémea cuja filha faz sua. No entanto a grande diferença sob o ponto de vista religioso, ele era obviamente ateu, acaba por criar entre eles um afastamento que virá a constituir para ambos uma vida de sacrifícios, só suportável graças à existência dessa filha primeiro e depois da neta.

 

No cenário da União Soviética desde Estaline até depois de Krutchev, Liudmila Ulítskaia em "Caso Kukóstski", constroi um romance que sobretudo oferece um retrato dos mais decisivos contrastes da vida, franqueza/dissimulação, empenho/desleixo, limpeza/sujidade, bondade/maldade, sovinice/partilha, e muito mais. Nada de novo dir-se-á, afinal de contas o assunto de sempre. É verdade simplesmente neste caso a mensagem é passada num misto de simplicidade e rudeza que recorre aos atos mais vulgares da existência, um olhar clínico que os desvenda até ao osso através de uma escrita com tanto de inteligível quanto de profunda e ao alcance de muito poucos. No fim, como a comprovar a sua essência, este romance tem tanto de maravilhoso quanto de eficaz e deixa o leitor a pensar, felizardos daqueles cuja natureza e educação, não necessáriamente por esta ordem como tão bem o interrogada esta obra, conduz para as escolhas certas que são o da verdade, da bondade, do empenho, da limpeza e da partilha. Que inveja! apetece dizer colocando-me na posição de uma das esmagadoramente mais numerosas e vulgares personagens da autora.

 

 

 

 


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semtelhas @ 11:23

Qui, 05/02/15

 

Quem é mais livre? O idealista que recusa escravizar-se via casamento, uma vida de subsistência material, os filhos e tudo o que vem atrás para sustentar, e moral, o ficar amarrado a compromissos supostamente irrevogáveis com terceiros, ou o que aceita a partilha com o companheiro, e se realiza observando o filhos crescendo para a vida? Quem é mais livre? Quem aceita com humildade e resignação assumida, tranquilamente, ser mais um, elo na corrente infinita de milhões, ou o que se revolta, e em nome de uma existência melhor, para ele e para os outros, tenta a transformação da sociedade nem que para isso tenha que recorrer à inevitável violência? Quem é mais livre? É o conjuge políticamente correto, postura dita adequada perante os outros, exemplo a seguir, ou o que não resiste a pisar o risco? Seja por todos os dias se perder num qualquer bar embriagando-se com os amigos não obstante sempre regressar a casa, ou por, ainda que por mero capricho, querer experimentar outros relacionamentos jamais pondo em causa a família? Quem é mais livre? O que assume as suas preferências sexuais independentemente do olhar e práticas que sobre ele possam acontecer, ou o que, em nome de uma vivência minímamente harmoniosa com os outros opta pelo sacrifício da silêncio?

 

Tendo por cenário o Egito entre as duas grandes guerras mundiais, e uma família em particular, Naguib Mahfouz dá-nos hipóteses de interpretações de tudo isto no livro, O Açucareiro. O relato é minucioso e ele próprio um autêntico exercício de libertação, o que numa sociedade terrívelmente estratificada funciona como verdadeiro grito de liberdade. A ambiência exótica do oriente, bem como uma linguagem que vai do comum ao quase poético, muito contribuem para que esta leitura fique gravada na memória. E depois, não menos importante, de reconhecido valor histórico dada a evidente visão superior e independente do autor.

 

 


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semtelhas @ 11:40

Dom, 18/01/15

 

Livros como "Mistérios", de Knut Hamsun, ou o filme "Ciclo Interrompido", são obras que deixam na memória um gosto amargodoce.

 

O sonho, o idealismo, a ingenuidade esclarecida, são uma maneira de estar, de viver, própria dos poetas, alguém que consegue vislumbrar nas mais simples coisas e factos da vida, a beleza que encerram em si mesmos ainda que normalmente escape aos sentidos do comum dos mortais. Uma existência dominada pela prevalência da ilusão, da permanente procura do belo, acarreta consigo o pesado fardo de uma realidade imposta, difícil de aceitar, não raras vezes insuportável. Aquilo que hoje é conhecido como doença bipolar, afinal o que é que por estes dias não é rotulado? levando até à pergunta, onde está a normalidade? é que, no limite, tudo é catalogável logo específico, no passado terá sido responsável por boa parte dos grandes escritores conhecidos, muito especialmente de poetas. Que tipo de estados de alma podem transbordar da visão de um dia cinzento de nevoeiro cerrado, por entre o qual se conseguem lobrigar as árvores ao fundo, tristes, completamente despidas de folhas ou cor, se momentos antes a televisão nos informou que dali a duas horas o sol vai brilhar? É da luta entre este frio pragmatismo de quase todos, e um homem com natural tendência para o lirismo, sempre elaborando historias mais ou menos fantásticas, adornando o que o rodeia, para logo cair no cruel precipício dos factos, particularmente na descrença dos outros e as tristes consequências, que trata esta autêntica viagem por dentro da alma de um sonhador.

 

 

 

Ciclo Interrompido é um filme a um tempo crú, brutal, mas também profundamente redentor. Incrivelmente atual, ou talvez nem tanto, afinal o assunto em causa é desde sempre transversal à humanidade. Qual o peso da fé,  no sentido da crença absoluta na existência do espírito para além do corpo, na vida das pessoas? Que tipo de efeitos positivos ou negativos lhes pode trazer? Se por um lado pode servir para aliviar o sofrimento, por outro é maquiavélicamente utilizada para enganar milhões. Tratando-se de um assunto ao qual é impossível escapar sem fazer uma opção, ou se nega algo culpando a dúvida, ou, com ela como justificação se acredita, também neste caso não se sai incólume. Recorrendo a um caso limite,a doença de um filho, assiste-se à luta entre a fé na continuidade, única capaz de possibilitar a sobrevivência, e um olhar crítico, dito esclarecido, sobre a condição humana, irredutível porque incapaz de ceder à suposta realidade. Uma experiência marcante.

 

 

 

Onde estas duas magníficas obras se cruzam é precisamente na sua conclusão: ficam para contar os pragmáticos, no ultimo momento a um pequeno passo da impossível conversão, mas inapelávelmente e para sempre orfãos dos idealistas. No fim a terrível pergunta do costume, valerá a pena viver assim?

 

 


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semtelhas @ 14:23

Sab, 10/01/15

 

Autores como o Nobel deste ano, Patrick Modiano, escrevem como quem respira. Avenidas Periféricas, e outros livros sobre os quais passei os olhos, desfiam uma prosa na qual, mais que o tema abordado, sinto a forma como o autor o faz. Não é que os assuntos em causa não sejam importantes, ou negligenciados, simplesmente o estilo, a forma, como o autor descreve os lugares e as pessoas como que se cola à mente que com eles contacta. Na caso do Avenidas Periféricas,  é certo que as situações relatadas, quer pelas suas características pouco vulgares, quer pela intensidade emocional que contêm em si mesmas, contribuem muito  para a sensação de indelével que fica no leitor, mas as descrições dos traços fisícos e psicológicos dos personagnes, bem como das casas, e dos outros sítios por onde circulam, são verdadeiramente marcantes. O mais curioso, e notável, é que só o pressentimos algum tempo depois, isto é, somos transportados como num sonho, mas, aqui, quando acordamos não só dele nos lembramos perfeitamente, como percebemos por ele termos sido tocados.

Creio serem este tipo de autores que, de alguma forma, desmentem aquela teoria de que toda a obra-prima, à semelhança de qualquer outro cometimento assinalável, são fruto de 80% de transpiração e 20 de inspiração. Lendo este autor é perceptível que não obstante todo um trabalho prévio indispensável à construção da obra, o que realmente ali é diferente, funciona como se de uma magia se tratasse, é aquela habilidade inata de contar uma história transmitindo imagens quase palpáveis, e ideias com uma profundidade que as torna absolutamente sensíveis. Tal como a escrita de, por exemplo, José Saramago, é identificável após a leitura das primeiras linhas, e apesar de me faltar confirmá-lo melhor, acredito o mesmo acontecer com Patrick Modiano, resultando num imenso prazer para quem dela usufrui.

 

 


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semtelhas @ 11:52

Ter, 25/11/14

 

Ninguém escapa à morte, processo que se inícia exatamente no momento em que se nasce. A maior ou menor tomada de consciência desse facto, eventualmente contribuirá para a intensidade com que se vive. Resta no entanto o essencial, como se vive. É desse pequeno/grande pormenor que escreve Sandor Marai no seu livro A Irmã.

Abordando a questão pelo lado menos óbvio, o daqueles que tentam fazer da vida uma exaustiva busca da perfeição, explica que nem mesmo, ou sobretudo estes, logram fazer da sua existência uma passagem tranquila. Neste caso específico porque gastam-na tentando aperfeiçoar algo até ao limite, uma busca constante e totalmente mobilizadora que não deixa espaço para a fruição do lado bom da vida. O fenómeno é tanto mais chocante quanto a grande parte destas pessoas, nomeadamente as ligadas à arte, fazem-no oferecendo aos outros precisamente isso, ou seja uma das suas facetas sob forma artística que a torna mais suportável, levando esse seu objetivo tão longe, que não lhes sobra tempo para que eles próprios a vivam satisfatóriamente.

O meio utilizado para transmitir a mensagem é o mais eloquente possível, a demonstração da degradação pela via da desistência, pelo exaurir da vontade, a instalação da pior das doenças, a de querer morrer. Hoje o estudo das doenças psicossomáticas explica muito daquilo que o autor procura transmitir em pleno decurso da segunda guerra mundial, aliás ao longo da História da humanidade esse valor etéreo, que com o passar do tempo se foi tornando menos místico e mais científico, sempre sentido e nunca explicado, espécie de força interior que pode fazer toda a diferença na hora de escolher entre a vida e a morte, foi omnipresente.

Neste livro, para além da fortíssima mensagem, interessa a forma como é passada, porque é precisamente daí que lhe vem a sua maior força e virtude. Quantas boas mensagens se perdem por não serem transmitidas da melhor maneira? Os exemplos escolhidos são os ideais, e a mestria com que os meios, leia-se as palavras, são trabalhados levam o leitor às conclusões nas asas dos sentimentos mais bonitos, o amor, a beleza, a solidariedade, a arte, a virtude, o total despojamento, mas sistemáticamente postos à prova pelo desafio de ter que enfrentar descrições perfeitas, lá está! a perfeição!, uma clara assunção autobiográfica, de tenebrosas viagens aos infernos da dor. 

 

 

 


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semtelhas @ 13:13

Sex, 14/11/14

 

O iniciar uma viagem muitas vezes significa um recomeço, o corte com a rotina, o ato físico de abandonar as pessoas e/ou os locais habituais, a mudança mental, efeito de catárse frequentemente sentido desde o momento que se tomou a decisão de viajar, e que encerra em si uma renovada esperança no futuro, mesmo se inconsciente. Acontece porém que para que resulte, com o passar dos anos e a crescente maturidade, é cada vez menos dispensável que a deslocação a empreender constítua, de facto, uma novidade. Por outro lado torna-se óbvia a semelhança entre todos e a interminável repetição das situações e circunstâncias, sempre frutos de iguais, ou muito parecidas relações causa/efeito, uma dialética comum a conduzir a sínteses similares. Depois acresce também as sistemáticamente aumentadas complicações legais, o terrorismo disso se tem encarregado, que transformam qualquer deslocação num inferno chamado segurança. Finalmente, mas não menos importante, desde há duas ou três décadas o incremento do turismo, muito graças à maior e mais baratas maneiras de ir de um lugar para outro, é verdadeiramente brutal, sendo hoje para muitos países a principal indústria e consequente primordial fonte de receitas. Mas também há custos, e são elevados. Para além dos evidentes prejuízos ambientais, sendo uma indústria significa a procura da rentibilização pela quantidade, perdem-se nesse processo grande parte daquilo que eram os prazeres de viajar. Hoje, para ir a qualquer lado, até ao mais remoto, é preciso enfrentar hordas de gente, organizadas seguindo uma lógica de rebanho, e quase sempre como sardinha em lata, o que acaba por destruir o essencial, o enorme gozo de fruir livremente, no sentido mais lato do termo, a verdadeira razão para estar ali, enfrentar o desconhecido descobrindo coisas novas.

Por tudo isto, mesmo prescindindo do tal corte físico com tudo o que isso implica, resta a possibilidade da profunda mudança mental, que pode resultar da evasão através da viagem ao longo de uma pintura, uma música, um filme, mas sobretudo pela leitura. Independentemente dos enredos própriamente ditos, alguns livros proporcionam autênticas viagens, e nada turísticas porque tantas vezes levam-nos ao âmago dos lugares e das pessoas que descrevem, por quase sempre testemunharem experiências de quem por esses sítios viveu intensamente. São os casos de Miramar, de Naguib Mahfuz, ou de Quando a Neve Começa a Derreter, de A D Miller. O primeiro conta as venturas e desventuras de uma jovem mulher que decide abandonar a sua aldeia na província, enfrentando a superconservadora sociedade egípcia, luta consubstâncida pelo confronto com uma série de personagens todos muito diferentes entre si e residentes numa mesma pensão em Alexandria. Surpreendente e maravilhosa a forma como o autor, em pouco mais de duzentas páginas, faz os leitores deambular por aquelas ruas, pelo meio daquela gente, para, no fim, ficarem com a nítida sensação de todos, lugares e pessoas, conhecerem perfeitamente. O segundo transporta-nos a Moscovo da década de noventa, o despertar e explodir para o capitalismo, a fase lua de mel, com todas as suas conhecidas virtudes e defeitos mas em estado puro, em carne viva. Ancorado na experiência de um advogado inglês ali presente, como tantos outros na senda da riqueza fácil, um El Dorado que todos tinham consciência de ter curto prazo de validade. Por isso a corrida contra o tempo, o vale tudo numa cidade e sociedade fantásticamente descritas, resultando, à semelhança do caso de Alexandria, uma espécie de conhecimento de certa forma profundo acerca de Moscovo e dos russos desses ainda tão recentes tempos.

 

 

 

 


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semtelhas @ 12:16

Sex, 17/10/14

 

O porteiro é a força bruta, a violência, o lacaio, o testa de ferro, a mão que o poder comanda; Teresa, a mulher, é a estupidez feita esperteza, a grosseria e o rídiculo fruto da profunda ignorância de quem vive uma existência de pura sobrevivência, qualquer deles completamente reféns dos seus instintos animais mais básicos. O irmão é o político, o demagogo, o inteligente e hábil, a imagem do sucesso graças à enorme capacidade de manipular, exímio comunicador pratica a socialização utilizando mais ou menos despuradamente a, para a grande maioria dos seus pares que preferem afastar-se, insustentável leveza de caráter e incontornável fragilidade do comum dos mortais. Ele, Kien, é o negativo do irmão, é o cismático fundamentalista, é a face lunar e obscura da humanidade, consubstanciada por esses homens e mulheres que juntaram à sua enorme capacidade intrínseca, um ainda maior nível de frustração e desejo de vingança nascidos das mais diversas razões. E depois há os livros, essa primordial fonte de conhecimento, inimigos de todos os poderes absolutos, também eles vítimas, objeto e meio de transmissão do bem e do mal, idolatrados e odiados, verdadeiro paradigma de uma existência humana que se vai consumindo e evoluindo nas suas contradições, em que eles, como pano de fundo, juntamente com outras manifestações artísticas, simultâneamente, em confronto e lado a lado com a ciência, são, em si mesmos, nos seus varíadíssimos conteúdos, a prova maior desta vida que vamos atravessando numa espécie de fogo lento.

 

O livro Auto de Fé de Elias Canetti é toda uma lição sobre a sociedade humana e as suas fragilidades, um poderoso exercício de como desvendar a sua natureza, recorrendo a uma metáfora da qual fazem parte exclusivamente os estériotipos, são só meia dúzia, depois repetimo-nos aos milhões, absolutamente necessários para explicar o seu mecanismo.

 

 


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semtelhas @ 16:03

Qui, 02/10/14

 

A gente vai por ali fora, rio abaixo, parte da nascente na Alemanha e cruza Viena, Budapeste, Bratistava... ao longo de vários países até à foz na Roménia. Ficámos a conhecer os sítios e as pessoas, desde os primórdios, naquilo que pensavam, como agiram, que influência tiveram em outras. Naqueles lugares, por onde o Danúbio passou, viveram alguns dos melhores, mas também dos piores de nós. A chamada Mitteleuropa conheceu os melhores compositores, filósofos, escritores...mas é igualmente verdade ter gerado no seu ventre das piores criaturas que a humanidade já conheceu, tendo por isso aí sido chocados os ovos da serpente dos maiores conflitos à escala mundial.

 

Claudio Magris escreveu Danúbio durante, segundo as suas palavras, um radioso mês de Setembro de 1986. Quando, na companhia de alguns colegas e amigos, partiram para aquela aventura de percorrer as margens do famoso rio, não tinha ainda em mente ir tão fundo na análise da influência decisiva no futuro da humanidade, das pessoas que por lá viveram. A verdade é que todos os astros parece terem-se alinhado para proporcionar um estado de espírito absolutamente genial ao escritor, tal é a profundidade atingida sob todos os pontos de vista, histórico, cultural, literário, tudo pautado por uma permanente sensação de bom humor, e sobretudo dotado de um sabor poético que embala o leitor de princípio ao fim, tornando a leitura deste magnífico documento para a História um prazer sem limites.

 

 

 

 


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semtelhas @ 11:38

Sab, 06/09/14

 

Há uma série de comportamentos digamos, marginais, que habitualmente são caracterizados como problemas, ou doenças, do foro psicológico, que desde há muitas décadas têm vindo a ser estudados, e objetos de conclusões não raramente completamente diferentes ao longo do tempo, e à medida que novas especificidades nelas vão sendo descobertas. A questão da obsessão-compulsiva é um deles e já vi o abordado das mais diversas maneiras, oferecendo várias saídas para o minimizar, mas nunca havia sido confrontado com uma abordagem simultâneamente tão leve e profunda quanto Kingsley Amis o faz no seu livro, O Homem Verde.

 

Quando este problema surge, o que é relativamente comum, aliado à hipocondria então estamos perante uma pessoa cuja vivência se pode tornar num verdadeiro inferno, tal é o extremo nível de vigilância que exerce sobre sí própria, corpo e mente, uma espécie de camisa de forças que jamais larga quem sofre desta doença. Aparentemente a única fuga possível a uma obsessiva e supersensivel atentividade sobre os mais singelos sintomas fisícos, logo interpretados como sinais de grave enfermidade, e consequente crescer de um complexo labirinto mental onde rápidamente o paciente se perde, é recorrer a drogas ou ao álcool o que, a prazo, se vem a verificar trágico.

 

Muitas vezes a defesa ao tormento passa também por uma definição meticulosa de uma rotina, constituída por uma série de tarefas que se repetem religiosamente, como de algo absolutamente essencial se tratasse, o que acaba por transmitir uma certa tranquilidade e segurança, mas que pode resultar numa situação de grande desiquilíbrio, caso algum dos passos não se cumpra rigorosamente segundo o préestabelecido. Noutros casos, quando o caráter da pessoa é mais expansivo, menos virado para a organização, amante do contacto social, então a solução passa mais por uma vivência quase caótica, se vista de fora, como forma exclusiva de escapar à fatal tentação de não sair de si durante o tempo todo.

 

É por aqui que a obra de Amis vai, acredito que fosse essa a natureza do autor, extrovertido, e com o desconcertante bom humor que é a sua principal marca, recorrendo a uma fantástica metáfora de um fantasma como móvel para a obsessão que o persegue, num relato carregado de sensualidade e erotismo, e sobretudo muito inteligente, num agradável estilo de prosa sem nunca utilizar os hoje tão vulgares facilitismos na tentativa de agradar depressa, mas antes obrigando o leitor a um permanente estado de alerta, porque indispensável para decifrar uma escrita fluente e apelativa mas sem nunca abdicar de profundidade. Aconselhável a hipocondríacos, uma lição de como viver descontraídamente, sem se levar muito a sério, pode ser francamente libertador.

 

 


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semtelhas @ 11:58

Dom, 31/08/14

 

Desde há uns tempos adquiri o hábito de, paralelamente à leitura de um novo livro, reler um já lido, tenham decorrido dez, vinte ou trinta anos, sendo que o critério de escolha destes últimos tem haver sobretudo com o volume, utilizo-os especialmente fora de casa, mas também com o assunto que procuro seja o mais divergente possível daquele de que versa o que estou a iniciar. Em tempos quando relia um livro fazia-o em exclusivo, aconteceu com o UlissesCem Anos de Solidão, ou Debaixo do Vulcão, entre outros, mas nesses casos o objetivo foi mesmo aprofundar o conhecimentos que esses fantásticos exemplares proporcionam, atualmente tem muito mais que ver com uma necessidade crescente de complementar o mergulho na novidade, no desconhecido, com a segurança do revisitar um terreno seguro e sabido agradável.

 

Aconteceu isso mesmo na releitura de duas obras reconhecidas, que atravessaram o tempo, e que surpreendentemente tornaram-se muito mais importantes durante o período que as reli, que as novidades em que entretanto viajava, refiro-me a Almas Mortas, de Gogol, e de O Lobo das Estepes, de Herman Hesse. Tratam-se de dois pequenos grandes livros que havia lido, ambos, há mais de vinte anos. O primeiro passa-se na segunda metade do séc. XIX na Rússia e aborda com o humor sarcástico utilizado com a perícia do melhor cirurgião com o seu bisturi, sendo que neste caso o doente é a sociedade da altura. Impressionante como nada mudou quando se fala de corrupção, jogos de poder, burocracia, promiscuidade sexual, baixa sedução, devassa, enfim, tudo o que diáriamente nos entra pela casa dentro. Já o Lobo das Estepes plana a outras alturas, não tanto da condição mas, curiosamente, muito mais da alma humana. Verdadeiro tratado sobre o nosso papel neste mundo, e até no outro!, fantástica reflexão em nome próprio de um homem que conheceu a mais belas facetas da vida, naquilo que ela tem de intelectual e notariedade, para depois se deixar conquistar pelo que ditam os sentidos. Uma fabulosa viagem em que o autor literalmente oferece toda a sabedoria que foi acumulando ao longo de uma existência plena de experiências fabulosas. Precioso!

 

O que para mim foi uma enorme surpresa, apesar de outras e mais antigas releituras, foi o incrível manancial de coisas novas que descobri em ambos os livros. Claro que tal se deve ao facto de eu próprio ter um outro olhar sobre eles, provávelmente também por serem considerados dois clássicos da literatura, logo muito densos, ainda porque era relativamente jovem quando os conheci pela primeira vez, mas não deixa de ser espantoso como a nossa visão sobre as coisas se altera com o passar dos anos!, o que serve para os livros serve para tudo o resto, e como este raciocínio nos pode levar tão longe! Como seria útil e quantas vezes decisivo, antes de fazermos algumas opções na vida ter essa capacidade de parar para pensar, de questionar, de reavaliar, de analisar noutros ângulos, experimentar um outro olhar, uma nova perspectiva sobre o mesmo assunto, descobrir outra interpretação, como quem relê um livro. Quanto sofrimento se poderia evitar antecipando problemas pelo aprofundamento das questões!

 

 

 


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semtelhas @ 15:12

Sex, 22/08/14

 

Entro na livraria para trocar um livro que me ofereceram, e só então me lembro ter-me esquecido dos dois ou três títulos dos que religiosamente vou acumulando ao longo do ano para a sagrada peregrinação à Feira do Livro, que deveria ter trazido, anteriormente apontados num papelito para o efeito. Perante as duas hipóteses que me restavam, voltar noutra ocasião, ou procurar nas vastas prateleiras plenas de livros que enchiam a enorme livraria, opto pela segunda não obstante estar bem consciente de que assim, mais uma vez, cedia à habitual gula que aquele conjunto de folhas tantas vezes portador de irresistíveis evasões me proporcionam, em detrimento da provávelmente muito mais acertada decisão de só proceder à troca pela certa.

 

Enquanto palmilhava febrilmente aquele espaço, com os olhos a procurar decifrar autores e títulos, por esta ordem, uma urgência que apesar de tantos anos de experiência insiste em não me largar, como em tantas outras visitas reparo na incrível multiplicação daquilo mesmo que eu pretendia devolver, capas apelativas aos sentidos, cor, títulos sonantes, brilho e até, agora muito em voga, a possibilidade da sensação tátil. Lá dentro, normalmente em folhas grossas, o peso e o volume são determinantes na hora da escolha, letras de dimensão considerável e linhas bem afastadas, uma prosa onde os diálogos ou a narração, habitualmente numa linguagem, digamos, atrevida, são férteis em assuntos corriqueiros do dia a dia, plenos daquilo que tão comummente nos enche e, supostamente, enfastia os dias, via família, vizinhança ou comunicação social. Todo um mundo de pequenos eventos, intrigas e vulgar fofoca, um mar de não notícias, e claro, sexo, muito sexo. Na verdade tudo isto muito mais virtual que real, o alimentar até ao limite do suportável, voyeurismos, ambições idiotamente desmedidas, invejas doentias. Enfim um constante salivar pavloviano de que muito beneficiam uns quantos espertos, com um certo jeito para ganhar dinheiro à custa da necessidades mais básicas da maioria.

 

Estava eu nestes já muito repetidos pensamentos e cansadas conclusões, quando dou por mim a questionar-me da profundidade e capacidade de realmente me mobilizarem para a leitura, de efetivamente me tirarem do sério, aquilo que afinal de contas procuro, quase como quem necessita absolutamente da dose que o sangue e a mente exigem, as mesmas sofreguidão e urgência que o bom senso desaconselham, em autores acima de quaisquer suspeitas como Saul Bellow ou Kingsley Amis. Por este andar qualquer dia não há "viagem" que me aquiete a alma, pensei alarmado. Afinal quem é que fará as escolhas mais corretas? Aquele que incansávelmente procura quem sistemáticamente lhe continua a alimentar as dúvidas, ou o que despreocupadamente se entrega aos pequenos prazeres? À simples fruição do pouco que nos é permitido, ao comum dos mortais como eu, cheirar?

 

Acabei por trazer um livro que de certa maneira tranquilizou o sinuoso estado de espírito em que acabara de cair, à semelhança de outras que dele li, uma anunciada como divertida obra de Amis, abdicando assim da mais que provável tortuosa reflexão de Bellow a propósito da condição humana que separara como alternativa. Não foi a primeira nem será a última vez que estes raciocínios me afloraram, e de certa forma abalam, o pensamento, mas estou em crer, pelo menos assim o desejo, não passarem de uma espécie de dores de crescimento, no sentido de crescer em humildade, em perceber que não há receitas, que cada caso é um caso, cada um escolhe para si próprio, em função da sua realidade, aquilo que melhor contribui para o seu bem estar, e que tudo o resto não passa de uma boa dose de arrogância.

 


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"O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo."
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